Monday, October 12, 2009

"O homem pode suportar as desgraças, elas são acidentais e vêm de fora. O que realmente dói na vida é sofrer pelas próprias culpas."

Oscar Wilde



- Bianca, mais atenção! Desçam as vassouras!

A voz enérgica de PJ me fez voltar à realidade e empinei a vassoura para baixo, vendo a goles cair lentamente bem longe do aro por onde deveria ter passado. Philipe e Kwon já haviam desmontado de suas vassouras e esperavam ao lado de PJ. Desde que havia retornado de Saint-Tropez e agora com Philipe e Kwon de volta a Mônaco para ajudar, PJ marcava treinos diários e duradouros. Era cansativo, a noite mal conseguia terminar o jantar e já estava desmaiada na cama, mas não havia reclamado uma única vez. Manter-me ocupada com os treinos durante boa parte do dia, e na companhia de Philipe, me mantinham longe de Kalani e sem tempo para pensar no que havia acontecido.

Kalani e eu havíamos chegado a um acordo de poucas palavras de nunca mais tocar naquele assunto e esquecer o que aconteceu, agir como se nossa viagem a Saint-Tropez tivesse terminado com a minha rápida aula de surf, o que viesse depois dela não tinha acontecido. Era um acordo excelente pra mim, pois não tinha a menor pretensão de contar a Philipe sobre aquilo. Havia sido um momento de fraqueza, do qual eu ainda não consigo explicar meu comportamento, e que agora fazia parte do passado.

- Onde está com a cabeça hoje, Bia? – PJ começou a esbravejar assim que cheguei até eles – O aro estava bem na sua frente e atirou pro lado!
- Desculpe, me desconcentrei por um instante – tentei me justificar.
- Um erro desses pode lhe custar uma vaga em qualquer time.
- Dê um tempo a ela, PJ – Philipe me defendeu – Estamos treinando há horas e amanhã voltamos a Beauxbatons, estamos todos meio desconcentrados hoje.
- Isso não é desculpa, mas vou deixar passar porque prometi ao pai de vocês de estaria no campo uma hora antes do treino da liga infantil e isso me dá 5 minutos para chegar lá – PJ consultou o relógio e largou o cronometro na mão de Kwon – Até o jantar.

PJ desaparatou no mesmo instante e Kwon guardou o cronometro no bolso, se despedindo dizendo que ia para casa tomar banho e depois acompanhar o treino da liga infantil pelo resto da tarde. Philipe me abraçou animado pelo treino ter terminado e voltamos para a minha casa. Ele agora passava o tempo inteiro aqui, e eu não reclamava pelo fato de também não passarmos um pouco do tempo livre na sua casa, ficar aqui evitaria situações constrangedoras. Minha mãe havia preparado uma enorme mesa para o lanche da tarde e Eugene já estava ocupado com os diferentes tipos de doces espalhados na mesa. Agora que já tinha 11 anos e ia para Beauxbatons, não fazia mais parte da liga infantil de quadribol de Mônaco, o que pra ele significava apenas uma coisa: estava livre da dieta equilibrada imposta pelo nosso pai.

Nosso embarque de volta para a escola era na manhã do dia seguinte e Eugene não poderia estar mais animado. Já tinha feito e desfeito a mala várias vezes para se certificar de que não estava esquecendo nada e passava o dia inteiro nos enchendo de perguntas sobre o castelo, embora já não existisse mais nada que ainda não tivéssemos contado a ele desde que começamos a estudar lá.

Eu também estava empolgada por voltar, mas não tanto quanto meu irmão mais novo. Voltar a Beauxbatons no dia seguinte significava começar o nosso último ano de escola. Estava louca para voltar à rotina de aulas, aprender feitiços novos e rever os amigos que não moram em Mônaco, mas dizer adeus no fim do ano letivo seria muito doloroso. Se despedir da nossa casa não seria fácil.

- Percebeu que essa é a primeira vez que conseguimos ficar sozinhos desde que voltei da África? – Philipe falou me puxando para perto dele no sofá, depois que acabamos de comer.
- É porque estão todos arrumando as malas pra voltar, senão duvido que não estivessem aqui, falando alto e com os pés em cima da mesinha.
- Como foram as férias por aqui? Fizeram algo de interessante?
- Não, nada demais – dei de ombros, tentando parecer indiferente – Você sabe, a programação de verão de Mônaco nunca muda.
- Mas você não foi pra Saint-Tropez com o Kalani? Devem ter feito algo de bom por lá!
- Não gostei muito de Saint-Tropez – ele me olhou espantado – Kalani tenho certeza que gostou, mas eu senti sua falta.
- É, ele sem duvida gostou, estava querendo tirar a poeira da prancha desde que chegou aqui.
- Não quero falar das minhas férias chatas, conte como foi a sua – desviei o alvo da conversa para ele – Como foi na África?
- Ah meu amor, foi incrível! Conheci tantos lugares interessantes, não consigo nem descrevê-los!
- Você chegou a encontrar a comunidade onde nasceu?
- Encontrei sim, e conheci minha mãe biológica – seu tom de voz mudou um pouco. Passou da euforia para a preocupação.
- O que aconteceu? Ela está bem?
- Sim, está, ou ao menos aparenta estar. O lugar onde ela vive é realmente pobre, tudo simples demais. Tentei convencê-la a morar na cidade, eu poderia pagar uma casa para ela morar, mas ela não quis. Disse que estava feliz em me ver e ver como eu estava bem, que soube que havia tomado a decisão certa ao me dar para adoção e que era feliz daquele jeito. Disse que agora que tinha certeza de que eu estava bem, não precisava de mais nada.
- Isso é bom, meu amor. Ela viveu bem até hoje e agora que pode rever você, aposto que vai ficar melhor ainda.
- Espero que sim. Quero voltar lá, revê-la mais vezes. Quero levar você até lá, quero que ela conheça você.
- E eu vou adorar conhecê-la – sorri para ele e ele me beijou, mais relaxado – Fez algum safári?
- Vários. A África é fascinante, tenho muito orgulho de ter nascido lá.
- Estou feliz que tenha aproveitado a viagem, era seu sonho.
- Sonho realizado. Agora só falta casar com você.

Ele sorriu e me puxou para cima dele, derrubando algumas almofadas pelo chão. Ficamos deitados abraçados no sofá por muito tempo, sem conversar sobre nada. Nunca havíamos ficado tanto tempo longe um do outro e agora que tinha Philipe de volta, percebi a falta que ele me fez. Ele não era só meu namorado, era também meu melhor amigo. Kalani era um ótimo garoto e talvez um namorado perfeito, mas não existia ninguém no mundo mais perfeito pra mim do que Philipe e ele teria que conviver com isso. Minha escolha já havia sido feita há três anos atrás.

- Não me abandone outra vez – falei com a voz abafada por estar com a cabeça em seu peito.
- Não se preocupe, não vou mais viajar por dois meses inteiros. E se for, levo você comigo.
- Não estou falando de viagens – me ajeitou no sofá e o encarei – Promete que nunca vai me abandonar? Que vai ficar comigo pra sempre?
- Por que essa conversa agora? – ele também se sentou e me encarou preocupado – Aconteceu alguma coisa?
- Não aconteceu nada, só quero que me prometa que nunca vai me abandonar – mesmo sem ter a intenção, comecei a chorar.
- Bia, eu te amo, você é a pessoa mais importante da minha vida – ele me puxou para junto de seu corpo outra vez e secou minhas lagrimas, me abraçando – Você vai ter que se empenhar muito pra se livrar de mim, porque eu nunca vou sair do seu lado.

Meu sorriso saiu parecido como uma careta e ele riu, me beijando suavemente. Nunca havia me sentido tão culpada em toda a minha vida como me sentia naquele momento, mas não podia contar a verdade ou ia acabar o magoando. E se eu magoasse Philipe, nunca iria me perdoar.

Sunday, October 11, 2009

Prelúdios de um sonho - Parte IV - Inimigos e Aliados - Final

Próximo de nós, onde estavam os corpos do exército de monstros, eu podia ver centenas de sombras. Eram centenas de vultos que pareciam mover-se com o vento, um vento fantasmagórico. Eram centenas de Banshees e almas perdidas, que encaravam o Necromancer, seus olhos fantasmagóricos revelando raiva e vingança. Melegrant começou a se afastar, gaguejando e implorando misericórdia. Eu conjurei meu patrono, para nos proteger, mas mamãe fez que não com a cabeça. Os Banshees soltaram um poderoso grito, um grito macabro e cheio de dor e morte, fazendo-me ter calafrios por todo o meu corpo. Seu grito foi longo e parecia o grito da morte, um grito uníssono de morte. Elas então saltaram no ar, flutuando velozmente, lançando-se contra nós, mas passaram direto por nós.
Eu olhei para trás a ponto de ver Melegrant tentando fugir, mas uma das Banshees entrou em seu corpo e vi seus olhos ficarem arregalados enquanto não conseguia mais se mover. Todas as Banshees e espíritos jogaram-se contra seu corpo e vi com horror enquanto todas elas destruíam o corpo do homem, rançando pedaços do corpo com as mãos fantasmagóricas, matando-o de dentro para fora. Em minutos, não havia mais necromancer, apenas pedaços. As Banshees ficaram flutuando no ar, olhando para a lua, em seguida nos olharam, mas seus olhos agora transmitiam agradecimento e paz de espírito e seus rostos não mais pareciam sofrer. Elas desapareceram no ar, em partículas de luz branca.
- Isso que acontece com aqueles que brincam com os mortos. – O Caçador falou com raiva, cuspindo onde estava os restos do necromancer.
- Necromancia é uma magia perigosa, a qualquer momento seus servos podem se rebelar contra você e mata-lo. – Mamãe explicou-me.
- Ele merecia isto...O que ele fez com centenas de pessoas... – Eu falei, os olhos com lágrimas de raiva. Vi que o Caçador me encarava, mas não conseguia ler seus pensamentos.
- Obrigado pela ajuda, Caçador. Deixe-me cura-lo. E diga-nos seu nome. – Mamãe falou, aproximando-se dele.
- Não preciso de ajuda. Já me curei de ferimentos piores. – Ele falou, afastando-se dela, mas seu peito estava machucado com o poderoso soco da vampira e ele caiu de joelhos. Eu corri para ele e o segurei, ajudando-o a se levantar, enquanto mamãe apontava a varinha para ele. Ele me olhou misturando raiva e agradecimento, mas por fim falou, muito a contra-gosto. – Obrigado.
- De nada. Eu que agradeço, você salvou minha vida. Qual o seu nome?
- Você deve aprender a nunca enfrentar um vampiro cara a cara.
- Ah, como você não fez?
- Eu sou um caçador de vampiros experiente, você um pirralho. – Ele falou rindo.
- Um caçador maluco, está parecendo para mim. – Eu falei, também rindo.
- Você é um pirralho poderoso, Alderan Chronos. – Ele falou, sorrindo. – Eu conheço vocês, sinto muito pelo que aconteceu a sua família, todos os caçadores sentiram a falta deles.
- É uma honra saber que um caçador de vampiros como você nos conhece. – Mamãe falou, terminando de conjurar bandagens para ele. – Mas nós não desistiremos.
- Por Merlim... Não sei o que aconteceria se vocês não lutassem mais, cara Sra. Rigel Chronos. Eu sou Ragnar Ragnarson, um caçador de vampiros, é um prazer conhecer a líder dos Chronos. E seu filho.
- Futuro líder dos Chronos. Em menos de dois meses, o farei meu sucessor e líder oficialmente. – Mamãe falou, fazendo o homem se surpreender, me olhando novamente.
- Muito bom para um pirralho não é? – Falei rindo.
- Muito bom mesmo. Eu apoio a volta de vocês. Obrigado pela ajuda, mas devo ir agora, devo localizar Scarlet. – Ele falou, levantando-se e começando a se afastar. Eu, porém, o segurei pela mão, fazendo-o olhar para mim novamente.
- Espere. Ragnar, não gostaria de se unir a nós? Fazer parte do nosso clã? Precisamos de gente como você, poderoso e honrado.
- Eu trabalho sozinho, garoto. – Ele falou, encarando-me nos olhos.
- Juntos podemos construir o clã e mudar o mundo. Podemos dar um fim a pessoas como ele, dar um fim a malucos como esse tal Lord! – Eu falei, apontando para os restos do Necromancer. Ragnar fitou-me nos olhos por um longo tempo e não sei o que ele viu ali, mas sorriu em seguida.
- Gosto de você, garoto. Você é alguém de força e poder, tem um espírito como eu vi em poucas pessoas no mundo. Confiarei em sua liderança, meu senhor. – Ele falou, curvando-se para mim, ajoelhando-se em seguida. – Eu Ragnar Ragnarson, coloco-me sob o comando dos Chronos.
- Levante-se, Ragnar Ragnarson, obrigado, mas lembre-se que seremos sempre uma família e não um comando. – Eu falei, fazendo-o se levantar. Eu e mamãe o abraçamos, e ele sorriu para nós, enquanto nós três começávamos a queimar aquele lugar maldito, incinerando os restos mortais de criaturas e criador. Havia conseguido nosso primeiro aliado.

Ainda naquela noite, nós três montamos acampamento próximo de uma vila da região, pois decidimos que só voltaríamos para Berlin na manhã seguinte. Eu peguei meu diário e comecei a fazer anotações sobre o dia, pensando nos monstros que enfrentei durante o dia, como o Legion e as Banshees. Então me veio uma idéia na cabeça e decidi que começaria a escrever minhas lembranças e anotações, formando um livro, um guia sobre seres das trevas.

“ Legion.
Classificação Chronos: 9 (Faixa: 1 – 10).
Origem: Normalmente Magia Negra, porém podem ser formados naturalmente.
Descrição: Legion é uma mistura de dezenas ou mais Inferi, sendo um morto-vivo extremamente poderoso e perigoso. Um Legion pode se formar naturalmente, mas isso é extremamente raro apenas acontecendo quando há um massacre de dezenas de pessoas ao mesmo tempo e no mesmo lugar, caso os corpos dos mortos estejam muito próximos um dos outros. Os Legions têm formatos dos corpos diferentes para cada indivíduo, mas são sempre formados por pedaços diferentes de corpos, muitas vezes “remendados”, formando um conjunto imenso de corpos. Sua pele é extremamente resistente e é uma excelente proteção contra a maioria dos feitiços. Legions ainda sentem medo do fogo e da luz do sol, apenas atacando durante a noite, porém seus instintos e fome são muito mais intensos que os de um Inferi comum, e eles enfrentaram luz e fogo para se alimentar ou quando estiverem com raiva. Sua alimentação padrão é de carne humana, seja ela viva ou morta. Legions alimentam-se de outros corpos mortos, devorando-os e acrescentando novas partes aos seus corpos desfigurados, aumentando o número de corpos que os compõem. A mordida de um Legion é extremamente perigosa, pois é um forte veneno, capaz de matar quem foi mordido em questão de horas, uma vez que seus dentes são podres e envoltos em poderosa magia negra. O ponto fraco de um Legion está em seu interior e o modo correto de destruí-lo é de dentro para fora, para tal deve-se rasgar sua carne com algum feitiço ou usar alguma abertura, como a boca ou pedaços sem carne, e lançar um feitiço de fogo em seu interior. Legions são muito mais rápidos, inteligentes e fortes que um Inferi comum e usarão qualquer tática para destruir seus oponentes, inclusive ardilosas táticas, como fingir-se de morto e atacar pelo chão. Um Legion é destruído quando a magia que une seus corpos é rompida e seu corpo começa a se desprender em um intenso fogo de cor negra.”

“ Dementador.
Classificação Chronos: 7-8 dependendo do Bruxo que o enfrenta.
Origem: Magia Negra ou Beijo do Dementador.
Descrição: Dementadores são asquerosos seres malignos, que se alimentam da felicidade de suas vítimas, fazendo-as perder as esperanças e se entregar ao desespero até o momento em que o Dementador dá o Beijo. O Beijo é a arma mais perigosa de um dementador, pois ele suga a alma da vítima, tornando-a um novo dementador, nem morto nem vivo. Um dementador pode ser formado por magia negra, para tal o Necromancer retira a alma de uma pessoa ainda viva, tornando seu corpo uma casca vazia sob seu controle. A alma retirada pode ser usada para formação de um Banshee, mas geralmente é usado como o primeiro alimento do dementador, o que o torna mais feroz e maligno. A única forma de enfrentar um dementador é usar o feitiço do Patrono, um poderoso e avançado feitiço que invoca parte da alma de seu usuário para protege-lo. O Patrono é um ser de pura luz e bondade, a personificação da alma, e pode assumir diversas formas, inclusive de animais. O Patrono protegerá seu dono a qualquer custo, atacando o dementador, porém só continuará em ativa enquanto seu conjurador for capaz de mantê-lo em forma material. Para conjurar um Patrono, deve-se pensar em suas memórias mais felizes e conjurar o feitiço “Expectru Patronus”. Porém, pensar em coisas felizes na presença de um dementador pode ser algo realmente difícil, justificando sua classificação alta. Patronos em geral afugentam dementadores, mas se o Patrono for suficientemente poderoso ele é capaz de extinguir o dementador, dando fim a sua existência. Quanto mais forte for a lembrança feliz, mais poderoso o Patrono.”

“ Banshee.
Classificação Chronos: 6.
Origem: Magia Negra ou Naturalmente.
Descrição: Banshees são almas perdidas, que não conseguiram deixar este mundo. Semelhantes a fantasmas, há algo que os liga a esse mundo, não permitindo que prossigam, porém o que os liga a esse mundo é a raiva e a vingança. São espíritos extremamente vingativos, que vagam pelo mundo até o dia em que cumprirem sua vingança, seja contra o que ou quem for. Naturalmente nascem de mortes onde a pessoa possua um forte sentimento de raiva e vingança, mantendo-a ligada a esse mundo. Necromancers criam Banshees ao retiraram a alma do corpo de uma vítima ainda viva, criando uma Banshee e um Dementador, porém em geral, a Banshee é o primeiro “alimento” do Dementador. Caso o Necromancer perca o controle sobre uma Banshee, ela o atacará, querendo mata-lo por vingança. Banshees também são repelidas e destruídas por poderosos Patronos, e outra forma de acabar com uma, é retirando-a do domínio de um Necromancer, quando ela procurará vingar-se dele, desaparecendo em seguida.

“Necromancer.
Classificação Chronos: 10 ++
Origem: Humano.
Descrição: Bruxo maligno, extremamente poderoso e maldito. Necromancers usam a Necromancia para criar servos e aliados através dos corpos e das almas de vítimas vivas ou mortas. Eles são poderosos usuários de magia negra e deve-se tomar muito cuidado ao enfrenta-los, pois possuem muitas maldições. Usam seus servos como escudo e forma de ataque, porém devem manter domínio sobre eles. Caso um Necromancer perca o controle sobre seus servos, estes se voltaram contra ele, na tentativa de vingar-se.

“Vampiro
Classificação Chronos: 10+++
Origem: Vampiros
Descrição: Vampiros são seres poderosos e malignos, sedentos por sangue e morte. São imortais, com corpos resistentes e poderosos, donos de uma força descomunal, assim como velocidade assombrosa e grande conhecimento de magias. Um vampiro só é destruído com a luz do sol ou cortando-lhe a cabeça.”

Wednesday, October 07, 2009

Prelúdios de um sonho - Parte III - Inimigos e Aliados

- Não é culpa minha! Estou criando os Legions como me foi ordenado, mas já esvaziei quase todos os cemitérios da região. – O outro homem falou, sua voz parecia com a voz de um morto de tão rouca e arrastada.
- Basta trazer-lhe mais corpos. Terei prazer em fazer isto. Mas deve ser rápido, está irritando meu mestre também. – A mulher falou, sua voz encantadora me revelando ser uma vampira. Apenas meu treinamento e a mão de mamãe me manteve ligado ao mundo racional, e balancei a cabeça para apagar as imagens dela que se formavam em minha cabeça.
- Scarlet, não irei decepcionar nosso mestre. Farei Cadarn ter orgulho de mim e transformar-me em um vampiro também. – O homem falou e notei ansiedade em sua voz.
- Faça seu trabalho e será recompensado. – A vampira, Scarlet, gargalhou e respondeu, e eu sabia que ela mentia e apenas manipulava-o. Podia imaginar os olhos brilhando do homem.
- E faça direito, o Lord das Trevas é o último que você iria querer desapontar. – Procyon falou, e notei certa amargura em sua voz.
- Você sabe bem disso, não é, Procyon? Soube que seu nome foi banido...Nem mesmo os Comensais o chamam de Chronos. – Melegrant falou, cruelmente. Ouvimos o barulho de uma varinha cortando o ar, ao mesmo tempo que os dementadores e banshees voavam para a entrada da caverna. Meus olhos estavam acostumados à pouca luz e pude ver que Procyon apontava a varinha para o pescoço de Melegrant, que ria maliciosamente. Os servos do necromancer pareciam rosnar para Procyon, mas não se moviam, enquanto Scarlet sorria malignamente.
- Eu provarei para o Lord meu valor, e todos vocês se arrependerão! – Procyon falou com raiva na voz, mas também captei um tom de loucura.
- É o que veremos, você deixou dois deles vivos ainda. E foi humilhado por um sangue-ruim, e provocou a morte de dezenas de comensais! – Scarlet falou rindo, e Procyon lhe lançou um olhar furioso, mas eu via que ele temia a vampira.
- Eu matarei eles com certeza.
- Acho que terá a chance. O Legion que escapou de meu domínio, soube que foi destruído pelo seu amado irmão e sua querida mãe. – Melegrant falou, os olhos negros brilhando de malícia. Procyon não conseguiu esconder o espanto, fazendo Scarlet rir, enquanto pendurava-se em seu pescoço.
- Ora, ora, ora. Encontro em família? – Scarlet falou, os lábios próximos da orelha de Procyon. Ele a empurrou com raiva.
- Melegrant, quero o exército pronto amanhã, ou você me pagará. São as ordens do Lord.
- Cadarn quer resultados, você prometeu que desenvolveria novas formas de se criar Legions com mais facilidade. – Scarlet falou, ainda rindo.
- E terão seus resultados, os meus dois senhores. – Melegrant falou, fazendo uma pequena mesura, ainda com um sorriso malicioso no rosto para Procyon.
- Espero que tenha resultados. – Procyon falou. Nesse momento, mamãe fez os sinais de aproximação e ataque de nossa linguagem e começamos a nos mover sorrateiramente, aproveitando a discussão deles. – Ou provará da minha fúria! Esteja avisa..
Antes que Procyon pudesse terminar de falar, uma imensa bola de fogo foi lançada contra eles, seguida por uma chuva de fogo. Procyon e Scarlet saltaram pra trás, conjurando escudos e protegendo-se, enquanto uma nuvem de dementadores colocou-se entre os feitiços e o Necromancer. Eu e mamãe nos assustamos, ainda mais quando vimos que um único homem, envolto em uma capa negra e com uma larga cicatriz no rosto, estava de pé no alto do morro, lançando feitiços contra eles.
Scarlet gargalhou alto, o som me fazendo ter arrepios e saltou para a montanha, enquanto banshees e dementadores voavam pelo ar na direção do homem. Procyon e Melegrant apontaram as varinhas para o intruso, disparando feitiços verdes.
Eu agi antes de pensar e me coloquei de pé, apontando a varinha para Procyon. Uma luz prateada explodiu de minha varinha, atingindo-o no peito e jogando-o dezenas de metros para o alto e para trás. Em seguida disparei outro raio prateado contra a vampira, atingindo-a em pleno ar, fazendo-a chocar-se contra a montanha, com um guincho de dor. O Necromancer assustou-se e apontou a varinha para mim, lançando uma maldição negra poderosa, mas mamãe já estava de pé, protegendo-me. Procyon levantava-se assustado, encarando-nos com os olhos arregalados.
- Traidor! – Eu gritei e lancei uma onda de magia contra ele, cheio de raiva. Ele fez o chão subir, formando um escudo de terra, que foi destruído pela magia.
- Vocês! – Ele falou, misturando raiva e perplexidade. Agora a luz dos feitiços me fazia poder vê-lo com clareza e via que ele estava muito magro, e parecera envelhecer dezenas de anos em apenas um mês. Ele tinha uma queimadura próximo do pescoço e podia ver a Marca Negra em seu pulso. Ele gritou e disparou uma chuva de feitiços verdes, mas saltei de lado, fazendo pedras levitarem para me proteger. Mamãe lançou um feitiço contra ele, fazendo a terra levantar, em uma espécie de avalanche contra o traidor.
Scarlet voltou furiosa, concentrando toda a sua atenção em nós, enquanto o Necromancer gritava em sua voz rouca um comando maldito, fazendo todos os seus servos nos atacarem. Legions surgiram do chão a nossa volta e saíram de dentro da caverna, todos possuíam mais de três braços e eram tão asquerosos quanto o primeiro. Scarlet gargalhou, saltando em meio às banshees em uma velocidade assombrava, que nem eu conseguia acompanhar. Ela pulou sobre mim, as pressas a mostra, e eu pela segunda vez em vida, vi a morte diante de mim. Mas o outro homem lançou um feitiço rápido, atingindo-me nas costas e tirando do alcance da vampira, enquanto mamãe lançava um feitiço contra ela.
- Não se meta, criança. – Ouvi a voz grossa e forte do homem gritando para mim, enquanto duelava ferozmente com a vampira.
Scarlet gargalhou, rindo enquanto lutava com o homem. Notei com raiva que Procyon havia escapado, e notei com certa preocupação, que os seres malignos nos cercavam e fiquei costas a costas com mamãe. A vampira acertou um soco poderoso no homem, e ouvi o som dos ossos do peito do homem estalando, e ele foi jogado para perto de nós. Scarlet riu novamente, enquanto o Necromancer fechava o cerco. Mamãe lançou uma gigantesca bola de fogo contra um dos Legions, mas não surtiu efeito.
- Hahahahaha! – O Necromancer gargalhou. – A pele desses Legions é feita de uma substância que protege contra magia. Não conseguira acerta-los, mulher.
- Aquele medroso do Procyon, vai perder a chance de ver os Chronos mortos. – Scarlet falou, sorrindo malignamente para nós.
- Chronos? – O homem falou, cuspindo sangue. Eu me abaixei para ajuda-lo, mas ele me deu um soco, empurrando-me para longe. – Eu não preciso de ajuda.
- Morra sozinho então! – Falei com raiva, voltando a me concentrar nos nossos inimigos.
- Esses seus Legions, devem ter um limite para a magia que agüentam. – Mamãe falou, um sorriso nos lábios.
- Eles são perfeitos! Nada que faça os destruirá. – Melegrant gargalhou.
- É o que veremos. – Mamãe falou. – Filho, conjure seu Patrono, mantenha os dementadores e banshees longe de nós. Caçador, se puder lutar, mantenha Scarlet afastada.
O Caçador assentiu, e vi que ele parecia conhecer minha mãe. Ele ficou de joelhos, apontando a varinha para Scarlet que ria para ele. Eu conjurei meu patrono, porém foi algo difícil, pois a nuvem de dementadores e os gritos das banshees minavam minhas energias e esperanças. Mas ao pensar em Alice, Millie, Tristan, Penélope, Bianca, Anabela, Kwon, Marcel, Andréas, Philipe, Noah e Derik, e por fim nos meus planos para o futuro, consegui fazer minha águia prateada surgir. Ela brilhou intensamente e chocou-se contra um dementador que aproximou-se demais.
Mamãe levantou-se a varinha para o alto no mesmo momento em que os Legions, Inferi, Banshees, Dementadores, Scarlet e Melegrant avançavam, gargalhando com a vitória. Uma coluna de fogo saiu da varinha de mamãe e subiu aos céus, transformando a noite em dia por alguns momentos. Houve o barulho de uma explosão e uma chuva de chamas começou a cair ferozmente, parecendo com meteoros atingindo a terra. E era uma Chuva de Meteoros. As imensas bolas de fogo e lava atingiam o solo com força, causando explosões e aniquilando Inferis instantaneamente. Até mesmo as Banshees e os Dementadores foram aniquilados.
Mas não parou por ai. A coluna de fogo tomou a forma de uma imensa serpente de fogo que rodopiou ao nosso redor, como se preparasse o bote. O calor era insuportável e parecia que eu estava no meio de um vulcão, mas o feitiço de mamãe era monstruoso. A serpente de fogo atacou os inimigos, formando uma linha de fogo ao nosso redor, queimando os inimigos com ferocidade. Podíamos ouvir o grito de morte dos Inferi, os sons guturais da garganta maldita das Banshees e dos Dementadores, enquanto os Legions urravam de dor, perdendo o controle e tentando fugir. Mamãe, porém, apontou a varinha para cada Legion e dos céus uma imensa bola de fogo caiu sobre cada um deles, incinerando-os com um único golpe.
A Chuva de Meteoros continuava e o chão tremia com seu impacto, enquanto eu me assustava com o poder de mamãe. O homem estava boquiaberto, parecendo não acreditar, enquanto mamãe sequer parecia cansada. Mamãe tinha uma habilidade magnífica, ela era capaz de gerar e manter magias de níveis altíssimos, sozinha, enquanto normalmente seriam necessários dezenas de bruxos habilidosos. Depois, ela batizaria aquele feitiço gigantesco de Inferno, pois era aquilo que ele era.
Scarlet e Melegrant eram obrigados a saltar constantemente, fugindo dos meteoros e dos próprios aliados, que cegos pela dor e pelo sofrimento corriam pelo campo urrando, atingindo uns aos outros. Scarlet pulou para o alto da montanha e soltou um silvo para nós, fugindo em seguida. Melegrant cambaleou para trás e tentava escapar, quando mamãe apontou a varinha para ele, e uma língua de fogo o envolveu, fechando-se rapidamente. Ele gritou de dor, enquanto era queimado pelo feitiço, mas não morreu, mamãe o queria como prisioneiro.
Não havia mais exército de mortos-vivos, pois estes estavam queimando em chamas negras, urrando de dor e sofrimento. A resistência dos Legions não agüentou o poder da magia de mamãe e eles caiam mortos, totalmente incinerados. Os dementadores haviam sido aniquilados, tanto pelas chamas quanto pelo meu patrono e o do outro homem. Apesar do modo como ele me tratara, eu estava admirado, pois ele lutara de pé em igualdade com uma vampira, e mesmo agora já estava de pé, caminhando para o Necromancer.
- Muito bem, Melegrant, é a hora de nos contar o que sabe. – Mamãe falou, a varinha apontada para ele.
- Nunca. – O homem conseguiu reunir coragem para falar, os olhos brilhando em desafio. A língua de fogo apertou-se, queimando-o enquanto ele gritava de dor.
- Acho bom começar a falar, Necromancer. – O homem falou, enquanto apertava o peito com uma das mãos.
- Acha que tenho medo de vocês? – O Necromancer falou rindo, mas seus olhos transmitiam medo e loucura enquanto a corrente de fogo o queimava mais.
- Deveria ter. – Eu ameacei com raiva.
- Por que deveria ter medo de uma mulher, um pirralho e um maltrapilho? – Ele perguntou sorrindo. – Eu sou um Necromancer, aliado do Lord das Trevas e pisarei em vocês!
- É o que vamos ver. – O homem falou, apontando a varinha para o peito do homem. – Cruccio.
Melegrant começou a gritar de dor, e enquanto se debatia, as correntes de fogo o queimavam ainda mais, e seus gritos tornavam-se cada vez mais altos. Eu dei um passo a frente para impedi-lo, mas então lembrei-me das centenas de pessoas que aquele homem matara apenas por ganância e para construir um maldito exército. Mas não consegui mais assistir aquilo, lembrando-me da noite em que minha família fora torturada e assassinada.
- Chega. – Eu falei, abaixando o braço do homem.
- Caçador, não deixarei que use uma Imperdoável na minha frente. – Mamãe falou, com os olhos brilhantes.
- Como a Senhora Chronos desejar. – O homem falou, afastando-se um pouco.
- Acho que está pronto para falar? – Eu perguntei, segurando o Necromancer pela camisa. Ele grunhiu de dor.
- Está bem, está bem! O Lord das Trevas quer um exército invencível, um exército de mortos-vivos! Ele quer criar centenas de Inferi, Banshees e Dementadores. Aprendemos então a fazer Legions e ele me ordenou que criasse um exército deles.
- O que os vampiros tem a ver com isto? – O homem perguntou.
- Meu Lord aliou-se a eles, a alguns deles na verdade. Existe um poderoso Necromancer entre os vampiros, ele foi meu mestre e me ensinou a criar Legions, dando-me a tarefa de criar um exército.
- O Conselho jamais permitiria uma ligação entre vampiros e Comensais. – Mamãe falou, e o homem concordou com ela.
- O Conselho não sabe. Meu mestre, Cadarn, está trabalhando às escondidas.
- E o que Procyon fazia aqui? – Eu perguntei com raiva.
- Ele foi designado pelo Lord para vistoriar minhas ações, e, principalmente, ele é o responsável por fazer a ligação com os vampiros.
- Ele está aliado de vampiros?! – Mamãe perguntou enfurecida.
- Sim, seu filhinho está do lado deles agora. – Melegrant falou sorrindo. Dessa vez eu não me segurei e soquei o rosto dele com raiva. Ele caiu no chão e as correntes de fogo o queimaram ainda mais, fazendo-o gritar.
- Meça suas palavras com minha mãe e se voltar a falar que aquele verme pertence a nossa família, eu matarei você. – Eu falei, e algo em meus olhos causou medo no Necromancer.
- Vamos leva-lo para o Ministério. – Mamãe falou, fazendo o necromancer ficar de pé. Assim que ele ficou de pé, seus olhos encararam algo com medo, os olhos vidrados.
- O que houve? – Perguntei preocupado.
- Acho que não poderemos leva-lo. – O Caçador falou e eu olhei para onde ele olhava.E quase não acreditei no vi.

Continua...

Tuesday, October 06, 2009

As férias deste ano estavam sendo fora do comum. Depois do funeral do pai e da irmã do AJ, Virna queria que eu ficasse em casa e limitasse minhas saidas ao maximo possivel. Entendo que ela se preocupe comigo, mas ela estava exagerando, afinal eu estava de férias, tinha uma vida social fora da escola e o mais importante, tinha um namorado que eu gostaria de encontrar. Quando AJ escreveu me convidando para ficar em sua casa para a semana de treinamento em DCAT, e Kyle seria um dos responsáveis não teve jeito dela me segurar, pois ele disse que eu iria com ele, sem discussões.
Mesmo que eles briguem às vezes, ela é doida por ele e não consegue dizer não. Ele é um bom homem e muito competente no trabalho e não liga para o fato de Tristan não ser de uma familia rica, diz que o mais importante para ele é o caráter de uma pessoa e que confia em meu julgamento. Claro que ele discretamente me relembrou das minhas notas em DCAT e que eu deveria aproveitar a oportunidade de marcar alguns pontos com a professora Rosseau. :P

Após o treinamento, cada um de nós foi aproveitar o que restava de seus dias de folga, e como AJ iria viajar, Tristan voltou para o orfanato e eu após ficar alguns dias na Escócia com Virna visitando alguns parentes dos McGregors, recebi uma carta de Alice, namorada do AJ me convidando para ficar com ela e sua familia em Paris, até o começo das aulas. Minha irmã me olhou desconfiada, mas como eu a lembrei que já tinha 17 anos e se quisesse poderia ir embora de vez, ela parou de resmungar.
Fui até até casa de Alice através da rede de Flú, e os Oceanborn me receberam muito bem, colocamos nossas conversas em dia, saimos para fazer compras para a volta à escola e logo ficamos livres, como eu queria fazer uma surpresa ao Tristan, me despedi dela e fui até o Orfanato aonde ele morava e quando cheguei lá, me informaram que ele havia ido embora. Como havia passado pouco do horario de almoço, lembrei o nome do restaurante trouxa onde ele estava trabalhando e fui até lá. Respirei aliviada ao ver que ele estava bem. Quando ele me viu, abriu um sorriso enorme e falou com alguém do restaurante que parecia ser o gerente até onde eu estava, me deu a mão e me levou para fora. Assim que saimos para fora, ele me deu um beijo nos lábios e disse:
- Oi! Você não tem idéia de como senti sua falta.
- Também senti a sua. Fui te procurar no orfanato. O que aconteceu?
- Já tenho 17 anos, sou maior e segundo o diretor, ele já me aturou demais.Então sai de lá.
- Onde você está morando?
- Numa pensão aqui perto, não se preocupe... Vamos tomar um sorvete...- desviou das perguntas e me levou até um carrinhos de sorvete, onde comprou duas casquinhas de chocolate e nos sentamos no banco enquanto olhávamos as pessoas aproveitando o resto do dia de sol no parque. - Quero ver aonde você esta morando Tristan...- insisti porque Tristan, não gostava de dividir problemas, ele sorria, ele brincava, mas seus olhos o entregavam quando estava preocupado.
- Está querendo ficar sozinha comigo Millicent? Posso achar que é uma proposta indecente...- disse me olhando de um jeito maroto, enquanto eu sentia meu rosto esquentar, e ele riu. Dei-lhe um tapa no braço e rimos.
Continuamos a tomar sorvete e ele acabou me contando o que tinha acontecido no orfanato, e como eu insisti, ele me levou até o local aonde estava morando provisoriamente até a nossa volta para a escola, e era um lugar tão deteriorado, que fiquei abismada em saber que alguém cobrava por aquilo.
- Meu quarto não é tão ruim assim. Sabe que sou bom em arrumar as coisas. - ele se desculpou, e eu me segurava para não tremer enquanto subiamos a escada e via baratas de todos os tamanhos, fugirem pelos vãos dos degraus. O quarto estava realmente limpo, ele havia cuidado disso, apesar da pintura descascada e do mofo em alguns lugares, o teto tinha rachaduras e marcas de umidade. Não havia muita coisa. Havia uma cama de armar, que estava num canto, coberta por um cobertor fino; uma jarro d’agua em cima de uma bacia, uma das janelas estava quebrada. Imaginei que no calor a brisa que entrava era até refrescante, mas e no inverno? Notei que ao lado da porta havia uma cadeira, e dava para notar que ela tinha as marcas da maçaneta como se ela fosse usada para reforçar a segurança. O banheiro ficava no corredor e eu nem quis ver o estado que estava. Virei-me para ele e perguntei:
- Você tem amigos, porque não pediu nossa ajuda? Porque não pediu a minha ajuda? Estamos juntos Tristan, você poderia ter ido para minha casa...
- Você mora com a sua irmã, e ela não morre de amores por mim.
- Está bem você tem razão, mas mesmo minha irmã, não negaria um lugar para você ficar. Ela pode ser esnobe, arrogante, mas não é um monstro. Ou você poderia ter procurado um dos rapazes...
- Claro, eu só teria que bater na porta deles e dizer: ‘Marcel, seu palácio é grande, posso ficar na ala leste, alteza?? Ou então: ‘AJ, sua casa esta vazia, e você precisa de alguém para usufruir deste conforto, deixe que me encarrego disso’. O fato de serem meus amigos, não significa que posso abusar desta amizade. – ele disse teimoso.
- Eu poderia ter emprestado dinheiro a você para ficar num lugar um pouco melhor.
- Pode não ser um local que você está acostumada, mas o meu dinheiro só consegue pagar isso, aceite a realidade. – disse empinando o queixo.
- Orgulho não resolve nada...- disse e não consegui impedir que meus olhos se enchenssem de lágrimas e ele se aproximou me abraçando.
- Orgulho não resolve nada, você tem razão, mas no momento é a única coisa que ninguém pode tirar de mim, então vou mantê-lo...Eu estou bem, é sério, não é tão ruim quanto parece. Estou recebendo boas gorjetas e logo voltaremos para a escola. Será por pouco tempo, Millie. Eu vou ficar bem, é sério. – e se sentou ao meu lado na cama e tive que levantar os pés assustada quando um rato, passou correndo por cima deles.
- Vem comigo...- disse enxugando as lágrimas, quando uma idéia surgiu na minha mente.
- Aonde?
- Pegue suas coisas e venha. Se você vai ter que morar numa pensão, que seja num lugar onde não terá que disputar o jantar com os ratos.
- Millie...Sei que você tem dinheiro, mas eu não vou usa-lo e...
- Por favor, venha comigo, eu não vou suportar ir embora e te deixar aqui. Prometo que você vai pagar pela sua hospedagem. Vem comigo?- estendi minha mão e ele a pegou se rendendo.
Tristan juntou suas coisas e saimos dali, caminhamos até um local onde poderiamos aparatar e eu segurei a mão dele, o elvando aonde deviamos ir. Chegamos num bairro próximo do centro de Paris, era um bairro muito bonito, entramos num predio residencial, e chegamos a um apartamento todo mobiliado, e com uma bonita vista de Paris, dava até para ver uma parte da Torre Eiffel.
- Onde estamos? Quem mora aqui?- ele quis saber
- É o apartamento da prima Sarah.
- E porque você tem a chave da casa dela?
- Ela me ofereceu quando estavamos na casa do AJ. Eu disse que queria vir para cá uns dias antes do começo das aulas, e ela me ofereceu o apartamento, dizendo que eu poderia usa-lo á vontade, pois estava vazio Você vai ficar aqui Tristan?
- E a Sarah? Não vai ser muito agradavel voltar para casa e encontrar um estranho morando aqui, não é? – ele perguntou preocupado.
- Você não é um estranho, é o meu namorado e ela gostou muito de você. Vou escrever a ela, pedindo para você ficar aqui. Por favor, Tristan, por mim. – e ele após pensar um pouco, disse:
- Está bem eu fico, mas vou pagar a ela, como se estivesse numa pensão. – sabia que não adiantaria discutir sobre isso e o ajudei a se instalar.
Quando terminamos tudo, saimos para comer alguma coisa, e depois ele me levou para a casa da Alice. Passamos a nos ver quase todos os dias, e apesar de tudo, eu nunca tive um verão tão feliz em toda a minha vida.

When I see your smile
Tears run down my face I can't replace
And now that I'm stronger I've figured out
How this world turns cold and breaks through my soul
And I know I'll find deep inside me I can be the one

I will never let you fall
I'll stand up with you forever
I'll be there for you through it all
Even if saving you sends me to heaven

N. Autora: Your guardian angel, The Red Jumpsuit Apparatus

Thursday, October 01, 2009

Depois de contar a meus irmãos o que tinha acontecido e conseguir acalmá-los, usei o pingente criado por Kwon para avisar a meus amigos. Não havia como avisar através dele exatamente o que tinha acontecido, mas ele servia como alerta. Só o usávamos em situações de emergência, então quando eles vissem que o pingente estava iluminado pela cor que pertencia a mim, saberiam que algo grave tinha acontecido e voltariam para Mônaco. E foi exatamente o que aconteceu. Cinco minutos depois de acionar o pingente, minha casa começou a se encher com o som de estalos gerados por aparatação. Em menos de meia hora, Philipe era o único que ainda não se encontrava na sala da minha casa.

- Dani, sinto muito por nenhum de nós estar aqui quando tudo isso aconteceu – Olivia falou me abraçando, depois que terminei de contar toda a história.
- Henri estava aqui comigo, podia ter sido pior. O que importa é que vocês estão aqui agora.
- E acabei de falar com o Phil – Marcel apareceu outra vez na sala, com um espelho de duas vias na mão – Ele pediu desculpas por não ter chegado ainda, mas não tinha como aparatar da África até aqui. Já entrei em contato com o Ministro africano, Phil está indo até o Ministério agora mesmo pegar a chave de portal que pedi para ele autorizar e deve chegar aqui daqui a pouco.
- O que vai fazer com seus irmãos, Dani? – Kwon perguntou o que eu mais temia.
- Ainda não sei, mas não posso deixar que mandem eles pra um orfanato, ou pior, que mandem eles pra outra família e acabem separados.
- Isso não vai acontecer, não vamos deixar – Andreas falou firme e todos concordaram com a cabeça – Seus irmãos vão ficar aqui, vocês são uma família e não vão ser separados.
- Faremos o que estiver ao nosso alcance para ajudar, não se preocupe – Anabela me abraçou também.
- Obrigada, pessoal – sorri agradecida para eles – Vocês são os melhores amigos que alguém podia ter.
- Somos uma família e ajudamos uns aos outros, para isso temos os pingentes – Bianca apertou o pingente em forma de cruz na mão e sorriu – Estamos ligados para sempre.

ººººº

Depois que Philipe conseguiu voltar através da chave de portal que Marcel arranjou e ir direto para a minha casa, eles começaram a me ajudar com os preparativos para o enterro. Eram tantas pessoas tentando ser o mais prestativas possíveis que acabaram não me deixando fazer quase nada. Tudo foi resolvido com muita agilidade e na manhã do dia seguinte, eu e meus irmãos pudemos dar o último adeus ao nosso avô.

Embora nossa família agora estivesse reduzida, o movimento na casa havia aumentado. Meus amigos, assim como Henri, não me deixavam sozinha um minuto sequer, a sala estava sempre cheia com as conversas animadas para tentar me distrair de todas as maneiras. Era bom, eu não podia reclamar de nada. Ter toda aquela bagunça ao meu redor mantinha minha mente ocupada, mas ainda assim eu precisava me concentrar nos problemas que agora me acompanhavam, como a lista de materiais minha e dos meus irmãos que haviam acabado de chegar. Elas vieram junto de uma carta de condolências da professora LeFreve e uma notificação de que, assim como eu, Frederic e Tomás poderiam estudar em Beauxbatons por meio de uma bolsa de estudos. Isso resolvia parte dos meus problemas, mas não todos eles. Ainda precisava comprar os livros, e em dobro.

Faltava uma semana para a volta às aulas e a casa estava menos povoada, apenas Henri e Marcel me faziam companhia. Marcel havia levado Remy para brincar com meus irmãos e mantê-los um pouco distraídos, o que era ótimo, pois sempre os pegava olhando fotos do vovô pela casa com expressões tristes. Começar a estudar em Beauxbatons faria bem a eles. Enquanto eles brincavam no quarto, eu estudava a lista de materiais na cozinha, alheia a conversa amistosa entre Marcel e Henri.

- Vocês ganharam o campeonato em Junho, mas não conte com isso pra próxima temporada – Marcel falava convencido – Esse ano teremos Bianca Latour no time.
- Quem disse? – Henri debochou – O diretor não autorizou garotas a jogar, vocês vão perder outra vez.
- Isso mesmo, Renoir, continue se iludindo. Vai ser mais divertido quando verem Bianca entrando em campo com o uniforme da Lux.
- Bianca vai jogar, Henri – desviei a atenção das listas por um instante – Ainda não foi aprovado, mas será.
- Como estão as contas? – Henri resolveu mudar de assunto quando Marcel riu com gosto, atirando amendoins na boca como uma foca pegando peixes.
- Muito bem, já consegui cortar tudo que não é realmente necessário e Tomás pode usar meus livros, faltam só os do Fred.
- Ele pode usar os meus, já falei milhões de vezes – Henri insistiu, um pouco impaciente – Não os uso mais e nem tenho irmãos mais novos, eles são seus se quiser.
- Já disse que não preciso dos seus livros, Henri – respondi também impaciente – Quantas vezes vamos voltar a esse assunto?
- Por que seus amigos podem ajudar em tudo e quando eu tento, você sempre veta? – ele se levantou da mesa, irritado – Só estou tentando ajudar e não diga que não precisa, porque você sabe que precisa.
- Por que você não vai pra casa? Não disse que ia visitar o St. Napoleon hoje com seu pai? Já está atrasado.
- Ótimo, agora está me expulsando.
- Ok, chega.

Levantei da mesa irritada e o puxei pela mão até o lado de fora da casa, deixando Marcel sozinho na cozinha.

- Por que você faz isso, Dani? – Henri se acalmou um pouco e me encarou parecendo chateado.
- É diferente quando você faz alguma coisa por mim e quando meus amigos fazem – segurei seu rosto com as mãos e ficamos mais próximos – Por favor, não fique chateado com isso.
- Você sabe que eu te amo e quero fazer tudo por você, não é?
- Sim, eu sei, mas você não pode fazer tudo, tem que me deixar me virar sozinha também – ele resmungou algo que não entendi e acabei rindo – Volta amanha pra me ver?
- Claro que eu volto – ele segurou meu rosto também e me encarou – Eu te amo.
- Eu também te amo.

Henri me puxou para junto dele e meu beijou, aparatando em seguida. Voltei para dentro de casa e Marcel estava com os pés em cima da mesa, ainda atirando amendoins para o alto antes de pega-los com a boca e me olhava com um sorriso esquisito. Caminhei de volta para o meu lugar o encarando de volta, mas sem perguntar nada.

- Então... – assim que eu sentei, ele começou – Por que não deixa seu namorado ajudar? Sabe que não sou fã do Zé Mané, mas tenho que admitir que ele gosta de você de verdade e só quer ajudar.
- Dia épico! Marcel Grimaldi tomando partido de Henri Renoir! – brinquei, antes de ficar séria outra vez – É complicado.
- Descomplique pra mim, então – ele se ajeitou na cadeira e tirou os pés da mesa – Estou com tempo, não tenho nada marcado pra essa tarde.
- É a família dele, eles não gostam muito de mim – falei desanimada – Na verdade, eles me odeiam. Não quero que Henri me dê nada, porque não quero dar motivo para eles falarem alguma coisa.
- Por que eles odeiam você?
- Porque acham que quero dar o golpe do baú no filho deles. Henri é rico, eu sou pobre, é matemática simples.
- Ora, mas isso é ridículo! – Marcel se irritou – Se eles a conhecessem ao menos um pouco, saberiam que é a teoria mais patética do mundo!
- Eu sei, mas eles não fazem questão de me conhecer, a irmã dele dá relatórios suficientes para isso. Henri não faz idéia, e prefiro que continue assim.
- Aquela garota é ridícula. Ela se acha melhor do que todo mundo, me dá nervoso conversar por mais que 30 segundos com ela.
- É, ela é uma pessoa muito agradável... – fiz uma careta e ele riu – Mas mudando de assunto... Que história é essa de você e a Olivia estarem namorando? Isso é sério?
- Quem te falou isso? – ele se espantou e sua reação chamou minha atenção.
- Tomás, ele disse que ela passou o fim de semana em La Roche com você e que os pais dela também foram, disse que ela estava sendo apresentada a sua família como sua quase noiva.
- Ah, é, sim – ele gaguejou um pouco – Estamos namorando.
- Mentiroso – Marcel reagiu outra vez, o que só provou que eu estava certa – Vocês não estão namorando coisa alguma, então pode falar a verdade. Contei sobre a família do Henri, sua vez.
- É uma história complicada.
- Descomplique pra mim, então – repeti seu gesto de apoiar os pés na mesa – Estou com tempo, não tenho nada marcado pra essa tarde. Bom, só comprar alguns materiais, mas ainda é cedo.

Marcel riu por tê-lo imitado e começou a me contar, com detalhes, toda a confusão em relação à história de que ele e Olivia estavam namorando. E principalmente, de como eles agora estavam tão enrolados na própria mentira que não tinham muitas opções para sair dela sem que ninguém fique mal.

- Bom, então a única solução que encontramos foi esperar passar uns dois meses depois de já estarmos de volta a Beauxbatons e então escrevemos aos nossos pais e contamos que decidimos continuar sendo apenas amigos. Eles não estão lá para nos ver todo dia, não precisam saber que nunca fomos namorados de verdade.
- E quanto aos seus seguranças? Acha que eles não vão notar?
- Eles são meus cúmplices, não dizem nada que não seja necessário. E Olivia e eu estamos sempre juntos de qualquer forma, só precisamos andar um pouco de mãos dadas e pronto, ninguém vai perceber.
- É, dá pra enganar mesmo, mas... Quando você pretende dizer a Olivia que está apaixonado por ela?
- Como? – Marcel soltou uma gargalhada que deveria ser descontraída, mas pra mim soou um pouco nervosa – Não estou apaixonado por ela, é tudo uma brincadeira que foi longe demais.
- Marcel, por favor, a mim você não engana. Essa história pode até colar com o resto da turma, e aposto que vai colar, mas está estampado na sua cara que você gosta de verdade da Olivia. Aposto o que eu tenho, e não é muito, que a idéia de prolongar o fim da mentira partiu de você. Olivia queria acabar com isso logo, mas você conseguiu convencê-la de que era melhor adiar.
- Você não vai contar a ela, não é? – ele se rendeu.
- Eu não vou contar nada, mas por que você não conta?
- Dani, qual é, olha bem pra mim – ele levantou da cadeira e estendeu os braços – Eu não sou o tipo da Olivia. Não sou o Kwon, não sirvo pra ela.
- Você não serve pra ela? – fui obrigada a rir – Marcel, está brincando, não é? Você é o garoto dos sonhos de qualquer garota daquela escola! Você é lindo, educado, charmoso, rico e como se isso não bastasse, é um Príncipe. De verdade!
- Isso não me faz ser qualificado pra ela, não temos nada em comum – ele sentou outra vez, derrotado. Era estranho ver Marcel assim – Ela me acha uma grande piada.
- Então talvez esteja na hora de mudar essa imagem que Olivia tem de você.
- Você vai me ajudar?
- Sim, vou. Se seguir as minhas dicas, Olivia vai ser sua namorada de verdade antes do fim do ano letivo.
- Por favor, não conte isso a mais ninguém. Vamos manter a versão original da história, ok?
- Sem problemas. Pode apostar que em dois meses, ninguém vai enviar nenhuma carta aos pais comunicando o fim do namoro – estendi a mão e Marcel a apertou, mais animado.
- É um trato, Darrieux – ele levantou outra vez e tomou a lista da minha mão – Agora pare com essas contas que está me deixando louco. Vou ficar devendo um grande favor a você e vou começar a pagá-lo eliminando essa lista, vamos para o Beco Diagonal.
- Marcel, não se atreva! – tentei tomar a lista de sua mão, mas ele a escondeu dentro do casaco.
- Não sou seu namorado e minha família lhe adora, não tem desculpas. Alias, será que você pode, pelo amor de Merlin, aceitar o convite da minha mãe e passar o resto das férias no Palácio? Ela está me enlouquecendo de preocupação com você aqui, sozinha com os gêmeos.
- Só se me deixar pagar ao menos uma parte dessa lista.
- Como quiser. Vamos?

Marcel estendeu o braço e o segurei, me dando por vencida. Chamamos os meninos no quarto e, acompanhados dos seguranças de Marcel e Remy, passamos o resto da tarde no Beco Diagonal fazendo as compras para a volta as aulas. Aos poucos, as coisas estavam voltando ao normal.