Friday, January 13, 2006

Como sobreviver aos trouxas – Lição I

Das memórias de Ian Lucas Renoir Lafayette

Cai rolando no tapete embolado com a minha mochila e levantei de um salto ao me deparar com um par de pés parado na minha frente. Minha mãe estava em pé no meio da sala a minha espera, com um olhar severo e as mãos na cintura. Meu avô se encontrava sentado em sua poltrona e mantinha os dedos entrelaçados, sem produzir qualquer tipo de som. Meu pai saiu logo em seguida da lareira e parou em pé ao meu lado, largando minha outra mochila. Ele ordenou que eu fosse direto para meu quarto e não questionei, apenas apanhei minhas coisas e subi as escadas calado.

Abri a porta do quarto com um chute, revoltado por ter sido tirado a força do colégio. Não era pra eu ver aquele quarto azul antes de Junho, olhar pra ele tão cedo me irritava. Tranquei a porta e me larguei na cama, atirando as bolsas no sofá. Nem bem fechei os olhos para tentar dormir e alguém bateu na minha janela. Levantei para abri-la, deixando Michel entrar. Ele era meu primo, filho da irmã da minha mãe e tinha minha idade. A diferença entre nós dois era que ele freqüentava Hogwarts ao invés de Beauxbatons, já que meus tios moravam na Inglaterra. Mas o que aquela criatura estava fazendo no meu quarto em período de aula, só Merlin sabe. Ele entrou afastando as cortinas e se largou na minha cama.

IL: O que aconteceu? Perdeu o trem pra escola?
MR: Não, papai mandou uma carta ao diretor avisando que eu retornaria uma semana depois.
IL: E porque não voltou junto com os outros? Aconteceu alguma coisa que não tenham me contado?
MR: Também queria saber primo, ninguém diz nada nessa casa... Mas me explica o que houve com você! O vovô só resmungou algo como o tio Gérard estar indo te buscar.
IL: Ah, papai é exagerado! Ele reagiu mal a uma brincadeira inocente entre eu e mais dois colegas...
MR: Reagiu mal? Do mesmo jeito que ele reagiu mal quando quebramos a louça rara da vovó ou como quando deixamos o trabalho de semanas dele e do meu pai voar pela janela, direto no lago?
IL: Como quando jogamos os trabalhos fora...
MR: É primo, você ta ferrado! O que vai fazer agora?
IL: Não faço idéia. Ele disse que vai me inscrever em uma escola trouxa daqui.
MR: Se formar como trouxa??? Mas que pesadelo!
IL: Obrigado Michel, você realmente sabe como levantar o astral de alguém!

Meu primo puxou um colchão do armário e se instalou no chão do meu quarto. Comecei a contar a ele tudo que aconteceu desde que havia voltado para a escola e ele ia rindo, apesar de tudo ter terminado desse jeito. Ele então começou a narrar sua nada pacata vida em Hogwarts e suas inúmeras detenções. Ele dizia que sua casa perdia pontos diariamente graças a ele e que estava prestes a ser assassinado por seus companheiros corvinais durante o sono. Meu primo e eu éramos iguais, quase gêmeos. Fomos criados juntos e era para ele ter ido para Beauxbatons se o tio Edmund não tivesse sido transferido para a Inglaterra quando tínhamos 10 anos. Ele, assim como eu, obedecia apenas ao vovô sem precisar ser mandado duas vezes. E junto comigo apanhou inúmeras vezes do mesmo sempre que aprontávamos alguma travessura.

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Acordei com o sol batendo na minha cara. Minha mãe entrara no quarto para nos chamar, dizendo que o café estava na mesa e que sairíamos em meia hora. Não perguntei o destino da saída, mas algo me dizia que era em meu “beneficio”.
Meus pais já estavam sentados à mesa, assim como meu avô e meus tios, que estavam hospedados na nossa casa durante a passagem misteriosa pela França. O café da manha foi tenso. Papai não falava nada e apenas dirigia a palavra a meu tio num tom inaudível. Mamãe e tia Eva conversavam sobre algo impossível de se decifrar, pois elas não citavam nomes. Alguma coisa muito esquisita esta acontecendo nessa casa e já que estou preso a ela, vou descobrir o que é.

Papai levantou assim que terminou seu café e mandou que eu me apressasse, pois estávamos de saída. Michel levantou também, dizendo que iria comigo, e o seguimos até o carro. Dirigimos pelas ruas de Marseille até alcançarmos o centro da cidade, parando ao lado de uma escola. Estava tudo quieto, nem sinal de vida lá dentro. Provavelmente as aulas já haviam começado, por isso o silencio mórbido. Meu pai já havia estado aqui, pois traçou uma reta até a sala do diretor sem errar o caminho. Um homem de aparência rude e um topete ridículo impregnado na cabeça estava sentado em uma enorme poltrona, girando-a para nos encarar quando entramos.

Seu nome era Jacques Lévy, diretor da Escola Pública Jules Ferry. Sentei ao lado do meu pai e Michel olhava tudo com fascinação, enquanto o diretor explicava as regras do colégio e me passava meu novo horário. Saímos da sala dele quase meia hora depois e meu pai e meu primo foram embora, me deixando por lá. O próprio diretor me guiou até minha sala e me apresentou a turma. Olhava cada um daqueles rostos, todos com expressões idiotas estampadas na cara, e me sentei no fundo. Todos cochichavam enquanto eu me encaminhava ate a cadeira e minha vontade era de azarar um por um, mas tudo que eu não precisava naquele momento era desencadear o pânico no meio desse bando de trouxas.

Resisti bravamente a mais de 4 horas de aula. Estudei coisas que nunca tinha ouvido falar, como matemática, química e biologia naquela tarde que parecia interminável, quando um sino barulhento ecoou e todos levantaram guardando os materiais. Percebendo que aquele barulho indicava o fim das aulas, saltei da cadeira e sai o mais rápido que pude dali. Michel estava a minha espera do lado de fora da escola quando sai no meio daquela massa de trouxas empurrando os mais lentos. Ele ria sem disfarçar da minha situação caótica e me entregou minha bicicleta para que pudéssemos voltar pra casa. No caminho, entre risos e idéias para esses dias em que ele está aqui, Michel me lembrou de um fato importante: eu agora não tinha mais motivo para não fazer mágica fora da escola antes de completar a maioridade, pois não tinha mais de onde ser expulso! Isso é bom, muito bom. Finalmente algum proveito vou poder tirar dessa situação toda...

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