Acordei no outro dia com um sorriso de orelha a orelha e me posicionei diante da lareira esperando. Com um estalinho, alguém de cabelos bem vermelhos brotou nas chamas se espanando e olhando ao redor.
GS: Nossa! Finalmente... Acho que a sua é a última das lareiras do sistema de flú!
MK: Ah, eu nem acredito que sua mãe deixou você vir passar essa última semana comigo...
GS: Nem eu! Pra falar a verdade, eu acho que ela me despachou pra não ter que me matar! Estava de castigo por tempo indeterminado depois o Reveillon... Achei que ela me proibiria de vir.
MK: Acho que ela deixou pela minha insistência também... Fiz mamãe ligar todos os dias para a sua pedindo que você viesse! A mãe do Ty não foi tão difícil como a sua...
Ouvimos um barulho das chamas novamente e lá estava Ty sacudindo a capa e arrumando os cabelos. Ele saiu da lareira nos sorrindo satisfeito.
TM: Como estão? Nossa alfabetinho, que casa legal! Estranho... Quando saí de casa estava de noite, o céu cheio de estrelinhas, e olha lá, mal amanheceu no Japão! Esse negócio do fuso horário é bem interessante...
MK: Vamos logo! Temos muitos lugares pra ir hoje...
Os meninos deixaram as malas no quarto de hóspedes e saímos de casa. O sol tinha acabado de nascer quando chegamos ao centro da cidade... Passávamos pelas lojas e eles faziam comentários dos lugares. Quando passamos em frente de uma loja de kimonos, Ty parou diante a vitrine e um sorriso se estampou. Sem que falasse mais qualquer coisa, nos arrastou pra dentro da loja e olhava as prateleiras...
MK: Er... Ty, pra que você quer kimonos?
TM: Oras, estamos no Japão não é mesmo? Temos que nos vestir adequadamente... Olha só você de kimono! Não quero andar com você e todo mundo me olhando e tendo a certeza de que sou um turista... Anda Gabriel, escolhe um pra você! Já escolhi o meu.
GS: Ah, não, obrigado! Não nego minhas origens... Sou turista, andarei como um!
Ty deu de ombros e saiu todo animado pra dentro do provador. Quando saiu vestindo um kimono que mais parecia roupa de cigano e se achando o máximo com aquilo, Gabriel entrou na onda e pegou um pra ele também... Quando os dois estavam devidamente vestidos, Ty escolheu um kimono de seda pra mãe dele e tentou fazer mímicas para a vendedora, querendo que ela embrulhasse. Depois de ter que falar com a ela e finalmente sairmos da loja totalmente caracterizados, pegamos um metrô até a saída de Tokyo e descemos... Levei-os por uma estrada e a temperatura estava abaixando a cada passo...
TM: Ok, já fiz meus exercícios diários! Podemos voltar?
GS: Ótima idéia!
MK: Ei, calma... Já estamos chegando... Pronto! Olhem pra cima!
Estávamos ao pé do Mont Fuji. A neve havia coberto todo o topo, e no caminho tinham seis marcas de pés que pareciam marcha. Os meninos olharam pra cima chocados... Fizemos guerra de bola de neve e depois, quando já estávamos totalmente molhados, voltamos para Tokyo...
GS: Aonde vamos agora?
MK: Tokyo Tower... Vamos subir até o topo dela! De lá vocês terão uma visão completa da cidade!
TM: Ótimo, tudo que meu pé precisa é de mais escada...
Andamos, andamos, andamos e chegamos aos pés da torre. Pegamos o elevador até o topo e subimos. A vista lá de cima era incomparável... Dava pra enxergar no chão minúsculos pontinhos andando e a linha escura do metrô contornando rapidamente a cidade. Quando chegamos à conclusão de que estávamos com fome, digo, quando Ty nos convenceu de que estava com fome, segui pelo centro da cidade procurando um restaurante... As ruas agora estavam movimentadas e o sol forte. Entramos em um restaurante quase vazio e os levei ao fundo.
TM: Ué, roubaram as mesas do restaurante?
MK: Almoçamos no chão Ty... Senta aí nessa almofada!
Ele e Gabriel sentaram e pegaram os cardápios olhando chocados...
GS: Isso mais parece um caderno de desenhos do que um cardápio! O que são esse monte de desenhos?
MK: Não são desenhos... É o nosso alfabeto!
GS: Ah, agora me ficou claro... Esse aqui parece uma pata! Quer dizer que um dos pratos é pato assado?
TM: Blergh... Não tem McDonald’s?
MK: Tem, mas do outro lado da cidade! Quer caminhar até lá?
TM: Hum... Fico com o pato, agradecido!
MK: Aqui não tem pato! Só comidas japonesas... O que querem? Sushi? Sashimi? Yakisoba?
GS: Dá pra parar de me xingar?
MK: Vou querer sushi... Arroz e peixe enroladinhos como panquecas! O Yakisoba é um macarrão com muitos tipos de verduras e o Sashimi é peixe...
GS: Nada de peixes! Fico com o macarrão vegetariano...
TM: Dois!
Chamei o garçom e fiz o pedido... Ty não demorou muito e viu os dois palitinhos de madeira em cima do vidro. Desenrolou do guardanapo e mostrou pra Gabriel que pegou um da mão dele e eles começaram a duelar com os palitos como espadas...
TM: Legal! Enquanto esperamos a comida podemos começar o treinamento para Samurais...
GS: Isso que eu chamo de valorizar a cultura nacional!
Fiz força pra não rir da cara de bobos deles, mas vendo que o restaurante todo observava os dois e a brincadeira, arranquei os palitos das mãos...
MK: Dá pra vocês dois ficarem quietos um segundo? Isso aqui não é nenhuma espada Ty, é o seu talher, e se você quebrar eu não me responsabilizo!
TM: Você está me dizendo que eu vou ter que equilibrar o macarrão com esses dois palitos?
MK: Sim, é exatamente isso que eu estou te dizendo! A não ser que você queira comer com as mãos, encoste os palitos aí e espere quieto!
Os dois ficaram quietos e calados até o garçom chegar com os pratos... Gabriel pegou os dois palitos e tentou pegar um fio de macarrão que deslizou... Seguiu a tentativa umas cinco vezes e já olhava irritado pro prato. Ty já tinha derramado muitos pedaços de cenoura ao redor e parecia estar se desesperando pelo desperdício da comida. Parei de comer e mostrei aos dois como deveriam segurar e pegar... Eles não aprenderam muito bem, mas desenvolveram uma técnica e conseguiram enrolar o macarrão...
TM: Hum, até que é bom...
GS: Sim... É melhor que o macarrão do tio Scott!
MK: Querem provar Sushi?
TM: Pode ser!
GS: Porque não?
Molhei um rolinho de Sushi no molho e dei a Gabriel... Ele fez cara de quem comeu e não gostou e empurrou pra dentro com dificuldade. Dei um ao Ty e ele fez uma cara ainda pior... Pensei que cuspiria o negócio da boca a qualquer momento, mas com muita relutância ele conseguiu engolir.
TY: Eca, é peixe cru! Esqueceram de cozinhar... Quer um isqueiro Mi?
MK: É peixe cru mesmo, e é uma delícia!
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