Monday, January 21, 2008

- A família Bonaccorso é uma das mais tradicionais famílias bruxas da Grécia. Sua trisavó, Leda, foi quem teve a primeira idéia de escrever e organizar um Grimoire, a partir dos feitiços e maldições herdados pelas gerações milenares da família. Ela era muito amiga de Phoebe Damulakis, que se ofereceu para ajudar no projeto. Quando o Grimoire estava pronto, no entanto, Phoebe alterou a memória de Leda e se apossou do livro, registrando suas prenuncias e manuscritos como pertencentes da família Damulakis.

Uma senhora de idade bastante avançada falava com a voz fraca para um jovem. Os olhos dele eram de um verde penetrante e determinado, como os dela. O jovem escutava cada palavra com muita atenção.

- Vovó – ele a interrompeu com a testa franzida. – Como sabe que Phoebe alterou a memória de Leda? Como sabe que o Grimoire é mesmo da nossa família?

Helena analisou o neto cuidadosamente e por uns segundos não disse nada. Então, com poucos movimentos, estendeu a mão para a gaveta de sua mesa de cabeceira e de dentro puxou um caderno gasto. As páginas de pergaminho lutavam contra o desgaste natural.

- Sei disso tudo, pois esse é o diário de Leda. Phoebe nunca soube da existência dele, por isso o plano tem falha. Leda confessa nessas páginas, alguns meses antes de começar a escrever o Grimoire, seu desejo de preservar as heranças de nossa família em um livro, que seria passado de geração por geração. Conta da proposta de ajuda que Phoebe ofereceu, e relata todos os passos do livro durante a produção. Dois dias antes de morrer, no entanto, o feitiço de memória termina, e Leda confessou à minha mãe que foi traída por Phoebe. Desde então, a promessa de recuperar o Grimoire para nossa família persiste.

O menino se calou, assim como sua avó. Ele via várias imagens passando por sua cabeça como em um flash.

- Então isso quer dizer que... – ele começou pesando cada palavra. Suspirou.
- Isso quer dizer que você vai para Beauxbatons. As duas trisnetas gêmeas de Phoebe Damulakis estudam lá, mas para o seu alívio você só terá que se preocupar com uma delas: Anabel. Não me pergunte como eu sei de tudo isso. Não interessa. Anabel está com o Grimoire agora, e admito que tenha uma boa base de leitura rúnica... O suficiente para desvendar a maior parte dos segredos. Ela ainda não percebeu, porém, que em algumas páginas a escrita rúnica se torna arcaica, e, portanto, difícil de ser traduzida. Enquanto ela não descobrir isso, estamos bem. O que você deve fazer é se aproximar dela, como amigo, e tomar o Grimoire de volta. Então, lance um feitiço da memória e apague o livro da cabeça dela e da irmã gêmea, Isabel. Essa não oferece nenhum tipo de resistência.
- Como a senhora pode saber se... – Ele começou um pouco inquieto e desconfiado da segurança que sua avó transmitia sobre duas garotas que nem conhecera. Ela o interrompeu com um olhar.
- Confie em mim. O que você já sabe, é mais do que o suficiente para cumprir sua missão. Mais do que isso se torna perigoso para todos nós. Apenas confie.

Sua voz foi serena e definitiva, e Ulisses Bonaccorso percebeu que a conversa estava encerrada, assim como seu destino, determinado.

°°°
- Está ouvindo o que estou dizendo, Bonaccorso? – Anabel Damulakis perguntou impaciente ao terminar de ler o parágrafo sobre as inscrições rúnicas e perceber que Ulisses a encarava e sorria de uma maneira tola e distante.
- Claro que estou ouvindo, Bella. – ele respondeu ainda sorrindo, e o sangue da menina ferveu.
- Já-pedi-para-me-chamar-SOMENTE-de-Anabel!!! Aliás, deveria ser somente Damulakis, mas já percebi que seu cérebro é pouco desenvolvido para tais educações. – ela disse ríspida e fechou o livro grotescamente. Alguns estudantes nas mesas ao redor se sobressaltaram com o barulho, mas a menina não os deu atenção, lançando o livro dentro da mochila. – Acho que você já recebeu aulas suficientes para acompanhar as matérias com todos os outros.
- Do que você está falando? – o sorriso sumiu do rosto de Ulisses. – Claro que ainda não estou preparado!
- Pois eu digo que você está sim. Já até me trouxe uma flor nesta aula. Quem está com o pescoço na corda da forca não se lembra de agradar os outros, ok? Estamos a seis meses do NIEM’s, e eu estou com pouquíssimo tempo para estudar. Nossas aulas já deram o que tinham de dar. – ela disse seca, jogando a mochila sobre os ombros. – Se quiser tirar uma dúvida ou outra, pode me procurar. Caso contrário, converse com os professores, psicólogos, ou... desista!

Foi saindo da biblioteca e o garoto juntou rapidamente suas coisas, correndo em seu encalço.

- Então é isso. Você determina que eu já estou bem instruído, e sai da biblioteca sem dizer nada? Nem um “boa sorte, Ulisses”, ou “foi bom te ensinar alguma coisa, Bonaccorso, mas você já me encheu a paciência”? Que espécie de professora particular é você?

A garota parou de caminhar e se virou com violência para o menino, que parou também, de frente para ela.

- Primeiro: Não sou sua professora particular. Nunca quis ser. Nem tenho didática ou paciência para isso. Segundo: Eu não determinei nada. Apenas constatei, visto que suas duas últimas aulas foram usadas para ficar me olhando e sorrindo para mim. Terceiro: Desde quando tenho que te desejar alguma coisa?

O garoto sorriu. Alguma coisa no jeito grosso e mal-educado daquela menina o atraía como nenhuma outra tinha feito, até então... O que começou como parte de um plano de vingança de sua família, agora se misturava a um sentimento novo que ele ainda não aprendera a lidar.

- Ok. Você está coberta de razão. Não é minha professora. Não me deve satisfações e explicações, muito menos desejos. Mas uma coisa é certa: não consigo parar de te olhar. Você deve ter me hipnotizado. Será que sairia comigo qualquer dia desses?
- Você está falando sério? – a menina perguntou assustada. Ele se aproximou um passo.
- É claro que estou falando sério. Quer sair comigo, Bella? – ele agora estava bem na frente dela, e abaixou seu rosto um pouco. A garota foi mais rápida. Sua mão estalou com força no rosto dele, enquanto ela se afastava vermelha de raiva.
- Eu tenho namorado, Bonaccorso. E mesmo que não tivesse, você não faz meu tipo. Portanto, fique longe de mim! Não te dei nenhuma liberdade. E DE UMA VEZ POR TODAS: PARA DE ME CHAMAR DE ‘BELLA’!

Saiu pisando forte, enquanto Ulisses alisava o rosto ardendo e sorria. Não iria desistir tão fácil.

°°°
- Como estamos indo? – o rosto da senhora estava mais fraco e pálido a cada dia, e Ulisses se assustou ao vê-lo refletido no espelho. Seus olhos, porém, ainda mantinham aquele antigo brilho.
- Não quero fazer isso, vovó. – disse quando finalmente tomou coragem. Sua avó sorriu ironicamente.
- Você se apaixonou por ela, não foi?
- Não! Não me apaixonei. Anabel é legal, só isso...
- É a honra da sua família em jogo, Ulisses. Faça a sua escolha.

°°°
Todos os alunos do sétimo ano estavam reunidos no Campo de Quadribol. Todos, menos um. O salão comunal da Sapientai estava completamente deserto, e o garoto não teve dificuldade alguma de passar despercebido por todos os corredores e chegar ao dormitório que queria. Abriu a porta com suavidade, como se cada movimento custasse um preço alto, e entrou.

‘Lumus’ – ordenou para a varinha, e um brilho ofuscante saiu da sua ponta. – ‘Accio Grimoire’ – tornou a ordenar, e não precisou esperar muito. Ali perto, debaixo de uma cama, um pesado livro saiu voando pelo ar em direção à sua mão. Ele o agarrou com força.

- Sinto muito, Bella.

Foram suas últimas palavras para o quarto vazio, antes de apagar a varinha e sair silenciosamente. A primeira parte do plano estava concluída, e ele ainda não queria pensar em como seria a segunda. Não por um tempo.

Friday, January 18, 2008

– É preciso que saibam que a partir de agora as coisas vão piorar muito para quem realmente está levando a sério. Por que para quem não está levando a sério, vai continuar da mesma maneira: “empurrando com a barriga”. Então, sugiro que quem ainda não começou a pensar no seu próprio futuro, abandone as minhas aulas por livre e espontânea vontade. - Professor Grangier disse seco na frente da sala, que adquiriu um ar pesado repentinamente.

Todos os estudantes se entreolharam receosos, mas ninguém ousou se levantar. As aulas de Beauxbatons haviam voltado com força total, e principalmente para os alunos do 7° ano, a formatura parecia um sonho muito distante. Tão distante que ninguém se quer estava se lembrando. O assunto principal agora eram exatamente NIEM’s, carreira, futuro, escolhas e preferências. E antigos grupos se dissolveram para darem lugar à formação de novos. Tinha o grupo dos “aurores”, o grupo dos “medibruxos”, o grupo dos “indecisos”, e até mesmo o grupo dos “não-estou-nem-aí-para-os-NIEM’s”. A tensão pairava no ar.

- Sempre quis ser medibruxa! – Anne disse com um ar sonhador ao meu lado.
- E eu sempre quis ser auror. – Bel disse séria e por um breve momento eu vi Rebecca sentada ali, da nossa idade, se preparando para formar e entrar na Academia. Sorri.
- “O orgulho da mamãe”. – disse tentando provocá-la, mas ela meramente me lançou um olhar turvo e continuou suas anotações.
- Eu já pensei em ser várias coisas. Jogadora de quadribol, escritora de livros de mitologia grega, criadora de animais fantásticos (quem sabe até dragões!). Mas agora estou invocada na idéia de ser jornalista mesmo. Acho que esse é meu destino final. – Brenda disse sacudindo os ombros e rimos.
- Eu vou ser advogada bruxa. Trabalhar no Ministério da Magia, participar da Suprema Corte, e todas essas burocracias. – Dora falou apoiando as pernas na carteira, despreocupadamente. – No começo, não pensava nessa idéia. Queria ser somente viajante. Conhecer todos os países do mundo, sem dia e hora para voltar para casa. Uma hora você percebe que a vida não é tão simples assim...

Ficamos em silêncio medindo o peso da frase dela. Enquanto éramos estudantes, tudo parecia bastante simples. Mas agora, faltando apenas 6 meses para nos formarmos, a realidade crua nos cobria como um véu e pela primeira vez me peguei preocupada. Nunca havia pensado no que queria exatamente ser depois de Beauxbatons! Quer dizer, por influência do papai, sempre gostara muito de Astronomia. Não o suficiente para ser astrônoma, ou trabalhar como professora da matéria, muito menos na NASA e coisas assim. Talvez mantivesse meu telescópio montado no quarto e observaria as estrelas e planetas todas as noites. Somente isso. Adorava jogar quadribol, mas nunca havia passado pela minha cabeça a idéia de continuar jogando profissionalmente. Minha carreira de jornalista não seria levada a sério. Não gosto de botânica, muito menos de zoologia bruxa. Não sei nada sobre mitologia. Nem falar sereiano para poder me tornar intérprete. Não suportaria ver sangue. Não mataria uma formiga, mesmo que ela tivesse 3 metros e grandes dentes afiados.

- Acho que é melhor eu abandonar transfiguração e abrir um grupo dos “eu-me-preocupo-com-o-meu-futuro-mas-não-sei-fazer-nada”. – disse de repente, quando esses pensamentos passaram pela minha cabeça como um furacão. Todos os meus amigos me olharam surpresos.
- Do que está falando, Isa? – Anne perguntou sorrindo enquanto sua doninha se transformava perfeitamente em um peixinho. Observei a metamorfose com atenção e continuei encarando a mesa enquanto respondia.
- Estou dizendo que não posso entrar para o grupo dos que não estão nem aí para os NIEM’s, por que na verdade eu estou muito preocupada com esses exames, sim. Eu realmente penso em um futuro pleno e satisfatório. O problema é que eu deveria parar de me preocupar, por que mesmo que eu saia super bem nos NIEM’s, eu não sei o que quero ser quando me formar. Nada do que eu já tenha visto ou ouvido falar me atrai ou se encaixa no meu perfil. Não há profissão bruxa para mim!

Dora, Bel, Brenda e Anne se entreolharam em silêncio, e depois senti os quatro pares de olhos me encarando. Levantei a cabeça para olhá-las.

- É isso. – Terminei me sentindo derrotada e nenhuma delas desviou o olhar. Bel foi a primeira a falar.
- Se não há profissão bruxa para você, por que não parte para os vários ramos de profissões trouxas? – ela disse com simplicidade, como se estivesse entediada de ter que me aconselhar. Realmente deveria estar. – Não é você mesma que se orgulha do seu... nosso pai? Não vive falando que ele é o trouxa mais fantástico que existe? E é bem sucedido profissionalmente, não é? Veja só os exemplos da Mad e da Manu! Elas se formaram em Beauxbatons, mas agora estão fazendo História da Arte e trabalhando no Louvre! Quebra de expectativas nem sempre significa algo negativo, Isabel.
- Concordo com a Bel. Não é só por que você é bruxa e vai se formar em uma academia bruxa que precisa necessariamente seguir uma profissão bruxa! – Anne disse empolgada e eu me animei. Elas tinham razão.
- Sempre me vi como estilista. Criando meus próprios modelos, tendo minha própria marca. Sendo reconhecida. – disse sonhadora e Dora sorriu me apoiando. Bel girou os olhos.
- Bem... pelo visto você já sabe o que quer fazer depois que se formar. Vai se dar bem nessa área. É a sua cara. – Bel disse sarcástica e eu tratei como um tremendo elogio.
- Então é isso. Vou fazer faculdade de Design de Moda, em Nova York. Se preparem, pois daqui uns anos vocês visitarão minha loja na Champs Élysées, ladies. – disse animada e elas riram.

°°°
- Alunos de sétimo ano, após a aula de Astronomia dirijam-se todos para o Campo de Quadribol. Temos um anúncio a fazer. – A voz de Madame Máxime soou na sala de Astronomia, e a julgar o horário da reunião marcada, esperava no mínimo algo inspirador. Não estava enganada.

Em poucos minutos o sinal da última aula tocou e nos dirigimos para o Campo de Quadribol, nos acomodando nas arquibancadas mais baixas, onde Madame Máxime, e os professores Sir Shaft, Emily, Françoise e Pierre nos esperavam. Quando todos finalmente se sentaram e fizeram silêncio, a diretora pigarreou.

- Não acha que está muito tarde para nos lembrar dos NIEM’s, diretora? – um aluno da Sapientai disse arrancando risadas de todos, até de Máxime e dos professores.
- Não falaria de um assunto tedioso como exames uma hora dessas, Sr. Mahy. Estou aqui, é claro, para falar da formatura de vocês. Mais especificamente, da viagem de formatura.

A agitação foi instantânea, mas antes que perdesse o controle, Máxime levantou o braço e novamente o silêncio.

- Nós, eu e esses quatro professores, nos reunimos diversas vezes para analisarmos um roteiro de viagem que agradasse à escola, ao ministério, aos seus responsáveis e claro... a vocês! Depois de vários destinos estudados, finalmente chegamos a uma conclusão.

Ela fez uma pausa proposital e todos prenderam a respiração, ansiosos. Sorriu.

- Arrumem suas malas, pois vocês serão mandados a uma incrível aventura na África do Sul!

A desordem estava armada. Empolgados, vários alunos se levantaram, soltaram gritos e começaram a fazer planos. Olhei para minhas amigas incrédula. África do Sul me lembrava safáris, e esses me lembravam... leões! Novamente o braço de Madame Máxime foi ao ar, mas dessa vez demorou um ou dois minutos até que o silêncio fosse retomado. Ela estava sorridente.

- Pela pequena demonstração, já vi que aprovaram a idéia e fico muito satisfeita. Um formulário de autorização, assim como o planejamento de viagem, já foi mandado para seus responsáveis. Vocês receberão o planejamento também, é claro. A viagem durará duas semanas, e será em março. Sairão de Beauxbatons no dia 7 e voltarão no dia 21, por chave de portal. Os professores Sir Shaft Zambene e Emily McGregor serão os responsáveis por sua segurança durante todo o tempo. A professora Françoise Defossez, muito educadamente, aceitou meu pedido para acompanhá-los e mantê-los organizados e comportados. – Alguns alunos começaram um protesto, mas um olhar gelado da diretora os fizeram calar. Recomeçou. – E foi o professor Pierre Coussot o grande responsável pela sugestão do país. Já preparou roteiros para todos os tipos de gostos: safáris, praias, esportes radicais e até mesmo compras e cultura local. Garanto que todos aproveitarão.

Novamente a algazarra, mas ninguém interrompeu logo. Me senti muito mais animada com a idéia de ter vários roteiros, e todos ao meu redor pareciam bastante contentes com a escolha. Após vários minutos, Madame Máxime pediu silêncio.

- Viagem decidida, próximo tópico é a festa de formatura. Mas quanto a isso, ainda não há nada decidido. Por isso, pedi que Françoise e Emily ficassem responsáveis para escolherem e liderarem a comissão de formatura. Os alunos que elas indicarem, poderão representar os demais na comissão, frente às professoras. Juntos decidirão tema e demais detalhes da festa. Quem tiver interesse em participar da comissão, deve se inscrever nas salas das duas professoras até a semana que vem. Alguma pergunta?

Ninguém se manifestou e a diretora nos liberou. O caminho de volta ao castelo foi eufórico. Uns falavam da viagem, dos roteiros, e dos planos para lançarem a Françoise como isca para leões e leopardos. Outros trocavam idéias de temas para a festa de formatura.

- No que está pensando, Isa? – Brendan perguntou se emparelhando comigo na caminhada e percebendo meu sorriso no rosto.
- Vou me inscrever para a Comissão.
- Não esperava nada menos de você. E com certeza você entra! Françoise te idolatra! – ele disse parecendo enjoado e ri.
- Que exagero!
- Exagero nada. Vai falar que não é verdade?
- Ela não me idolatra! Só puxa um pouco meu saco, mas por que sou a única aluna que realmente ouve o que ela diz nas aulas. E uma das poucas que continuou na matéria dela, mesmo sem precisar. – Me defendi e ele sacudiu os ombros.
- Como preferir. Já tem alguma idéia para o tema da festa? Escutei alguns interessantes no caminho...
- Já. Vários. Mas não vou falar nada agora. Não antes de estar realmente dentro da comissão.
- Você e seus mistérios. A propósito... – disse consultando o relógio. – Feliz Aniversário! – disse sorridente me puxando para um abraço e o efeito foi colateral. Não deu tempo de entender que já era meu aniversário, pois depois de Brendan, Anne, Brenda, Dora, e os outros meninos do time de quadribol me puxaram para abraços longos e animados. Procurei Bel.
- Viram a Bel? – perguntei finalmente me dando conta da ausência dela. – É aniversário dela também.
- Ela voltou correndo para o castelo. Deve estar com medo de pegarmos ela para um abraço sanduíche! – Anne disse e rimos. Típico da Bel fugir de grandes comemorações onde ela fosse o centro.

Despedi de Brenda e Anne, e acompanhei os outros para o Salão Comunal da Fidei. Mal eu e Dora entramos no dormitório e senti o bolso das vestes esquentar. Alguém estava me chamando no espelho de duas vias. Já o peguei sorrindo, e o rosto de Henrique me encarava do outro lado do vidro.

- Feliz Aniversário! – foi a primeira coisa que ele disse, sorrindo. Senti o coração saltar.
- Obrigada. Pensei que só me chamaria mais tarde...
- Não resisti. Ainda bem que estava acordada. – sorri. – Seu pai e eu mandamos um pacote para você hoje, mas estava um “pouco” grande. Acho que vai demorar uns dias a chegar.
- O que mandaram?
- Acha mesmo que vou estragar nossa surpresa? – ele perguntou levantando a sobrancelha.
- Ok. Eu espero.

Conversamos mais alguns minutos e eu contei sobre a novidade da viagem de formatura e comissão. Nos despedimos e pousei com cuidado o espelho na cabeceira, sorrindo. Dora apareceu na porta do banheiro.

- Henrique? Quer dizer... nem precisa responder. Esse seu sorriso denuncia. – ela disse e rimos.
- Realmente brilhante essa idéia de espelho de duas vias. Você e Sávio que me inspiraram.
- Pelo menos podemos ver os rostos deles, não é? Mais próximo do que cartas.

Abri a boca para responder concordando, mas a porta do quarto foi aberta abruptamente e dei um salto na cama. Bel entrou pálida, parecia nervosa.

- Dora, será que posso falar um minuto com a Isabel, a sós? – ela perguntou seca e Dora olhou de uma para a outra confusa. Sacudi os ombros e ela concordou, saindo do quarto e fechando a porta.
- O que aconteceu?
- Sumiu!
- O quê?
- O Grimoire! Sumiu!
- COMO?
- Se eu soubesse, não teria sumido, Isabel! Hoje mesmo eu estava decifrando algumas páginas. Saí atrasada para a aula de Astronomia e só o joguei embaixo da cama... Então, no campo de quadribol, eu senti uma coisa estranha. Não sei explicar, mas é como se eu estivesse sentindo que alguma coisa ia acontecer com ele, sabe? Tipo uma premonição. Então, assim que Máxime nos liberou, eu corri de volta ao castelo, e quando entrei no dormitório e procurei embaixo da cama, simplesmente havia desaparecido. Claro, eu procurei em todos os lugares (tinha esperança de ter me enganado sobre o lugar onde o havia deixado), mas sumiu! E eu sei, não foi ninguém do sétimo ano! Eu fui a primeira a voltar para o castelo.

Ela parou de falar ofegante e eu não sabia o que dizer. Nunca fora muito preocupada com o livro, mas para a Bel ele não representava somente um livro antigo e interessante, escrito em runas. Era a única herança da família Damulakis, passado por várias gerações. Escondia segredos horríveis e se caísse em mãos erradas, poderia ser usado até mesmo como arma.

- Quem mais sabia do livro?
- Só você e Bernard. Você não disse para mais alguém, disse?
- Claro que não!

Ela se sentou na cama exausta e tensa. Me sentei ao seu lado.

- Você tem que dar queixa à Máxime. Se esse livro foi roubado no seu dormitório, está em Beauxbatons. Foi alguém daqui.
- Vou dar. Só não sei como... – ela falou devagar pesando as conseqüências daquela denúncia. Ficamos em silêncio uns minutos, até ela se levantar e me encarar séria. – Se você souber de alguma coisa, me avisa. – concordei.
- Faça o mesmo. E escreva para Rebecca. Acho que ela gostaria de saber disso. - Ela balançou a cabeça e começou a sair do quarto. – Bel... Feliz aniversário.
- Espero que sim. – disse ainda de costas, com a mão na maçaneta. – Para você também.

Wednesday, January 16, 2008

Lembranças de Isa McCallister


- Cinco... Quatro... Três... Dois... Um... FELIZ ANO NOVO!

A Times Square se encheu de gritos, palmas, fogos de artifício e confetes coloridos, cada um com uma mensagem. A bola de cristal que no último minuto vinha deslizando gradualmente do topo do edifício Times Tower, cessou. Ao meu lado, centenas de pessoas comemoravam o novo ano com abraços, beijos, promessas e sorrisos estampados. Dora e Sávio já estavam colados novamente, e eu me senti absolutamente sozinha. Henrique prometera nos encontrar, mas por qualquer lado que eu olhasse, não havia sinal algum dele...

°°°
[4 dias antes do Reveillon – Casamento Rubens & Nicole/ Paris]

- Tem alguma coisa para fazer hoje à noite?

Henrique e eu estávamos caminhando de mãos dadas pelo Central Park, e eu diria que a julgar pela velocidade com que as coisas andavam acontecendo conosco, estava me sentindo dentro de uma das histórias que papai sempre me contava quando era pequena, sobre como ele tinha conhecido minha mãe e se apaixonado instantaneamente.

- Não. Alguma sugestão?
- Na verdade, tenho um convite... Um amigo meu está se casando hoje, e não queria ir sozinha. A noiva dele não vai muito com a minha cara, se é que me entende.

Ele continuou caminhando normalmente, mas se virou para mim, um sorriso brincando no rosto.

- Entendo. Você já teve um caso com esse seu amigo?
- Não. Nunca chegou a acontecer nada. Eu gostava dele, admito. Mas nunca tivemos nada... E agora, estou descobrindo que não gostava dele, coisa nenhuma. Sentia um afeto, admiração, seja lá o que for! Muito diferente do que estou sentindo por você.
- E o que exatamente você está sentindo por mim, Isabel Damulakis McCallister? – ele perguntou parando e me puxando com força, enquanto envolvia seus braços na minha cintura. Nossos rostos estavam a poucos centímetros de distância. Sorri.
- Não sei. Quer me ajudar a descobrir?

Ele me beijou intensamente, e quando me soltou ficou me olhando alguns segundos.

- O que foi?
- Nada. Estava te olhando, só isso. – sacudiu os ombros sorrindo e recomeçamos a caminhar – Então... Que horas é o casamento?

[...]
Na hora marcada, Henrique chegou para me buscar. Ele estava, no mínimo, L-I-N-D-O! *Controle-se, Isabel*.

- O casamento não é às 21:00? – ele perguntou consultando o relógio enquanto eu organizava alguns objetos dentro da minúscula bolsa.
- É. – disse, finalmente conseguindo colocar o batom, o espelho e o perfume encaixados no pente e lápis de olho. – Que horas são?
- 20:50! Temos dez minutos. Vamos chegar atrasados, por que o trânsito está horrível hoje! Falando nisso... Onde é o casamento, afinal?
- Paris. – Respondi com simplicidade apanhando os convites. – Temos tempo suficiente. Vamos?

Perguntei. Ele me olhava sorrindo com incredulidade.

- Está falando sério?
- O que?
- O casamento é em Paris?
- Claro que sim! Olhe só o convite... – estendi e ele leu, arregalando os olhos.
- Pode me dizer como pretende ir até Paris em menos de dez minutos?
- Aparatando, é claro!

Ele continuou me encarando confuso e estendi minha mão. Ele segurou.

- É simples, ok? Se preferir fechar os olhos, feche. Pode confiar! Fui uma das únicas que passou no teste de primeira! – disse orgulhosa de mim mesma.
- E como funciona?
- Assim.

Com um estalinho, me senti sendo sugada por um imenso ralo. As mãos de Henrique grudando nas minhas. Então, tudo parou. Batemos no chão de pedras, silenciosamente. A catedral à nossa frente já estava cheia de pessoas. Paris continuava linda!

[...]
A cerimônia foi bonita. Henrique e meus amigos pareciam estar se dando bem. Até mesmo Bel desfez a careta quando ele disse que mesmo não sendo bruxo, se interessava muito por runas. Quando fomos cumprimentar, Nicole exibiu sua aliança dourada com um sorriso de satisfação, mas não me atingiu em nada e ela percebeu isso, pois rapidamente disfarçou e agradeceu nossa presença junto com Rubens, que parecia muito feliz também. E a festa estava muito animada. Dançamos, bebemos, conversamos, rimos e matamos um pouco da saudade. Já era madrugada quando resolvemos ir embora. Me aproximei de Dora, que estava sentada na mesa da sua família, mas não tirava os olhos da nossa mesa. De Sávio. Era hora do teatro...

- Boa noite, Sr. e Sra. Gaster. Sou Isabel McCallister. Divido dormitório com a Dora. – disse educadamente. Dora sorriu me incentivando, e seus pais me avaliaram, mas logo sorriam também.
- Muito prazer. Megan. – A mãe dela foi a primeira a me cumprimentar. – Meu marido, Philipe. Dora fala muito de você.
- E eu falo muito dela lá em casa. Tanto que meu pai a convidou para passar o Reveillon em Nova York conosco... Ele não gosta de me acompanhar até aquela multidão na Times Square, se é que me entendem. E pediu para que eu convidasse algum amigo. Será que a Dora poderia ir passar o restante das férias comigo?

O sorriso no rosto deles de repente sumiu. Se entreolharam. Troquei olhares tensos com Dora, mas ela se movimentou.

- Por favor, papai?! Você sabe que sempre quis ir conhecer Nova York?!
- E o que me garante que você não vai se encontrar com aquele moleque?
- Sem querer me intrometer, mas... de que moleque estão falando? – eles me olharam e o pai dela apontou para Sávio, que rapidamente desviou o olhar para o outro lado. Segurei o riso.
- Dulovóski? Hum... Posso te garantir que não tem a mínima chance de Dora se encontrar com aquele garoto, Sr. Gaster. Também não gosto dele. Arrogante, presunçoso e...
- Pai! – Dora falou de repente interrompendo minha pequena coleção de palavrões destinada a Sávio. Agradeci mentalmente. – Eu não quero mais nada com aquele garoto. Escolhi vocês, se esqueceu? Me deixa ir para Nova York!

Ele ainda me olhou desconfiada, mas pelo visto eu o convencera. Balançou a cabeça afirmativamente e Dora o abraçou soltando uma exclamação. Me afastei da mesa com o pretexto de me despedir de todos antes de irmos.
Voltei à mesa, Henrique se levantou com lágrimas nos olhos. Samuel e Ian também gargalhavam ali perto, e soube que nada de bom havia saído daquela conversa...

- Vamos? – ele perguntou sorrindo. Confirmei.
- Só um minuto...

Fui até Samuel e o abracei despedindo, mas na verdade coloquei um bilhete na sua mão e cochichei.

- É o meu endereço. Entregue para Sávio. Dora irá aparatar comigo e Henrique. Esperaremos ele lá em casa, daqui uns minutos.
- Ele vai adorar essa notícia.
- Ei, será que dá para parar de agarrar meu namorado, Isa? – Anne falou irritada, mas logo sorriu. Pisquei para ela, e Dora nos alcançou sorrindo de orelha a orelha. – Já entendi. Bom... Feliz Ano Novo, meninas. – Anne piscou de volta.
- Teremos. – eu e Dora respondemos juntas.
- Bel... Mande um abraço para a Rebecca, por mim? – disse me despedindo dela, Bernard, e cia. Ela sorriu discreta, pois Henrique ainda nos encarava abismado.
- Mando. Faça o mesmo para o Richard.
- Ok.

Minutos depois, eu, Henrique e Dora já estávamos de volta à Nova York. Ela andava de um lado para outro, aflita.

- Tem certeza de que deu o endereço certo?
- Se acalma. Ele não pode desaparecer logo depois de você! Seus pais iriam desconfiar! Logo ele está aqui.
- É. Você tem razão.

Nos sentamos na calçada e esperamos. Cerca de 30 minutos depois um estalo, e Sávio apareceu do outro lado da rua, onde estava tudo escuro. Dora saltou e correu até ele, pulando em seus braços. Suspirei aliviada, encostando a cabeça no ombro de Henrique. Os dois vieram até nós, minutos depois.

- Isa... Nunca vou poder agradecer o suficiente! – Sávio começou e Dora concordava ao seu lado, eufórica. – Você não sabe a saudade que senti dela. E ver ela distante de mim por apenas algumas mesas, foi tortura.
- Não precisa me agradecer. O amor é lindo, afinal de contas! – sorri.
- As coisas estão começando a melhorar... Samuel conseguiu um emprego pra mim no Ministério, em Paris.
- Fico muito feliz, de verdade! – disse sendo sincera. Ele e Dora se entreolharam.
- Eu fiz reserva de um apartamento, em um hotel não muito longe daqui... Para mim e Dora. Você se incomoda se...? – ele começou.
- De maneira nenhuma. Tudo isso é para vocês ficarem juntos, não é? Aproveitem.

Dora sorriu e se agachou para me abraçar.

- Você é a melhor amiga que eu tenho. De verdade.
- Você faria o mesmo por mim...

Ela sorriu concordando e me entregou um espelho de duas vias.

- É o que uso para falar com Sávio, mas fica com você, pelo menos nesses dias que eu teoricamente estou na sua casa. Se acontecer qualquer coisa, você me chama e estarei aqui em um minuto, ok? Manteremos contato.
- Ok. – sorri. – Agora vai logo. Antes que eu encarne sua responsável e te prenda aqui.

Rimos e dando um último tchau os dois foram até o ponto de táxi, andando abraçados. Esperei sumirem na rua e olhei Henrique, que até então estava em silêncio.

- O que está pensando?
- Nas peças que a vida prega nas pessoas. Veja só o exemplo desses dois... Se conheciam há um tempo, mas nunca se encontraram. Quando se apaixonam, descobrem que as famílias são inimigas e têm que namorar escondidos, e esperarem até ela se formar para poderem largar tudo para o alto e começarem vida nova.
- A história deles é trágica, né? Mas é linda.
- E nós dois? – ele perguntou tirando os olhos do céu e me encarando.
- O que tem?
- Quem diria... Eu, mero estagiário do seu pai, um “trouxa” como vocês falam, vou perder completamente a cabeça me apaixonando pela filha do chefe, alguns anos mais nova do que eu. Linda. Inteligente.
- Shhh... – coloquei dois dedos nos lábios dele, fazendo-o calar. O beijei. – As coisas aconteceram sem previsão. Deixe que elas nos levem, naturalmente.

Ele concordou e se levantou, estendendo a mão para me ajudar. Fiquei de pé, e ele me abraçou, me beijando. A boca, o pescoço...

- Acho melhor ir embora! – disse se afastando um passo de mim, me olhando sério.
- Por quê? – perguntei assustada.
- Tenho medo de estar indo rápido demais. Não quero te pressionar. – disse decidido. Sorri.
- Eu pareço ser do tipo que aceita algum tipo de suborno? – perguntei. Ele me avaliou e sorriu, me puxando novamente.
- Não.
- Então?!
- Temos todo o tempo do mundo. Amanhã volto. – disse dando um beijo e andando em direção ao carro. Fiquei parada um tempo esperando ele entrar no carro, sem acreditar.
- Vai mesmo embora?
- Vou. Amanhã volto. – disse decidido. – Qualquer coisa, me liga. Sabe o número.
- Só pode estar brincando... – disse sorrindo. Ele riu.
- Já estou com saudades.

Ligou o carro e foi embora, me deixando metade surpresa, metade decepcionada.

°°°
Já estava desistindo e aceitando o fato de que Henrique não apareceria mais, quando senti um puxão na minha cintura, me fazendo virar. Um par de mãos me agarrou e Henrique me deu um beijo longo.

- Feliz ano novo, namorada.
- Do que você está falando? – perguntei sorrindo.
- Demorei por que seu pai chegou de viagem. Pedi sua mão em namoro, com as melhores intenções, e ele disse que se sentia muito feliz por nós... – falou em um atropelo, e então se virou para mim – Só falta você. Quer namorar comigo?

O olhava abismada e sem reação. Papai chegara de viagem. Pedido de mão. Pedido de namoro. Tudo muito confuso. Ele me encarava sério, esperando uma resposta.

- Você ainda me pergunta uma bobagem dessas?!

Ele me rodou no ar, enquanto uma chuva de papéis picados caía em nossas cabeças, e os fogos de artifício explodiam no ar. Seria um ano muito melhor!

Agora o que vamos fazer... Eu também não sei.
Afinal, será que amar é mesmo tudo?
Se isso não é amor... O que mais pode ser?
Estou aprendendo também.

N.A.: O que eu também não entendo – Jota Quest.

P.S.: Não era para ter feito esse texto. Mas não resisti. Acabou saindo e eu não recuso esses momentos de inspiração, certo? O VERDADEIRO texto, já está escrito também, e será postado amanhã. Desculpem a minha enrolação. Postar texto de Ano Novo, 20 dias depois? Só Amanda faz isso, rsrs.

Sunday, January 13, 2008

Missão Quase Impossível

Por Gabriel Storm Lupin

O prazo de dois dias pedido por Shannon para elaborar um plano de invasão havia chegado ao fim. Pontualmente às 17hrs ela apareceu no laboratório de poções como tinha marcado conosco. Chegou com as mãos carregadas de rolos de pergaminho e um sorriso assustador no rosto. Sean e Stuart mal conseguiam conter a empolgação e olhava Evan receoso. Ainda não estava 100% convencido de que isso era uma boa idéia, embora não cogitasse a hipótese de ficar de fora do plano. Ela abriu os pergaminhos e notei que havia dividido a planta da escola do Kansas em várias áreas, traçando linhas pontilhadas para todos os lados e destacando alguns pontos com círculos grossos. Levou apenas alguns minutos para que ela nos explicasse como faríamos para raptar o corvo e voltar em segurança e marcamos a 1 da manhã na porta da sala do diretor, ainda aquela noite. E pela primeira vez acreditei que aquilo daria certo.

ººº

Chegamos na hora marcada na sala do diretor e Shannon já nos esperava. Carregava uma mochila nas costas e quando perguntamos o que era, disse que explicava depois. Alguma parte do plano foi deixada de lado nas explicações dela, e algo me dizia que estava dentro daquela mochila. Ela puxou um canivete camuflado do bolso e ficou de joelhos, na altura da fechadura.

- O que está fazendo? – Evan segurou a mão dela alarmado – E se tiver alarme?
- Acha que já não testei? – puxou o braço rindo e voltou a cutucar o buraco com o canivete – Precisamos entrar, ou não poderemos usar a lareira. Agora prestem atenção: quando entrarmos, um por um passamos por ela, mas não precisa gritar o nome da escola. Falem baixo, mas claramente, e quando saírem lá, espere no canto. Ninguém sai da sala sozinho!

Assentimos em silencio e a porta abriu. Um por um pegamos um pouco de pó de flu e cinco minutos depois estávamos na sala escura do diretor da escola do Kansas. Shannon murmurou ‘Lumus’ e iluminou a planta daquele corredor que ela tinha refeito, apontando o círculo maior.

- O corvo está aqui, para chegarmos até ele precisamos atravessar todo o 4º andar. Vamos pelos cantos, e engatinhando. Os quadros conhecem os alunos, podem nos ver e dedurar ao diretor. E não preciso dizer para não fazemos barulho, não é?

Rimos e quando íamos ficar de pé para ela arrombar a porta outra vez, ouvimos barulho no corredor. Shannon me puxou para trás e vi os outros três se esconderem pela sala. A porta abriu segundos depois que ela nos cobriu com a capa da invisibilidade e o diretor entrou. Senti meu sangue gelar e tentei me acalmar para ele não ouvir nossa respiração alta. Ela me cutucou indicando a porta aberta com a cabeça e caminhamos lentamente até chegar ao corredor. Tirou a capa depressa e me entregou um deles, um canivete e o pergaminho e ela.

- Esconda-se com ela e espere pelos outros, sigam o plano que combinamos
- Aonde você vai? – segurei o braço dela quando ia sair
- Preciso fazer uma coisa, vou ficar bem, sei andar sem ser vista mesmo estando visível. Peguem o corvo e me encontre no corredor do 2º andar, ala leste.
- O que você vai fazer??
- Confie em mim, e não esqueçam o corvo! Ele é o motivo de estarmos aqui!

Antes mesmo que pudesse contestar ela já havia desaparecido pelo corredor. Cobri-me outra vez com a capa e entrei na sala tentando ao máximo não fazer barulho. O diretor estava sentado em sua mesa lendo alguns papéis e via os pés de Sean debaixo dela, mas ele não parecia notar. Recolheu algumas coisas nas gavetas e saiu, trancando a porta. Esperei alguns segundos e sai de debaixo da capa, chamando os três. Eles saíram mais pálidos que um fantasma dos esconderijos. Evan suava frio, fiquei com medo de que desmaiasse. Expliquei o que Shannon havia dito e com o canivete que ela deixou comigo consegui abrir a porta.

Não foi difícil chegar até a sala do treinador do time, onde o corvo dormia inocente em sua gaiola. Com a planta simplificada que Shannon montou não nos perdemos e rapidamente já me via destravando a porta com o canivete. Stuart abraçou a gaiola do corvo quando o localizou na penumbra da sala e a cobrimos com a capa da invisibilidade. Era melhor voltar com ele escondido. Se fossemos vistos, não saberiam do seqüestro. Abri o segundo pergaminho que nos levaria ao corredor onde Shannon estava e vi marcado no alto da folha ‘Dormitório Masculino – Kansas Crows’. Então ela estava no corredor onde os garotos do time dormem... Boa coisa não estava fazendo, não restavam dúvidas. Demoramos mais de quinze minutos para chegar até lá, e quando pisamos no corredor, Shannon fechava delicadamente a porta de um dos quartos. Sorriu quando nos viu e abriu a mochila, despejando um punhado de cordas no chão.

- Não fiquem me olhando assim, me ajudem. Peguem as cordas e amarrem uma em cada maçaneta nas portas demarcadas com um X – disse feito um sargento e nos apressamos em pegar as cordas e ajudar – Onde está o corvo?
- Debaixo da capa – respondi amarrando uma das portas – O que você fez?
- Passei um pouco de melado na borda das camas deles – disse rindo – E soltei algumas formigas famintas lá dentro
- Posso saber o que motivou isso? – Sean prendeu a risada terminando de amarrar a corda na última porta
- Ex-namorado imbecil que joga no time daqui – Shannon pegou todas as cordas e deu um nó extremamente complicado na ponta delas, juntando todas. As 6 portas ficaram ligadas como uma teia de aranha e duvidava que alguém desfizesse aquele nó sem magia – Agora vamos sair daqui depressa. Pelo tempo, as formigas já estão alcançando a cabeça deles
- É, vamos embora então – Evan falou alarmado

Stuart abraçou a gaiola outra vez e ainda pegava a mochila no chão quando o primeiro urro surgiu. Um dos garotos tentou abrir a porta e a corda esticou, mas o nó nem se abalou. Como um efeito dominó, uma a uma as portas estremeciam e os garotos gritavam desesperados percebendo que não abriam. Não era mais preciso pedir silencio. Sean berrou para corrermos e disparamos pelos corredores até a sala do diretor. Shannon deixou a diplomacia de lado e arrombou a porta com o pé mesmo, escancarando-a na primeira pezada. Entramos deslizando pelos tapetes e nos atiramos na lareira embolados, derramando quase todo o pó de flu no chão.

Fui o primeiro a cair de volta na Califórnia, Sean logo atrás, seguido de Evan. Stuart foi cuspido da lareira logo depois, rolando pela sala abraçado na gaiola do corvo, que gritava assustado. Shannon foi a última a voltar e saiu ofegante.

- Por que demorou tanto?? – disse a ajudando a se levantar – Ele viu você?
- Não, mas foi por pouco! Fiquei limpando a bagunça que fizemos, ao menos o pó de flu espalhado e os tapetes.
- Então ninguém nos viu, ótimo – Sean pegou a gaiola do corvo do chão e olhou orgulhoso – Olá rapaz, bem vindo ao novo lar!
- Deixe para debochar do pássaro amanhã, agora realmente precisamos voltar aos dormitórios – Shannon destravou a porta do escritório e saímos
- Shannon tem razão – Evan passou por ultimo e fechou a porta novamente – O diretor do Kansas vai deduzir que isso foi obra de outra escola quando notarem que o corvo sumiu e vai entrar em contato com os outros diretores à procura de alunos fora da cama. É melhor estarmos deitados e dormindo inocentemente quando começarem a varredura aqui.

Concordamos de imediato e voltamos aos dormitórios. O corvo ficou no nosso quarto, coberto com a capa de Shannon. Amanhã decidiríamos o que fazer com ele, mas mesmo que saibam que fomos nós e isso nos coloque em uma encrenca, não teremos problemas maiores que os garotos com dezenas de picadas de formiga. E só isso já vale qualquer detenção...

Friday, January 11, 2008

Em busca de confusão

Por Gabriel Storm Lupin

- O Jeffrey voltou! O Jeffrey voltou!

A voz alta de Sean soou como um tambor no meu ouvido e saltei da cama assustado, acertando a cabeça na cabeceira. Tateei a mesa atrás dos óculos e ainda fora de foco vi Evan e Stuart também alisando as cabeças e olhando confusos. Jeffrey era um aluno do 5º ano que usava a fantasia de coiote nos jogos do nosso time, e havia sumido depois do jogo em casa contra o Kansas Crows, no último sábado. Olhei no relógio e marcava 2 da manhã, mas levantei assim mesmo.

- Ele está bem? Está machucado? – perguntei bocejando
- Parece que está bem, mas a fantasia está toda rasgada – Sean falava com raiva – Eles nos humilharam!
- Não sabemos se foram os alunos da escola do Kansas, Sean – Evan ponderou
- Claro que foram eles! – Stuart esbravejou – Está na cara. Estão com raiva porque perderam o jogo de volta às aulas e quiseram nos fazer de idiotas
- Estou com o Carpizian – Sean bateu no ombro dele e Evan e eu reviramos os olhos
– Precisamos fazer alguma coisa, isso não pode ficar barato! – Stuart continuou
- O que quer dizer com isso? – perguntei receoso – Não está sugerindo que roubemos o mascote deles, está?
- Não é a toa que dizem que você é inteligente, Gabriel
- Está louco, Stuart? – Evan olhava para ele incrédulo – Não pode estar considerando ir até Kansas!
- Ok, isso pode até ser viável, mas podemos discutir a possibilidade amanha? – disse depressa e Evan me olhou sem acreditar – Está tarde!

Eles concordaram e logo já estávamos cada um debaixo de sua coberta. Não pretendia dar corda a insanidade deles, mas quem sabe ao amanhecer já tenham esquecido e se dado conta de que era uma idéia idiota, afinal.

ººº

O dia seguinte ao retorno de Jeffrey à escola corria normal. Muitas pessoas o abordavam nos corredores querendo saber o que havia acontecido, mas ele não se lembrava de nada. Era evidente que quem quer que tenha o seqüestrado, tinha usado o feitiço da memória para não ser pego. Almoçava com Shannon e Evan no refeitório e até o momento ninguém havia citado a idéia estapafúrdia da noite anterior, mas minhas esperanças foram lançadas pela janela quando Sean e Stuart se juntaram a nós três na mesa. Eles abriram uma folha gigantesca por cima das nossas bandejas, cobrindo tudo. Era coberta de riscos para todos os lados, lembrava a planta de alguma casa muito grande.

- Posso perguntar o que é isso, ou vocês vão dizer? – Evan olhava para o papel curioso
- É a planta da escola de Kansas! – Sean falou como se fosse obvio e normal ele ter acesso a isso
- Eu devo ficar com medo, gente? – Shannon olhava cada um de nós com a expressão totalmente confusa
- Vocês vão mesmo fazer isso? – perguntei – E onde conseguiram isso?
- Tenho contatos, é só o que posso dizer – Sean falou não deixando brecha para mais perguntas – E vamos fazer isso sim! Eles seqüestraram o Jeffrey e apagaram a memória dele, temos que reagir!
- Ah, agora estou entendendo – Shannon puxou a planta para ela compreendendo – Vocês querem seqüestrar aquele corvo que eles guardam como se fosse feito de ouro? – e os dois confirmaram com a cabeça
- E como pretendem ir até lá? – Evan riu – Não sei se ainda se lembram, mas somos menores de idade e não sabemos aparatar. E nem vamos conseguir uma chave de portal. Não temos como chegar até lá
- Isso não é bem verdade... – Shannon tinha uma cara pensativa e me espantei por ela estar considerando isso – Tem um jeito de chegar até a escola do Kansas
- Como? – perguntamos todos ao mesmo tempo e ela riu
- Lareira – disse simples – As lareiras dos diretores das escolas americanas são interligadas, não precisam de autorização do ministério sempre que precisam usá-la entre si
- Shannon, vai mesmo apoiar essa insanidade? – perguntei incrédulo, mas já me considerando parte da missão quase impossível – Se formos pegos, podemos ser expulsos!
- Com planejamento, nada dá errado – disse levantando animada e recolhendo a planta da mesa – Me dêem dois dias para estudar essa planta e bolar um plano. Quarta-feira vamos visitar nossos colegas corvos na calada da noite, preparem-se!

Ela piscou com um sorriso maroto no rosto e saiu do refeitório levando a papelada. Sean e Stuart sorriam empolgados e Evan e eu ainda estávamos meio receosos, mas não podíamos negar que estávamos ansiosos por saber o que ela ia bolar. Shannon tinha conhecimento militar. Além de ter estudado a vida toda em uma academia assim, seu pai tinha a mais alta patente do exército da Califórnia e todos os seus irmãos haviam se formado como cabos. A idéia podia ser maluca e arriscada, mas sendo bolada por ela certamente não teria falhas. E as chances de termos êxito no plano sem sermos pegos aumentavam significantemente...

Wednesday, January 09, 2008

Presságios

Diário de Griffon F. C. Chronos

Natal. Residência do Clã Chronos. Londres

O Natal fora uma comemoração estranha. Eu e o Seth fingíamos estar bem, falando-nos educadamente e até algumas brincadeiras, mas a tensão e o descontentamento eram tangíveis no ar. Papai e mamãe com certeza sentiram que estávamos apenas fingindo, mas preferiram não falar nada e deixar que nós nos resolvêssemos.
Mas Ártemis não se calou. Assim que nos viu quando chegamos, ela correu para nós, já que já havia dado os primeiros passos. Porém ela parou há alguns passos de nós, e seus olhinhos verdes se fixaram em nós, como uma força semelhante à de mamãe.Seus olhos pareciam enxergar além do espaço entre nós, que antigamente poderia ter sido substituído por um abraço de irmãos. Ela ficou lá parada apenas nos olhando, enquanto esperávamos agachados pelo abraço dela. No fundo eu e Seth disputávamos para ver para quem ela correria primeiro, mas ela nos surpreendeu e antes que notássemos, ela abraçava nós dois juntos, aproximando-nos enquanto ria em nossos ouvidos. Por um momento eu pude jurar que ouvi uma voz baixa, mas bela e forte nos dizendo “Quero vocês dois juntos!”, uma voz de criança. No resto do período do feriado que ficamos em casa, ela parecia se recusar a ficar apenas com um de nós e a todo momento queria nos unir, abraçando os dois juntos...Talvez ela seja mais inteligente do que nós dois juntos, mas eu não daria o braço a torcer, muito menos meu irmão calado e cabeça dura...
Por terem uma família pequena, a Di-Lua e o Sr. Lovegood, o Di-Luo Mor, passaram o Natal conosco, trazendo diversas frutinhas pequenas, de cor verde brilhante e diversos ramos do que para mim parecia uma espécie menor de visgo, mas eles diziam ser azevinho. Ao longo do feriado, recebemos visitas também de Tia Alex, o Sr. Logan, um garoto que eles adotaram Ethan, e Ty, que queria rever a afilhada. Ártemis correu feliz pra ele, e quando ele a pegou no colo, ela parecia contar alguma coisa em seu ouvido, e o olhar que Ty nos lançou me fez ter essa impressão ainda maior. Tia Alex parecia que queria ao mesmo tempo fazer as coisas parecerem normais, e também nos censurar pela briga, mas nos tratou normalmente. Ty sabia que era pior forçar a barra e conversou conosco contando as várias coisas que aconteceram em Durmstrang e nós o atualizando sobre Beuaxbatons. Eles almoçaram conosco e foi uma refeição divertida e alegre, com a mesa cheia, pois Tia Celas e Gaia apareceram também para participar da comemoração. Não pude deixar de fazer algumas brincadeiras e usar algumas das Gemilidades, e arranquei gargalhadas de todos, até mesmo de Ethan, excessivamente sério, menos de Seth, que virava o rosto e olhava para o outro lado. Mas eu sabia que ele só fazia isso para que eu não o visse rindo.
Emily não apareceu, e foi melhor. Depois da discussão com o Seth eu não conseguia parar de pensar que ele estava parcialmente certo, e que era errado eu fazer as coisas que eu fazia. Mas não queria fazer ele achar que estava certo. Eu também achei melhor retornar a distância comum entre aluno e professor... Eu realmente gosto dela, mas é algo muito estranho, nem tanto pela diferença de idade, mas pelo fato de eu ainda ser aluno dela... Quem sabe mais pra frente?

O casamento de tia Alex com o senhor Logan foi muito animado, e Seth mesmo a contragosto acabou subindo ao palco para cantar no karaokê, claro que foi só depois de ver papai cantando uma música romântica para mamãe e Di-Lua suspirar como se estivesse mal do coração, meu irmão não deixaria por menos. E eu fiz minha parte junto com Mi, Ty e Gabriel, e em poucas palavras: apesar do sucesso, nunca arranjaríamos emprego na Brodway, somos bagunceiros demais rsrsrs.

Beauxbatons. Primeira semana de aulas de 1999.

Fim do feriado de final de ano e de Natal. O que quer dizer que agora posso avaliar minhas últimas vendas. Vários alunos levaram para casa Gemialidades para darem de presente ou apenas para alegrar o dia de Natal e iluminar a noite do ano novo com os Magníficos Fogos Weasley. E agora eu fazia minha pesquisa de mercado, procurando saber o que mais agradou a todos, inclusive membros das famílias dos meus clientes. Também aproveitei para o balanço do ano, e fiquei muito feliz ao ver que conseguira um lucro bruto alto para a loja, e ainda mais feliz ao ver que o estoque que eu guardara para a primeira semana já estava evaporando! Vai ser um grande presente de Natal e ano novo para o George e o Ron!
Miyako desculpou a mim e ao Seth pelo que fizemos ela passar, mas não conseguia nos fazer conversar direito, pois ainda não nos falávamos. Ela se irritou quando tentamos usa-la de garota de recados, e quase nos bateu, dizendo que não iria se dividir em duas para nós. Eu ri da reação dela, mas ela estava certa. Quanto ao Seth, eu detesto admitir, mas estou sentindo falta de conversar com ele o tempo todo, de implicar com ele, de brigar e rir juntos...
Nesse momento estou perto do campo de quadribol, acabei de sair do treino, mas não tenho vontade de voltar para o castelo. O treino foi muito cansativo, mas animador, e tenho certeza que esse ano a taça é nossa!! Sentei-me no gramado próximo ao campo e fiquei olhando o pôr-do-sol e não podia evitar de pensar na Emily, na briga com o Seth e com tudo que tem acontecido...Dei graças a Merlin que depois que eu parei de jogar charme em cada vestido que passasse na minha frente, as garotas pararam de ir atrás de mim, e eu estava sozinho agora...
Pelo menos era o que parecia.
Senti um movimento muito leve próximo ao bosque. Levantei-me em prontidão e me concentrei em sentir ao meu redor. Parecia não haver nada fora do normal, mas tenho certeza que havia alguma coisa. Quando apanhei a varinha para investigar, uma mão bateu em meu ombro e alguém falou comigo, me dando um susto e me pondo em guarda com a varinha em punho.
- Griffon, quero dizer, Sr. Chronos, ainda aqui fora? Ei calma ai! – Emily falou surpresa e meio assustada quando eu apontei a varinha para ela, chegando a se afastar e indo com as mãos sutilmente para o bolso da roupa.
- Emily... Desculpa, Professora Mcgregor. Perdão, é que eu me assustei. – Pedi desculpas enquanto guardava a varinha novamente, meio vermelho e sem graça.
- Tudo bem, Sr. Chronos. Mas por que estava em posição de alerta?
- Eu senti algo diferente, mas deve ter sido a senhora chegando.- e ela suspirou exasperada:
- Não adianta, me acostumei a te chamar de Griffon e de ser chamada de Emily por você... Por favor, vamos continuar como antes?
- Desculpe, quero dizer, tudo bem, Emily...Também me acostumei...A quanto tempo está aqui?
- Para falar a verdade... Eu assisti seu treino....Quero dizer, o treino do time, queria avaliar suas chances! – Ela apressou a acrescentar, enquanto olhava na direção do bosque.
- Verdade? Que bom que veio ver... E o que achou?
- Estava ótimo... – Ela falou sorrindo para mim, mas depois desviou o olhar novamente para o bosque, e vi um misto de choque com perplexidade em seus olhos. Com algo em minha mente me alertando, olhei na mesma direção que ela...
Foi a minha vez de ficar espantado. Na direção de onde olhávamos, havia um vulto envolto em sombras. Aos poucos a luz do sol poente revelou suas feições, e eu me sobressaltei, enquanto Emily tapava a boca e segurava um pequeno grito. Ele estava ali diante de nós. Como da ultima vez que o vimos, cheio de vida, alegre, relaxado e calmo, sorrindo para nós, como se nos convidasse a nos aproximar. Tio Kyle.
Eu não podia acreditar no que estava vendo!! E meu treinamento me dizia que era uma ilusão, fora o bom senso! A figura então se tornou apenas turva para mim, mas não para Emily.
- Pai? É você mesmo? – A figura fez que sim com a cabeça, e notei que a ilusão era para ela, ou meus poderes estavam me ajudando a me livrar dessa ilusão. Tio Kyle ou seja lá quem fosse, virou as costas e andando lentamente sumiu entre as árvores.
- Pai, espere por favor!! – Emily falou, enquanto começava a correr, eu corri atrás dela e a segurei pelo braço.
- Você está maluca Emily? Só pode ser uma ilusão! Tio Kyle está morto, ele não pode voltar a vida! É uma armadilha!
- Me deixe ir, Griffon!É meu pai, tenho certeza, ele me chamou! Eu preciso ir.
- Ele não chamou você. Ele não disse nada, e tenho certeza de que é uma armadilha! Muitas coisas podem imitar outras pessoas! Você é um auror, pense direito! – Ela pareceu raciocinar, e a felicidade do primeiro momento deu lugar a cautela.
- Você pode estar certo... Mas é meu pai, eu tenho que ir.
- Então eu vou com você.
Dizendo isso, nós dois corremos para o bosque na direção de onde aquela imagem sumira. A cada passo que dávamos eu sentia ainda mais a hostilidade e perigo no ar, mas não conseguia identificar direito. Eu corria ao lado de Emily o tempo todo, para evitar alguma possível armadilha. Mas de repente tudo ficou escuro, e alguma coisa confundiu meus sentidos. Eu estava envolto em trevas e não havia sinal algum da Emily. Comecei a chamar seu nome, enquanto corria na direção onde eu achava que era o caminho certo. Parei de repente e bati na minha testa, me xingando por ser idiota. Seja lá o que fosse aquilo, queria me tirar dali e usando um truque barato, porque não pensei antes?! Fechei os olhos e concentrei a luz em meu corpo, fazendo-o brilhar. Quando abri os olhos um raio de luz saiu de mim e indicou o caminho. Enquanto corria, a escuridão ao meu redor foi sumindo, dando lugar a luz cada vez mais fraca do pôr do sol. O feixe de luz seguia a frente, e eu o segui sem pensar duas vezes, chegando em uma pequena clareira, onde vi Emily parada, com lágrimas de felicidade nos olhos, que estavam fixos em um ponto a frente. Mas seus olhos estavam vidrados, e notei que era hipnose. Quando corri pra ela e minha luz se espalhou pela clareira, pude ver quem estava a frente dela, a chamando.
Hellion.
Ele soltou uma mistura de guincho com grito quando meus raios de luz acertaram seu rosto, fazendo-o recuar. O efeito de sua hipnose foi quebrado, e Emily olhou para ele meio assustada, sem entender por um instante. Mas seu rosto se iluminou de entendimento e de raiva quando ela conseguiu se livrar do torpor da hipnose.
- Emily, ele é Hellion, o vampiro que atacou meu pai, cuidado!
- Eu sei quem esse verme é, Griffon. Você é muito procurado, vampiro. E ousou sujar a imagem de meu pai?!
Hellion começou a gargalhar, mas com um grito de raiva, Emily disparou uma seqüência de feitiços tão rápidas que Hellion mal conseguiu desviar, sendo acertado em cheio por dois deles. Eu nunca a vira com tanta raiva, e Hellion foi obrigado a fugir de volta para as trevas. Emily caiu de joelhos, e lágrimas escorriam por seus olhos. Eu me aproximei e a abracei, mesmo sabendo que era errado.
- Eu queria tanto revê-lo... Queria tanto poder falar com ele de novo...E esse verme imundo ousa profanar a imagem de meu pai? O que ele queria comigo?
- Ele é um ser maldito, Emily. – Falei quando nos levantamos, afastando-nos um pouco. – E temo que ele queria a mim...Ele tem um ódio enorme pela minha família...Mas sabe que não conseguiria tocar um de nós, mas pensou que poderia nos atingir atacando aqueles que nos são importantes. Pelo menos é o que acho.
- Obrigada por vi comigo... E por eu também ser importante para você... – Ela falou de maneira quase inaudível e eu ia responder quando ouvimos gritos nos chamando.
- Aqui, estamos aqui! – Emily falou enquanto lançava faíscas no ar com a varinha. Por precaução nos afastamos ainda mais, mantendo a distância de aluno e professor. Seth, Professor Zambene e Madame Maxine entraram correndo de varinhas em punho na clareira. Os olhos de Seth estavam vermelhos, varrendo cada milímetro e suas narinas se dilataram ao sentir o cheiro de Hellion.
- Professora McGregor, ficamos preocupados quando o Sr. Chronos entrou correndo em minha sala dizendo que havia um vampiro na escola. Não podíamos ignorar um aviso, ainda mais vindo dele. E nos assustamos quando disseram que vocês dois correram para cá. – Madame Maxine falou, abraçando os ombros de Emily, que tremia, não sei se de frio, de susto ou tristeza.
- Sim, Sra. Maxine. Era o vampiro Hellion. Ele tentou nos hipnotizar e trazer para o bosque para uma emboscada. Mas está tudo bem.
- Se está tudo bem, acho melhor voltarmos o quanto antes, vou organizar uma busca nos arredores. – Sir Zambene falou sério, enquanto também olhava ao redor.
- Eu irei com você, professor. Irei senti-lo muito antes dele nos sentir – Seth falou se pondo ao lado do professor.
- Eu também vou, posso ajudar. – Eu falei rapidamente.
- Vocês são alunos! Não posso arriscar a segurança de vocês! Mas acho que os senhores seriam capazes de se cuidar. Vamos nos separar, cada um para um lado, joguem faíscas vermelhas em caso de perigo. – O professor ordenou, organizando a busca. Ele rapidamente correu na direção a nossa frente, mas não sem antes ver se Emily estava bem. Olhei para Seth, e ele assentiu preparando-se para correr junto de mim.
- Sr. Chronos, obrigada pela ajuda... Mas tomem cuidado, por favor...- Emily falou, enquanto ela e Maxine se afastavam.
Eu e Seth corremos em silêncio, seguindo a presença de Hellion, mas ele já havia fugido, não havia como localiza-lo. Ficamos parados um pouco, recuperando o fôlego, olhando um nos olhos do outro.
- Desculpe. Você estava certo em eu ser intrometido.
- Desculpe. Você estava certo em eu ser um idiota.
Nós dois falamos juntos, atropelando as palavras e olhando para a moita mais próxima. Depois nos encaramos de novo e começamos a rir, correndo para nos abraçarmos.
- Você é mesmo um cabeça-dura sabia? – Seth falou enquanto bagunçava meu cabelo.
- E você é teimoso como uma porta, Sr. Di-Luo. – falei enquanto dava um soco de brincadeira no braço dele.
- Já disse para não falar isso! Eu senti falta de falar com você. Não devia ter dito aquelas coisas de você.
- Tudo bem, você estava parcialmente certo. E eu merecia algumas delas... Eu sei de tudo que passa por causa dessa maldição, não devia brincar com algo tão sério.
- Acho que agora fizemos as pazes finalmente... a Mi vai adorar, ela já cansou de ficar entre nós dois.
- Sim, nós a cansamos... Toma, um feijãozinho para zelar a amizade. – falei enquanto entregava a ele um pequeno feijão colorido.
- Obrigado, pega esse aqui também. – ele falou enquanto me dava um caramelo embrulhado em papel brilhante. Engoli o caramelo rindo, ao ver o rosto dele ao provar o doce.
- Feijãozinho de cocô?! Seu idiota!
- Hahahaha não devia aceitar nada meu!
- Ah é? Nem você.
Ele falou rindo, enquanto eu sentia um ligeiro formigar nas bochechas. Ele conjurou um espelho e levei um susto quando me olhei. Minhas bochechas estavam amarelas e com pintas rosas. Caímos na gargalhada e ele começou a correr de volta para o castelo, comigo em seu encalço... As coisas finalmente voltaram ao normal e por um momento esquecemos de Hellion...

Monday, January 07, 2008

Algumas memórias de Rory Montpellier

Escola texana de magia, antes das férias de final de ano.

Eu já havia conseguido as notas para fechamento da média do semestre, mas como eu precisaria de notas extras, por causa do nascimento do meu bebê, os professores têm mandado que eu faça provas a mais e uma destas seria a que Brian iria fazer para ver se conseguia se manter no time de basquete ou não. Terminei a prova de poções e entreguei ao professor Suarez. Sai da sala e olhei para Brian, e ele que estava concentrado, escrevendo tudo o que sabia no pergaminho. Senti fome, aliás fome era o meu segundo nome nos últimos tempos, e fui para o restaurante. Ainda teria tempo de estudar um pouco antes de fazer a prova de transfiguração e depois de tomar um milkshake duplo de morango com calda de chocolate e nozes picadas, comecei a rever minha matéria de prova. O restaurante estava movimentado, e viam-se várias pessoas que não faziam parte da escola circulando por ali. Isso acontecia porque estava tendo um jogo de quadribol entre o Texas Bull, time de quadribol da escola contra o Californian Coyotes pelo campeonato estudantil. Como eu ainda teria várias provas no dia, não poderia estar cobrindo o jogo, então Jaeda como capitã das cheerleaders estaria lá animando a torcida, e faria a matéria para o Rangers, já Lucien estava acompanhando o time de futebol da escola, que estava jogando em Montana, e Angelique havia ido com ele para torcer. Não sei quanto tempo fiquei ali, e de repente senti meu bebê chutar, já estava com quase 7 meses e isso era freqüente nos últimas semanas, e acariciei minha barriga para acalma-lo, isso sempre funcionava. Senti-me observada, quando levantei a cabeça para procurar quem me olhava, vi Brian vir na minha direção como uma bala, sorrindo de orelha a orelha e ele mal sentou, me agarrou e me deu um beijo demorado.
Quando acabou, fiquei olhando-o de olhos arregalados e perguntei:
- O que foi isso?- Estou feliz! Consegui as notas para me manter no time.
- Er... Parabéns... - e ele ficou me encarando.
- Você não gostou não é?- perguntou me soltando.
- Não é isso, é que foi inesperado. – respondi sem jeito.
- Gosto de você Rory. E quando consegui as notas, fiquei feliz e quis demonstrar isso.
- Brian, eu estou grávida. - disse como se isso encerrasse a questão.
- Eu sei que está grávida, não sou cego. Gostei de você, mesmo antes de saber que você estava grávida, pode ter sido aquela coisa de amor a primeira vista sabe? Ou no nosso caso no primeiro esbarrão. – rimos mas eu voltei a ficar séria.
- Brian, não quero me envolver com ninguém no momento, e...
- E você ainda gosta do pai do seu bebê, e espera que um dia vocês fiquem juntos, já saquei.
- Sei que sou uma boba, e não acho que ficaremos juntos, mas quero me dedicar ao meu filho por um tempo, antes de pensar em estar com outra pessoa entende? Não quero ficar com alguém, apenas por ficar, não sou assim.
- Certo, e não esperava menos de você... Continuamos amigos, certo?
- Sim, mas agora me conta como foi com o professor Suarez. - e ficamos conversando ali por um tempo, e vez ou outra ou olhava para a janela como se esperasse ver alguém parado a me observar. Devem ser os meus hormônios.

o-o-o-o-o-o-

- Feliz Natal! Ho, Ho, Ho.
Falava o pai de Jaeda fantasiado de papai noel, enquanto saía da lareira e várias crianças, da família corriam até ele, que ia retirando presentes e entregando a elas. Eu e meus irmãos havíamos sido convidados a passar o feriado de final de ano na casa de Jaeda e as festas seriam totalmente trouxas com direito a brincadeira de amigo oculto, com tias trazendo enormes travessas de comida e os tios brindando a tudo que se movia, contando piadas ou mesmo fatos engraçados ocorridos em outros tempos, mas que faziam rir. Tudo era tão calmo e alegre, mas vez ou outra eu me pegava pensando em minha mãe. Onde ela estaria e se ainda tinha planos de vingança contra a família do Ty. Eu desejava que com a queda de Voldemort, ela tenha percebido que aquela vida de comensal estava terminada e de alguma forma ela mudasse. Pena que nem tudo é como a gente quer.

Primeiro dia do ano de 1999.

Estávamos tomando café e eu ria da cara de ressaca de Brian, quando uma coruja castanha bateu na janela da cozinha. Jaeda pegou a ave e a colocou para comer ceral enquanto via para quem era o pergaminho:
- Rory é para você, do seu pai. - disse me estendendo a carta.

“Querida Rory
Espero que você, Lucien e Angelique tenham tido um ótimo Natal e um ano novo feliz. Aqui eu passei bem em companhia de alguns amigos, mas meus pensamentos estavam com vocês e com meu neto que está para chegar... ” - algumas palavras mais até que ele escreveu:
‘Sua mãe apareceu por aqui... Estava mais magra, suja e abatida e após pegar tudo o que podia ser vendido e fácil de carregar perguntou sobre vocês. Eu contei que mudaram de escola, e que estavam bem. Ela disse muitas coisas horríveis sobre os McGregors e ela ainda quer vingança contra eles, portanto tomem cuidado. Ela está mais estranha do que antes, pois quando falei do nosso divórcio, ela apenas riu e disse que nunca se considerou casada comigo e que não apareceria mais. Confesso que me senti um pouco decepcionado, mas eu nunca a conheci realmente não é?
Depois que ela saiu, esperei a presença dos aurores em nossa casa, mas eles não vieram. Acho que relaxaram a segurança e a captura dela não deve mais ser prioridade, agora que você sabe quem caiu. Acho que vou escrever para o auror Menken e avisar sobre o aparecimento de sua mãe, embora me sinta um dedo duro, terei de faze-lo, pois eu me sentiria péssimo se mais tragédias ocorrerem por culpa dela.
Estou com saudades de vocês e quando chegar a hora, estarei do seu lado. Mande meu amor para Lucien e Angelique e tenha certeza de que vocês são muito amados por mim e merecem tudo de bom nesta vida.
Abraços e beijos do papai”

Após ler a carta de papai, ficamos um tempo absorvendo tudo e não demorou muito para Brian e Jaeda tentarem nos animar. Logo estávamos rindo e fazendo planos para a nossa volta às aulas. Eu vou procurar ser feliz o máximo de tempo que puder, antes que minha mãe apareça novamente. Era um novo ano e tudo seria melhor, eu sentia isso ao alisar minha barriga e sentir meu menino se mexer animado.

Someday I'll be happy
will someone tell me when will that be?
Somewhere I lost track of what's right
and now I'm stuck on the sidelines
What doesn't kill you makes you stronger
not gonna take it any longer
It's time to take back control of my life


N.A.Happy someday, Plain White T’s