Monday, October 27, 2008

Em 1958, muita coisa aconteceu. O Brasil ganhou sua primeira Copa do Mundo, o primeiro satélite americano foi mandado para o espaço, o Papa Pius XII faleceu... Mas o ano de 1958 também foi marcado como o ano do recomeço. Foi em Setembro de 1958 que Kalani embarcou pela primeira vez, aos 16 anos, para a Academia de Magia Beauxbatons.

O mundo mágico era novo para ele e sua irmã mais nova, Nani. Haviam sido tirados do mundo onde cresceram e conheciam e jogados em um outro totalmente desconhecido em muito pouco tempo. Em um mês, Kalani ganhara uma casa nova, pais novos, dois irmãos e se esforçava para aprender uma nova língua. Ganhara também meia dúzia de amigos novos, dos quais ele ainda tinha uma visão diferente da que seus irmãos tinham.

Enquanto aguardavam a hora de embarcar para a escola, observava as pessoas que atravessavam a barreira do porto. A primeira dos novos amigos a passar foi Bianca. Vinha abraçada a um rapaz muito parecido com ela, mas mais velho, e que recebia a atenção de muitas pessoas. ‘Johnny Latour, irmão mais velho da Bia. É o astro dos Quiberon Quafflepunchers!’, Kwon comunicou e Kalani sorriu, embora não soubesse o que eram os Quiberon Quafflepunchers. E não importava o que vinham a ser, pois sua atenção estava em Bianca. Ela, como Kalani descreveu para si mesmo, tinha olhos tão azuis que ele poderia passar horas apenas os admirando, perdido no tempo. E ela, como Kalani também logo descobriu, era namorada de seu irmão Philipe.

Philipe era o atleta da turma. Muito simpático e brincalhão, estava sempre de bom humor. Kalani tinha certeza que Philipe era capaz de competir e se dar bem em qualquer modalidade esportiva sem se tornar arrogante por isso. Era alto para a idade, mas não mais que Kwon, o que deixava Philipe inconformado. Os dois estavam sempre implicando um com o outro por causa da diferença de altura. Mas diferente de Philipe, Kwon era mais reservado. Gostava de praticar esportes tanto quanto o irmão, mas não fazia disso prioridade em sua vida. Kwon só se deixa relaxar e desfaz a expressão séria que carrega o tempo todo quando está com os amigos. Torna-se uma pessoa completamente diferente daquela que comanda a rádio da escola e que tem como objetivo de vida comercializar varinhas, que já consegue fabricar, embora algumas ainda apresentem algumas falhas.

Kwon tinha uma admiradora secreta no grupo e não fazia idéia. Era Olívia, a garota que, segundo Kalani, era a mais doce e prestativa dos 8 amigos. Olívia vive sob a represália do pai e quer se tornar escritora, mesmo sabendo que terá que bater de frente com ele. Kalani achava Olívia um pouco atrapalhada, mas isso acabava tornando-a engraçada. Já o irmão gêmeo dela, Andreas, era o tranqüilo do grupo. Era a personificação do bom humor, não suportava ver os amigos desanimados ou sem nada para fazer. É o melhor amigo de Anabela, a garota de descendência alemã com espírito rebelde. Andreas contou que Anabela, em um surto de rebeldia e em uma tentativa bem sucedida de levar o pai à loucura, cortou os cabelos em casa na altura da orelha e jogou fora todos os sapatos de salto, adotando apenas botas de combate no guarda-roupa.

Já Danielle, a menina ruiva que trabalhava na lanchonete da cidade, era com quem Kalani mais se identificava. Sua família sempre foi pobre e Danielle havia perdido os pais aos 14 anos. Ela agora vivia com o avô e os irmãos, os gêmeos de 10 anos Frédéric e Thomás. Seu avô já era muito idoso e Danielle trabalhava escondida dele para ajudar nas despesas da casa quando estava de férias e sempre contou com a ajuda dos irmãos para que o avô não descobrisse. Ela namorava um garoto muito rico, mas era orgulhosa e não permitia que ele se envolvesse nos problemas que tinha em casa.

O último do grupo a atravessar a barreira foi Marcel. Vinha ao lado de uma garota com o uniforme da escola e um menino de óculos de 10 anos. Ele tinha uma aparência muito frágil, mas sorria conversando com Marcel. Os três irmãos vinham cercados por seis seguranças e chamavam a atenção por onde passavam. Kalani não acreditou que Marcel fosse um príncipe de verdade quando o conheceu, achou que fosse alguma brincadeira dos amigos. Apenas quando a lanchonete onde estavam foi invadida pela Guarda Real a procura do garoto, que havia fugido, foi que ele acreditou. Para ele, Marcel era um príncipe fora dos padrões. Era muito brincalhão e tinha certa admiração por Olívia, embora nem ela, ele, ou mais ninguém parecesse notar.

- Vamos, Kalani? – Philipe bateu em seu ombro e Kalani saiu do transe – O barco vai partir em 10 minutos.

- Não se preocupem, não é tão assustador quanto parece. – Caterine o abraçou se despedindo

- É, vocês vão gostar – Kwon sorriu para Nani, que ainda estava insegura – E vamos estar lá para ajudar.

- Vai dar tudo certo, Nani – Kalani estendeu a mão para irmã, que a segurou – Vai dar tudo certo.

A garota suspirou e acompanhou os irmãos para dentro do barco. Os novos amigos logo se acomodaram nas poltronas ao redor e deram inicio a um animado bate-papo. Logo o porto já estava fora do campo de visão. Kalani não sentiu o tempo passar, até que Bianca sentou ao seu lado e apontou para o lado esquerdo do barco. Kalani virou e se deparou com a silhueta de um enorme castelo em tom alaranjado graças ao sol que já começava a se pôr. Ao fundo dele, algumas balizas brilhavam com os poucos raios do sol e refletiam em um imenso lago.

- Lindo, não? – Bianca falou admirando a visão.

- Sim, lindo... – ele respondeu hipnotizado pelo cenário

- Seja bem vindo ao nosso lar – ele sentiu um tapa nas costas e viu o rosto de Marcel sorrindo - Bem vindo a Beauxbatons!

Kalani olhou outra vez para o castelo e sorriu também. Não sabia explicar, mas de alguma forma, sentia-se em casa.

Wednesday, October 15, 2008

Dos diários de uma garota que acredita em contos de fadas

07 de Agosto de 1958

Conviver com minha irmã Virna, às vezes parece um teste para o purgatório. Volta e meia ela e o marido têm brigas, gritam um com o outro, mas após algum tempo tudo silencia, e no dia seguinte é como se nada houvesse acontecido. Ambos têm temperamentos explosivos, e as brigas na maioria das vezes ocorre por ciúmes de Virna por causa do trabalho de Kyle. Ele é auror, e sempre precisa estar ausente, deixando-a com a responsabilidade de criar dois garotos muito agitados e curiosos. Dylan e Kyle II, adoram ao pai, e não é fácil ter que dizer aos meninos que o pai, arrisca a vida pela segurança do mundo bruxo, ao invés de estar em casa brincando com eles. Dylan, é o estudioso, o que adora decobrir as coisas e tem muita compaixão, já disse que vai ser curandeiro, Kyle é o impetuoso, louco por aventuras e ansioso para desafiar o perigo. Ele quase nos matou do coração, hoje de manhã quando pulou do alto de uma estante e aterrissou numa mesa cheia de esculturas de cristal, por sorte, ele não se machucou, mas como disse que ia tentar de novo, o avô Josiah, o proibiu de fazer isso, e ameaçou-o com uma surra de cinta. Ele ficou assustado em ver o avô zangado, isso nunca havia acontecido antes, e acho que ele levou o aviso a sério. Bom, por via das dúvidas, os elfos têm ordens de não perdê-lo de vista e nós redobramos a atenção.

Virna deixou de trabalhar como curandeira no Hospital Geral de Brandenburg para se dedicar aos filhos, e ser dona de casa não combina muito com ela. Eu sinto que ela está infeliz, mas toda vez que eu toco no assunto ela diz que eu não vou entender, que sou jovem demais, que devo me preocupar com meus estudos... Como se eu não soubesse o que é querer alguma coisa e não poder ter.

Ontem eles brigaram novamente...E desta vez o motivo foi a atenção que Kyle deu à sua prima Sarah, ela trabalha no Ministério da Magia, acho que em execução da leis mágicas, e tanto ele quanto Connor, ficaram algum tempo conversando em tom baixo com ela. Acho que ela sentiu ciúmes por Sarah conseguir fazer Kyle rir divertido com sua conversa. Hoje já não há tantos risos da parte dele nesta casa...
Se Virna não estivesse tão centrada em si mesma, teria notado os olhares carregados de mistério trocados por Connor e Sarah, acho que estão apaixonados... Nestas horas os olhos de Kyle procuravam Virna, mas ela estava sempre ocupada correndo atrás dos filhos... *suspiros*
Será que algum dia alguém vai me olhar como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo? E se algum dia ‘alguém’ me olhar assim, eu vou saber como corresponder? Ou porque algumas pessoas são cegas e não enxergam que a felicidade está ao seu lado todos os dias, só esperando que estendam a mão para você? Ah se ‘ele’ me estendesse a mão...

And I love you so,
The people ask me how,
How I've lived till now
I tell them I don't know

12 de agosto de 1958

Minha irmã resolveu que vai me arrumar um namorado, afinal nas palavras dela: “uma mocinha como eu tem que ter um namorado de boa família... Com posses... Afinal funcionou para ela...”.
Blergh! Até parece que estar com alguém com todas estas coisas, poderia me garantir a felicidade... Chego a questionar se ela é feliz ou apenas conformada com a situação. Ela não entende que sou feliz escrevendo meus contos infantis, vivendo aqui e sonhando com a volta à escola? É nosso penúltimo ano e sinto que ele será cheio de emoções, e muitas descobertas e realizações, por isso quero aproveitá-lo ao máximo.
Como será que estão todos? Espero que AJ seja bem sucedido em sua caçada, adoro vê-lo contar os detalhes de suas aventuras, é quando eu vejo nos olhos dele, como é determinado e vai superar seus objetivos, e Tristan... Ele é como o significado de seu nome: é o alvoroço, o clamor por algo que acho que nem ele sabe o que é...
Tristan, quer conhecer tudo, viver intensamente, descobrir de onde veio e botar em prática os planos de viagens que ele faz com AJ. Espero que ele não tenha tido mais sonhos estranhos, como os que ele teve antes das férias...
Torço para que ele esteja bem, na última carta, ele estava nervoso por não poder sair do orfanato. Ora, mas o que ele queria? SE ele fosse um trouxa, sairia do orfanato com 16 anos, pois já seria maior de idade, mas ele é um bruxo e nós bruxos só nos tornamos maiores de idade aos 17 anos. Ele ficou tão chateado...Queria poder fazer algo para ajudá-lo. Talvez se eu pedir ao Kyle, ele possa ajudar ao Tristan... *rabiscando idéias*

Shadows follow me
The night won't set me free
But I don't let the evening get me down
Now that you're around me
And you love me too

20 de agosto de 1958

Tédio: para os simples mortais quer dizer aborrecimento, fastio..., mas para mim isso tem o nome de Lars Burgen.

Este é o nome do suposto pretendente que Virna me arrumou, ignorando meus protestos. Fomos até Paris comprar meu material escolar, uniformes e ‘por acaso’, encontramos o senhor Burgen, que gentilmente nos convidou a tomar um chá. Kyle olhou para mim incerto sobre aceitar ou não, mas levantei os ombros desanimados. Pelo menos eu não ficaria sozinha com Lars. Não que ele fosse feio ou mal educado, pelo contrário. Lars é bonito com seus cabelos negros e olhos azuis, estudou na Bélgica e esta se preparando para ser diplomata como meu pai. O engraçado é que ele me passou a impressão de estar ali cumprindo uma obrigação. Talvez ele também sofra pressões em casa, para namorar alguém de ‘boa linhagem’’puro sangue’. Um costume que as famílias antigas ainda mantém ¬¬
A conversa entre nós foi tão tediosa que faria uma tartaruga imitar a lebre e acelerar o passo rumo à morte. Mas tudo mudou quando ouvi a sineta da entrada tocar, e como se um imã me atraísse, olhei para a porta do salão de chá e não consegui conter um sorriso de satisfação.
Tristan finalmente havia aparecido. Quando ele nos viu e caminhou em nossa direção, Virna disse entre dentes:
- O que ele faz aqui?
- Eu mandei uma coruja avisando Tristan e AJ, sobre quando estaria em Paris. - respondi ansiosa.
- Pois acho que ele não deveria estar aqui, nem está vestido apropriadamente para freqüentar um lugar como este...- ela disse esnobe e eu a olhei irritada. Lars nos olhava com um ar curioso no rosto:
- Estamos num local público, ele pode ir aonde quiser. - resmunguei e antes que nossas vozes se alterassem, Kyle interveio:
- Olá senhor Thorn como vai?- disse Kyle se levantado e cumprimentando o meu amigo.
- Muito bem senhor McGregor, não quero incomodar... - era engraçado que Tristan geralmente tão rebelde com os adultos em geral, tem um tratamento cortês com meu cunhado. Isso deve ser porque Kyle o trata com respeito. Agora com Virna...
- Senhora McGregor, espero que esteja bem. - cumprimentou educado
- Já estive melhor.
- Sente-se conosco Tristan. - convidei e ele após um olhar para Virna, fez justamente o que ela não queria. Sentou-se, o apresentei a Lars, e logo o garçom começou a servi-lo e as maneiras dele à mesa eram impecáveis.
- Você também estuda em Beaxbatons? Sempre ouvi falar muito bem de lá, mas você deve adorar as férias, para poder viajar. - Lars tentou puxar assunto e ele respondeu:
- Onde me sinto realmente bem é na escola, com meus amigos. - ele respondeu e me deu um sorriso que correspondi. Virna resolveu provocar:
- Não queira saber sobre as viagens do senhor Thorn, Lars, ele mora num orfanato, e trouxa ainda por cima. Não deve viajar tanto como nós. - senti meu rosto arder de vergonha, Lars ficou constrangido e Kyle ofegou dizendo:
- Virna!- e minha ’querida irmã’ olhou cínica:
- Que foi que eu disse? Apenas a verdade ou isso ofende?
Kyle olhou-a sério e se virou para Tristan:
- Desculpe os modos rudes de minha mulher, senhor Thorn. - antes que Virna retrucasse, seu marido segurou a sua mão e a olhou sério. Dava para sentir a tensão entre eles estalar, por fim Virna cedeu, abaixando os olhos:
- Sem problemas senhor McGregor. O chá estava ótimo, mas peço licença, para respirar ar fresco. Gostaria de vir comigo Millie?- ele disse levantando e me estendendo a mão. Não hesitei, saímos do café e andamos rápido, quase corremos para ganhar distancia dali, e ao chegarmos numa praça, onde as pessoas podiam passear próximas à margem do rio Sena, eu disse:
- Desculpe por minha irmã ser...
- Uma tola preconceituosa, arrogante e mal educada?- ele disse e eu ri respondendo:
- Uma completa idiota. Desculpe.
- Não se preocupe Millie. Sua irmã precisaria passar meia hora no lugar onde moro, para aprender a como ofender alguém de verdade. Ela não gosta de mim e nem eu dela. Isso é um fato, mas eu gosto de você e estava com saudades de nossas conversas.
Passamos a tarde de sol conversando, rindo, tomamos sorvete e fazendo planos para a nossa volta à escola. Lá sim, vou estar verdadeiramente livre.

N.A. trechos da música: And I love you so, Elvis Presley