Thursday, July 27, 2006

Lá e de volta para Londres...

Anotações de Ty McGregor

O ruim de você ter parentes espalhados pelo mundo, é que quando as férias começam a ficar legais, eles aparecem e levam os filhos embora. John, Mary, Sophia, Amber, Chloe, Declan, Brian, Brianna, voltaram com os pais para suas casas e só ficamos eu e Riven na casa da vovó.
Até que por uns dois dias, nós nos tratamos civilizadamente, e depois disso ele se enfiou no quarto dele e eu ficava vagando pela propriedade sem ninguém pra me controlar. Tia Patrícia e tio Dylan ultimamente só faziam brigar e nestas horas o Riven sumia pela propriedade, só aparecendo quando tudo estava quieto. Quer dizer, eu ficava de olho nele, não tinha nada para fazer mesmo. Algumas vezes eu o encontrava no meio do caminho e dizia como quem não queria nada:
- Estou faminto, vou assaltar a geladeira. Você vem?- e lá íamos nós bagunçar a cozinha.
- Ty, acorda.
- Agora não, mãe... MÃE?
Ela riu e me abraçou, dando beijos estalados. Porque mãe tem esta mania? Pelo menos não foi em público.
- Acorda, filho vim te buscar. Vamos passar o final de suas férias em Londres. - e começamos a conversar enquanto eu me arrumava, e ela ia contando as ultimas coisas que haviam acontecido por lá, quando ouvimos alguns gritos. Ela abriu a porta de varinha em punho e era tia Patrícia e tio Dylan brigando àquela hora da manhã.
- Começaram com as galinhas hoje... - comentei.
- Arrume suas coisas. Já venho. - e minha mãe saiu em direção ao quarto deles. Louca? Sim, mamãe era meio doidinha. Logo eram três pessoas gritando e vi alguém bater a porta e sair bufando. Tio Dylan havia saído. Achei que tia Patrícia e mamãe fossem começar a brigar até porque elas sempre se detestaram, mas os barulhos pararam. Riven que estava com a cabeça no corredor esperando com ar preocupado, olhou para o meu lado.
- Tia Alex não mataria a minha mãe não é?
- De repente... Quer dizer... Não... Imagina... Devem estar falando mal do seu pai; sabe como é mulher quando se junta.
Ok, isso não ajudou, mas ia dizer o quê? Passado algum tempo, minha mãe saiu do quarto e disse ao Riven.
- Querido, vá ao quarto da sua mãe, se despedir dela. Você vai passar uns dias em Londres conosco. Tudo vai ficar bem. - e o abraçou.
Riven olhava para minha mãe, espantado, e fez o que era mandado. Ela voltou ao meu quarto e disse:
- Desculpe filho, mas seu primo precisa se afastar um pouco daqui ok? Vou dar um jeito da irmã dele, a Ariel aparecer por lá também.
Que legal, alguns dias em Londres com meu primo Riven na minha cola. Acho que eu joguei pedra em alguém na outra vida.
........

Estávamos em Londres há uns dois dias e tudo parecia normal. Meus pais saíam para trabalhar, cedo e voltavam de noite, Gabriel estava viajando com tia Louise, e Miyako estava no Japão, sendo assim demoraria alguns dias antes de nos encontrarmos. Mesmo com Londres debaixo de muita neblina e muito medo, consegui convencer meus pais que ir a alguns lugares cheios de bruxos, seria seguro. Claro que eu teria que levar o Riven junto, mas até que não seria tão ruim. Apesar da ordem ser de voltar antes de anoitecer.
Estávamos vendo um estojo de vassouras na loja de artigos para Quadribol quando escutei me chamar:
- Olá Ty, o que faz aqui cara? – era Jean Savoy e sua irmã, Desireé. Eles eram filhos de aurores como eu e nos conhecíamos desde que entrei em Beauxbatons. Eram filhos de mãe indiana e pai francês. Por isso, Desireé era uma das garotas mais bonitas que eu conhecia, com sua pele morena, olhos negros expressivos, e um cabelo negro liso que chegava á cintura. Confesso que fui um dos seus fãs, mas com o tempo, esta admiração virou amizade. Apresentei Riven a eles e começamos a conversar.
- Vim passar uns dias com meus pais aqui e vocês?
- Viemos para o casamento de uma prima. Meus pais estão de férias no Ministério. Agora estávamos indo jogar hóquei aquático. - disse Jean.
- Hóquei aquático? Deve ser legal. – comentei interessado.
- Você e seu primo poderiam vir conosco, Ty. – disse Desireé olhando Riven e meu primo estava sério.
- Vamos?- perguntei e ele deu de ombros concordando.
O jogo era o seguinte: um disco de hóquei ficava no fundo de uma piscina aquecida, e os jogadores das duas equipes usando snorkel, usavam luvas emborrachadas no lugar dos bastões. Quem pegava o disco tinha que ser rápido para fazer a jogada antes que todos os outros jogadores o bloqueassem. Claro, ele também tinha que ser rápido antes que ficasse sem ar. Gostei da novidade e me inscrevi na academia e arrastei Riven junto.
Passamos a encontrar Jean e Desireé sempre, e meu primo sempre ficava calado e de cara feia quando Desireé, começava a falar comigo. Um dia voltando para casa, depois da academia, resolvi perguntar qual era a dele:
- Riven, você não gosto dos irmãos Savoy? Se eles te incomodam, pode ficar em casa da próxima vez.
- Eu gosto deles sim. Bastante.
- Não parece... Parece que você engole limão quando ta com a gente e... Peraí, seu problema é com o fato do Jean jogar quadribol?- ¬¬ - lembrando da raiva que Riven tem dos jogadores de quadribol em geral.
- Não.
Olhei bem para ele e disse solene:
- Sou ótimo em legilimência, vou ler sua mente e descobrir tudo que você esconde. - ameacei. – (Se o lobão escuta esta besteira morre de rir).
- Não precisa... Eu falo... É, que... Ty como você faz para ficar com uma menina que você gosta?
- Ora, como... Da maneira que você tá acostumado oras... - comecei a dizer, mas parei olhando para ele.
- Você nunca ficou com ninguém?- perguntei meio alto e algumas pessoas na rua nos olharam curiosas.
- Vai, fala mais alto que a Nessie não escutou. Claro que fiquei! Muitas vezes, para sua informação. Na realidade foram milhares.
- Diz dois nomes rápido. – intimei.
- Mary e Amber. - ele respondeu.
- São nossas primas, não contam. Em Durmstrang não tem garotas legais não? Que lugar é aquele? Um monastério? - comecei a rir.
- Ah quer saber? Esquece o que eu perguntei. - disse invocado apressando o passo.
- Desculpa. Parei de rir. Juro! - como eu ainda olhasse para ele abismado, ele resolveu explicar.
- Em Durmstrang, não podemos nos relacionar afetivamente. Nosso diretor dizia que isto atrapalha quando você quer executar feitiços "mais complexos". Então não há esta integração entre os alunos. Até os ambientes são preparados para desestimular isso. Nada de lareiras aconchegantes, ou bate papo entre meninos e meninas nos salões comunais, em sofás macios, como você diz que é em Beauxbatons ou em Hogwarts.
- Cara, eu me jogava de um iceberg se estudasse nesta escola. Seu diretor é um frustrado isso sim.
- Como você faria para chegar numa garota como a... Como a Desireé. - e ele estava vermelho.
- Você também não quer muito né? Só uma das garotas mais bonitas que eu já vi. Ah, sei lá, não sou nenhum expert no assunto. Já fiquei algumas vezes, mas o interesse era mútuo entende? Porém o mais importante é ser você mesmo.
Ficamos conversando um tempão e pude conhecer meu primo um pouco mais, e descobrir que ele não é tão chato quanto parece. É apenas um garoto como outro qualquer tentando achar seu lugar no mundo.

Monday, July 24, 2006

Cenas de uma família

Das memórias de Gabriel Graham Storm

SF: Eu estou dizendo, só presta atenção e você vai ver...

Vinha caminhando devagar ao lado do meu padrinho enquanto meus pais iam mais à frente, conversando. Havíamos chegado da Disney há três dias e estávamos indo para a casa do vovô Henry, enquanto tio Scott me contava que ele há muitos anos fez quase que um terrorismo com meu pai quando mamãe o apresentou a família, e que até hoje ele ainda se sente intimidado pelo vovô. Eu ria, duvidando que meu bisavô ainda fosse super protetor com a minha mãe, mas tio Scott me garantia que estava certo. Tia Claire veio nos receber na porta quando chegamos, ela era minha tia avó, mãe dos meus tios Julian e Brendan.

CS: Não estou acreditando que seja você mesmo, Louise! Jurava que nunca mais pisaria em Londres! – e abraçou mamãe enquanto falava.
LS: Pois é, nunca diga nunca... Senti tanta falta desse lugar, não venho aqui desde que tinha 17 anos!
CS: Ah Scott, meu sobrinho adotado! É possível que você esteja mais bonitão a cada vez que nos encontramos?
SF: Olá Claire! É só impressão, vocês têm mania de me considerar desperdício, por isso andam tendo alucinações... – e minha tia riu.
CS: Ora, mas é verdade, não me conformo! Gabriel, não vai falar comigo?? Deus, como você cresceu desde a ultima vez que estive no Brasil...

Minha tia me puxou para um abraço e segurou meu ombro, fitando meu pai por um tempo. Em seguida olhou para mamãe rindo e o abraçou.

CS: Tinha certeza que a passagem da minha sobrinha pela cidade não seria em vão... Fico muito feliz em ver você outra vez, Remo.
RL: Também estou feliz de poder voltar aqui. Só espero que ele pense o mesmo...
LS: Ah por Merlin Remo, você não tem mais 17 anos!

Tio Scott me cutucou e riu como quem diz “eu falei...” e seguida me empurrou para dentro da casa. Vovô Henry estava sentado na poltrona lendo o jornal e levantou assim que nos viu, me abraçando. Ele já era bem velhinho, mas estava mais lúcido que muitas pessoas novas por ai... Era divertido, tinha sempre histórias para contar sobre os anos em que trabalhou para a Scotland Yard, eu adorava sentar para ouvi-las. Mamãe entrou em seguida e ele parecia extremamente feliz em vê-la na casa outra vez, mas quando notou que papai estava ao seu lado, sua fisionomia mudou. Ele ficou mais serio, formal, apenas estendeu a mão para que ele a apertasse e notei que meu pai estava nervoso. ‘Hunf, vejo que você está por perto outra vez...’ ele falou quando soltou sua mão e não pude deixar de rir. Vovô então viu que tio Scott também estava conosco e abriu logo um sorriso, lhe dando um abraço.

HS: Ah Scott, que bom vê-lo! Como está?
SF: Estou bem Sr. Storm, e o senhor? Ainda assustando a criançada do bairro?
HS: Eu tento, mas elas estão mais espertas hoje em dia... Mas me conte como vão as coisas, Louise me disse que você está escrevendo um livro!

Meu padrinho sentou no sofá com vovô e eles engataram em uma animada conversa sobre trabalho. Olhei confuso para minha mãe e minha tia riu, fazendo sinal para que saíssemos da sala e a acompanhássemos para um outro cômodo, deixando os outros dois na sala.

CS: Remo, não se estressa com o papai, ele não faz por mal... – disse quando fechou a porta.
RL: Não consigo entender porque ele implica tanto comigo... O que eu fiz?
LS: Vamos ver... – mamãe falou fingindo estar pensando – você foi o 1º namorado que a neta mais velha dele o apresentou... Você também foi o ‘monstro’ que tirou ela de casa... Ah, e claro, foi com você que ela teve um filho do qual você só tomou conhecimento há menos de um mês!
GS: Ah então isso é antigo? Tio Scott não mentiu quando disse que ele fez terrorismo com você?
RL: Não, seu avô é maluco! Depois eu conto o que ele fez...

Minha mãe e tia Claire começaram a rir, provavelmente lembrando o que fez meu pai ter tanto trauma do vovô. Mamãe explicou também que ele morria de amores pelo tio Scott porque ele sempre foi como irmão pra ela, sempre freqüentou a casa e que se mudou para o Brasil no mesmo instante que soube que ela precisava de ajuda. E tia Claire completou dizendo que meu padrinho era a única pessoa que conseguia conversar por horas com o vovô sem se cansar e tinha a maior paciência com ele.

Passamos o fim de semana todo na casa em Devon. Mamãe queria visitar amigos de infância e papai iria acompanhá-la, mas se machucou numa brincadeira com meus tios e não conseguia andar direito. Tio Scott falou que vovô Henry devia ter pagado algo ao tio Brendan para derrubá-lo com brutalidade no rugby. Papai agora estava deitado no sofá com dor na coluna, ouvindo mamãe rir e dizer que ele estava ficando velho. Ele ficou em casa e meu padrinho foi com ela visitar as pessoas. Eu também fiquei, passei o dia com a minha prima Kate, filha do tio Julian.

Enquanto conversava com ela, passavam mil coisas pela minha cabeça. Via meu pai jogando cartas no sofá com vovô e lembrava do que mamãe tinha dito sobre ele nunca ter gostado dele. Será que vovô tinha um motivo que ninguém sabia e só queria proteger sua neta? Afinal, ela sofreu quando eles se separaram, quando ainda estava grávida. Mas mamãe estava feliz por estar junto dele outra vez, há tempos que não a via assim. E sei que eu deveria estar me sentindo do mesmo jeito, pois estaria mentindo se dissesse que nunca sonhei em ver meus pais juntos, mas por algum motivo não conseguia. Ela notou que eu estava pensativo quando voltou para casa, já de noite, e sentamos para conversar.

LS: Sei que tem alguma coisa lhe incomodando, o que é?
GS: Vocês vão continuar juntos?
LS: Seu pai e eu? Claro! Mas por que a pergunta? Achei que fosse ficar feliz com isso.
GS: Eu estou, muito! Mas tenho medo...
LS: Medo de que?
GS: De vocês se separarem de novo... Não quero ver você sofrer. No 1º dia que chegamos a Londres a vi chorando por causa dele e não quero que isso aconteça de novo.
LS: Gabriel, você não tem que se preocupar com isso. Não posso garantir a você que nunca mais irei me afastar de seu pai, pois não posso prever o futuro. Mas posso lhe garantir que no que depender de nós dois, isso nunca vai acontecer. Nós nos amamos e queremos ficar juntos.
GS: Eu sei disso... Mas o vovô não gosta dele. É só por ciúme mesmo?
LS: Seu avô não odeia o Remo, ele só é implicante. Se você reparar, ele também pega no pé do marido da Susan. E a prova de que ele não odeia seu pai é que eles passaram a tarde inteira juntos, jogando cartas.
GS: É, mas o vovô reclamou o dia inteiro dele.
LS: Não ligue pra isso, é o jeito dele. Não quero que você pense nessas coisas, odiaria ver você se afastando de seu pai por causa de incertezas e preocupações comigo. Você gosta dele e ele te adora, não consegue falar em outra coisa quando está comigo.
GS: E quando voltarmos ao Brasil? Ele vai ficar aqui, não?
LS: Quando chegar a hora, eu e ele iremos resolver isso. Por enquanto, aproveite suas férias e esqueça isso, ok?

Mamãe beijou minha testa e foi ate a sala, onde papai ainda estava deitado no sofá. Eu a segui e fiquei sentado na escada, olhando através madeira. Vovô deu boa noite aos dois e subiu, passando por mim e piscando. Fiquei os observando.

LS: Deixou o vovô ganhar?
RL: Todas as partidas...
LS: Quantas vezes ele falou que Scott é o genro ideal?
RL: Pelo menos umas cinco... Como foi o dia?
LS: Bom... Revi muitos amigos... Mas faltou você.
RL: Desculpe não poder ir, mas Brendan é um cavalo... Lembre-me de descontar amanha, por favor?
LS: Vem, vamos dormir, estou cansada. Eu te ajudo a subir as escadas.

Mamãe ajudou meu pai a se levantar e eles vieram andando devagar na minha direção. Deram-me boa noite quando passaram e subiram. Fiquei sentado no mesmo lugar, olhando para a sala. Talvez quando o assunto é família, tudo venha para o bem. Não é fácil crescer, não importa a idade que você tenha, certas coisas nunca mudam. Acho que tudo depende de sorte e também um pouco de amor. Só sei que naquela noite, pela primeira vez, me senti parte de uma coisa duradoura. Parte de uma família.

Saturday, July 22, 2006

A razão do meu afeto!?

Do diário de Isabel McCallister

IM: Ah Bel, dá uma chance pra ele! Ele me parece tão legal... – disse em minha voz mais displicente, mas mal havia terminado a frase e tive que desviar de um pesado livro de feitiços que voava em minha direção.

As férias já haviam começado há algumas semanas. Desde que tínhamos saído de Beauxbatons, eu e a Bel tínhamos vindo pra casa, com papai. Rebecca tivera que viajar com outros aurores, por isso pedira pra Anabel vir conosco, o que ela fez a muito contragosto.

A partir daí, a nossa convivência andara sendo um pouco... forçada! Por minha parte, é claro. Anabel não fizera nenhuma questão de manter a boa educação comigo, e passava a maior parte do seu tempo trancada no quarto, rodeada de livros de feitiços e runas que pegara da biblioteca.

Papai saía cedo e voltava de noite, por não ter conseguido tirar férias. Às vezes eu ia andar pela cidade, sozinha mesmo, fazendo compras ou só vigiando as vitrines, mas de uns dias pra cá isso não andara me fazendo muito efeito e eu me afundava em um tédio grandioso.

Aquela manhã era um desses dias. Eu estava na sala, bordando uma blusa velha, e Anabel sentada na poltrona com os dois olhos pregados naquele livro. As cartas de Beauxbatons para os materiais escolares haviam chegado há pouco tempo, mas além delas, Bel recebera uma outra carta, o que foi motivo para desenterrar uma pequena, mas divertida lembrança da minha mente...

IM: Vai falar que você não gostou dele ter te beijado? Aliás, ele não te beijou, ele te agarrou! Ta podendo hein maninha? – disse soltando uma grande risada.
AM: Não me enche Isabel!
IM: Desabafa comigo Bel, ta na cara que você gosta dele.

Ela me lançou um daqueles olhares fatais, e depois balançando a cabeça, fez com que o livro que tinha tentado atirar em mim voltasse pras mãos dela, e retornou a leitura como se nada tivesse acontecido.

Não me pergunte como o Ministério não identificava esses tipos de feitiços feitos por menores. Desde pequena, Bel tinha o dom de fazer feitiços sem falar, ou sem varinhas...

Fiquei encarando a capa do livro ainda rindo. Ela lia concentrada, mas apertava no peito um envelope de: Bernard Lestel, além da carta da escola.

IM: Eu sempre soube que vocês dois teriam algo mais que amizade. Aliás, não só eu notei isso né... Ele ia todos os dias para a biblioteca estudar com você, e às vezes eu flagrava uns olhares longos que ele te dirigia na mesa da Sapientai. Vocês são tão fofos!!!

Ela continuou concentrada no livro, como se não tivesse escutando nada do que eu dizia.

IM: Ham, Bel... Você costuma ler todos os livros de cabeça pra baixo?

O livro que ela fingia estar lendo com toda a atenção, estava virado de ponta cabeça. Ao perceber isso, ela o fechou com violência, jogando os envelopes no meio e se levantou de pronto da poltrona.

AM: Eu leio o livro do jeito que quiser, mas já vi que aqui eu não vou ter paz, então vou pro meu quarto...

Ainda rindo da cara de susto que ela fez, a acompanhei subir as escadas e sumir no andar de cima, parecendo estressada...

Joguei a blusa pro lado e resolvi ir dar uma volta.

IM: Bel, eu vou sair, andar e ver algumas vitrines, quem sabe comer alguma coisa diferente... – disse enfiando a cabeça pra olhar dentro do quarto dela – Quer ir comigo? A gente pode ir em alguma livraria com café...
AM: Tchau Isabel! Não tenha pressa em voltar.

Depois de levar um fora da Bel, com toda aquela sua gentileza de trasgo, saí de casa sozinha, novamente... Já tinha perdido as contas de quantas vezes havia passado na fachada de cada uma daquelas lojas do centro de Nova York. Só nessas férias, o suficiente pra pedir a Champs Elysée de volta.

Havia acabado de entrar na Macy’s... Já ouviu falar da Macy’s né? A maior loja de departamentos do MUNDO! Tem até um ditado que os trouxas falam demais: “Se você foi à Nova York e não foi na Macy’s, então você não foi à Nova York”. Ta, tirando o momento da propaganda, você deve estar se perguntando: Isa, o que você estava fazendo em uma loja de departamentos??? A resposta é simples: Nada! Estava passando lá na porta e resolvi entrar pra olhar panelas! Mas continuando... Havia acabado de entrar na Macy’s quando me esbarro com ninguém menos que...

IM: Rubens?!
RM: Isa! Como vai? – disse me dando um abraço e sorrindo.
IM: Bem, e você?
RM: Também...
IM: Er... O que você está fazendo aqui?
RM: Ah, eu vim com minha mãe. Viemos passar uma semana aqui, mas já estamos indo embora amanhã. Acho que já andamos essa cidade inteira pelo menos 15 vezes nos últimos 3 dias!!! E você? – ele de repente sorriu surpreso de ver que estava na frente de uma prateleira cheia de talheres.
IM: Pra falar a verdade, nada! Só entrei aqui porque também estou cansada de andar pelas outras lojas... Eu moro perto daqui!

Ele continuou me olhando e sorrindo, até que uma mulher alta e loira, de olhos claros, como ele, se aproximou.

- Podemos ir filho... Estou cansada!
RM: Vamos sim mamãe. Ah, essa é Isabel McCallister, a única menina do nosso time de quadribol, artilheira também.
- Rubens fala muito de você Isabel! “Nunca tinha visto uma menina que jogava tão bem quadribol!” – ela estendeu a mão e eu a cumprimentei sentindo o rosto queimar. – Bem, vamos indo então?
RM: Tchau Isa, a gente se vê logo, certo?
IM: Claro! Tchau...
- Foi um prazer conhecê-la!
IM: Igualmente.

Ainda sentindo o rosto quente e o coração mais acelerado, observei os dois sumindo pela rua. Rubens era o capitão do time. Desde o dia que havia passado no teste e garantido uma vaga, nós havíamos virado amigos, assim como Brendan e os outros meninos.

Ele era super concentrado em planejar novos ataques e táticas, e muito divertido também. Ainda não entendia porque eu ficava em reação de choque quando o via ou estava perto dele...

Um pouco mais animada, mesmo não carregando nenhuma sacola com algum lançamento da moda, voltei pra casa. Mal tinha entrado e esbarrei com uma Anabel pálida e trêmula.

IM: AHHHHH! – me larguei na poltrona com a respiração ofegante. – Que susto Bel!
AM: Sem piadinhas Isabel. Aconteceu uma tragédia! Aliás, uma catástrofe!
IM: O que foi? Você se deu conta que ama o Bernard? Perdeu algum livro de feitiços, ou não conseguiu fazer um deles? Já sei! Nasceu uma espinha no seu nariz? – disse chegando perto do rosto dela pra analisar melhor o nariz...
AM: PARA! CALA A BOCA! – ela afastou meu rosto com a mão e pude sentir que estava gelada - Deixa eu falar...
IM: Então fala menina, você está com cara de quem viu um fantasma! Você viu um fantasma???
AM: Eu...
IM: Você? Fala logo Bel, eu estou nervosa já!
AM: Eu descobri o segredo do Grimoire!!!
IM: O QUE???

((continua no próximo episódio, não saiam daí!))

Wednesday, July 19, 2006

Zoando na Disney

Das memórias de Gabriel Graham Storm

- Esse troço é seguro, esse troço é seguro, esse troço é seguro...
- O que foi Gabriel?
- To tentando me convencer que isso não vai soltar...

Estávamos no Bush Gardens, o parque mais afastado de todos, que ficava em Tampa. Meus tios, Bridget e Allison estavam em terra firme, seguros, e eu estava com Chloe, Shane e Chris sentado no carrinho da Montu, a montanha-russa mais maluca daqui. Tinha acabado de me dar conta que o trilho ficava sobre nossas cabeças e que os pés ficavam pendurados, então comecei a repetir alto que aquilo era seguro. Mas quando o carrinho saiu do lugar, tudo que consegui gritar foi ‘eu vou morreeeeer’.

- Gostaram do passeio? – tio Scott perguntou rindo
- Não! Péssimo, não ando mais nesse troço... – Shane respondeu desanimado
- Então sugiro um passeio mais light. Vamos ao Congo River Rapids
- E o que é isso, tia? - perguntei
- Ah, uma corredeira calma...

Concordamos com ela e fomos até a tal corredeira. Uma fila quilométrica nos aguardava, mas isso era normal por aqui. Paramos no fim dela e reparei que muitas pessoas compravam toalhas e capas de chuva, sendo que fazia um sol de 40°. Chris e eu começamos a rir, dizendo que as pessoas eram malucas, e podia ouvir tio Scott dizendo alguma coisa com os irmãos e rindo também, mas não demos importância. Ate que a fila andou depressa e logo estávamos acomodados no bote que cabia 9 pessoas. E então eu entendi o porquê das toalhas e capas de chuva... Esse brinquedo é um dos poucos lugares do planeta onde aquela frase da sua mãe ‘não esquece de levar o casaquinho’ ta valendo. Durante o percurso, o encharcamento é geral, mas Chris fez tanta presepada pra fugir da água que conseguiu não se molhar muito. Acho que foi pensando nesses retardados que eles colocaram uma cachoeira, quase no fim, pro bote passar por baixo... De nada adiantou o esforço dele, pois no fim das contas saímos todos com a impressão de que tínhamos dado um mergulho no rio. O resto do dia ficou por conta de safáris e corridas com jipes, onde Shane quase atropelou Bridget com o dele e passou o resto da tarde sendo vigiado pelo pai.

Na manha seguinte eles nos acordaram às 7hs para irmos ao Universal Studios. Esse era o parque onde tinha os brinquedos ligados aos filmes, todos ótimos. Tio Wayne, que é vidrado nos filmes do Alfred Hitchcock, nos arrastou até um galpão onde funcionava o simulador do filme mais maluco dele, Pássaros. Fomos atacados por milhares de passarinhos em 3-D, mas graças a Merlin nenhum fez coco na nossa cabeça. Depois o cinema se transformou em auditório e um cara de short no joelho e cara de idiota começou a tagarelar sobre os filmes.

- Pai, quem é esse cara? – Shane falou
- Que ‘esse cara’! Mais respeito. O nome é Alfred Hitchcock.
- Alfred? O mordomo do Batman? – Chris perguntou de deboche
- Claro que não! Hitchcock fez os maiores filmes de suspense do cinema mundial!
- Ah, já sei. Foi ele que fez aquele ‘Neurose’, né? – falei tentando não rir. Adorávamos irritar o tio Wayne
- Que ‘Neurose’, seus ignorantes! O nome é ‘Psicose’! PSICOSE, PSICOSE!
- Ta, já entendemos... Desse jeito o senhor bem que podia estrelar o ‘Neurose’... – Shane falou e saltou pro banco de trás fugindo do cascudo.

Enquanto perturbávamos tio Wayne, o idiota de bermuda estava procurando na platéia alguém para participar da encenação da famosa ‘cena do chuveiro’ e pagar aquele King Kong maior que o gorila do simulador que fomos assim que chegamos. A graça nessas horas é fazer alguém do seu grupo passar a vergonha e nós imediatamente agarramos o braço do tio Wayne, que foi pego de surpresa. Ele acabou sendo chamado pelo cara do palco e não teve coragem de dizer não na frente daquela platéia lotada. Claro que tio Scott filmou tudo e disse que vai passar esse vídeo no Ministério da Magia.

- Já chega de Universal, não é? – ele falou com a cara vermelha assim que desceu do palco.
- É, acho que já vimos tudo por aqui, não falta nada. Podemos ir pro MGM – tio Scott falou tirando a câmera do alcance dele.
- SIM!! – gritamos ao mesmo tempo
- Bom, então vamos embora! Ainda da pra pegar o Epcot Center depois dele.

O MGM Studios era outro parque com todos os brinquedos ligados a filmes, mas esses da Disney. Assistimos ao show super engraçado dos Muppet Babies, Star Wars, vimos o show do Indiana Jones onde tio Wayne tomou o cuidado de sentar longe da gente, despencamos ate ficar tontos na Torre do Terror e fizemos um passeio mega chato, o ‘Studios Backlot Tour’. É um passeio pelos bastidores dos estúdios da MGM em um trenzinho que vai a 8km por hora. Pra quem já andou em montanha-russa, elevador descontrolado e ate disco voador, dá vontade de sair correndo dali...

Faltavam umas 3 horas para escurecer, então saímos apressados do MGM e fomos ao Epcot Center. Tio Scott disse o tempo todo que esse parque era aquele que poderia ser opcional nos pacotes de agencias e entendemos porque quando chegamos. Só brinquedo CHATO. Os únicos legais eram o Test Track, onde você se sente um boneco de testes mesmo, correndo alucinado na pista enquanto o carro derrapa, freia em cima da parede, acelera, faz curva fechada e ninguém morre e o ‘Querida, encolhi a platéia’. É um simulador também, que faz você ter a sensação de ter encolhido, enquanto os atores gigantescos aparecem no palco, um cachorro enorme espirra em você e ratos passam na sua perna. É esquisito, mas muito engraçado.

Depois desses dois, dormimos em alguns dos outros brinquedos sem graça e quando escureceu teve inicio à queima de fogos no lago do parque, que ficava no pavilhão dos paises. Você encontra quase todos eles lá, com lojinhas vendendo artigos e comidas típicas de cada um e uns brinquedos contando a historia deles, mas nada que valesse perder horas na fila para andar. Quando a queima de fogos terminou, chegou a hora de ir embora do parque. Mas ainda tivemos direito a mais uma forte emoção com direito a gritaria e tudo: tio Wayne, tia Megan e tio Scott discutindo entre si, pois nenhum dos três lembrava onde haviam largado o carro naquele estacionamento gigantesco...

Tuesday, July 18, 2006

Se correr...O bicho pega!

Anotações de Ty McGregor

Sonhava com a música da boate e com a garota. Estávamos sozinhos naquele lugar enorme, ela me abraçava e ria... Estranho.... Ela não era loira, tinha cabelos pretos, compridos, olhos mais azuis que o mar...Ela sorria como se eu fosse importante para ela...

- Tyrone John McGregor Levante-se agora.
Dei um pulo da cama e era meu pai arrancando minhas cobertas no quarto. Declan e John acordaram assustados e ele disse:
- Seus pais estão vindo aí, se eu fosse vocês, faria a última refeição o mais rápido possível. - eles levantaram e correram pra cozinha.
- Oi pai! Você num tá atrasado pro trabalho com o Ministro? – disse olhando para seu terno trouxa, enquanto vestia uma roupa por cima do pijama.
- O Ministro está sob a proteção do Quim hoje. Saí do trabalho direto para cá. - respondeu sério.
- As corujas fizeram um super vôo.Você chegou rápido aqui.- comentei.
- Seus tios e eu nos comunicamos por celular. É mais rápido do que nossas corujas. - antes que eu dissesse mais alguma coisa ele falou:
- Como você foi sair pra ir numa boate Ty? Nem idade você tem ainda, e o pior: junto com seus primos e primas.
- Vimos o panfleto, ficamos curiosos e fomos até lá, papai... Acabou tudo bem...
- Ficou tudo bem depois que o Dylan curou vocês né? Ou você acha que ele não iria me contar que o filho dele chegou desfigurado aqui? Ou pior: que o meu filho, tinha a roupa toda amarrotada, como se... Imagina se a sua mãe ouve este tipo de coisa de madrugada?
- Desculpa, não pensei que fosse dar este problema todo.
- Pensei que você teria mais juízo que os seus primos, afinal já enfrentou um comensal e quase morreu por isso. E se alguma coisa ruim acontecesse? John e Declan fazem o que você quer e as meninas também, desde que isso vá irritar ao Riven.
Passei a hora seguinte levando bronca do meu pai. Ele disse que o castigo do tio Dylan continuava valendo e que eu me desse por feliz, por não estar à caminho de Londres, para ficar sozinho em casa.
Antes de entrar na lareira pra voltar a Londres, ele disse:
- Preciso que você tenha mais juízo filho. Algumas coisas vão mudar em nossa vida e eu preciso saber que você é maduro o suficiente para entendê-las.
- O que você quer dizer com isso? Você e minha mãe brigaram?
- Não brigamos, mas prepare-se para boas mudanças. – me abraçou apertado antes de entrar nas chamas verde esmeralda.

Algum tempo depois...

Sabe quando você cresce num lugar em que os turistas acham que vão encontrar o monstro do lago Ness numa poça d´agua e que ele vai fazer saltos acrobáticos como aqueles golfinhos de filme trouxa? Eles sempre pensam que vêm alguma coisa, depois de visitar o castelo Urquhart, e degustar alguns copos do puro malte escocês. A função da família McGregor por várias gerações tem sido proteger o Lago Ness e permitir que as criaturas que vivem lá, não sejam perturbadas. Claro que às vezes os monstros ficam curiosos com a movimentação estranha e se mostram, mas quando isso acontece vovó lança o feitiço Cunfundus nos turistas abelhudos e eles pensam que beberam demais. Só que hoje...

Estávamos jogando snap explosivo quando ouvimos um estalo:
- Jovem mestre...
- O que foi Pippin?- respondi ao elfo doméstico que está na família há anos.
- A ama está tendo problemas com o monstro do lago...
- O que a Nessie tem? – quis saber Riven.
- Se mostrou para uns turistas e a mestra está sozinha. É muita gente nesta época.
- Vovó pediu ajuda?- perguntei.
- Não. A mestra acha que resolve tudo sozinha, mas Pippin, sabe que a mestra não é mais uma menina... Se o jovem amo for ajudar ela não vai brigar com Pippin. Porque o jovem amo é o velho mestre de volta.
- Se sairmos de casa, vamos ficar de castigo até a quinta geração. - disse Amber, porém John, Declan e até os gêmeos já estavam em pé.
- Vou sozinho, o máximo que pode me acontecer é voltar para Londres. - disse.
- E perder a diversão? Nem pensar. - disse Mary e os outros concordaram e saímos em direção ao lago.
Chegando lá, vimos uma enorme quantidade de turistas batendo fotos de um lado e se forçasse à vista veria outro bando do outro lado.
- Vamos fazer o seguinte, vamos dar sustos neles: Vou amarrar esta corda aqui, então Brianna e Brian ao virem alguém chegando, vocês puxam ok? Vai assustar o pessoal e eles começam a prestar atenção aqui, ao invés do lago. Eu e os outros vamos fazendo outras coisas pela floresta. E se alguém nos pegar, diremos que fazemos parte da equipe de recreadores do castelo que é "mal-assombrado". Todos os turistas ouvem isto dos guias de lá. Precisamos criar alguma distração para a vovó conseguir enfeitiçar todo mundo. E você Pippin, vai dizer para a vovó o que estamos fazendo para ajudar. – um estalo foi ouvido e o elfo desapareceu.
- Quem te elegeu o líder aqui? – disse Riven.
- Ninguém me elegeu líder, mas se você tiver alguma idéia de como ajudar a vovó, sem usarmos magia, sou o primeiro a ouvir.
Como ele não disse nada, John, não perdeu a oportunidade de atormentá-lo:
- Cala a boca e aprende como se faz, mané. - Riven tentou dar uns cascudos nele, mas o segurei.
- Sem brigas, vocês dois. Somos um time agora e precisamos trabalhar juntos.
Logo as idéias simples começaram a fazer efeito, pois começou a haver pânico entre os turistas. De repente, uma garota correu para o lado oposto ao que o guia gritava. A direção que ela corria, era justamente na borda do lago onde vovó ainda fazia alguns encantamentos para acalmar o monstro e lá tem umas árvores com colméias cheias de vespas. Corri atrás dela, e assim que possível, me atirei e derrubei-a pelos pés.
- Socorro. - ela gritou.
- Calma, você ta correndo em direção ao vespeiro. - respondi enquanto levantava e a puxava junto.
- Você aqui? Está em algum grupo visitando o Lago Ness? Legal né?- era a garota da boate.
- É, eu... Me perdi do meu grupo. Mas eu já vim aqui várias vezes, vem comigo. – segurava sua mão, enquanto a afastava do lago e ia procurando algum grupo que pudesse deixá-la.
- Você saiu apressado aquela noite. - ela continuou.
- Você quer dizer que os seguranças saíram comigo né? Jogaram-me na rua. - dei risada.
- Fiquei brava com os seguranças, eles tinham que ter posto aqueles caras encrenqueiros para fora, não vocês, afinal paguei muito caro para entrar lá com minhas amigas. Eu, fui atrás de você para saber seu nome... Mas não te encontrei. Meu nome é Katerine. - ela disse meio vermelha.
- O meu é Tyrone, mas pode chamar de Ty ou T.J.
- Você acha que a gente pode se ver novamente... Sei lá... Vou ficar aqui mais alguns dias...
Melhor falar a verdade logo. - pensei
- Você perguntou a minha idade aquele dia e eu não respondi, porque se dissesse você não iria ficar comigo. Tenho 15 anos e aquele dia sai escondido dos meus pais. Embora eu ache você maravilhosa, estou de castigo. Sei que você não vai mais olhar para minha cara, mas saiba que eu gostei muito de você. – resolvi ser franco, afinal eu já tinha beijado a garota numa noite, derrubado ela no chão como se fosse um pino de boliche, e iria deixá-la num lugar que o feitiço Cunfundus da minha avó iria pegá-la de jeito.
Ela me olhou por um tempo e passou a mão pelo meu rosto dizendo:
- Meu nome é Katerine Grisson e se daqui uns três anos você quiser conhecer os Estados Unidos, terei o maior prazer em ser sua guia. - disse sorrindo.
- Eu sou Tyrone McGregor, e ficarei muito feliz se pudermos marcar este encontro para daqui a três anos.
No caminho encontrei meu primo Riven e ele arregalou os olhos quando me viu chegando com ela.
- Seria bom você se juntar ao seu grupo Kate. - apontei para um grupo próximo.
- É seria... Ty eu falei sério lá atrás. – disse me olhando nos olhos.
- Cuide-se. Nos encontraremos um dia.- dei-lhe tchau e fui junto com Riven para o local onde meus primos aguardavam junto com a vovó. Assim que nos distanciamos um pouco minha avó fez o encantamento para confundir.
- Ela não vai lembrar do que vocês conversaram hoje Ty. - disse Riven e ele realmente parecia chateado por mim.
- Não tem problema primo. Vamos para casa que estou faminto. - meus primos se juntaram a nós e logo discutíamos o que faríamos no resto de nossas férias. Senti-me observado e virei-me para o local onde ela havia ficado. Ela acenou para mim antes de correr atrás do seu grupo. É... Pelo jeito nem todos os trouxas são afetados pelo Cunfundus... Preciso avisar à vovó... Talvez eu faça isso algum outro dia.

Monday, July 17, 2006

Na terra do Mickey Mouse

Das memórias de Gabriel Graham Storm (Baseado em fatos reais)

- Flight 815 remaining from Sweden, landing on gate 4

- Vamos Gabriel, eles chegaram!

Guardei a revista que estava lendo e acompanhei meu padrinho até o portão 4. A viagem a Roma havia terminado e Miyako voltou para o Japão com sua mãe, mas nós não voltamos para Londres. Estávamos agora em Orlando, na Flórida, esperando os irmãos dele chegarem com seus filhos para passarmos 10 dias no Walt Disney World. Eu mal conseguia esconder a empolgação por estar aqui! Sempre tive vontade de conhecer, mas nunca tive a oportunidade. Era a 1ª vez que pisava nos EUA...

Encostamos no portão e não demorou a ouvirmos as vozes já familiares: tia Megan gritando em sueco com suas filhas de 13 anos, as gêmeas Bridget e Chloe, para que parassem de brigar e tio Wayne também dando bronca em Shane, seu filho que tinha a minha idade, por estar implicando com a irmã mais nova, Allison, de 8. as portas abriram e eles saíram, as três meninas vindo correndo pular no pescoço do meu padrinho, os pais carregando as bagagens. Fechando a comitiva vinha Christian, filho de 16 anos da tia Karen, conversando com Shane. Eles não eram meus parentes de sangue, mas eram como se fossem. Cresci junto com eles e sempre que nos encontrávamos era uma verdadeira bagunça.

- Confesso que subestimei meus irmãos... Realmente não estava levando fé que Megan fosse se desligar daquele quartel e muito menos que o Ministro da Magia da Suécia fosse tirar 10 dias de férias! – tio Scott falou rindo
- Ora Scott, se eu falei que viria, é porque ia conseguir. Agora entendo porque papai chegava estressado em casa todos os dias. Não é fácil ser Ministro, principalmente nesses tempos.
- Parem, nada de assunto de trabalho, estamos aqui para nos divertimos! Ok molecada, onde vocês querem ir primeiro?? – tia Megan falou olhando para a gente. A resposta foi unânime...

- MAGIC KINGDOM!


************************

- Allison espera, não corre desse jeito! Vai buscar sua irmã, Shane!

Havíamos chegado ao Magic Kingdom, o principal parque da Disney. Assim que pisamos na avenida principal e Allison avistou o castelo da Cinderela, saiu correndo feito uma louca na direção dele. Tio Wayne correu atrás dela, mas perdeu o fôlego e mandou o filho alcança-la. A gente ficou rindo atrás deles, sabendo que o dia inteiro não seria diferente. Se nós que já não somos mais crianças estamos olhando para todos os lados encantados, imagina para uma menina de 8 anos.

Shane conseguiu agarrar o braço da irmã e meu padrinho pegou um mapa da bolsa, estudando ele com calma, saindo andando em direção a Frontierland. Chloe logo avistou um dos brinquedos e disparou para a fila. Era o Splah Mountain. A fila era de dar inveja a dos velhinhos do INSS... Passamos horas nela esperando nossa vez, já estava impaciente, mas conseguimos andar. Até que era legal, só não teve muita graça porque eu fui o único que me molhei, todos saíram sequinhos. Assim não vale.

De lá fomos direto para a Space Mountain, na Tomorrowland. Agora posso afirmar que sei como os cubos de gelo se sentem quando são agitados para fazer uma caipirinha... A impressão que tinha quando o carrinho parou era que todos os meus órgãos estavam fora do lugar, meus óculos estavam completamente tortos no meu rosto. Chris encontrou um tipo de kart perto da Space Mountain e fomos para lá enquanto as meninas iam com tia Megan no castelo da Cinderela e naquele brinquedo do Dumbo. Mesmo tia Megan afirmando que não se podia ir a Disney sem dar um passeio no Dumbo, subir naquele troço era um mico do tamanho do elefante, sem chance! Nos encontramos outra vez quando elas haviam terminado os passeios frescos e nós os passeios mais radicais, incluindo o simulador do Alien onde Shane quase quebrou meus dedos e os do Chris de tanto que apertou.

Encontramos as meninas na Toontown Fair, onde tinha a casa do Mickey e dos outros personagens. Fuçamos tudo dentro delas e tiramos fotos com todos os bichos que apareceram na frente, mas lógico que Chris e eu saímos em algumas delas fazendo chifres no Mickey e no Pato Donald. Impossível resistir a tentação... Mas acabamos nos separando de novo. Allison queria ir ao tapete do Aladdin e os adultos estavam com fome, então Bridget levou Ally no tal brinquedo, os três foram procurar um restaurante e fiquei com Chris, Shane e Chloe em frente à casa da Minnie.

- Aonde vamos agora? - perguntei
- Tem uma mansão mal-assombrada no começo do parque que passamos direto. Podemos ir até lá! – Chloe sugeriu e logo nos animamos.
- Mas é longe demais e vai chover... Vamos pegar esse trenzinho, no mapa diz que ele circula o parque todo. – Chris falou

Como estávamos todos cansados das imensas filas e concordando que realmente ia chover, fomos pra estação que tinha naquela área. Conversávamos animados dentro do vagão, rindo das pessoas que corriam na chuva, quando ele entra na mata. *Pânico* Por que o trenzinho estava entrando na mata? Cadê o parque?? *Desespero* Para onde estamos indo??

- Estamos saindo do parque!!! – Shane berrou, saltando do banco.
- Não pode ser, não tinha nada avisando que isso saída do Magic Kingdom! – Chris falou alarmado
- Acho que estamos indo pros hotéis... Vamos levar o maior esporro! – falei em pânico já
- Calma, sem pânico, galera. Vamos descer e refazer o caminho dos trilhos, assim voltamos a Toontown Fair.- Chloe falou com a voz tranqüila e concordamos.

O trem parou em uma estação parecida com aquelas de velho oeste e desembarcamos debaixo daquela chuva, pisando nos trilhos e começando a refazer o caminho. Já tínhamos andado um bom pedaço no trem, íamos ficar pelo menos uma hora ali. Passamos por esculturas de índios, barcos encalhados no rio, cabanas quebradas, tudo totalmente fora do cenário do Magic Kingdom. Shane vinha por ultimo e de repente parou caindo no chão, com falta de ar. Tinha esquecido que ele tinha asma! Voltamos correndo para socorre-lo e ele estava quase roxo. Chris revirou os bolsos dele atrás da bombinha, mas acho que no desespero de descer do trem ela tinha caído e seria impossível encontrar naquele mato todo.

- Calma Shane, respira devagar! – falei tentando me acalmar primeiro
- Não acho a bombinha, não esta aqui, e agora?? SOCORRO, ALGUEM AJUDA! – Chris gritava desesperado.
- Shane, olha pra mim. – Chloe dizia com a mesma voz calma do trem – Sua bombinha caiu na mata e não temos como achar, você vai ter que respirar sozinho.
- Não... não... consigo... – Shane falou sem fôlego
- Consegue sim. Lembra quando a Bridget segurou você debaixo d’água e você conseguir sobreviver mesmo tendo ficado lá por quase 3 minutos? É a mesma coisa, respira devagar que você consegue! E vocês dois? Vão ficar parados olhando ou vão ajuda-lo a andar??

Levantamos Shane do chão e continuamos a caminhada, dessa vez com ele se apoiando em nós dois. Chloe ia à frente olhando para os lados a procura de uma saída dali, ate que ouvimos uma musica conhecida e muita gritaria. Seguimos o barulho e quando vimos, estávamos no meio da Main Street e a parada estava prestes a começar. Não acreditei na hora... Entramos em pânico na mata achando que estávamos fora do parque, quando na verdade estávamos dentro dele o tempo todo! Caímos na gargalhada ao constatar isso e depois levamos Shane ate um ambulatório, onde ele conseguiu voltar a coloração normal. Ouvimos nossos nomes sendo anunciados no alto-falante do parque meia hora depois e fomos ao encontro dos outros, que nos esperavam no final da parada com caras preocupadas. Cuidado Mickey Mouse, porque chegamos pra bagunçar a sua terra...

Friday, July 14, 2006

De noite...Todos os gatos são pardos!

lembranças de Ty McGregor

Já havíamos esgotado nosso estoque de idéias, com tantas brincadeiras. Por incrível que pareça até o Riven, estava mais legal. Claro, que eu estava com o pé atrás, em alguma hora aquele garoto chato iria emergir das sombras. O jantar havia acabado e vovó se recolheu aos seus aposentos, nos deixando na sala. Brian e Brianna dormiram no sofá e ajudei Mary a colocá-los na cama.
Quando voltei pra a sala, Declan e John liam um panfleto verde ácido.
- O que é isto? - Mary perguntou.
- Nada. - disseram os dois juntos, escondendo o papel.
- É a propaganda de uma festa numa boate do vilarejo. - disse Riven e recebeu olhares indignados dos dois, enquanto balançava um papel de mesma cor.
- Festa? Podemos ir? – perguntou Amber.
- Claro que não. Vovó não vai deixar. - disse Sophia com medo.
- Eu vou. – disse Riven se fazendo de importante.
- Mas e os mais novos? Não vão conseguir entrar num lugar destes. – disse
- Ah... Mas eu tenho medo de sair de noite. - disse Chloe e Sophia concordava com ela.
- Podemos ir lá e ver como é. Ninguém precisa saber. O que você acha Ty? - perguntou Mary.
Olhei para meus primos, e via a ansiedade deles em sair um pouco. Conhecíamos o vilarejo, sabíamos nos cuidar... Que mal poderia haver?
- Podemos ir, mas temos que ficar juntos. - respondi.
- Ah não, se conhecermos alguém, os outros vão ficar segurando vela? Qual é?- disse Riven.
- Não segurando vela, mas temos que ter um ponto de encontro pra voltar pra casa, todos juntos. - expliquei.
Com todos de acordo, fomos nos trocar. Na hora marcada, saímos pela porta da cozinha, que estava vazia e fomos para o vilarejo.
Chegamos ao local e tinha uma fila enorme, dava pra ver que a maioria era turista e um gordão careca de óculos escuros ia apontando para as pessoas que ele achava que deviam entrar. Minhas primas estavam bem arrumadas e não pareciam ter menos de 17 anos, estávamos todos calmos, acho que por isso o gordão da segurança apontou para nós e nos colocou lá dentro.

What an amazing time
What a family
How did the years go by
Now it's only me
Tick-tack, tick-tack
Tick-tack, tick-tack
La, la, la, la, la, la, la

Fiquei pasmo. Nunca tinha vindo num lugar assim, tão cheio de gente dançando, bem escuro, bandejas de drinks indo de um lado a outro. Havia umas gaiolas no alto com rapazes e garotas dentro dançando com pouca roupa. Riven engoliu seco e disse: Uau.
Minhas primas logo conheceram uns rapazes e foram pra pista dançar, Riven encostou-se ao bar, John e Declan começaram a conversar com umas meninas numa mesa e eu fiquei olhando o lugar.

Like a cat in heat, stuck in a moving car
A scary conversation, shut my eyes, can't find the brake
What if they say that you're a clonner
Naturally, I'm worried if I do it alone
Who really cares, cause it's your life
You never know, it could be great
Take a chance cause you might grow
Oh, ah, oh

A música era muito alta, parecia que entrava na sua cabeça, fui pegar uma cerveja, mas o barman após olhar para minha cara me deu um refrigerante, comecei a andar por ali. Levei um esbarrão, e quase derramei a bebida.
-Desculpe. - gritou alguém
Virei-me pra ver quem falava comigo e era uma garota quase da minha altura, com cabelos loiros e olhos azuis. Ela tinha covinhas enquanto sorria. Bonita.
-Tudo bem. - gritei de volta.
Ela seguiu para a pista e começou a dançar aquela música. Continuei a beber meu refrigerante, mas não conseguia tirar os olhos dela. A garota começou a me olhar de volta e fez um sinal para eu me aproximar.

What you waiting
What you waiting
What you waiting for

Comecei a dançar com ela aquela música, e sentia uma coisa estranha. Sabe quando você fica meio aéreo? Ela se aproximava quase encostando-se a mim, e depois se afastava, provocante. Resolvi entrar no seu jogo e começamos a rir.
- Qual seu nome?- perguntei.
- Nada de nomes. - ela respondeu no meu ouvido.
Continuamos a dançar e de repente lembrei do Riven. Ela viu para onde eu olhava e perguntou:
- Seu amigo?
- Primo.
- Tenho uma amiga que está sozinha... Vem comigo. - me puxou pela mão e encontramos a amiga dela. Ela cochichou alguma coisa e a garota foi até o bar e começou a falar com o Riven. Meu primo tinha um ar aparvalhado no rosto. Acho que nunca uma menina tão bonita falou com ele. Voltamos par a pista e continuamos a dançar.
- Você é daqui?
- Sou americana. Estou passando as férias da escola com minha família aqui. E você?
- Sou daqui; e também estou de férias da escola.
Nesta hora as musicas agitadas ficaram um pouco mais lentas e me aproximei. Ela riu e passou os braços pelo meu pescoço. Estávamos bem perto, parei de pensar e a beijei. O máximo que poderia acontecer era levar um tapa. Estava disposto a arriscar. Quando acabei de beijá-la, ela me olhou sorrindo e me beijou novamente. Ficamos ali na pista nos beijando e dançando.
- Estou com sede. Vamos. - ela disse.
Fomos até o bar e o barman passou uma cerveja para ela. Logo eu e ela dividíamos a bebida gelada e ela me perguntou:
- Quantos anos você tem?
Pronto! Estava legal demais pra ser verdade.
- Isso importa?- disse olhando bem nos olhos dela.
- Não. - ela me abraçou novamente.

What you waiting
What you waiting
What you waiting for


O que não faltava naquele lugar eram cantos escuros e logo estávamos em um. Não sei se era o efeito da bebida, mas comecei a sentir calor, não liguei quando ela abriu minha camisa e passou a mão pelo meu peito, continuei a beijá-la. O calor estava aumentando.
De repente ouvi gritos, e o som de coisas quebradas. Olhei procurando meus primos e vi John e Declan tentando segurar uns caras que batiam no Riven, larguei a garota e corri até lá.Tomei um soco no queixo que me fez ver estrelas, mas comecei a dar socos para todo lado, para chegar até ele. Logo os seguranças chegaram e nos puseram pra fora. Minhas primas nos encontraram na rua. Por sorte elas estavam bem, Riven tinha apanhado bastante e seu olho esquerdo já estava se fechando de tão inchado. John e Declan tinham sangue no nariz e na boca, e eu achava que tinha ficado meio surdo, após um tapa na orelha.
Começamos a voltar para casa, quando Mary disse:
- Ty você está com a camisa aberta e fora da calça, melhor se arrumar um pouco, a vovó pode desconfiar de alguma coisa mais... Séria? - e deu risada junto com Amber.
Declan, John e Riven me olharam de olhos arregalados enquanto eu me arrumava, um pouco sem graça. Parecia que pior não poderia ficar, mas eu estava enganado...
Chegamos em casa e estava tudo escuro. Começamos a andar bem devagar para subir aos nossos quartos, quando a luz se acende e vejo tio Dylan parado no alto da escada, e atrás dele minhas primas Sophia e Chloe, que deram gritinhos quando viram o estado em que nos encontrávamos.
Tio Dylan, estava com uma cara feia. Olhou-nos de cima a baixo e disse:
-Vamos para a cozinha. Meus remédios estão lá.
Tio Dylan cuidou dos nossos machucados à maneira trouxa e devo dizer que isto doeu muito, mas ficamos calados. Riven tinha os olhos baixos, e eu já me preparava para passar algum tempo na Sibéria.
- Agora que todos estão em casa, podem me dizer quem teve a idéia infeliz de sair para uma boate trouxa?
Como ninguém falava nada ele disse:
- Estão todos de castigo, proibidos de ir ao lago, ao pomar, ao vilarejo, não poderão sair de casa para nada, até segunda ordem. - olhou para nós, e deve ter ficado com pena, sacou a varinha, lançou feitiços curativos. Mandou-nos para a cama, e nunca obedecemos tão rápido.
Declan e John dormiram rapidamente, eu fiquei acordando por um tempo, pensando na garota que havia conhecido, e em sua esquisitice de não querer saber nomes. Foi melhor assim, se ela soubesse minha idade real, não teria sequer olhado para o meu lado. Apesar dos socos que levei, comecei a rir, valeu a pena.

N.AUTORA: música: What waiting for?- Gwen Stefani

Thursday, July 13, 2006

Amor de verão só dura uma estação?

Das lembranças de Ian Lucas Renoir Lafayette

Ela passou do meu lado
Oi, amor - eu lhe falei
Você está tão sozinha
Ela então sorriu pra mim


Ultimo dia de férias em Saint-Tropez. Estava no quarto do hotel terminando de arrumar minhas malas, havia combinado de sair com Terri essa noite já que na manha seguinte eu ia embora e não nos veríamos mais. Desde que a conheci, os dias no balneário eram completamente diferentes. Bernard não melhorara da alergia e passara a maior parte do tempo indo e vindo do médico, então pouquíssimas vezes nós saímos juntos, Terri foi a minha salvação. Sentei em cima da mala para conseguir tranca-la e sai do quarto apressado. Bernard e Sophie estavam sentados no lobby quando passei.

- Vai aonde com essa pressa toda Luke?
- Marquei com a Terri no píer e já estou atrasado!
- Aah, a sua namorada... – Sophie falou rindo
- ô que engraçada você... Vão ficar ai sentados lendo revista no último dia?
- Vai ter um lual à noite, vamos ficar por aqui mesmo. Você não vem, certo?
- Não mesmo. Não esperem por mim, nos vemos no carro amanha. Fui!

Sai do hotel e me encaminhei para onde tínhamos combinado de nos encontrarmos. Ela já estava lá atirando pedrinhas nas gaivotas, e me aproximei devagar para que ela não me ouvisse chegando.

Foi assim que a conheci
Naquele dia junto ao mar
As ondas vinham beijar a praia
O sol brilhava de tanta emoção


- Sabe... Se você acertar uma delas, pode ser presa!
- Mas são apenas gaivotas idiotas, não? – falou rindo, vindo me abraçar.
- O que vamos fazer no nosso ultimo dia? – perguntei a beijando
- Huum... Pensei em comermos alguma coisa naqueles restaurantes da orla e depois podemos ficar a toa por lá mesmo, só matando o tempo...
- Parece perfeito! Vamos? – e estendi a mão para ela

Fomos andando pelo calçadão até o restaurante e eu ia pensando nos dias que passei com ela. A principio eu nem queria vir pra cá, mas agora não queria ir embora. Alguma coisa nela me fazia ser diferente e eu estava gostando dessa mudança, mesmo sem saber explica-la direito. Acho até que esqueci da Marie. Alias, quem é mesmo essa pessoa? Chegamos ao restaurante e o garçom nos levou ate a mesa. Era mais um bar, na verdade, um tipo de ponto de encontro dos jovens dali à noite. A impressão que tinha era que todas as pessoas de ate 20 anos presentes na cidade se concentravam ali naquele momento. Jantamos, conversamos, namoramos, dançamos, rimos... Um último dia perfeito. Já passava da meia noite quando deixamos o bar e fomos caminhar na praia.

Um rosto lindo como o verão
E um beijo aconteceu
Nos encontramos à noite
Passeamos por aí


Muitos casais ainda passeavam por ali e fomos direto para o píer, no lugar onde nos conhecemos há duas semanas atrás. Nos sentamos na areia e ela veio para cima de mim. Só tínhamos poucas horas agora, não podíamos perder tempo. Só perdi mesmo foi a noção dele...

E num lugar escondido
Outro beijo lhe pedi
Lua de prata no céu
O brilho das estrelas no chão...


*********************************

Abri os olhos e vi um siri passar andando do meu lado, indo na direção do mar. Saltei assustado e constatei que meu cabelo estava cheio de areia. O sol já brilhava forte no céu e algumas poucas pessoas faziam a caminhada matinal na praia. Eu ainda estava no píer e não fazia idéia de que horas eram. Terri ainda dormia do meu lado e a acordei. Ela também pulou assustada ao perceber que ainda estava ali.

- Perdemos a hora...
- Ah droga, como isso aconteceu?? – ela falou enquanto procurava os sapatos
- Tem certeza que não sabe? – falei rindo e ela atirou um pé da sandália em mim
- Bocó... Vamos embora, seus pais já devem estar te procurando.

Tenho certeza que não sonhava
A noite linda continuava
E a voz tão doce que me falava
O mundo pertence a nós


Saímos correndo da praia calçando os sapatos pelo meio da rua mesmo. Terri foi comigo ate o hotel e parou na entrada dele, me puxando para um beijo. Ela me soltou um tempo depois, me encarando. Não queria deixa-la ir, queria ficar, mas sabia que não podia.

- Não precisa terminar aqui... Em alguns dias eu vou voltar pra faculdade e você para a escola, mas ainda podemos nos ver nos fins de semana de folga.
- Eu ia adorar. Guardou meu endereço pra correspondência?
- Sim, esta bem guardado... E você não perdeu o meu, não é?
- Não, não se preocupe... Tenho que ir agora...

E hoje a noite não tem luar
E eu estou sem ela
Já não sei onde procurar
Não sei onde ela está


Nos beijamos mais uma vez e ela foi embora, sumindo ao passar pelas arvores da frente do hotel. Bernard apareceu em seguida, com uma expressão preocupada, gritando que havia me encontrado e ouvi meus pais dizendo que então podíamos entrar logo no carro. Entramos no hotel, eu sem dizer nada, e Bernard ficou me encarando confuso. Vi que ele me mediu de cima a baixo e parou nos meus cabelos ainda cheios de areia. Então arregalou os olhos.

- LUKE! Onde você estava?
- Com a Terri...
- VOCE NAO VOLTOU ONTEM, NAO É?
- Fala mais alto Bê, o careca da piscina lá atrás não te ouviu!
- LUKE! LUKE! Ei volta aqui!
- Não enche Bernard... Depois a gente conversa!
- IAN! Não faz isso comigo!!

Deixei-o indignado e falando sozinho no meio do lobby e fui catar minha mala para colocar no carro. Meus pais começaram a reclamar querendo saber onde eu havia me metido e porque tinha saído tão cedo sem avisar nada. Sophie apenas me olhou e riu, sabia muito bem que eu não havia saído cedo. Bernard ainda falava sozinho quando entramos nos carros e o vi gesticular que eu não ia escapar dele quando chegássemos em casa. Dei uma ultima olhada na praia quando passamos por ela e me encostei banco. Será que amor de verão só dura mesmo por uma estação?

Hoje a noite não tem luar
E eu estou sem ela
Já não sei onde procurar
Onde está meu amor?


**********************************************
N.A.: ‘Hoje a noite não tem luar’, Legião Urbana

Wednesday, July 12, 2006

Um novo membro para um seleto clube

Do diário de Morgan O’'Hara

A festa organizada pela Alex e suas amigas estava bem animada. Quer dizer, os mais novos estavam abismados com a quantidade de música da velha guarda tocando. Carlinhos e eu havíamos decidido que após uma consulta no St. Mungus, para verificar minha saúde e a do bebê, iríamos para as Ilhas Negras. Fui pegar um suco quando Alex me chamou:
-Ei, Morgan, fique um pouco conosco.
Havia conhecido a mãe do Gabriel, Louise e a mãe da Miyako, Yulli mais cedo e as achei ótimas pessoas.
-Olá, vocês organizaram uma ótima festa. - disse cumprimentando-as.
AM - É, em nosso tempo de Hogwarts fazíamos as melhores.
YK- Olha lá, Lou, daqui a pouco ele vem aqui.
LS - Se o rottwailler deixar né? Olha como ela gruda nele.
Olhei pra onde elas olhavam e vi Remo conversando com a senhora Weasley. Ela parecia estar dando uma bronca nele, porque ele apenas sacudia a cabeça.
YK- Desculpe meu bem, mas sua sogra é um porre.
MW - Eu sei que é, mas tive que pegar o pacote todo, sem devolução. - rimos.
AM - Voces não imaginam o drama que foi quando ela pegou os dois no mesmo quarto, algumas rachaduras na casa foram pelo escândalo. Mas quando o Carlinhos falou que a Morgan era mulher dele, ela murchou. Foi demais.
LS - Pelo jeito você já sabe como controlar o seu marido. - e piscou.
YK- Louise não começa a falar disso, sabe que estou sozinha.
AM - Está sozinha porque quer, podíamos ter dado um jeito do Sergei estar aqui, mas você é teimosa...
MW - O Sergei é um bom amigo, me ajudou muito quando briguei com o Carlinhos.
YH - É, bota bom nisso. Que foi? Ele é mesmo, admito. - e rimos mais um pouco.
LS - Nossa, já pensou quando o seu filho nascer? Ela vai dar palpite em tudo. Mude-se para bem longe, Morgan. Hoje eu até pensei em bater nela, mas o Cott salvou a situação.
MW - O senhor Foutley é muito bonito também, mas tem alguma coisa diferente nele.
AM - Talvez seja a preferência amorosa dele.
Olhei para o lado dele e o senhor Foutley conversava animadamente com Carlinhos e com o senhor McGregor.
LS - Não se preocupe, ele respeita o território alheio. – olhei tão decepcionada entendendo o que elas queriam dizer que elas começaram a rir.
YK - Coisa que o Logan não faz, né Alex? Quando o Kyle chegou e viu vocês dois dançando, pensei que ia sair morte aqui. Já tava de varinha na mão.
AM - É, mas o pior foi o que o Logan disse ao Kyle. Que ele deveria ser mais ser mais discreto, ai perguntei pro Kyle o que ele queria dizer, ele me respondeu que me amava demais, mudando de assunto.
LS - Ei, Alex qual é? O Logan pode ter falado isso pra te deixar desconfiada. Sabe que ele não desistiu de você após estes anos todos.
YK - Ah, mas o Logan não é do tipo fofoqueiro. Porque ele faria isso? Ou você tá desconfiando de algo mais sério?
AM - Ele não se atreveria... - e vi quando as três olhavam com olhares assassinos para o Kyle. Ele percebendo os olhares delas, se manteve firme. E o senhor Foutley cochichou alguma coisa para ele. Engraçado que até Carlinhos ficou sério.

MW - Vocês estão bem não é?- e fiquei vermelha pela pergunta, pois não pretendia ser tão direta, e as outras esperaram a resposta.
AM - Sim, tudo direitinho, mas... Sabe quando a desconfiança se instala?
LS - Acho que teremos que começar a verificar algumas coisas... Yulli você pode conversar com o Sergei.
YH - Até posso falar com ele, mas você sabe como esta raça é unida. Ele não vai entregar de bandeja.
LS – Se bem que não vai ser nenhum sacrificio "falar" com o Sergei né Yull?
YH - Não claro que não. (ai ela parou e disse) - Parem com isso.
Elas começaram a rir da expressão indignada que Yulli fazia e logo falávamos de outras coisas.
AM - Você pode conversar com o Remo, Louise. Pelo jeito ele está bem falante não?
LS - Sim, ele tá querendo conversar...
YH - Conversar? Sei, agora mudou de nome...
AM - Desculpe Morgan, você deve ser amiga da Tonks, mas a Louise chegou primeiro.
MW - Tonks é amiga da família Weasley, não a conheço tanto assim.
AM - Não. Deixe-me verificar umas coisas, depois tomo providências.
MW - Alex, é melhor sentar e conversar com o Kyle antes, talvez não seja nada disso e você está sofrendo por antecipação.
YH - E o Kyle sabe, que se aprontar alguma coisa, não vai viver por muito tempo. - e fez um sinal de cortar alguma coisa. - enquanto ríamos.
AM - Hum... Tem um ruivo bonito se aproximando, distancia duas horas...
Carlinhos se aproximou e após cumprimentar as garotas, levou-me para dançar.
Começamos a dançar e vi quando Remo puxou Louise para a pista de dança, Yulli conversava com alguns outros membros da ODF e Alex e Kyle dançavam juntos observados pelo senhor Warrick.
Engraçado, estas pessoas já passaram por tantas situações difíceis, e não perderam a alegria de viver. Vai ser muito bom para mim, conviver com eles.

Tuesday, July 11, 2006

Sob o sol de Roma...

Das memórias de Gabriel Graham Storm

- Andiamo, andiamo!
- Espera, não estou acostumado a fazer escalada!
- Porque não usamos a entrada principal, como todo mundo?

Vincenzo e Vittoria estavam parados no alto de umas ruínas, gritando para que Miyako e eu nos apressássemos na escalada. Estávamos no Coliseu e aparentemente os italianos não sabem o que significa ‘comprar ingresso e entrar na fila’, pois circulamos a imensidão de gente que esperava sua vez de entrar, subindo por cima de um monte de pedra. Alcançamos os dois no topo com um palmo de língua pra fora, mas a vista que tivemos lá do alto fez o cansaço evaporar.

- O Coliseu!

Do alto daquelas ruínas tínhamos a visão de todo o Coliseu por dentro. Era infinitamente grande! Turistas de todas as partes do mundo circulavam lá embaixo batendo fotos e começamos a descer para nos misturarmos a eles. Estava com receio de algum segurança nos pegar invadindo daquele jeito o lugar, mas Vittoria e Vincenzo estavam tão tranqüilos que algo me dizia que não era a primeira vez que eles faziam isso. Passamos algum tempo lá dentro, tiramos fotos, saímos de penetra na foto dos outros, simulamos um duelo como os antigos romanos no anfiteatro de lá e fomos embora pela entrada principal como se tivéssemos pagado o ingresso.

- Onde querem ir agora?
- Ah não sei, vocês que conhecem o lugar...
- Huum, já está quase anoitecendo... Já sei! Vem me seguindo, Vincenzo!

Subimos outra vez nas lambretas e Vittoria saiu a toda velocidade novamente, com Vincenzo e Miyako na nossa cola. Definitivamente aqui não existe multa por excesso de velocidade! Roma é toda feita de ruas estreitas, pois a cada instante eles dobravam em uma mais apertada que a outra. Pareciam que eram capazes de pilotar aquelas coisas de olhos fechados e não errariam o caminho. Íamos tão depressa que se alguém atravessasse o caminho, não daria tempo de usar o freio. Se é que eles sabem o que é isso. Uma senhora de idade que estava prestes a cruzar a pista deve ter sentido o vento bater ate dentro do útero...

- A velhinha está bem??? – falei apavorado, olhando para trás.
- Está sim, ela levantou logo depois, não se preocupe!
- Isso acontece Gabriel, foi só um susto! – Vincenzo falou emparelhando conosco e Miyako tinha uma expressão assustada também.

Dei mais uma olhada para trás e vi que a senhora estava de pé, recolhendo as sacolas que voaram para todos os lados quando as duas lambretas passaram como foguetes por ela. Passamos perto de uma cantina e tenho quase certeza que era o meu padrinho do lado de fora dela acompanhado de um cara, pois ele se acenou animado, gritando qualquer coisa inaudível. Provavelmente nossas mães ainda não sabiam o que estava acontecendo, pois ele parecia tranqüilo e não alguém que ouviu duas horas de sermão no telefone.

Vittoria e Vincenzo acenaram de volta, cortando para uma via movimentada, com carros passando quase tão depressa quanto eles. A via nos levaria a Piazza di Spagna, reconheci na mesma hora quando eles entraram nela e avistei a Fontana della Barcaccia. Paramos as motos no que me pareceu ser um estacionamento delas e nos sentamos na fonte. Eles dois saíram um instante para falar com alguns conhecidos e virei para Miyako.

- Mi... Posso fazer uma pergunta?
- Claro Biel! O que é?
- Bom, é que... er, ahn... Como eu chego em uma menina sem parecer idiota? – falei enfim

Miyako parecia lutar com todas as suas forças para não rir e fiquei grato. Em vez disso ela começou a pensar, ate responder.

- Bom, tem varias situações! Mas no caso da Vittoria, que é o porque de você estar me fazendo essa pergunta esquisita, você só não pode não fazer nada!
- Como assim?
- Ora Biel, ela esta te dando mole e sei que você percebeu! Tudo que tem que fazer é beija-la de uma vez.
- Assim, sem mais nem menos??
- Claro! É ate melhor, pois você não vai passar pela torturante hora de pensar no que dizer antes de agir. Roube um beijo dela e depois você vai saber o que fazer.
- Isso se ela não me acertar um tapa, não?
- Garanto a você que só o que ela não vai fazer é lhe dar um tapa... – falou rindo
- Venha comigo Miyako, quero lhe mostrar uma coisa!


Vincenzo voltou, estendendo a mão para Mi e ela foi com ele. Vittoria sentou ao meu lado, sorrindo. Ela era muito bonita, sentia meu rosto queimar, estava morrendo de vergonha. Pensei no que Miyako tinha dito e fiz menção de beija-la, mas recuei a meio caminho, encarando o chão.

- Dio mio!! – Vittoria exclamou, levantando os braços.

Ok, essa eu tinha entendido... Ela disse ‘Meu Deus’, mas obviamente significava ‘Que garoto lerdo’. Olhei para ela de novo e ela parecia desapontada, acho que ate descrente... Tomei coragem sabe Merlin de onde e quando ela fez menção de levantar, a segurei pela mão e lhe roubei um beijo. Ficamos colados por um bom tempo, ate que nos soltamos e Vittoria, sem largar minha mão, saiu andando pela piazza até onde Vincenzo e Miyako já se entendiam há tempos. O resto da tarde ficou reservado para namorarmos em um café lá mesmo, até que deu a hora determinada por meu padrinho de voltar e eles nos levaram de volta para o hotel, com a programação do dia seguinte já marcada: iríamos visitar algumas cidades do interior, com tio Scott conosco, e depois jantar em uma típica cantina italiana. Acho que quero me transferir para a escola de magia da Itália...

Saturday, July 08, 2006

Era uma vez no México...

Letícia tinha razão quanto ao efeito imediato da tequila. Eu que nunca entro em acordo com as músicas agitadas, senti meu corpo se animando e rodando no meio das outras pessoas. Fui apresentado para uns amigos malucos dela, e ficamos muito tempo conversando e rindo no tal Café Cancun.

LS: Quer ir andar? Cansei desse lugar... – o sorriso dela me denunciou que também estava bêbada e eu concordei.

Saímos de mãos dadas e fomos cantando alto pelas ruas quase vazias da cidade. As poucas pessoas que cruzávamos no caminho nos cumprimentavam como conhecidos de anos e me senti a vontade com aquilo.
Entramos em uma das praias onde estava acontecendo um tipo de lual, com uma diferença: era um casamento!
Letícia colocou a mão na minha boca e eu parei de cantar. Ela apontou com a cabeça para o altar, sorrindo. Sentamos na areia junto com os outros convidados e uma idéia louca de repente me ocorreu...

SS: Vamos casar? – ela sorriu e concordou.

LS: Agora? Agora! Vamos...

Os noivos passaram por nós sob uma chuva de arroz e nós corremos até o padre.

LS: O senhor pode nos casar?

O padre que estava fechando a bíblia nos olhou de surpresa e sorriu ao ver nossas mãos cruzadas.

- Não há nada mais lindo nesse mundo do que o amor. O amor de vocês é jovem e maduro. Eu caso vocês sob as bênçãos de Nossa Senhora de Guadalupe.

Ele fez o sinal da cruz e começou a ler um pedaço da bíblia. Eu só me lembro de estar ajoelhado na areia escutando tudo que ele dizia e Letícia ao meu lado com uma coroa de flores brancas na cabeça (doação da verdadeira noiva) olhando as ondas.

- Samuel, é de livre e espontânea vontade que aceita Letícia como sua legítima esposa, amando-a e respeitando-a para o resto de suas vidas?

Eu concordei com a cabeça e ele fez a mesma pergunta para ela que prontamente concordou.

- As alianças?

As alianças! Claro! Como se casa sem alianças? Letícia me olhou espantada por um momento, mas depois balançou a cabeça. Tirou da mão direita uma aliança dourada, e do pescoço uma corrente com outra aliança, idêntica, e entregou ao padre que abençoou.

LS: Eram dos meus avós. –sussurrou para mim. – Sempre pensei que fosse usá-las no meu casamento... Bem, aí estão!

Depois de trocarmos alianças, finalmente a frase: “Eu vos declaro marido e mulher. Pode beijar a noiva...”
E então nós nos beijamos. Casados, sim, eu estava ca-sa-do com aquela maluca que tinha conhecido na mesma manhã!
Saímos, também sob uma chuva de arroz. O resto da noite foi ocupado naquela mesma praia. Nos encheram de colares de flores e coroas, além daqueles chapéus gigantes. Dançamos músicas de ula-ula, comemos frutas e coisas naturais e amanhecemos na areia vendo o nascer do sol.
Bem, pelo menos essa tinha sido a minha última lembrança... Abri os olhos, foi como se um holofote tivesse sido ligado de uma vez na minha cara. Não consegui nem me sentar, sentia o corpo pesado. Olhei ao redor, estava no quarto do hotel. Me esforcei pra levantar o pescoço e o choque que tive depois foi pior do que cem holofotes.
Letícia estava dormindo do meu lado, nós estávamos muito er... muito próximos! Olhei pra mim mesmo... Eu estava sem camisa, e ela com o vestido do avesso... Ok, calma! Fechei os olhos com a esperança de me lembrar como tinha chegado ali, o que tinha acontecido e...

SS: LETÍCIA!

Ela disse um “hum” dormindo ainda e não se mexeu. Ok, eu precisava manter a calma... Sacudi ela com um pouco de violência e ela abriu os olhos zonza. Demorou um pouco pra me focalizar, mas se levantou de imediato.

LS: Eu... O que estamos fazendo aqui?
SS: A pergunta é: O que estamos fazendo com essas alianças no dedo?

Ela levantou a mão esquerda e viu as alianças. Depois soltou uma risada debochada.

LS: As alianças dos meus avós. Bem, eu me lembro o que aconteceu ontem, quero dizer, pelo menos a parte das alianças... A tequila não é o tipo de bebida que causa amnésia...
SS: Você está rindo? Você é louca mesmo! Letícia, a gente casou! Com padre e tudo!
LS: O problema não é o padre, e nem as alianças... Nós assinamos o livro do cartório!
SS: Ótimo, realmente ótimo. Eu mal chego no México, encho a cara com a tequila dos infernos, caso com uma doida e acordo dentro do hotel dormindo do lado dela! Me diz: o que fizemos depois da festa?

Ela se sentou e passou a mão nos cabelos. Ficou em silêncio...

LS: Eu não me lembro... Não sei como viemos parar aqui! Não sei onde está a sua camisa e nem porque meu vestido está do avesso. O que eu sei é que tequila dá calor, é normal arrancarmos as roupas, ou tentarmos... Ponto positivo!
SS: Se você não se lembra nem como viemos parar aqui, esse fato não é lá muito relevante.
LS: E se aconteceu alguma coisa? Nós estamos casados mesmo...
SS: Você é pirada! Eu estou no mundo dos loucos e ninguém me apontou a placa: Hospício!
LS: Aconteceu, é um fato!
SS: Minha morte também vai ser um fato... Merlin, eu nem me formei na escola ainda!

Me levantei e joguei as coisas dentro da mala.

LS: Onde você vai?
SS: Vou voltar pra casa... Tenho que comunicar para minha família que sou o mais novo marido de Paris! – não estava sendo sarcástico, estava em desespero.
LS: Para Samuel!
SS: Para, para! Você devia ter falado isso ontem quando eu tive a infeliz idéia de nos casarmos.
LS: Ei, eu sou vítima também ta? Tenho a minha vida aqui e nunca pretendi me casar, ou pelo menos não antes dos 40 anos! Assim como você, eu estava bêbada, então se acalme e vamos conversar pra ver o que vamos fazer...
SS: Onde é a ponte mais próxima? Pulo e facilito o trabalho dos meus pais!

Ela riu e depois foi até onde eu estava me paralisando.

LS: Escuta, vamos fazer o seguinte... Vamos comer alguma coisa, dar uma caminhada. Depois você, com calma, escreve para os seus pais. Sua passagem pra voltar é só para alguns dias, não vai adiantar ficar mofando no aeroporto.
SS: Eu não sei o que escrever pra eles!
LS: A verdade. Já casamos mesmo, agora o jeito é contar...

É, acho que ela tinha razão. Não ia estragar meus dias em Cancun por causa de um casamento bobo. Ok, eu sei que não era um casamento bobo e que isso ia me render castigos infinitos ou mortais, mas já que meu fim estava próximo, melhor aproveitar os dias que o antecederiam né? A única coisa que está me deixando encucado até agora é: eu consumei ou não o casamento??? E se eu consumei o que eu faço agora??? Merlin...

Friday, July 07, 2006

O melhor da juventude...

Das lembranças de Ian Lucas Renoir Lafayette

- Como não vai sair hoje? O que você tem?
- Não sei, minha garganta ta fechada, to me sentindo sufocado...
- Ah cara, o que eu vou fazer sozinho o dia todo??
- Desculpa... Não tem como sair daqui hoje, nem consigo andar!
- Tudo bem... Descansa então pra não perder o resto dos dias.

Sai do quarto da família de Bernard desolado. Meu amigo havia comido, de brincadeira, uma ostra no lual do hotel na noite anterior e acabou descobrindo que é alérgico àquela gosma. Alias, o lual não poderia ter terminado pior. Vincent arrumou uma dúzia de grilos e os soltou dentro da saia dos dançarinos no palco, o que resultou em uma grande correria e gritos das meninas histéricas derrubando tudo pela frente na tentativa de se afastar dos bichos.

Eu agora estava sem companhia pra passar o dia. Sophie encontrou um grupo de amigos da faculdade no balneário e havia saído com eles, antes mesmo que eu pudesse acordar e pensar em ir junto. Meus pais estavam determinados a passar o dia descansando na piscina do hotel, assim como os pais de Bernard, que se revezavam em tomar conta das crianças. Ótimo, perfeito, o que vou fazer o dia todo? Ficar boiando na água é que não! Sem muitas opções, resolvi dar uma volta na praia, sem rumo. Devo ter andado muito, pois não avistava nem sinal de lugar conhecido por perto, apenas um píer. Tirei os sapatos e sentei debaixo dele, atirando pedrinhas nas gaivotas que voavam baixo para pegar peixes.

- Se você acertar uma delas, pode ser preso. Sabia disso?
- E por que? São só gaivotas idiotas...
- Huum, já vi que está de mau humor... Tudo bem, não esta mais aqui quem falou, tchau.
- Não, espera. Desculpa, não quis ser grosso. Ian, muito prazer.
- Terri...

A menina de olhos azuis e cabelos castanhos sentou ao meu lado, sorrindo. Ela era bonita e aparentava ser pelo menos 3 anos mais velha. Achei estranho alguém vir conversando com um desconhecido desse jeito, sem receios, mas ela parecia não se importar com isso. Começou a falar sobre um monte de coisas e eu fazia esforço pra responder tudo sem me embolar. Ela era meio doidinha...

- Então você é daqui mesmo? Como é morar em Saint-Tropez?
- Não tem nada de especial, acho que estou acostumada... Só é ruim nessa época, pois a cidade lota de turistas e não conseguimos nem jantar sossegados sem pegar filas imensas!
- Nós sentimos muito... – falei brincando
- Ah tudo bem, também não é tão ruim assim. Pelo menos tenho a chance de conhecer gente nova... Vem, vamos passear, vou lhe mostrar o lado bom de Saint-Tropez! Aposto que seus pais só programaram aqueles passeios típicos de turistas.

Terri levantou empolgada e me puxou do chão, saindo me arrastando pela praia. Eu ia tentando calçar os sapatos de volta enquanto ela me puxava, pensando cada vez mais que ela era maluca. Em menos de uma hora, havia passado pelos mais loucos lugares da cidade, lugares que passei longe com meus pais e que nem imaginava que tinham por aqui. Ela me levou a uma praça afastada, onde parecia ser a concentração de todos os jovens da cidade. Tinha gente de todos os estilos lá, andando de patins, bicicleta, conversando, uns ate dançando sem musica ou usando o chafariz no centro da praça para se refrescar. Encontramos alguns amigos dela e fui apresentado a eles, todos pareciam legais. Paramos em uma sorveteria e ela pelo visto conhecia o dono, pois saimos cada um com uma enorme casquinha e sem pagar nada. Havia umas bicicletas encostadas no poste. Terri parou ao lado de uma delas, pegando cuidadosamente. Em seguida montou nela e indicou uma outra com a cabeça.

- Ficou maluca? Isso deve ter dono!
- E dai? Só estamos pegando emprestado, vamos devolver depois. Esta com medo?
- Medo? Claro que não! Passa a bicicleta!
- Pega ai senhor coragem... Mas anda depressa ou não consegue me acompanhar!
- Ei, espera!!

Ela começou a rir e saiu correndo com a bicicleta, antes mesmo que eu montasse na minha. Subi depressa e disparei atrás dela, tentando alcança-la. Ok, ela definitivamente era doida... Estava tão determinado em emparelhar com ela que não percebi que estávamos andando no meio de um píer, cortando entre as pessoas que caminhavam ali. O píer dava acesso a uma espécie de passarela que cortava a praia e percorremos toda a extensão dela. O sol já estava se pondo quando alcançamos a outra ponta, de onde eu havia partido inicialmente. O cenário era indescritível. O tom alaranjado do sol batia em toda a orla e muitas pessoas paravam o que estavam fazendo para admirar os últimos segundos de claridade.

- Bonito, não?
- Sim... Nunca tinha visto isso!
- Vantagens de se morar no litoral...
- Ah droga, olha a hora! Preciso voltar, já devem estar me procurando no hotel. Olha, adorei o passeio, de verdade. Eu...

Terri parou perto de mim e do nada enfiou o que restava do seu sorvete no meu rosto. Fiquei parado olhando-a estático e em seguida ela me beijou. Não estava esperando por essa, mas correspondi ao beijo. Quando nos separamos ela mordia os lábios e sorria.

- É... gostoso como o sorvete... Então, vamos nos ver outra vez?
- Ah, er, claro. Podemos sair hoje à noite?
- Lógico, melhor ainda! Tem muitos bares legais por aqui, você vai adorar.
- Ótimo. Só vou passar no hotel para dizer que estou vivo e tomar um banho. Onde encontro você?
- Na praça onde pegamos as bicicletas, lembra o caminho? Assim você aproveita e devolve a sua. Até daqui a pouco...

Ela me beijou outra vez, tirando o resto o sorvete do meu rosto, e foi embora, descendo depressa a rampa do píer e sumindo no meio da multidão que caminhava no calçadão. Ainda fiquei um tempo olhando as gaivotas que antes eu tentava acertar e depois comecei a pedalar lentamente de volta ao hotel. Minhas férias estavam começando a melhorar...

Aceita tequila?

Eu sei... Não é todo dia que fazemos aniversário. Aniversários costumam ser comemorados com festas... A família reunida, um bolo bem grande de chocolate, velas e pedidos, chapéus cônicos, línguas de sogra e blá blá blá. A última vez que me lembro de ter tido um aniversário carregado desses clichês, meu pai e mamãe ainda eram casados, e eu ainda era filho único.

Entrei de férias e fui direto pra casa. Meu pai? Não tinha notícias dele desde os ataques em Beauxbatons. Os dias que antecederam meu aniversário passaram se arrastando. Ficava em casa o dia inteiro com Samara... As minhas férias tinham tudo para serem um marasmo! Tinham...

Na madrugada do meu aniversário, Peter e mamãe nos levaram para jantar fora. Foi até bem divertido. Chegamos tarde em casa, hora que eles cantaram os parabéns, e fomos dormir. Acordei com o sol batendo na minha cara e os olhos inchados. Papai estava me encarando. Depois, quando me sentei, se aproximou e sorriu me dando um abraço.

IS: Parabéns!
SS: Obrigado pai... – ele me largou e sentou-se na cama, não tirando os olhos de mim. – O que é?
IS: Nada! Estava longe. O que vai querer de aniversário?

Encarei meus pés pensando. Meu pai nunca me perguntava o que eu queria de aniversário... Pelo menos não diretamente! Todo o ano mamãe me arrastava para o Beco Diagonal, e lá eu comprava alguma coisa que considerava como presente dele... Tentei me lembrar de alguma coisa que quisesse, mas...

SS: Quero viajar... Sozinho.
IS: Como? Mas?
SS: É isso que eu quero... Se não puder, só a sua presença aqui já valeu o presente, porque não me lembro de nada mais... – soltei um sorriso forçado.
IS: Viajar pra onde?
SS: Sei lá, para qualquer lugar... Canadá, Caribe, México... É, México seria uma boa. Estou entediado dentro dessa casa, e acabo não aproveitando as minhas férias.

Agora quem encarava os pés era ele. Ficamos um tempo em silêncio, e ele respirou fundo sussurrando um “ok” quase inaudível. Sorri largo e me levantei da cama...

IS: A filha de um funcionário próximo, do Ministério, mora no México. Você vai, mas vou pedir pra te acompanhar sempre que puder, certo?

Sabia que estava tudo muito bom pra ser verdade. Tudo que eu precisava era de uma babá! Nem pra ter escolhido um país onde ele não tivesse nenhum conhecido, ou filho de conhecido morando... Fiquei um pouco irritado, mas ou concordava ou com certeza não iria, e acabei afirmando. Se consegui fazer ele me deixar ir sozinho para outro país, me livrar de alguém que nem sabia que eu sou não seria muito difícil.

***

IS: O nome dela é Letícia. É morena, alta. Vai estar no aeroporto te esperando. Aqui está sua passagem de volta e...
SS: Relaxa pai, não vou fugir em um jipe. Até mais!

Entrei no portão de embarque e dei um último aceno para meu pai. As férias iriam começar a decolar!

***
- Bienvenidos al México. Buena estadía!

Ouvi a voz da aeromoça e abri os olhos no impulso. Peguei minha mala e olhei ao redor. Morena, alta... Só umas duzentas sorrindo. Ótimo, começamos bem! Sai andando quando uma moça para na minha frente.

LS: Es Samuel?

A voz não saia. A tal da Letícia não era só linda, ela era... Fiz positivo com a cabeça e ela sorriu. Puxou meu braço com força e me rebocou pra fora do aeroporto. Completando a frase ali de cima: ela não era só linda, ela era completamente maluca!

Foi dirigindo pela cidade até pararmos na frente de um hotel.

LS: Primeiramente, meu nome é Letícia Salles, eu sou jogadora de quadribol para o time do México, falo francês e inglês, então não se preocupe com a comunicação – sorriu– e esse aí é o hotel onde seu pai disse que vai ficar. Eu vou rapidinho em casa, enquanto você se arruma aí no hotel. Passo em 20 minutos para te buscar, combinado?

Acho que estava com aquela cara de choque. A doida ia falando tão rápido as coisas que demorei um tempo para absorver tudo. Concordei e sai do carro.

Fui até o quarto e larguei as malas, troquei de roupa e desci de novo. Ela já estava na portaria me esperando, mas dessa vez sem o carro.

LS: Não vamos precisar de carro para andar em Cancun... Venha!

Mais uma vez ela puxou com força meu braço e fomos andando. As praias eram lindas! Passamos o restante da manhã e da tarde andando por todas as praias que nossos pés alcançavam.

- SOMBRERO, SOMBRERO

Letícia soltou do meu braço e correu até um mexicano que estavam vendendo os maiores chapéus que já tinha visto na vida. Ela pegou dois e colocou um na cabeça. Depois voltou me entregando um...

LS: Não se vem ao México sem comprar um chapéu desses.
SS: Mas não tem como enxergar com isso tampando os olhos e o que está na minha frente! – disse levantando o chapéu.
LS: Eu te levo. Vamos!
SS: Pra onde agora?
LS: Para a diversão...

Notei um tom um pouco mais empolgado e continuei indo atrás dela.

LS: Já bebeu tequila?
SS: Te o que?
LS: Esquece! Hoje você vai beber... Só não pode contar pro seu pai, ok?
SS: Ei, eu não fico contando nada pra ele não viu?
LS: Eu sei... Você não faz o tipo de menino que vai atrás dos pais na hora do sufoco. – ela deu uma piscadinha e parou de andar. – Finalmente! Chegamos... Bem-vindo ao Café Cancun.

O som alto explodiu nos meus tímpanos quando entramos. Era um tipo de casa de dança. Fomos atravessando a multidão até pararmos em frente a um balcão. Letícia pediu dois copos da tal bebida e logo me entregou um.

LS: Você pode tomar tequila de duas maneiras: Devagar... – ela deu um gole e me olhou depois- o que vai te deixando em estado de tonteira gradualmente, ou virando de uma vez – com dois goles ela engoliu o restante do copo- o que vai te deixar tonto quase instantaneamente. Escolhe e bebe!

Encarei o copo e tomei um gole. Aquilo desceu queimando até embaixo. O gosto era forte, e para não ter que ficar tomando goles, resolvi beber tudo de uma vez... Quando depositei o copo no balcão vazio, senti a cabeça inchar e rodar. Então, parou! Focalizei Letícia, que sorria pra mim, e peguei mais um copo, virando ele também. Mais uma tonteira inicial e... Não parava! A cabeça girando, girando...

LS: Samuel? Você ta me ouvindo?

Ouvindo eu estava, mas vendo já era outro departamento. Eu via tudo difuso. Sorri e ela deve ter levado isso como sim, porque me puxou bruscamente para a pista de dança.
A noite só estava começando...

Thursday, July 06, 2006

Uma nova Roma...

Das memórias de Gabriel Graham Storm

- A Fontana di Trevi, ou Fonte das trevas, é a maior e mais ambiciosa construção de fontes barrocas da Itália e...
- Estou ficando entediado. Vamos, já vimos o suficiente aqui!

Meu padrinho fez sinal para que o seguíssemos e nos afastamos do grupo que acompanhávamos. Desde que chegamos aqui, temos sido guiados por um italiano empolgado falando em inglês o tempo todo, junto com mais um monte de gente. Até que era uma idéia excelente, pois o cara nos explicava cada monumento da cidade, íamos a todos os lugares sem risco de nos perder e ele nos deixava livres, mas depois do 4° dia andando com as mesmas pessoas e ouvindo longas explicações, começava a ficar cansativo.

O resto do grupo continuou absorvendo cada palavra dita por Lorenzo e sentamos cansados na calçada. Já havíamos conhecido todas as fontes de Roma, igrejas, monumentos, tumbas e praças. Essa manha havíamos visitado o Vaticano e desde que voltamos, tio Scott estava com um ar estranho. Sabe quando você pressente que a pessoa está tramando alguma coisa? Pois é, era essa a sensação que ele me passava. Ele levantou de repente, animado, e nos puxou da calçada.

- Bom, agora que já fizemos todos os passeios de praxe e eu já ensinei o básico do italiano aos dois, vou deixa-los com outros guias.
- Que outros guias? O que mais pra ser dito sobre essas fontes?? – Mi falou, desanimada.
- Ah não, esses guias vão mostrar o outro lado de Roma a vocês. O lado mais divertido de todas essas coisas que visitamos. Eles já chegaram, vamos!

Olhava sem entender nada, mas logo a compreensão começou a me invadir. Ouvi uma buzina e em seguida duas lambretas pararam na nossa frente, com um menino e uma menina nelas. No mesmo instante os reconheci como sendo do grupo que nos encarava no 1° dia, quando almoçávamos na Piazza Navona. Olhei para meu padrinho sem acreditar que ele realmente tinha feito isso, mas ele ria e se adiantou para falar com os dois. Os três começaram a conversar em um italiano que passava longe do básico que ele havia nos ensinado e depois se virou para Miyako e eu.

- Gabriel, Miyako, esses são Vincenzo e Vittoria. Eles serão seus guias por hoje e por mais quantos dias quiserem! Já avisei que eles estão proibidos de sair de Roma com vocês e que devem estar de volta até às 21hs! Vão, estão esperando o que??

Miyako abriu um sorriso e cumprimentou o garoto, subindo na garupa da lambreta dele, empolgada. Encarei a menina sem graça e me virei para meu padrinho, tendo certeza de que meu rosto estava da cor dos meus cabelos.

- Você enlouqueceu?
- Não. Vocês têm 15 anos, não devem gastar 10 dias em Roma seguindo um grupo de adultos, tem que sair com pessoas da idade de vocês!
- Mas você nem sabe quem são eles! E se forem assassinos??
- Pelo amor de Deus Gabriel, não exagera! E conheço sim, sei até onde eles moram se isso te deixa mais tranqüilo.
- Mas nem falamos a mesma língua, como vamos conversar?
- Ora, essa pode ser sua chance... Se você falar alguma besteira, Vittoria não vai entender.
- Ha Ha, muito engraçado...
- Olha, para de inventar desculpas e curta o resto do dia. Se não falam a mesma língua, encontrem algo em comum e que ambos entendam. Compreendeu? – falou piscando

Ele me deu um empurrão na direção da menina e montei sem graça na garupa da lambreta. Eles falaram mais alguma coisa a ele e arrancaram em seguida, entrando numa rua estreita logo à frente. Os dois iam muito rápido, era impossível distinguir os lugares, dizer por onde estávamos passando. Tudo que via era o cabelo de Vittoria na minha frente e riscos multicoloridos passando pela gente, misturados com borrões que deviam ser pessoas. Já não estava dando conta de me segurar no banco, então me vi obrigado e agarrar a cintura dela antes que fosse jogado pra fora do veiculo. Via com muita dificuldade Miyako agarrada a Vincenzo na moto emparelhada a nossa, parecendo estar amando aquilo tudo. Ok, não vou mentir, eu também estava gostando...

Os dois falaram alguma coisa aos berros e entendi no meio delas as palavras ‘Piazza del Popolo’. Um costume que notei aqui: os italianos falam tão alto com os brasileiros... Em seguida eles dobraram com violência numa rua ainda mais apertada a toda velocidade, desviando dos postes e hidrantes, saindo de volta a claridade no meio de uma praça que deduzi imediatamente como sendo a tal Piazza Del Popolo. Eles continuaram correndo, cortando por entre as pessoas distraídas que passeavam na praça admirando a arquitetura. Juro que não sei como conseguiam fazer isso sem atropelar alguém! Depois de dar uma volta na praça, eles estacionaram na entrada dela. No centro tinha um monumento cercado por fontes e leões que cuspiam água.

- Então, aqui é a Piazza Del Popolo! Tem uma igreja ali, a de Santa Maria del Popolo, mas acho que vocês já estão cheios disso, não? – Vincenzo falou, descendo da lambreta e ajudando Miyako.
- Vocês falam inglês?? – Mi perguntou incrédula
- Um pouco, sim... As escolas daqui ensinam o básico, mas aprendemos em cursos.
- Por favor, não nos obriguem a entrar em mais nenhuma igreja! Temo por virar um ateu se isso acontecer...
- Não se preocupem, o tio de vocês nos proibiu de fazer passeios chatos. Venham, tem jeitos mais divertidos de se conhecer essa piazza!

Vittoria agarrou minha mão e saiu me puxando pelo meio da praça, largando as motos lá. Vincenzo vinha logo atrás puxando Miyako depressa e paramos em frente ao monumento de leões. Ele tirou os sapatos e foi entrando na fonte, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Vittoria fez o mesmo e Miyako e eu ficamos parados nos encarando confusos.

- Andem, estão esperando por um convite formal?
- Ahn... Nenhum guarda vai nos prender por invadir um monumento histórico? – Mi falou incerta
- Se algum ver, no máximo reclamar... Relaxem, todos fazem isso! Roma é muito quente, as pessoas gostam de se refrescar dentro das fontes. Olhem...

Olhei para os lados e percebi que varias pessoas faziam o mesmo, a maioria turista, mas alguns italianos no meio. Bom, já que é comum... Miyako e eu arrancamos os sapatos e pulamos dentro do chafariz, espalhando agua pra todos os lados quando nossos pés bateram no fundo. Hoje sem dúvida prometia ser o dia mais divertido desde que chegamos...

((Continua...))

Monday, July 03, 2006

Férias frustradas de verão

Das lembranças de Ian Lucas Renoir Lafayette

Férias de verão é aquele período que todo garoto ou garota que ainda está na escola anseia durante o ano inteiro, fazendo planos para aproveitar cada momento ou simplesmente fazendo promessas de dormir por dois meses inteiro, longe de qualquer tipo de material didático. Eu costumava contar os dias para as minhas até os meus 12 anos de idade. Minha família viajava para algum lugar da França, era sempre divertido. Bom, nós ainda fazemos isso, mas esta cada vez mais longe de ser considerado ‘divertido’.

- Ian, depressa! Os Lestel já estão prontos, não quero atrasar o programa!
- IAN! Sua mãe já chamou, não me faça repetir!

Passei pela sala emburrado, atirando minha mochila de qualquer jeito na mala do carro e me sentando ao lado de vovô e Sophie, mudo. Minha família, como todo ano, fazia a viagem anual com os Lestel. Eu adorava essas viagens quando criança, pois eram dois meses com Bernard numa praia ou campo aprontando, já que papai ficava sempre tão relaxado que esquecia de distribuir broncas. Mas esse ano já estava tudo se encaminhando para ser um porre. Vi meu amigo também com cara de poucos amigos dentro do carro do pai dele ao lado dos irmãos antes de partirmos.

Bernard tinha dois irmãos mais novos: Amélia, de 11 anos e Vincent, de 10. Amélia era a caçula, minha fã n°1, a menina me idolatrava. Confesso que já me incomodei muito com isso, mas agora não dou mais tanta importância. Vincent era o irmão do meio e a reencarnação do demônio. Se alguém me considera travesso, é porque não conhece o irmão menor de Bernard. Sobrava da turma nova nessa viagem, eu, Bernard e minha prima Sophie, que todo ano vinha conosco. Esse ano o destino era Cote D’Azur, em Saint-Tropez para ser mais preciso. Nossos pais fizeram reservas em um hotel na beira da praia e nossas mães tinham toda a viagem planejada em uma pasta, com horários até para respirar, nada podia sair errado. Como o balneário não é tão distante assim de Marselha, fomos de carro mesmo.

- Já chegamos?
- Não.
- Ok... Já chegamos? – perguntei de novo, de propósito.
- Já disse que não... – papai tentava não perder a calma
- Certo... Falta quanto?

Papai freou o carro de repente e bati a cabeça no banco da frente. Mamãe gritou com ele por ter feita ela derramar café no mapa e vi o carro dos pais de Bernard freando também atrás de nós, no susto. Ele se virou para mim com um olhar quase assassino.

- Se pretende me atormentar até Saint-Tropez, por favor, avise agora que lhe passo para o carro de Thierry.
- Posso mudar de carro??
- Não, não pode. Fique quieto Ian, não distraia seu pai! Você vai conosco e a mesma coisa na volta. Agora ligue esse carro e vamos embora Gerard, está atrasando nosso cronograma!

Papai tornou a girar a chave do carro e voltamos a estrada, eu mais revoltado ainda contando os outdoors que passavam pela janela.

***********************************************

- Voldemort matou 30, voldemort matou 30! É 30, é 29, é 28, é 27...
- CALA A BOCA VINCENT! Mãe manda o Vincent parar??
- Não enche sua chata!
- Chato é você, cabeçudo!
- VOLDEMORT MATOU 30! VOLDEMORT MATOU 30!,
- LALALALALALALA NÃO ESTOU OUVINDOOO!

1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10... Minha avó sempre diz que quando você está ficando irritado, precisa contar pelo menos até 10 para não perder a paciência de vez. Encontrava-me nessa situação. Estava no carro com meus pais e meus irmãos indo para Saint-Tropez e Vincent vinha cantando a musica que ensinei a ele no começo das férias desde que saímos de Marselha. Ok, no começo estava engraçado, mas agora estava irritando. Amélia mantinha as mãos tapando os ouvidos e gritava para abafar a voz dele, tornando impossível ouvir as musicas que tocavam no radio. Eu estava preste a distribuir tapas naquele banco traseiro...

- Ei Amélia, me empresta sua boneca? – Vincent falou arrancando a boneca da mão da minha irmã
- Não, larga seu pentelho! Vai quebrar, solta!
- Me empresta, a perna dela ta machucada, tem que amputar! Só quero salvar a coitada!
- Mãããe, o Vincent arrancou a perna da minha boneca!
- Aaai, mãe, a Amélia puxou meu cabelo!
- Pai bate nele, ele ta me batendo!
- Socorro mãe, o Bernard ta me beliscando!!

Minha mãe virou para o banco traseiro e acertou três tapas, um em cada um de nós, encerrando a confusão e gritaria. Amélia chorava em silencio tentando recolocar a perna da boneca, Vincent alternava entre alisar o braço onde o tapa da minha mãe acertou e onde eu havia o beliscado com força para que ele parasse de perturbar Amélia e eu peguei a boneca da mão dela e com cuidado consegui encaixar a perna, passando minha irmã agora para a janela e ficando no meio dos dois, a fim de separa-los. Vincent me olhava desconfiado e falei entre dentes que ia bater de novo se ele sequer respirasse dentro daquele carro.

*****************************************************

- Saiam do carro, rápido!
- Não precisa mandar duas vezes tio!
- Ei Luke, sobreviveu à viagem também?
- Mais 15 minutos e papai largava Sophie e eu na estrada. O que é isso roxo no seu braço?
- Ah, mamãe me beliscou por bater em Vincent pela 3ª vez. Ele começou a cuspir dentro do carro e me irritei.
- Ele também apanhou, não? Porque ta com uma cara meio chorosa... – Sophie falou
- Sim, levou um belo de um tapa! Vamos dar uma volta, por favor? Se ficar mais um minuto perto deles, vou matar um!

Bernard foi pegar a mochila na mala do carro e veio ao nosso encontro. Saímos os três, ele, Sophie e eu, para dar um passeio ao redor do hotel enquanto nossas famílias faziam o chek-in. E começava então as férias de verão dos infernos das famílias Lestel e Lafayette...