Monday, January 30, 2006

Desgraça pouca é bobagem...

Anotações de Ty McGregor

Estava tomando o café da manhã junto com Gabriel e Miyako quando uma enorme coruja castanho avermelhado pousa na minha frente. Gelei. Ela tinha um berrador no bico.
Olhei pros meus amigos meio sem saber o que fazer.... Quer dizer sei que a gente abre berrador o mais longe possível e torce pra quem mandou estar ruim da garganta, mas.... e o medo?
MS- Não vai ler não?
GS- Isto vai explodir na mesa....
Peguei o pergaminho e sai correndo do salão, mal dei dois passos a coisa se abriu, trazendo a voz de minha mãe ampliada não sei quantas vezes gritando:

"TYRONE JOHN MCGREGOR, NUNCA MAIS EM SUA VIDA OUSE GRITAR COMIGO, ESPECIALMENTE POR ASSUNTOS QUE VOCÊ NÃO CONHECE, SÓ NÃO VOU AÍ TE ARRANCAR AS ORELHAS PELA MÁ EDUCAÇÃO, PORQUE SEU PAI INSISTE EM FAZER ISTO PESSOALMENTE blá, blá, blá..."

Consegui arrastar aquilo e entrar num armário de vassouras no corredor. Não deve ter sido suficiente, pois quando saí algumas meninas passavam e davam risadinhas da minha cara.
Voltei para o salão, pois tinha que terminar o café e sentei ao lado de Miyako e Gabriel:
GS- Sabia que tia Alex ia responder à altura. - dando risadinhas.
MK- Nossa, ela e mamãe devem ter feito um curso de elevação de voz sem o Sonorus. Toma tem mais isto aqui pra você. - disse me estendendo mais pergaminhos onde reconheci a letra da mamãe, e do meu padrinho Sergei.
TM-Nossa, devem estar com saudades.... - disse sem graça e meus amigos tornaram a rir.
TM-Eu exagerei quando mandei o berrador pra mamãe não é? Ela ter namorado meu padrinho não tem tanta importância assim porque eles eram jovens... - e eles assentiam com a cabeça e logo estávamos os três rindo e indo pra aula de Mitologia.
Parei de rir quando entramos na sala e o professor, andava impaciente de um lado a outro:
PF-Bom dia a todos. Entrem e acomodem-se, estou fazendo umas investigações aqui. Meus vasos egípcios sumiram...
Eu olhei para Gabriel e Miyako e na nossa cara estava escrito: Ferrou. Nos sentamos nos últimos lugares bem longe do professor, e depois de vestirmos as túnicas gregas, ele continuou a falar sobre o Egito e o livro dos Mortos, que era uma coleção de feitiços, hinos e orações que pretendiam afiançar a passagem segura e curta do falecido ao outro mundo.
Nunca anotei tanta coisa em tão pouco tempo, pois eu precisava ficar com a cabeça abaixada, senão aquele professor metido, ia perceber que tinha coisa errada, mas isto não adiantou muito, pois ele começou a fazer perguntas e alguns alunos erguiam os braços normalmente, Gabriel entre eles, mas o cara cismou comigo:
PF-Senhor McGregor, o senhor sabe para que serviam os canopus não?
Olhei para o professor, e fiz força para minha voz sair normal:
TM-Sei sim senhor. São 4 vasos, quer dizer, eram 4 vasos.... - Gabriel arregalou os olhos para mim, Miyako com aquele frio todo começou a suar, e eu olhava para o professor, tentando não dizer nada que nos entregasse.
PF-Que bom que o senhor sabe contar, agora me diga para que eles serviam? - uma loirinha da casa da Miyako deu uma risadinha abafada.
Olhei para ela de ara fechada, e ela parou. Lembrei quem ela era, tinha tentado sair comigo, no passeio a Paris, mas eu disse que já tinha um compromisso, parece uma Barbie falsa... Ainda se fosse ruiva como aquela garota do sétimo ano... Comecei a divagar, e o professor me chamou de volta à realidade:
PF-Poderia me responder hoje senhor McGregor? A aula não dura a vida toda.... - nesta hora eu tive certeza: ele não ia com a minha cara e queria que eu errasse as respostas.
Respirei fundo e comecei a dizer para que servia cada vaso, e qual a sua aparência, para total assombro do professor.
Quando terminei ele foi obrigado a dizer:
PF-Bem... 5 pontos para a Sapientai... O senhor falou com muita propriedade do assunto... Como se já tivesse participado de alguma mumificação....
Antes de poder responder o sinal tocou, e fui rápido tirar aquelas vestes, elas estavam me sufocando.
GS-Acho que ele sabe....
TM-Sabe como? Eu fui cuidadoso...
MS-Não sabe não, se soubesse ele teria tirado pontos, mesmo com a resposta certa....
Caminhávamos pelo corredor quando avistamos Gerard, o zelador do castelo colando alguns cartazes. Nos aproximamos e ele disse:
- Bom dia crianças, por acaso alguém viu o gato de Madame Máxime?
MS- Ela tem um gato?
G-Tem, mas o gato está sumido, e ela esta desesperada atrás dele. Ela disse que ele estava adoentado. - como não sabíamos de nada, nos despedimos e saímos andando com a foto na mão.
Para nosso espanto, o gato da foto era o mesmo gato que havíamos mumificado: grande... Peludo... Brincando com uma bolinha colorida. Paramos em um corredor lateral e começamos a falar ao mesmo tempo:
-Ty você matou o gato da Maxime... - disse Gabriel desesperado.
-Não, matei. Ele tava mortinho eu juro...
-Minha mãe vai voar até aqui de vassoura, só pra me matar quando descobrir que o gato da Máxime foi mumificado...
Estávamos tão distraídos em nossa angústia, que não percebemos que alguém se aproximava e ouvia o que dizíamos, logo os gritos ficaram evidentes, e nem precisamos nos virar para ver de quem se tratava:
- Vocês mataram meu Napoleon! – disse madame Máxime nervosa.
GM- Não matei, eu juro. Ele já estava morto quando a gente mumificou ele.
Droga, eu e minha boca grande. Ai ela gritou mais ainda, quando vimos o corredor estava cheio de gente olhando, enquanto ela nos empurrava para o escritório dela.
Do desespero ela passou para a ira, e enquanto escrevia os pergaminhos para nossos pais, chamou o professor de Mitologia, chamou o zelador, e a coisa não melhorava à medida que eu fui contando tudo que aconteceu, sim... porque agora era contar tudo de uma vez e tentar sobreviver.
Quando chegou na parte sobre abrirmos o gato e pôr as coisas nos vasos o professor queria pular no meu pescoço. Ele tinha uma veiazinha saltando na testa, que eu reconheci como perigo, pois ele dizia: Isto só pode ter sido idéia sua, só você pensaria numa coisa destas....
Como se eu fosse uma peste. Atrevido!
Ele estava uma fera, disse que os vasos eram caríssimos, e ele ia cobrar dos meus pais.Madame Máxime após anotar as nossas detenções nos mandou terminar as aulas do dia, não sem antes eu explicar onde havia enterrado o gato dela.
Gabriel e Miyako olhavam tudo de olhos arregalados, pois cada vez que tentavam justificar alguma coisa, a bruxa os cortava.
TM-Madame ele estava morto, jogado na neve, fizemos tudo direitinho, ele passou pelo julgamento de Osíris com chave de ouro. - tentei remediar a situação, o professor não escondeu a surpresa por eu lembrar tão bem da aula, mas fazer o quê? A culpa foi do professor almofadinha que atraiu a minha atenção com estas coisas do Egito.
Só espero que as cartas que ainda tenho para ler, não tenham mais desgraças, como mais algum castigo imposto pelos meus pais.

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