Wednesday, August 27, 2008

O Trevo, Parte I

29 de agosto de 1958.

- Descarto uma, desço a seqüência e... Bati. Mais uma vez. Não estão em uma noite de sorte, senhores... - Peter lançou um olhar vitorioso para todos nós na mesa, puxando uma baforada forte do charuto que prendia na boca. – E respeitosa senhora, claro. – Fez uma reverência com a cabeça na direção de Isabelle e soltou a fumaça. Ela começou a balançar as mãos freneticamente para espantar o fedor, tossindo.
- Já pedi para esbaforir isso para o outro lado. Se eu tiver câncer de pulmão aos 25 anos de idade, a culpa é toda sua. – ela disse irritada. Peter riu, puxando as fichas do centro da mesa para seu lado, amontoando-as vagarosamente.
- Cadê seu espírito esportivo, Belle? Não sabe perder com dignidade? – ele a provocou e ela semicerrou os olhos, ameaçadoramente. – Então, mais uma partida?
- Não. Estou saturado de pôquer por hoje. – me manifestei pela primeira vez, esticando os braços acima da cabeça. - Preciso ir pra casa. Meus pais vão sair e vou ficar com Vivian. Além do mais, eu sei perder com dignidade... – comentei arrancando risadas de todos. Peter, Isabelle e Lawrence também se livraram de suas cartas.
- O acampamento amanhã, está de pé? – Lawrence perguntou enquanto organizava o baralho.
- Claro que está! É nossa tradição, se lembram? Todos os anos, no dia 30 de agosto, nós acampamos no bosque. Há cinco anos fazemos isso. – Isabelle respondeu entusiasmada, mas ao olhar para mim, murchou. – Você não está desistindo, está, Derek?
- Não usaria o termo “desistir”. Só estou desanimado. Porque não tentamos um programa novo dessa vez? Acampar no bosque já perdeu a graça...
- No que, exatamente, você está pensando? – Peter parecia concordar, mas sacudi os ombros.
- Em nada, especificamente. Só queria inovar. – Belle soltou um suspiro triste ao meu lado e olhei-a.

Isabelle, Lawrence e Peter eram os meus melhores amigos. Todos os três, “trouxas”. Como eu só ficava com eles durante as férias de verão, Natal e o feriado de Páscoa, nós já tínhamos estabelecido cronogramas duríssimos para cada data. A noite de pôquer e o acampamento no bosque, que marcava a entrada de Rennes, eram programas clássicos do final das férias de verão. Desde o meu primeiro ano em Beauxbatons, seguíamos à risca nossa “agenda”, e eu percebi que tentar inová-la, deixou Isabelle muito chateada.

- Ok. Vamos acampar. Não esqueçam os marshmallows e...
- Lanternas, tortas lunares, histórias de terror, sacos de dormir... Já sabemos. – Peter foi listando entediado e concordei com a cabeça, mas Isabelle sorria abertamente.
- Vai ser divertido, admitam! – ela disse alegre. Lawrence virou os olhos.
- Se você está dizendo...

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30 de agosto de 1958.

Depois de Lawrence contar todo o seu estoque de histórias de terror, Peter o seu de piadas e a fogueira apresentar sinais de que iria se apagar definitivamente a qualquer momento, finalmente decidimos dormir. Mal tinha entrado em minha barraca e me fechado no saco, um foco de luz atravessou a parede de tecido e a sombra conhecida de Isabelle se formou. Sentei.

- Abre pra mim. – ela sussurrou do lado de fora.
- Belle? Que aconteceu? Sua barraca desmontou?
- Não, está tudo bem. Quero falar com você. Abre!

Obedeci ainda sem entender nada. Assim que abri o zíper, ela pulou para dentro e o fechou novamente. Sorriu para mim de um jeito maroto.

- Oi.
- Oi. O que...

Ia perguntar o que ela queria, mas não deu tempo. Antes que eu pudesse completar a frase, ela já havia me puxado para um beijo intenso, que correspondi. À medida que nos beijávamos, ela fez com que me deitasse novamente sobre o saco de dormir, e deitou em cima de mim. Quando nos separamos, por uns segundos, não me mexi.

- O que exatamente você quer com isso? – perguntei sorrindo e envolvendo meus braços em sua cintura. – Você tem alguma idéia de onde podemos chegar, se você continuar aqui, assim, em cima de mim?!
- E você já parou pra pensar que a minha intenção é exatamente saber até onde podemos ir? – ela perguntou baixo, provocando. Deu uma mordida no meu pescoço que me fez perder todo o pouco controle que ainda tinha. Agarrei seus braços e a girei, fazendo com que ficasse por baixo de mim. Ela riu.
- Espero que você não confunda as coisas. Nós somos amigos, é só isso que podemos ser.
- Se eu nunca confundi, porque confundiria agora?
- É diferente... – comecei e ela pareceu impaciente.
- Amigos. Nada mais do que isso. – respondeu com firmeza e puxou minha camiseta. Rimos.

°°°°°

- Tem certeza de que temos que fazer isso? – perguntei pela milésima vez a Yanic, que já havia montado em sua vassoura e esperava que eu fizesse a mesma coisa com a “minha”.
- Tenho. Você quer ou não superar esse seu medo? Vassouras não mordem. – ele respondeu paciente.
- E se eu cair? Eu nunca voei.
- Do chão você não passa, não se preocupe. – Ele disse rindo e senti meu estômago embrulhar. – Anda logo com isso, Penny! Você não vai cair. É só se segurar firme. Vamos.

Encarei o cabo de madeira tosca alguns segundos e passei uma das pernas por ele, agarrando a sua extremidade com as duas mãos, trêmulas.

- Quando contar até três, você dá um leve impulso no chão ok? 1...2...3.

Obedeci e fechei os olhos em seguida. Quando os abri novamente, senti que meus pés flutuavam. Não queria olhar pra baixo e ver a que altura estava, mas Yanic gritou bem acima de mim.

- Você vai mesmo ficar só a um metro do chão?

Olhei para cima, para olhá-lo. Devia estar há uns seis metros de distância. Olhei para baixo e constatei que era verdade. Se eu caísse daquela altura, não iria nem me arranhar. Era uma altura segura, mas não me livrava do meu medo. Fechei os olhos novamente e respirei fundo. Direcionei o cabo da vassoura para cima e joguei meu corpo contra ele. Senti-o subir cada vez mais. Endireitei-o e abri os olhos. Um pânico imenso tomou conta do meu corpo quando vi as casas de Le Havre se formarem abaixo do morro do tamanho de caixinhas de fósforos. Yanic parou ao meu lado.

- Então? Quer descer? – perguntou preocupado ao ver que estava pálida e com olhos fixos.
- Não. – Sacudi a cabeça sorrindo e sentindo o vento passar calmo pelo meu rosto. – Foi a melhor sensação da minha vida. Sentir medo e depois, me livrar dele. Não quero descer daqui tão cedo...
- Eu disse que não era difícil, não disse? – ele perguntou sorrindo aliviado e concordei com a cabeça. Ficamos em silêncio vários segundos.
- Nic... Sabe o que isso significa?
- O que?
- Que você perdeu a aposta. Eu estou voando, não estou? Você vai ter que pegar Afrodite e Héstia.
- Não podemos esperar mais um pouco? Eu realmente não gosto de cobras. – ele desfez o sorriso e foi a minha vez de rir.
- Eu também não gostava de altura. Você não tem mais motivos para adiar.

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- Você está se saindo bem. – comentei observando Yanic com os dois braços abertos enquanto Afrodite e Héstia deslizavam por eles, lentamente.
- Elas são simpáticas. Acho que podemos ser amigos. – ele não escondia o tom temeroso na voz.
- Definitivamente. – Afrodite sibilou rastejando até mim e se enrolando ao meu lado. – O cheiro dele é ótimo.
- Até mais do que isso, se você quiser. – Héstia completou se enroscando no colo dele. Ri.
- Elas aceitam a sua proposta. – disse e ele pareceu se aliviar, pois acariciou a cabeça de Héstia, sorrindo. - Obrigada. – disse antes que pudesse segurar e Yanic desfez o sorriso, me olhando sério.
- Pelo quê?
- Pela companhia. Pela amizade. Por me fazer não ter medo de altura mais... Por se tornar amigo das minhas melhores amigas. Enfim. – enquanto ia dizendo, senti os olhos se encherem de lágrima. Yanic riu.
- Você é uma boba, Penélope. Amigos servem pra isso. Você deveria ser menos anti-social e tentar uns novos, de vez em quando... Não machuca, sabia? Amanhã vou me encontrar com o pessoal da banda. Meu pai disse que está preparando uma “surpresa” antes do nosso show de abertura de ano letivo. Jude vai estar lá. Você poderia ir...
- Melhor não. É o encontro de vocês com o seu pai, coisas sobre a banda. – disse e Yanic fez uma expressão de impaciência - Não se preocupe comigo. Depois de amanhã estamos voltando a Beauxbatons e tudo vai ficar bem.
- É. Tudo vai ficar bem. – Yanic sacudiu os ombros e riu enquanto observava Héstia adormecer.

[To be continued...]

Saturday, August 09, 2008

Um dia na família Chronos

Os campos estavam silenciosos.

A planície inteira parecia vazia, sem vida, sem um único som, mesmo do vento.

Porém seus instintos e seu treinamento não mentiam, ele não estava errado.

Havia caça ali. Uma lebre talvez.

Então um pio alto rompeu a tarde, seguido do barulho de penas batendo e um pássaro grande e majestoso alçando vôo. No mesmo instante o barulho de algo se movendo próximo de um arbusto foi ouvido e uma lebre acinzentada saiu correndo pela planície assustada. E isso foi um imenso erro.

A águia subiu até uma certa altura e seus poderosos olhos focaram a presa, e com um mergulho se jogou contra o chão. Seu vôo foi rasante e certeiro, pois entre suas garras a lebre lutava desesperadamente para se liberar, mas com uma única bicada, seus movimentos cessaram.

- Muito bem, Cronus! – falei feliz enquanto estendia o braço direito à frente de meu corpo. Cronus soltou mais um pio alto e voou de volta para mim com a lebre entre as garras. Ele soltou a presa aos meus pés e pousou em minha luva de falcoaria recebendo meu carinho pelo ótimo trabalho. Agitei a varinha e levitei a lebre alguns centímetros, colocando-a em minha mochila de caça, quando ouvi barulho de cascos às minhas costas.

- Ah, filho! Vejo que vocês dois fizeram um ótimo trabalho. Teremos lebre no jantar. – Papai falou sorrindo para mim do alto de seu cavalo. Eu retribui o sorriso enquanto dava pequenas tiras de carne crua para Cronus.

- E como foi a caça à raposa?

- Foi ótima. Haviam muitas raposas e nossos Hounds trabalharam perfeitamente. Pena que você não esteve conosco e nem seus irmãos, eu adoraria a companhia de vocês.

- É que eu ainda não havia praticado falcoaria desde o início das férias, e precisava treinar Cronus, mas ele está ótimo como sempre. E o senhor conhece o Procyon, papai, ele não gosta disso, infelizmente.

- Sim, queria que ele participasse mais disso...Venha, vamos voltar. – Ele falou enquanto girava o cavalo, mas andava lentamente, para acompanhar meu passo. Cronus não se assustava com o cavalo de papai devido à proteção para os olhos que eu recolocara. Ao longe, eu podia ver o restante dos meus primos voltando para nossa casa campestre, com no mínimo 5 raposas penduradas em suas celas. – Já quanto a sua irmã, essa violência toda não combina com ela...Não venha me dizer que estou sendo machista! Sou apenas um pouco conservador, e ela é minha única filha, é como se fosse de porcelana para mim.

- Papai, se você deixasse de ver a Gomeisa desse modo, veria o quão forte ela é.

- Eu sei que ela é forte, mas não é por isso que vou deixa-la fazer qualquer tipo de coisa! Fico contente com o relacionamento de vocês, seus olhos brilham quando fala de seus irmãos.

- Nós três nos damos bem, apesar do Procyon ser tão diferente de mim...

- Ele é bem diferente mesmo...Mas gostaria que ele se ligasse mais as tradições, que gostasse de caça como gostamos, que levasse a luta e duelo a sério. Mas amanhã faremos algo que até ele gostará. – Papai falou com um sorriso que sempre demonstrava que ele tinha algo em mente e foi o suficiente para me deixar curioso e ansioso.

- O que vamos fazer, pai? Gostaria de saber logo!

- Amanhã você saberá...Olhe lá, sua mãe voltou de Londres, vamos vê-la. – Ele impulsionou o cavalo a galope e tomou distância de mim. Me vi obrigado a não correr muito para não assustar Cronus, e quando cheguei em casa, papai já havia desmontado e abraçava minha mãe.

- Senti sua falta mãe! Como foi a reunião com o Ministro? Quando papai voltou de Paris, ele contou que vocês estavam se reunindo com os Ministérios, mas não quis me dizer o porque.

- Olá, meu filho. A reunião foi um sucesso. Consegui a autorização para que você e seus irmãos possam prestar exames de aurores antes do previsto. Poderão faze-lo até o final desse ano.

- Isso é ótimo, vou contar para eles, com licença.

Depois de beija-la mais um vez e de deixar Cronus aos cuidados de nosso tratador de animais, corri para casa e encontrei meus irmãos. Gomeisa lia um livro, enquanto Procyon fitava o céu por uma janela, claramente entediado.

- Isa, Procy. O Ministro aceitou que façamos os testes de aurores antes do previsto, poderemos faze-lo até o final do ano.

- Isso é uma ótima notícia, James. Poderemos nos tornar aurores juntos talvez? – Gomeisa falou enquanto colocava o livro que lia sobre a mesa.

- Grande coisa. O Ministério deve estar sem aurores decentes para permitir que crianças façam os exames. – Procyon respondeu me dando um olhar cínico e depois voltando a encarar a paisagem.

- Se me acha despreparado, venha me testar, irmão. Ou tem medo, assim como tem medo de caçar? – provoquei, com certa raiva na voz, já de varinha em punho. Procyon ficou furioso e me encarou também de varinha em punho.

- Você deve respeito a mim, James. Sou seu irmão mais velho, e herdeiro dessa família, portanto respeite-me.

- Mamãe nunca daria o poder do clã a você. Você mal consegue duelar e caçar como um homem!

- Chega vocês dois! – Isa falou furiosa também, e em questão de segundos, eu e meu irmão estávamos sem varinha. – Caso não saibam, eu sou a primeira da linha sucessora do clã. E VOCÊS dois me devem respeito, portanto já chega!

- Sim, Isa, desculpe-me. – Falei me sentindo mal por ter elevado a voz diante dela. Minha irmã tem uma influência enorme sobre mim, e com exceção de mamãe, ela é a única que consegue realmente me fazer me sentir mal.

- Só porque você é a mais velha não pode mandar em mim! Sou seu irmão gêmeo, nasci poucos segundos depois de você. E sou homem, tenho o direito de ser o sucessor. Já basta nosso pai ter deixado nossa mãe continuar líder do clã! – Havia desprezo em sua voz enquanto falava e isso foi a última gota para mim, que mesmo sem varinha avancei contra ele com raiva.

- Retire o que disse! Não permitirei que ninguém fale assim com minha irmã, e sobre meus pais!

- Esqueci que você era o cachorrinho deles, pequeno James. – ele falou com ainda mais desprezo e me encarou. Nós éramos praticamente da mesma altura, e eu era mais forte que ele devido aos meus muitos exercícios. Mas ele tinha habilidades mesmo que eu não admitisse.

- Já basta vocês dois!! – Mamãe surgiu na sala, os olhos brilhando de raiva. Com apenas um aceno da varinha ela nos jogou em nossas cadeiras e nos olhou severamente. – Procyon Asteris, o que você falou aqui foi algo forte demais. Se repetir isso novamente eu cuidarei para que nunca mais chegue perto de algo que goste. Você sabe muito bem que eu e seu pai chefiamos o clã juntos, e que eu saiba não o criei assim. Quanto a você Alderan James, nem mesmo o que seu irmão falou é desculpa para levantar a mão para um membro da família! Nós somos unidos e sempre seremos, portanto se eu ouvir mais uma discussão de vocês dois, vocês vão desejar não ter nascido. E obedeçam a sua irmã! Ela é muito mais sensata que vocês dois juntos!

- Nos desculpe, mãe. – Eu e meu irmão falamos juntos, cabeças baixas enquanto continuávamos sentados.

- Podem voltar ao que estavam fazendo, ou deixando de fazer... Bem quero vocês três amanhã prontos para viajar. Sem desculpas. Em breve suas aulas recomeçaram e amanhã nossa família fará uma incursão em uma reserva de Grifos próximo ao litoral grego, há notícias de uma grande quantidade de mortalhas-vivas e talvez um manticore. Nós iremos caçá-los. – A notícia de uma caçada mágica era mais do que suficiente para reunir a família. Meu irmão odiava caçar e duelar, mas sempre apreciava caçadas mágicas, quanto mais perigosas melhor e seu olhar demonstrava entusiasmo.

- Era isso que papai estava falando...

- Sim, era disso mesmo. Bem comportem-se até a hora da janta. Hoje além de nós e de seus primos, seus tios também virão jantar, assim como alguns funcionários do Ministério, é bom estarem prontos. – Mamãe falou enquanto se virava para terminar os preparativos.

- Bem, eu avisei vocês dois, vocês se excederam. Irei supervisionar vocês até o jantar. – Isa falou, tentando esconder a mágoa pelas coisas que Procyon falou.

- Eu não preciso de uma babá. Estarei com o Flavius, Edward e o Claudius. – Procyon falou enquanto saia da sala sem nem olhar pra trás. Ele sempre foi mais unido aos nossos primos paternos que a nós.

- Aii...Alderan, meu irmão, você não deve se deixar levar pelas provocações do Procy.

- Não tolero o jeito como ele fala de você e de nossos pais! Não irei tolerar ele falar essas coisas de vocês.

- Por que simplesmente não as ignora? Você não precisa ser tão severo o tempo todo. – Ela falou enquanto me abraçava, e como eu era mais alto que ela, sua cabeça batia em meu peito. – Ah, antes que eu me esqueça, seu amigo, o Tristan, mandou-lhe uma carta. Está em seu quarto, e Têmis já está alimentada e te esperando.

- Obrigado, Isa, irei responde-la agora. – Falei enquanto beijava seu cabelo e subia as escadas para meu quarto. Têmis me recepcionou com um pio alegre e voou para meu ombro enquanto eu me sentava numa poltrona para ler a carta do TnT.

“Caro AJ,

Como estão suas férias?Espero que Procy ainda esteja respirando, lembre-se que sua mãe, não entendo porque, gosta dele e espero que Isa continue gatinha, especialmente quando decidir sair comigo. Ok, calma, não precisa sacar a varinha, eu adoro sua irmã e quero que ela tenha o melhor (se escondendo).

Pronto parei de brincar com a morte huahua.

Aqui continua tudo na mesma, as paredes cinzentas estão no mesmo lugar e o diretor não vê a hora que 31 de julho chegue e fique livre de mim. Mas vou deixar a ele um presente de despedida. Lembra-se que contei que ele usa uma peruca que parece um bicho morto?? Pois no dia que estiver indo embora, eu vou fazer aquele bicho se rebelar. Será meu agradecimento por não ter permitido que eu passasse férias com sua família.

Jogue um pedaço de carne sangrenta para Cronus em meu nome, dê um abraço nos seus pais, tente não duelar com Procy (sabe que ele é sensível rsrs), e dê um beijo respeitoso em Isa por mim. Já falei que é um beijo respeitoso, não faça esta cara de irmão ciumento.

Até breve, amigo.

TNT."

Após terminar de ler corri para responder e em menos de 30 minutos, Têmis já alçava vôo com um pergaminho em sua pata, contendo a mensagem:

“Olá TnT,

Pensei até que tinha esquecido do seu amigo de suspensões.

Continue com as brincadeirinhas com minha irmã, que você vai ver que a vida no orfanato é mais divertida e colorida do que estar junto de mim com raiva!!

Minhas férias estão ótimas. Tenho caçado quase todo dia, hoje por exemplo passei o dia treinando o Cronus, e praticando falcoaria, e pode deixar que ele adorou o pedaço sangrento de carne. Foi uma pena não terem lhe dado autorização para passar as férias aqui comigo, você iria gostar e poderíamos caçar e explorar muito juntos.

Você irá a Paris antes do início das aulas?

Amanhã estarei indo para o litoral grego, não sei ao certo onde ainda, mas iremos em uma reserva de grifos, caçar uma quantidade estranha de mortalhas e um manticore que surgiu por lá. Seria ótimo se você fosse junto. Fora que eu teria a companhia de alguém interessante e divertido, não agüento mais o cinismo e o humor do Procyon! Ele teve a audácia de humilhar minha irmã e meus pais! Se mamãe e Isa não tivessem me impedido eu teria brigado com ele na mesma hora.

Se for a Paris me avise que nos encontramos antes.

Que tal aterrorizarmos um pouco as ruas parisienses?

Abraços, AJ”

Friday, August 08, 2008

7 de Agosto de 1958 – Eventos aleatórios (Parte II)

- Vamos jogar quadribol – Andreas girava a pomo entre os dedos, entediado

- Quadribol? – Olívia soltou uma risada sarcástica – Não sou a Bia, Andy. Sabe que mal me equilibro em uma vassoura.

- Então vamos jogar xadrez de bruxo – Ela o olhou surpresa a e ele deu de ombros – Que foi? Estou tentando algo que lhe agrade.

- Adoraria jogar, mas não posso. Estou concentrada escrevendo e você está tirando minha atenção com esse pomo.

- Qual é a historia dessa vez?

- Era Medieval – Respondeu entusiasmada – Acho que é o melhor que já fiz até hoje.

- Você devia publicar esses contos, Ollie. São excelentes!

- Quem me dera ter coragem. Mas quem sabe um dia uma editora não se interesse...

- Ninguém vai se interessar por esse bando de baboseiras que você rabisca nos pergaminhos – Giuseppe, seu pai, entrou no quarto irritado – Já disse que está perdendo tempo com isso, mulheres não nasceram para serem escritoras.

- Agatha Christie é mulher e a maior escritora do mundo – Respondeu com raiva

- Ela é uma mulher divorciada e casada com um homem mais jovem, é esse o seu exemplo? Deveria se espelhar em sua mãe, aprender coisas úteis para ser uma boa esposa no futuro!

- Quanta hipocrisia, papai! Quer que eu seja uma mulher submissa? Sem chances! Não que eu queira, mas um dia alguém pode querer publicá-los sim!

- Quero vê-los publicar histórias em pedaços – Ele tomou os pergaminhos da mão dela e os rasgou em um movimento rápido – Limpe essa bagunça e desçam, vamos sair para tomar chá com o Ministro.

Olívia encarava os pedaços picotados do pergaminho espalhados pelo quarto, incrédula, e sem conseguir se controlar começou a chorar. Andreas, que assistia a tudo petrificado, se ajoelhou ao seu lado.

- Chá com o Ministro... Eu não vou. Acho muito mais interessante conseguir montar essa história novamente.

- Não precisa me ajudar, pode ir. Ele não faz questão da minha presença, só da sua.

- Se um gêmeo não vai, o outro também não. Pare de chorar, vai molhar os pedaços de pergaminho e não vamos conseguir ler os trechos, está dificultando o trabalho.

Olívia secou as lagrimas rindo e começou a ajudar o irmão a unir o quebra-cabeça. Sempre podia contar com Andreas e sabia que isso nunca mudaria.

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- Meus pêsames, Sr. Haili. – Catherine Perrineau abraçou forte o senhor de idade

- Tito era jovem demais, eu deveria ter sido levado primeiro – Disse o homem de aparência abatida e cansada

- Não diga bobagens! – Brigou com ele – Não deixe que as crianças ouçam você dizer isso. E por falar nelas, onde estão?

O senhor apontou para o outro lado do cemitério onde um garoto e uma garota estavam sentados sozinhos, cabisbaixos e fitando o lugar onde até minutos antes se encontrava o caixão de seu tio. Catherine caminhou até eles e se sentou na cadeira vazia ao lado da menina, alisando seus cabelos queimados de sol.

- Sei que esse não é o melhor momento, mas preciso conversar com vocês. Meu nome é Catherine Perrineau e era muito amiga dos seus pais...

- Sabemos sobre você, tio Tito falou quando adoeceu – O garoto moreno falou com a voz rouca, ainda sem encarar Catherine

- Ótimo. Então sabem por que estou aqui? – Ele confirmou com a cabeça, mas sua irmã não se moveu – E o que acham sobre isso?

- Bruxos existem mesmo? – Perguntou a encarando pela primeira vez. Seus olhos eram verdes e estavam fundos, era evidente que não dormia há horas

- Sim, eles existem. Eu sou uma, e vocês também. Sua mãe era uma bruxa excepcional e não há qualquer duvida de que vocês tenham herdado isso dela.

- E o nosso pai?

- Ele era trouxa – Ele reagiu ao nome e ela riu – Trouxa é como os bruxos chamam pessoas que não possuem magia. Vocês estão muito atrasados na educação mágica, mas acho que em Beauxbatons terão o suporte necessário, logo alcançaram os outros alunos.

- Beauxbatons? O que é isso? – perguntou curioso

- Beauxbatons é a escola de magia da França. Foi onde conheci sua mãe.

- Bruxos têm uma escola? – ele riu pela primeira vez – Desculpe, mas é que é esquisito.

- Tudo bem, sei que tudo é novidade pra vocês. Mas garanto que se vierem morar comigo, logo se acostumam a fazer parte desse outro mundo. Meu marido e meus filhos também são bruxos, e os meninos têm a sua idade.

- São gêmeos?

- Não, ambos são adotados. Philipe é africano e Kwon coreano, olhe uma foto deles... – E puxou a carteira da bolsa

- Parecem legais... Teríamos que nos mudar do Havaí, não é? É que aqui é a nossa casa.

- Eu não vou me mudar – A menina se manifestou pela primeira vez, o rosto molhado de lágrimas – Quero ficar com o vovô.

- Nani, o vovô é muito velho, não pode cuidar de nós dois.

- Podemos cuidar de nós mesmos, tio Tito nos ensinou a fazer tudo sozinhos.

- Sei que é difícil uma mudança dessas, e tão repentina, mas acredite, será o melhor para vocês – Catherine falou com a voz carinhosa – Era o que seus pais gostariam, foi o que eles instruíram Tito a fazer. Ele apenas demorou alguns anos para cumprir o que Ailana e Kaiko pediram.

- Nós vamos sim, era o que eles queriam, então vamos obedecer. Já conversamos sobre isso – O garoto falou pelos dois e estendeu a mão a ela – Me chamo Kalani.

- Muito prazer, Kalani – Catherine sorriu – Vocês vão adorar Mônaco. Mas agora é melhor irmos, ou vai ficar tarde. Vou ajudá-los com as malas.

Os três seguiram até a casa simples onde os irmãos viviam com o tio e no fim da tarde todas as suas coisas estavam embaladas em caixas e malas. Nani arrumava suas coisas em silêncio, enquanto Kalani demonstrava curiosidade sobre o mundo do qual agora faziam parte, perguntando diversas coisas a Catherine. O avô chegou para se despedir dos netos prometendo visitá-los nas férias e eles partiram para a praia. Kalani se despediu de seu melhor amigo, Kai, e parou ao lado do avião que estava na beira do cais.

- É um monomotor, vai nos levar até São Francisco e de lá pegaremos um vôo até Paris – Catherine explicou – Vamos?

Kalani assentiu com a cabeça e entrou, se acomodando em uma das poltronas. Sua irmã deu um último abraço no avô e embarcou. Enquanto o avião decolava, ela teve uma última visão da casa onde cresceu. E não pode evitar que uma lágrima triste caísse enquanto a via se distanciar cada vez mais. Não tinha mais volta, estavam deixando o Havaí para começar uma nova vida na França.

Thursday, August 07, 2008

7 de Agosto de 1958 – Eventos aleatórios (Parte I)

- Mas diga Marcel, qual a sua opinião sobre esse apelo contra a escravidão de elfos domésticos que parece estar tomando força? – Um bruxo alto e de aparência pomposa perguntou ao garoto loiro ao seu lado, enquanto tomavam uma taça de gilly.
- Eu apoio ele – Disse no mesmo tom de voz formal do bruxo – Acho que os elfos merecem sim melhores condições de trabalho.

- Mas se libertarmos os elfos, quem trabalhará para os bruxos? – O homem parecia chocado com a opinião do mais jovem.

- Eles são elfos, não escravos. Pague a eles um salário digno, e o trabalho continuará sendo feito. Bruxos estufam o peito para dizer que são melhores que os trouxas, e, no entanto, o tempo de escravidão para eles já teve fim há muitos anos. Eu apoio o movimento! – O jovem disse com firmeza e o homem olhava para ele sem reação.

- Sim, estamos cientes de seu apoio a essa nobre causa – Um segundo bruxo se aproximou com ar de desdém, sorrindo forçado para as pessoas que o cumprimentavam – Mas talvez não seja prudente um príncipe, herdeiro do trono de Mônaco, fazer discursos em público sobre assuntos não oficiais como o que fez naquela passeata que ocorreu em Paris há alguns meses.

- Cadbury, meu pai pode ter nomeado você minha babá oficial, mas isso não lhe concede o direito de controlar minha vida – O garoto respondeu friamente, apertando a mão de um senhor que passava e sorrindo – Acho mesmo um absurdo que o Ministério da Magia ignore a voz de tantos bruxos pelo simples conforto de terem elfos como escravos em suas casas. Ninguém pode me impedir de pensar por conta própria.

- Como quiser majestade, mas estou apenas cumprindo ordens de seu pai, o Rei – O homem chamado Cadbury sorriu para o garoto, que não retribuiu – E por falar nele, vim lhe buscar. Vossa majestade solicita sua presença imediatamente, a corrida já vai começar. E meu cargo é assessor particular, não babá oficial.

- Soa como uma babá pra mim – Ele estendeu a mão ao homem, que apertou sorrindo gentilmente – Perdoe-me Lucien, mas tenho que me retirar. Depois continuamos a conversar.

Marcel se afastou dos dois homens e se dirigiu ao hall onde sua família estava reunida. Seu avô fez sinal para que ficasse ao seu lado e ele obedeceu. Bocejou e sacudiu a cabeça, parando de fazer careta e montando o sorriso padrão para se juntar aos outros cinco membros da família real que saíam para a luz do dia, prontos para saudar as pessoas que aguardavam na rua e assistir à corrida. Certas coisas nunca mudariam.

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- Erga mais o cotovelo, Kwon! – Seu pai falou áspero da lateral do campo – Olho na bola do arremessador!

O garoto coreano fechou os olhos e respirou fundo antes de erguer o cotovelo e encarar o arremessador do time adversário que se preparava para lançar a bola. Seu pai, o técnico do time de beisebol da região, gritava palavras de incentivo a ele. O garoto magricela arremessou a bola e ele não conseguiu rebater.

- Strike três, está fora! – O juiz apontou para o banco

Kwon atirou o capacete no chão com raiva e cruzou a tela de proteção para se juntar aos companheiros de time. Seu pai bagunçou seu cabelo como sinal de que estava tudo bem e se virou para seu outro filho, de pé ao seu lado.

- Você é o próximo, Philipe – Disse colocando o capacete na cabeça do garoto – Mostre a eles, faça um home run!

O garoto africano pegou o bastão das mãos do irmão e correu para o campo. O arremessador do time adversário brincava com a bola em provocação, mas ele não lhe dava atenção. Esporte era o seu forte, era bom em tudo que fazia. Se rebatesse aquela bola para fora do campo, seu time ganharia o campeonato juvenil de Mônaco.

O primeiro arremesso o derrubou. Ele levantou batendo a terra da calça e direcionou um olhar irritado para o arremessador, que riu debochado. Seu pai observava de braços cruzados do banco, parecendo inquieto. O garoto arremessou de novo e dessa vez Philipe moveu o bastão, mas ele não acertou a bola. Os garotos do time adversário gritavam no banco para desconcentrá-lo e Philipe fechou os olhos por alguns segundos, tentando abafar os gritos e recuperar a concentração.

- Vai rebatedor, manda pra fora – Ele ouviu Kwon gritar batendo palma com outros colegas de time e ajeitou o capacete, sorrindo para ele

Ele retomou sua posição e concentrou o olhar para a bola na mão do arremessador. O garoto lançou sua bola mais difícil, mas Philipe estava atento dessa vez e acertou o bastão com força nela. Ela subiu alto e tomava cada vez mais velocidade. O time no banco começou a comemorar quando ela passou por cima da arquibancada e foi para fora do campo. Philipe atirou o bastão no chão e correu para completar todas as bases dando pulos e com os braços erguidos. Seu pai pegou o troféu das mãos do organizador do campeonato e o entregou a Philipe, que o ergueu para o resto do time. Era mais um para enfeitar a estante dos irmãos Perrineau.

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- Alcachofra, Mademoiselle Darrieux?

- Sim, obrigada – A menina ruiva sorriu gentilmente ao mordomo e observou-o colocar a alcachofra em seu prato – Ai meu Merlin, como foi mesmo que o Marcel falou? Pensa Danielle, usa o cérebro! – Ela pensou enquanto sorria tímida para o namorado e sua irmã sentada do outro lado da enorme mesa. A menina parecia esperar que ela comesse primeiro – Como era mesmo? Se acalma, Danielle! Alcachofra quando vem inteira, acompanha o molho e é para ser desfolhada a mão! Isso! – Ela sorriu mais confiante e pegou a alcachofra, começando a desfolhá-la

A garota de cabelos loiros do outro lado da mesa torceu o nariz de leve ao ver o irmão sorrir satisfeito, porém, Danielle não notou. Aquele jantar na casa do namorado parecia não ter fim. A insistência de sua mãe em manter uma conversa com ela sobre carreira, família e casamentos estavam deixando-a apavorada, tinha receio de dizer algo errado. Ela agradeceu em silêncio quando o jantar enfim terminou e o rapaz de cabelos tão loiros quanto os de sua irmã pediu licença à mãe e ao pai e a puxou para outro cômodo da mansão.

- Ai meu amor, obrigada! – Ela se pendurou em seu pescoço o cobrindo de beijos quando já estavam longe do restante da família – Não sabia mais o que falar com a sua mãe, ia começar a cantar o hino da França!

- Mil desculpas, por favor – Ele a ergueu do chão em um abraço apertado – Mas meus pais insistiram para que lhe trouxesse aqui, não tinha mais argumentos para adiar. Esse dia teria que chegar eventualmente!

- Tudo bem, eu sobrevivi! Mas não foi nada fácil, não sabia usar todos aqueles talheres e pratos diferentes! – Disse fazendo careta. Ele riu – Fiquei repassando mentalmente tudo que Marcel me ensinou ontem. O que foi? – Perguntou quando ele riu

- Já disse o quanto eu te amo? – Ele olhava para ela sorrindo. O sorriso meigo e carinhoso que ela tanto adorava – Adoro esse seu jeito, a maneira como você fala, até quando você faz careta. Adoro tudo em você, Dani...

A garota sorriu e o abraçou com força. Ela sentia que não havia agradado tanto assim a seus pais, talvez um pouco sua mãe, mas não tinha importância. Tudo que importava era que eles gostavam um do outro o suficiente para superar e passar por cima do que fosse preciso. E ela tinha certeza que era o que ambos fariam.

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- Seu braço duro, não consegue nem arremessar uma goles direito! São só 10 jardas – Johnny Delacroix caçoou o amigo – Tenho ingressos para o próximo jogo da temporada – disse pegando uma garrafa de cerveja amanteigada e colocando no capô do carro – São de vocês se a garrafa não quebrar. Se quebrar, vocês pagam o valor dos ingressos.

- Um arremesso de 10 jardas para o astro do Quiberon Quafflepunchers? – um dos seus amigos riu – Nos dê alguma vantagem pelo menos! Assim você ganha fácil!

- Não sou eu que vou lançar – ele riu – Minha irmã vai.

- Eu? – Bianca, que até então observava os irmãos conversarem com os amigos sem interesse, ergueu a sobrancelha surpresa

- Ok, apostado! – Gaston se apressou em puxar o dinheiro do bolso e os amigos fizeram o mesmo – Um arremesso apenas.

- Johnny, tem certeza? – Bianca olhou incerta para a garrafa e para os garotos rindo – Pierre quase torceu meu pulso ontem naquela brincadeira idiota na sala.

- Você consegue, sei disso – ele apertou os ombros da irmã e a colocou na posição – Pode fazer tudo que quiser, Bia.

- Como é que é, Johnny? – François bateu palmas debochado – A garotinha vai lançar ou não?

- É o seu dinheiro... – Bianca olhou atravessado para os garotos e tomou a goles da mão de um deles

A garrafa estava a uma distancia de 4 carros enfileirados. Ela girou a goles na mão uma única vez e com um arremesso forte, acertou-a em cheio, espalhando pedaços de vidro no chão. Riu com satisfação enquanto seu irmão do meio, Pierre, recolhia o dinheiro dos amigos e Johnny a ergueu do chão.

- Foi perfeito! Disse que podia fazer isso, não disse? – Johnny a colocou no chão novamente e sentaram no banco

- Você viu aquilo? E meu pulso está inchado! – falava eufórica

- Quadribol está no nosso sangue, Bia – ele abraçou a irmã – E sei que um dia vai poder mostrar o seu valor. Ainda não desistiu, não é?

- Nunca! – levantou de um salto e pegou a goles do chão – Ainda vou defender as cores da casa que vocês defenderam! Mas até lá, que tal uma partida contra seus amigos idiotas?

Johnny levantou animado e pegou a goles da mão de Bianca, correndo até os amigos e os desafiando para uma partida. Delacroix x visitante. E o placar foi um massacre a favor do time da casa.

((Continua...))

Wednesday, August 06, 2008

Flashfoward:

1° de julho de 1970, Itália.


♪ Jammo, jammo, 'ncoppa jammo ja', jammo, jammo, 'ncoppa jammo ja'.
Funiculí funiculá, funiculí funiculá, 'ncoppa jammo ja', funiculí funiculá ♪

Restaurante trouxa.
Mesa para dois.
Luz de velas. Seresta.
Um bom vinho.

E quem diria que 12 anos depois, 12 exatos anos depois de terem se conhecido naquele fatídico encontro estariam comemorando suas Bodas de Estanho!

Thomas e Marie, ou TJ e MJ como costumam se chamar, se conheceram há 12 anos atrás quando seus melhores amigos, Ana Sofia e Desmond, começaram a namorar e forçaram a presença dos 2 em todos os momentos do casal. As primeiras impressões não foram das mais confiáveis e muito menos devem ser levadas em consideração... Não mesmo!

Fagulhas e faíscas do passado a parte, 10 anos de casamento são 10 anos de casamento... E nenhum desses anos pode ser esquecido!


Diário de Marie Jeanne 'M.J.' Midge Jabouille - 1970


Ai Merlin, AI MERLIN!

TJ se superou esse ano, COM CERTEZA!

Mandou que me arrumasse para comemorarmos nosso aniversário de casamento e me jogou num trem! Fiquei revoltada, afinal, se soubesse que iríamos viajar de TREM teria colocado jeans e moletom, e não um vestido de noite. Mas ainda bem que, conforme aprendi nos últimos anos de casada, retraí meus sentimentos momentâneos e não expus minha revolta...

Viemos à Itália... Por Merlin, há quanto tempo não vamos à Itália!
Ok que eu não tinha grandes recordações daqui e por isso mesmo evitei essa viagem nos últimos 10 anos, mas TJ não iria meeeesmo descansar antes de me convencer a voltar à Itália. Se bem que ele nem teve que me convencer... Praticamente me amarrou e me jogou no trem!

O que importa é que, por mais que essa musica ♪ funiculí – funiculá ♪ já esteja me irritando e que eu perdi o capítulo de ‘Sopa de Amor’ de hoje à noite, mais importante que isso é que estou ao lado de meu grande e único amor por todos esses anos e somos mais que eu e ele, somos nós!

Uhm, sobremesa!!!



Diário de Viagem de Thomas Junior – 1970


Viagem de férias, unindo o útil ao agradável, consegui, através de meus próprios meios, depois de 10 anos, trazer MJ de volta a Itália e acredito que depois da expressão de surpresa dela, ganhei alguns pontos com o setor masculino que busca dia a dia agradar em 99% suas esposas! Porque claro que nunca NUNCA conseguimos agradá-las totalmente, ainda mais se elas se negarem a facilitar o jogo. Mas ok, meu dia chegou!

Aproveitarei a viagem para umas pesquisas de campo para meu novo livro ‘Trouxas deste mundo’, mas para isso terei que ter muito jogo de cintura com a Sra. Speaker, já que por mais que tenha gostado da surpresa, às vezes me espanta ao reclamar que na Itália faz muito calor, ou que não agüenta mais ouvir ♪ funiculí – funiculá ♪ (ok, e quem agüenta?), ou que perdeu seu programa favorito.

Engraçado como este restaurante continua a mesma coisa desde a ultima vez que estivemos nele, há 12 anos atrás...

Tuesday, August 05, 2008

1942, o ano em que tudo começou...

- Não posso mais Bryce…
- Agüente só mais um pouco, meu amor, estamos quase chegando...- e o homem embora fraco pelo ferimento que carregava, suprimiu a dor e a ergueu nos braços para carregá-la. A mulher embora magra exibia uma barriga que não deixava duvidas sobre o seu estado: ela estava grávida. E ele faria tudo que pudesse para salvar o bem mais precioso de sua vida: sua família.
Chegaram a um pequeno vilarejo que ainda não havia sido ocupado pelos alemães. Bryce mandou às favas toda a prudência e bateu na primeira porta que viu. Para sua sorte, um casal de velhos apareceu e ao verem o jovem casal, os acolheram, pois viram que a bolsa d’água havia se rompido. O trabalho de parto, demorou muito, e quando o céu se iluminou com os primeiros bombardeios alemães, o choro de um bebê robusto era ouvido naquela casa humilde.
Ela após segurar seu filho nos braços, olhou para o marido e disse:
- Quero que ele tenha o nome de Tristan.
- Podemos escolher o nome depois Suzanne, você precisa descansar...
- Não terei tempo para isso Bryce, prometa que ele terá o nome de meu pai.
- Prometo, tudo o que você quiser, mas fique boa...
- Você fez a minha vida valer a pena, amo vocês...- foram as últimas palavras da jovem mãe ao homem que abraçava a trouxinha nos braços e chorava como uma criança.

A velha embalava o pequeno sobrevivente, enquanto seu marido conversava com o jovem pai, que estava queimando de febre. Infelizmente o estado do homem era tão desesperador quanto o da jovem mulher. Ele tinha um ferimento a tiro mal cicatrizado, e não disse nada. Somente quando caiu, é que perceberam o quanto ele estava doente.
- Você poderia ficar aqui por uns tempos filho, até seu filho ficar mais forte...
- O senhor não quer saber quem eu sou?
- Sei que você é um homem defendendo sua família, nestes tempos é só o que me importa.
- Assim que conseguir entrar em contato com minha família, eu poderei pagá-los por todo o trabalho... Temos posses...
- Não quero o seu dinheiro. O ajudei porque você se parece com meu único filho que a guerra me levou. Não pude fazer nada por ele num campo de batalha, mas posso tentar te ajudar...
- Preciso pedir-lhes um favor: quero que fiquem com meu filho enquanto vou atrás de minha família...
- Mas você está muito ferido... Poupe suas forças, filho.
- Sou escocês e faço parte da resistência francesa, assim como minha mulher, Suzanne. Ela é uma Thorn de Nantes. Sou um bruxo, mas minha mulher não. Não pude usar meus poderes porque durante um cerco à nossa casa, minha varinha foi partida. Vejam...- e mostrou pequenas lascas de madeira, ligadas por um fio parecendo uma corda de violino em sua mão. - os velhos olharam com atenção, mas dava para ver que eles achavam que o jovem estava delirando pela febre.
- Filho... Bruxos não existem...- disse a mulher timidamente.
- Existem, ou você acha que não há um bruxo poderoso apoiando os inimigos? Acha que sem ajuda, um homem que quer exterminar milhões de pessoas, faria isso sem ser detido? Pois ele conseguiu a ajuda de Grindelwald, que quer acabar com o seu mundo e para isso, vai utilizar a sede de poder de um homem que não valoriza a vida. Por isso alguns bruxos de meu mundo se juntaram a vocês, para equilibrarmos a luta, para que vocês tenham alguma chance... - fechou os olhos por alguns segundos para arranjar forças. Ele tinha que falar tudo e rápido.
- Este medalhão, é um medalhão que mandei fazer. De posse dele, meu filho será recebido por meus familiares e será cuidado. Prometam que vão levá-lo até lá...- e os velhos viram um medalhão todo de prata, com um dragão marinho em relevo.
- Para onde quer que levemos o menino?
- Loch Ness, é onde minha família está desde o início dos tempos...Somos antigos sabe?
Minha família não sabe para onde vim, e com quem. Não sabem que me casei e nem que tive um filho. As respostas que eles precisam está neste medalhão. Prometam que o protegerão. - e segurou a mão do velho com força.
O velho após olhar para a mulher assentiu dando sua palavra de honra. Então o bruxo segurando as lascas de madeira e o medalhão aberto murmurou algumas coisas e assombrosamente um fio prateado começou a sair de sua boca e entrar no medalhão. Ele parou por uns segundos e perguntou:
- Qual era o nome de seu filho?
- Napoleon.
- Meu filho será Tristan Napoleon, não se esqueça de sua promessa... - e disse antes de fechar o medalhão: ‘Só se revelará por quem procurar a verdade’. - e antes que falasse mais alguma coisa, fechou os olhos novamente e desta vez para sempre.
O casal de velhos chorou por aquele jovem casal, mas o grito de fome do pequeno os fez voltar os pensamentos ao que era mais urgente.
- O que vamos fazer com o pequeno?
- Ele tem nome, é Tristan Napoleon.
- Eu sei, mas e o resto? O pai morreu antes de nos dizer o seu sobrenome...- o velho após pensar por uns segundos disse:
- Será Tristan Napoleón Thorn, e vamos cuidar dele, até que ele se reúna com a sua família.

Infelizmente naqueles tempos de guerra, algumas promessas mesmo bem intencionadas, não puderam ser cumpridas.

I'll be seeing you;
In every lovely, summer's day;
And everything that's bright and gay;
I'll always think of you that way;
I'll find you in the morning sun;
And when the night is new;
I'll be looking at the moon;
But I'll be seeing you.

N.Autora: - I'll Be Seeing You - Frank Sinatra
- Grindelwald, personagem de J.K. Rowling

Monday, August 04, 2008

E P Í L O G O

O relógio da escrivaninha marcava pontualmente cinco horas da madrugada quando Jane o consultou.
A casa estava em completo silêncio – desconsiderando, é claro, a respiração pesada de seu marido no quarto. Ela passara a noite em claro terminando de escrever o romance que já estava cotado para entrar na lista dos Best Sellers assim que fosse lançado, no próximo mês.
Pensou em ir dormir, mas as três xícaras de café forte que havia tomado ao longo das horas a mantinham acesa. Releu o último capítulo e se emocionou, – provavelmente de exaustão e satisfação, pois passara os últimos três anos por conta da série e ao final de tudo, sentiu que havia chegado exatamente ao ponto onde queria – lembrando-se de como havia se inspirado para começar a escrever estes últimos três livros.
Organizou e guardou todas as folhas dentro da gaveta, para entregar na editora. Fechou os olhos e respirou fundo, afundando a cabeça nas mãos. Ela nunca soube responder se havia adormecido e eventualmente sonhado, mas quando levantou a cabeça e abriu os olhos, um novo livro já estava completamente formado em sua mente. O título, os protagonistas, os antagonistas, a trama e até a trilha sonora de cada momento. Tudo parecia se encaixar detrás de seus olhos, como um quebra-cabeça. Sem conseguir esperar mais um segundo, foi até a estante e puxou uma caixa preta, abrindo-a. Dentro dela vários e vários diários completos se acomodavam organizadamente. Pegou um que na capa tinha o ano formado em auto-relevo: 1958. Vacilou um pouco antes de abri-lo, mas sentiu que já estava na hora de desenterrar o passado. As páginas de pergaminho envelhecido estavam grudadas com o pó. Passou a mão com cuidado na primeira delas, limpando-a e leu a única frase que constava ali, reconhecendo de imediato aquela caligrafia fina e caprichada: ‘Este diário pertence à Jude Bertrand Mandeville (eu). Folhear as próximas páginas sem meu consentimento pode lhe custar a vida’. Riu.
Folheou várias outras páginas, parando em algumas em especial e lendo-as por completo. Levou o diário até a escrivaninha e colocou-o aberto ao lado, esticando uma nova folha branca na máquina de escrever. Seus dedos pareciam involuntários quando iam batendo nas teclas e formando o título: O trevo de oito estações, de Jane Muir ¹.
Encarou a capa alguns segundos e resolveu pular os agradecimentos. Decidira deixar os agradecimentos por último. O prólogo era curto, no entanto, completo:

the Courage to face alone at last
the Risk of reliving a tormented past;
the Yielding to a role long cast –
I owe to many along the way.

the Opportunity at last to share;
the Understanding, its strength to dare;
the Truth I know as loving care –
I owe to few, only yesterday.²


E então, desabou em lágrimas. O passado retornara a ela com todo o seu peso e todas as circunstâncias. Ela sabia que uma vez que havia começado, seus próprios princípios não deixariam que ela parasse sem antes terminar completamente. Mas se perguntava se daria conta de chegar até o fim e lembrar tudo o que acontecera anos atrás, na Academia de Magia Beauxbatons...

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¹ Jane Muir é uma escritora americana. Tomei “emprestado” o seu nome para ser o nome fictício de uma das minhas novas personagens: Jude Bertrand Mandeville. Ela será a narradora da história toda.
² O acróstico foi tirado do livro de título original “Cry Out!”, em português “Gritos do Silêncio” de P.E. Quinn, do ano de 1984. Sua tradução literal é: “a coragem de enfrentar sozinho afinal,/ o risco de reviver um passado atormentado;/ a aceitação de um papel tão duradouro -/ devo a muitos pelo caminho.// a oportunidade de enfim compartilhar;/ a compreensão, sua força para ousar;/ a verdade que considero um cuidado amoroso -/ devo a poucos somente ontem.”

Friday, August 01, 2008

Epílogo

"Quando confrontados pelos nossos piores pesadelos, as escolhas são poucas: lutar ou fugir. Nós torcemos para encontrarmos forças que nos façam enfrentar nossos medos. Mas, às vezes, apesar de querer lutar, nós fugimos. Mas até quando e onde podemos nos esconder dos nossos medos?"

Heroes - Fight or Flight


31 de Outubro de 1981

A chuva fina que insistia em cair forçara a maioria das pessoas a procurar um abrigo na tentativa de se aquecer. De todas as pessoas presentes ao funeral, apenas as mais improváveis permaneciam de pé, na chuva, contemplando o caixão fechado e aguardando que fosse sepultado. Eram julgados os mais improváveis apenas para quem os conhecia, mas não a fundo, claro. Talvez ninguém, além deles mesmos, fosse capaz de afirmar que conhecia de verdade cada uma daquelas pessoas de pé, no mais absoluto silêncio.

Pessoas tão próximas, e ao mesmo tempo tão distantes. Permaneceram afastados uns dos outros sem trocarem uma palavra sequer por intermináveis 30 minutos, até que o silêncio foi quebrado pela chegada da última pessoa que faltava para completar a antiga família. E talvez a única, nas atuais circunstâncias, com coragem parar tocar algumas feridas ainda não cicatrizadas.

- É uma pena que tenha sido necessário uma tragédia para que eu pudesse revê-los – a mulher disse com a voz amargurada e todos a encararam

Permaneceram em silêncio, apenas observando-a se aproximar do caixão e colocar um colar em forma de cruz sobre ele. Acompanhavam cada movimento seu com o olhar e ao perceber a nítida apreensão que consumia cada um deles, riu.

- Sabem, quando estávamos na escola, se alguém me dissesse que chegaríamos ao ponto de estarmos dividindo o mesmo espaço sem trocarmos uma única palavra, pediria a internação imediata da pessoa.
- Todos pediriam – o homem de cabelos muito negros se pronunciou e sua esposa apertou seu braço, desconfortável.
- Obrigada por não me deixar falando sozinha – disse sorrindo para ele, e teve o sorriso retribuído – Lamentável que nem todo mundo entenda o que um simples gesto como esse pode representar.
- Vamos embora – a mulher de cabelos tão negros quanto os do homem segurou o braço do marido e o puxou – Não sou obrigada a ficar e ouvir isso.
- E lá vai ela outra vez... – falou debochada, consultando o relógio – Alguém apostou que ela ficaria meia hora dessa vez?
- Quem você pensa que é pra vir aqui me ofender? – a mulher partiu para cima da outra, já com a mão apertando a varinha
- Aquela que você deixou na mão quando mais precisei. E logo quem eu mais ajudei...
- Senhoritas, por favor, não vamos brigar – o homem moreno se pôs entre as duas e logo afastou sua esposa da recém-chegada – Vamos mostrar um pouco de respeito, isso é um funeral.
- Respeito é uma coisa que há muito não existe entre nós, meu caro – o homem loiro que até o momento se manteve afastado consolando a esposa se manifestou. Ele tinha o semblante mais sério de todos, tão diferente de quando era garoto – Mas você está coberto de razão. Isso é um funeral. Se não existe mais respeito entre nós, que estamos vivos, vamos ter com os mortos. Uma pessoa que sempre representou muito para todos nós merece, ao menos, que as brigam sejam cessadas enquanto seu corpo está sendo velado.

Ninguém respondeu, mas concordaram em silêncio que ambos tinham razão. A chuva cessou e aos poucos os familiares e demais amigos começaram a se reunir ao redor deles, para que o enterro fosse, enfim, concluído. Nenhum deles se encarava. Contemplaram, com muito pesar, o caixão de madeira preta descer lentamente até ser totalmente coberto por terra e flores. Um a um, ainda sem trocarem uma única palavra, foram saindo. O homem loiro, até então muito sério, afastou-se da esposa e filhos e se dirigiu até a mulher. Com um sorriso fraco e muito abatido, puxou um envelope do bolso e lhe entregou.

- Não sei o que é, mas acho que pensava que você saberia – disse indicando o lugar onde minutos antes tinha um caixão – Foi a última coisa que me pediu, que lhe entregasse isso.
- Muita coisa ruim aconteceu e acabou por afastar a todos nós, mas alguma coisa me diz que vamos nos ver outra vez – disse sorrindo também e guardando o envelope no bolso
- Queria acreditar, mas não sei se devo. Muita coisa aconteceu, nós mudamos.
- Não, meu amigo, não mudamos tanto assim. Apenas esquecemos como éramos de verdade. Voltaremos a nos ver, eu garanto. E não será em um enterro.
- Conto com isso. E ninguém culpa você pelo que aconteceu, não se preocupe.
- Sei disso, mas obrigada assim mesmo.

O homem sorriu menos abatido dessa vez e deram um longo abraço antes de se afastarem. Ele ficou parado observando a amiga se misturar às demais pessoas e deixar o cemitério. Não via como uma reconciliação do grupo seria possível, mas torcia para que ela tivesse a solução.

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