Monday, January 30, 2006

Voltei pra ficar, daqui ninguém me tira

Das memórias de Ian Lucas Renoir Lafayette


- Moço, eu preciso de um desses aqui. Isso bóia né? Quer dizer, não afunda não né?
- Não, 100% seguro! Pode levar a garantia, qualquer defeito você volta aqui e eu troco.
- Mas e se furar no mar? De que adianta garantia?? Quer saber, passa também esse negocio aqui e mais aquele outro ali!

Apontei para um colete laranja e uma bóia de cintura com um patinho na frente enquanto falava. O vendedor as juntou com um enorme bote inflável amarelo que tinha achado na estante e paguei. Sai da loja com meu primo carregando de bolsa e voltei apressado para minha casa. Tinha recebido uma carta urgente de Samuel, soando bem desesperada, com um pedido de socorro para escapar de Durmstrang. Como lá só tem mar, ele pensou em escapar por ele e fiquei encarregado de lhe fornecer o bote. Corri ao meu quarto e catei duas corujas desocupadas da casa, as incumbindo de levar os equipamentos até ele.

Havia levantado cedo com o pedido de SOS, a coruja do meu amigo me acordou bicando minha orelha furiosamente. Infelizmente antes de sair atrás do socorro tive que passar pelo inquérito de Patrice Lafayette, que estava inconformada por meu pai ter me deixado retornar a Beauxbatons. Foram horas e horas de conversa, onde tive que prometer a ela que não me meteria em confusão e me manteria afastado do perigo, escrevendo para eles ao menor sinal dele. Ah sim, ouvi também mil recomendações e mamãe me lembrou todos os tópicos que os aurores estavam considerando alta prioridade, quase esfregando no meu nariz fotos dos comensais conhecidos que estavam à solta, para que eu não esquecesse mesmo suas fisionomias e os alertasse caso algum resolvesse assistir uma aulinha de Poções ou Feitiços.

Já passava das 12hs quando fui liberado da audiência disciplinar para comprar as tralhas de Samuel. Gastei mais um bocado de tempo rodando o comercio trouxa atrás de algo decente e tentando saber o que era o que, mas consegui fazer tudo. Michel ia me contando que também conversou com seu pai, mas que ainda não haviam chegado a um acordo. Tio Edmund estava começando a considerar a possibilidade de voltar para a França e relutava com a idéia de mandar meu primo estudar em Londres com o perigo rondando aquela escola. Michel chegou a sugerir ser transferido para Beauxbatons como ultimo recurso, mas não estava muito animado, queria continuar com seus amigos ingleses em Hogwarts. Passei rápido pelo colégio trouxa onde estudei por duas longas semanas para me despedir dos detentos. Eles estavam todos no pátio conversando, as aulas já haviam acabado. Os quatro me questionaram por ter faltado e expliquei que estava voltando ao meu antigo colégio ainda aquela semana, mas que apareceria nas férias e ligaria para eles. Shopia reclamou bastante, mas deixei o endereço para ela me escrever e consegui que parasse de resmungar.

Já era noite quando cheguei em casa. Meu malão estava parado ao lado da lareira, junto com a gaiola de Héstia. Tomei banho e me arrumei, voltando à sala para jantar. Foi tudo bem silencioso, a refeição mais tensa que já presenciei nessa casa. Mamãe só me olhava de lado quando achava que eu não estava vendo e murmurava algo com minha tia. Papai conversava com meu tio e meu avô, mas dessa vez não sussurrava tanto e tentava manter a aparência calma. Meu avô balançava a cabeça e ria, olhando pra mim e Michel sempre que eles deixavam transparecer que ainda não estavam confortáveis com as ultimas decisões.
Quando levantei da mesa, todos saltaram junto. Ate me assustei, mas ignorei e caminhei até minhas coisas.

- Preciso ir... O Sr. avisou Madame Maxime que estou voltando, não é pai?
- Avisei sim, já está tudo acertado. Lembre-se do que nos prometeu Ian.
- E por Merlin, fique longe de confusão meu filho! – mamãe me pediu quase implorando.
- Quando tiver novidades sobre onde terminarei meus estudos, escreverei!
- Escreva sim. E não descarte estudar lá, não é ruim como você pensa... Bom, já vou indo! Até Junho...

Entrei na lareira arrastando minhas coisas com dificuldade e vovô me ajudou. Ele me entregou uma caixinha prateada, mas pediu que só a abrisse quando chegasse lá e que não deixasse minha mãe perceber o presente. Assenti com a cabeça, guardando o que quer que fosse aquilo no bolso do casaco e apanhando um bocado de pó de flu. Dei uma ultima olhada na sala e meu avô sorria e piscava pra mim, quebrando as expressões serias dos demais...

- Salão Comunal da Sapientai Angeli, Academia de Magia Beauxbatons!

Engoli um tanto de poeira quando falei alto o endereço da escola e sentia meu corpo bater no malão e nas paredes enquanto eu abraçava a gaiola de Héstia para que minha coruja não saísse com hematomas da viagem pela lareira. Cai chapado no tapete do salão comunal da minha casa, já vazio àquela hora. Pouquíssimas pessoas ainda transitavam por lá, entre elas Bernard. Meu amigo olhou assustado para onde eu estava caído e esfregou os olhos pra ter certeza de que não era miragem antes de largar o livro e se jogar em cima de mim.

- Voltei pra ficar meu amigo, ninguém me tira mais daqui! – falei levantando do chão e sorrindo para Bernard, sacudindo a poeira das vestes.


Mesmo com tantos motivos pra deixar tudo como está
Nem desistir, nem tentar, agora tanto faz...
Estamos indo de volta pra casa...

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N.A.: Trecho da música “Por Enquanto”, da Cássia Eller.

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