Friday, December 21, 2007

Selo contra Anjo*

Diário de Seth K. C. Chronos

Prepare-se querido.

O Mal sempre esteve ao redor de sua família. Sempre esteve à espreita. Vocês são como a luz, quanto maior for a sua força, maior serão as trevas.

Mas o mal vai atacar. Ele está decidido a dar um fim a vocês. Ele não tem mais nada a perder.

Avise sua família, seus amigos, seus queridos.

Avise seu irmão, pois ele não ouve meus chamados. Avise seu pai, pois ele não resistiria em me encontrar.

A você que eu dei meu dom, darei este aviso. Cuidado, querido Seth.

Mantenha sua família unida. E em breve, todos os selos e encantamentos que prendem os dois anjos gêmeos deverão cair, e em um eles se tornarão.

Você que sempre será como meu querido neto...

- Seth, está tudo bem? – Miyako me balançava de leve pelo ombro, enquanto a turma inteira me olhava surpresa. Eu nunca cochilei nas aulas, principalmente na de Mitologia, e a professora Emily parecia além de surpresa, preocupada.

- Tudo bem, Sr. Chronos? – Ela me perguntou, olhando profundamente em meus olhos, vendo que eu precisava me comunicar com meus pais.

- Sim, está tudo bem. Eu estava apenas pensando em algumas coisas...

- Se quiser sair mais cedo, esteja à vontade. Já estamos quase no fim da aula.

- Eu agradeço, Professora. Não, Mi, Griffon, está tudo bem, não se preocupem. – Falei enquanto me levantava, agradecendo a eles, mas deixando claro que me procurassem quando saíssem da aula.

Saí da sala com a cabeça ainda pesada, mas nunca me senti tão bem. As visões sempre vinham acompanhadas de uma fraqueza intensa e fortes tonturas, mas essa fora diferente. Não sabia quem era aquela pessoa, mas a conhecia, conhecia o perfume adocicado e a sensação de segurança que ela transmitia. Parecia até que ela recuperou minhas forças apenas com sua presença, mas também me deixou confuso.

Apontei minha varinha a frente e quatro coelhos surgiram, eram todos idênticos com uma pelagem branco-prateada brilhante, meus patronos. Para três deles eu transmiti a mensagem da visão na integra e eles saltaram pela janela para irem até meus pais e minha Tia Celas e Alex. O último mandei com uma mensagem de cuidado e de carinho para Luna, e antes dele também pular pela janela, ele pulou no meu colo e eu sabia que ia transmitir esse meu abraço e amor para a Luna.

Fui para os jardins e sentei na neve, perto de uma árvore, sem parecer sequer sentir o frio, enquanto esperava por Miyako e Griffon e relembrando da mensagem da visão. Enquanto isso uma grande águia voou na minha direção, e ao se dissolver em um pó brilhante, reconheci a voz de minha mãe:

“Seth, querido. Obrigada pela mensagem. Talvez saibamos quem era, mas é difícil de acreditar, pois essa pessoa faleceu há anos, mas estamos felizes dela ter se comunicado com você. Seu pai e sua tia Alex estão muito emocionados e já estamos discutindo a visão. Cuidado. E importante, mantenha-se próximo do Griffon. Ártemis está ótima e mandamos beijões e nosso amor.”

Senti-me ainda mais leve por eles saberem quem era na visão, mas como alguém já falecido poderia se comunicar comigo? E por que tanta ênfase em eu e o Griffon nos mantermos unidos? E por que eles estavam demorando tanto?!

Nesse momento, as portas do castelo se abriram e mesmo de longe reconheci Miyako, enrolada em casacos, correndo na minha direção. Quando finalmente chegou onde eu estava, me abraçou preocupada e já falando:

- Não adianta esconder! Eu vi quatro de seus patronos saltitando pelos jardins. Até a Emily ficou preocupada e me pediu para que viesse ver o que era, mas sabia que era algo importante.

- Sim, usamos legilimência e contei rapidamente o que era. Meus patronos foram avisar meus pais, tia Celas e Alex, além da Luna. E depois pretendo mandar corujas para o Ty e o Biel, por via das dúvidas.

- Então é algo importante! O que houve?

- Foi uma visão, me alertando de um perigo iminente. – Contei então como foi a visão e a sensação de conhecer aquela pessoa, assim como o que mamãe me contara usando seu patrono.

- Então era uma boa pessoa! Mas nunca ouvi de mortos falando com vivos assim.

- Eu também não.

- Então um dos dois, ou os dois, têm grandes poderes. Não entendi essa parte de selos e anjos. Mas sua família realmente corre perigo muitas vezes.

- Também não entendi tanta ênfase em manter a família unida, e eu perto do Griffon. Por falar nele, onde ele está?

- Ele parou para falar com uma garota – Mi falou após hesitar por um momento, medindo as palavras, pois sabia que eu não ia gostar.

- Ele o que?! Como aquele idiota consegue pensar nessas coisas numa hora dessas?! Olhe ele lá!

Griffon e a tal garota apareceram nas portas e me pus de pé, segurando o mau humor. Mi também levantou pronta para me segurar se fosse necessário. Griffon e a garota riam e ela se agarrava ao braço dele como se hipnotizada. Griffon a despachou sem cerimônia, dando um beijo de leve no rosto dela, próximo dos lábios, para fazê-la querer mais. Ele então veio calmamente na nossa direção.

- Então, Seth, o que foi que houve?

- Quem era ela para atrasar você em algo importante? – perguntei, sem esconder o mau humor.

- Calma mano, ta com ciúmes de mim? Sabe que não sei? Não lembro o nome...Mi, você conhece ela? Quem era?

- Era a Justina Rafeyer, quarto ano da Fidei. – Mi falou, tentando diminuir a tensão e colocando-se discretamente entre nós dois.

- Você sequer sabe o nome dela?! – Falei chocado e com raiva dessa vez. Eu podia sentir no ar, mesmo de longe, as esperanças da garota, o coração dela pulsando forte pensando que conseguiria algo mais com meu irmão.

- É necessário? Enquanto nos beijamos, não falamos muito, não? – Ele deu de ombros rindo e eu cerrei os punhos, controlando-me.

- Isso é ridículo, Griffon! E como tem coragem de falar algo desse tipo na frente da Mi?

- Não tem problema, Seth. Já estou acostumada. – Miyako falou novamente tentando acalmar a situação, ainda mais no meio de nós dois.

- Que seja, Seth. Então o que houve?

- Foi uma visão. – Falei após respirar e me acalmar – Um aviso de perigo e para que fiquemos juntos. – Contei tudo novamente sobre a visão e sobre a mensagem de mamãe, e ele ouvia parecendo pouco interessado.

- Bem, entendi. Mas sempre corremos perigo, não tem problema. Agora que já falou, tenho uma garota para não conversar. – Ele riu e virou as costas, eu então não me controlei e levantei falando com ele, alteando a voz.

- Você é realmente um idiota! Um verme nojento! Por que faz isso com elas?

- Não faço nada que elas não queiram. Que posso fazer se elas não resistem a mim? – ele falou também alteando a voz.

- Ei, ei, calma garotos! Não comecem a brigar por isso! – Miyako falou com força na voz, agora completamente entre nós, com uma mão no ombro de cada um, nos segurando.

- Mi, me desculpe, mas isso é entre eu e o Griffon, por favor, não adianta nos separar. – Falei afastando-a delicadamente enquanto falava novamente com o Griffon. – Isso é baixo e ridículo, será que você não vê Griffon? Você só está brincando com elas!

- E daí? Nem todos são certinhos como você Seth! Deixe eu me divertir!

- Garotos já chega! Não me obriguem a enfeitiçar vocês! – Miyako estava novamente no meio de nós dois, varinha em punho, pronta para nos separar. Mas eu e Griffon continuamos discutindo por cima dela, gritando um com o outro.

- Então é isso mesmo? Apenas diversão! Você não consegue ver o que as faz sentir? Como elas ficam desoladas com suas brincadeiras fúteis e idiotas?! Ou quer apenas esquecer da Emily, fazendo os outros sofrerem como você? Fazendo os outros sentirem a melancolia que você sente?

- Repita isso! – Ele gritou comigo, sacando a varinha. Mi soltou uma exclamação alta e se preparou para lançar feitiços em nós. Mas eu já estava de varinha em punho também, e ela parecia meio horrorizada com a briga, parecendo que não sabia o que fazer. A luz ao nosso redor começava a se intensificar e eu sabia o por quê.

- Eu repito: Você é nojento e está apenas se vingando nos outros, divertindo-se ao ver todas aos seus pés, para que você as dispense depois!

- Algo contra, seu idiota? Virou o defensor das garotinhas agora? Ohh entendi! Quer elas só pra você é? Está chateado porque seus “dons” já não atraem todas e cansou da sua namoradinha maluca?!

- Como ousa falar algo assim! Acha que eu gosto desse “dom”? Acha que gosto de sobreviver a custa da vida dos outros?! Acha que é divertido sentir a vida das pessoas desaparecendo para que a sua continue?! E não ouse falar que traio a Luna, seu grande imbecil!

Nenhum dos dois se segurou mais. Com um movimento rápido, tirei a Miyako do caminho, afastando-a um pouco, e desferi um soco no rosto de Griffon, arranhando seu ombro com minhas mãos. Ele para se defender, acertou uma joelhada sem jeito na minha barriga, enquanto da sua varinha e da sua mão livre saia um raio de luz intensa, que passou pelo meu ombro queimando-o. Miyako gritou assustada e enraivecida e levantou a varinha para nos separar, mas uma barreira já nos cercava e isolava. Lancei um feitiço com raiva contra ele, jogando-o longe, enquanto meus olhos ficavam vermelhos e as pressas à mostra. No mesmo momento os olhos dele brilhavam com uma luz branca.

- Vai me queimar? Vai me morder? – Falamos praticamente juntos e novos feitiços colidiram-se no ar. Os alunos que estavam no jardim começavam a se aproximar curiosos e outros corriam chamando os professores. Podia ouvir os passos apressados dos professores e dos alunos, assim como os gritos de Miyako para que parássemos.

Íamos lançar novas séries de feitiços, quando dois jatos brancos nos atingiram no peito, imobilizando-nos completamente. Madame Máxime, Professora Emily, Professora Tiercelin, o Professor Sir Shaft, e para nosso horror, mamãe, chegava correndo com a varinha em punho. O feitiço que nos parou só poderia ter saído de mamãe.

- Senhores Chronos!! Como ousam?! Vocês estão muito encrencados! Um mês de detenção, todos os dias! E estão proibidos de praticar alguma atividade extra! – A Diretora gritava furiosa conosco, mas não tirávamos os olhos de mamãe, cujo semblante misturava tristeza, choque, dor e raiva juntos. Seu olhar parecia nos queimar, enchendo-nos de vergonha e remorso.

- Máxime, gostaria de falar com meus filhos, a sós. – Mamãe falou com uma voz fria.

- Claro, Sra. Chronos. Professores ajudem-me a tirar os alunos daqui.

Ela e os outros professores afastaram os alunos, assim como Miyako ainda chocada e um tanto assustada com a ferocidade do duelo. Rapidamente o jardim ficou deserto e uma barreira nos envolveu. Ficamos em silêncio, cabeças baixas, sem coragem de encarar aqueles olhos frios.

- Eu saio de meu trabalho, deixo a Ártemis com seu pai, para ver como estavam meus filhos, para lhes explicar coisas importantes. E os encontro brigando! – Sua voz soou alta e forte.

- Mãe, nós... – começamos a falar, mas ela simplesmente nos olhou e ficamos calados.

- Nada justifica essa demonstração bárbara! Nada! Vocês foram treinados para usarem seus poderes para lutar contra seres e pessoas malignas. Não entre vocês! Vocês poderiam ter se matado, se eu não tivesse chegado a tempo e não fossem as restrições impostas a vocês por mim e seu pai! E pior, poderiam ter machucado ou até pior os outros alunos! Até mesmo a Miyako corria perigo! Não há desculpas para isso! Como ousam usar seus poderes em uma briga comum? E eu sei qual foi o motivo da briga!

Ficamos calados, sem forças e sem vontade de dizer algo. Mamãe ainda nos olhava com uma força capaz de nos imobilizar e seu lábio parecia tremer. Ela porém se aproximou de nós e nos abraçou. Começamos a pedir desculpas enquanto chorávamos como crianças, diante da vergonha que causamos. Ela curou nossos ferimentos antes de falar novamente.

- Vocês são dois, mas são um. É importante manterem-se unidos, é importante manter a família unida, ainda mais depois do aviso que recebemos. – Ela beijou nossos rostos e olhou no fundo de meus olhos, agora normais. – Seth, eu sei que você é uma pessoa doce e bondosa, que não gosta de ver os outros sofrendo, mas não justifica se meter na vida dos outros. – Ela olhou nos olhos de Griffon enquanto falava com ele – Griffon, você também é um amor de pessoa, carinhoso e bondoso, então por que brincar com os sentimentos dos outros? Gostaria que fizessem isso com sua irmã? Não vou obrigar vocês fazerem as pazes, vocês são irmãos e devem se entender.

- Está bem, mãe. – concordamos ainda cabisbaixos.

- Griffon você está proibido de jogar quadribol, de usar ou vender as Gemialidades e de usar seus poderes pelas próximas duas semanas. Seth você está proibido de ir ver a Luna por duas semanas também. E vão cumprir as detenções, juntos. Agora voltem às aulas.

Não tínhamos coragem nem de discordar, e acompanhamos mamãe até o castelo, onde ela despediu-se de nós e usou uma das lareiras. Griffon e eu nos olhamos, mas não trocamos uma palavra, indo a direções opostas, sem sequer olhar pra trás.

*N.A.: Os nomes Fuuma e Kamui, segundos nomes de Griffon e Seth respectivamente, foram retirados do anime e manga X-1999, do grupo de autoras CLAMP. A história se passa na virada do milênio, onde surgem dois grupos: os sete Selos, grupo que deve criar sete barreiras em Tóquio para proteger a humanidade, e os sete Anjos, grupo que quer destruir essas sete barreiras, pois para eles a humanidade é um mal para o planeta e deve ser destruída. Cada barreira destruída gera um terremoto e na queda da ultima, a Terra se rebelaria contra a humanidade, extinguindo-a. Os sete Selos também são chamados de Dragões do Céu e liderados por Kamui, enquanto os sete Anjos também são chamados de Dragões da Terra e são liderados por Fuuma. Só por constar: Arashi, é um nome retirado do mesmo anime, parte dos sete Selos. Ainda não achei um local para colocar o nome do meu personagem favorito, Sorata.

Thursday, December 20, 2007

It's gonna be...

°°° Uma semana antes das férias de Natal °°°


‘Você vai ao casamento do Rubens?’ Dora perguntou dobrando algumas peças de roupa dentro da mala. Sacudi os ombros.

‘Não sei. Acho que sim, mas não queria ir sozinha... Não quero que a Nicole pense que estou querendo confusão. E você?’

‘Vou sim, é claro. Vou passar essa primeira semana de férias em Paris, na casa da Nicole. Depois do casamento tenho que ir para casa.’

‘E não vai mais ver o Sávio nas férias?’

‘Não posso. Se minha família imaginar que estou namorando ele, sou expulsa de casa.’ Ela disse triste e voltou a atenção às roupas.

'Bom... Se você quiser ir passar a virada de ano comigo em Nova York... Acho que podemos dar um jeito de arrastar Sávio até lá, você não acha?’

Dora me olhou com uma renovada esperança. Sorri.

‘Você está falando sério, Isa?’

‘Claro que estou! Vai ser ótimo ter companhias para o Ano Novo, e eu não acho justo você e Sávio terem que ficar longe por causa de um capricho dos pais de vocês’

‘YAY! Isa, muito obrigada! Você é uma excelente amiga!’ ela correu até mim me abraçando apertado. ‘Vou escrever agora mesmo para Sávio! Ele vai adorar a notícia!’

Saiu correndo e eu continuei arrumando minha própria mala me sentindo satisfeita de poder ajudar. Mal tinha enrolado um par de meias, e Morgana entrou pelo quarto eriçando os pêlos de frio para espantar a neve. Deixou um envelope pardo cair na cama e pulou no meu colo.

‘Notícias do papai?’ Perguntei esperançosa e ela me olhou significativamente. Afaguei sua cabeça. ‘Obrigada. Pode ir descansar.’ Seus olhos de âmbar piscaram demoradamente em agradecimento e ela saiu pela janela. Abri o envelope.

“Isa,

Surgiu um imprevisto e vou ter que viajar ainda essa semana. Um curso na Itália que pode aprovar o meu projeto do ônibus espacial!
Não poderei passar com você o Natal, porém chego antes do Ano Novo (ou assim espero). Caso não queira passar o Natal sozinha poderá ir com Anabel para a Grécia. Tenho certeza que Rebecca ficará feliz!

Mas Henrique também a convidou para a ceia solitária em seu apartamento. Ele diz que ficaria muito agradecido se tivesse uma guia turista da cidade enquanto estão todos de férias. De qualquer maneira, nos encontraremos antes que volte às aulas.

Desculpe mais uma vez. Saudades. Torça por mim!

Com amor,
Richard”

Li e reli o pergaminho três vezes antes de bolar uma resposta.

“Papai,

O senhor não está muito saidinho não? Anda me abandonando demais nessas férias!
Mesmo assim, compreendo que é importante para o seu trabalho, e sabe que vou torcer muito para que tudo saia bem, não sabe? Fique calmo!

Quanto ao Natal, ficarei em Nova York mesmo. Sinto que Anabel, Rebecca e o restante da família Damulakis precisam de um tempo como dos antigos tempo, se é que me entende?! Por favor, diga ao Henrique que o farei companhia para a ceia e o apresentarei a cidade da melhor maneira possível.

Espero que consiga passar o Ano Novo conosco. Convidei alguns amigos!

Saudades! Beijos,
Isabel”

Passar o Natal com papai já seria muito bom. Mas passar o Natal só com Henrique de repente me pareceu uma excelente opção!

°°°

‘Oi!’ Henrique sorriu quando abri a porta e afastei para deixá-lo entrar.

‘Oi. – sorri de volta – Pode esperar um minuto? Só vou colocar mais um casaco e já estou pronta’

‘À vontade’

Corri até o quarto e apanhei mais um casaco e a bolsa. Iria para a excursão pela cidade de Nova York com o mais novo morador e turista dela. Quando voltei à sala, Henrique passeava por ela parando para olhar os porta-retratos.

‘Essa é você ou Anabel?’ Perguntou enquanto apontava para um retrato da Bel, recente.

‘É a Bel. Ela usa óculos e eu nunca precisei... ’

‘Mas são muito parecidas! Seu pai tem razão... ’ ele desviou das fotos me olhando. Ri.

‘Só aparentemente. Psicologicamente não somos nada parecidas! Vamos?’

‘Vamos’

Saímos de casa e estendi o roteiro de pontos turísticos que tinha preparado para nós. Li em voz alta.

‘Ok, primeiro vamos à Estátua da Liberdade. De lá seguimos para um passeio no Central Park e uma rápida visita no Metropolitan Museum of Art. Então vamos a Times Square, onde tem algumas lojas e lugares interessantes como o Museu de Cera. Tomamos café em Rockefeller Center e você conhece a árvore de Natal mais famosa do mundo. Passamos no Grand Central Terminal, na 5th Avenue (minha preferida para compras) – ele riu – aí seguimos para a Empire State Building e esperamos o pôr-do-sol de onde poderemos ter a melhor visão da cidade!’

‘Uau, você planejou um dia cheio, hein?’

‘Se você quiser cortar algum dos passeios... ’

‘Não, é claro que não! Adoro dias cheios! Ainda mais se estiver em boa companhia’ Ele falou e sorriu para mim. ‘Mas para completar a noite, comprei dois ingressos para “The Beaty and the Beast” na Broadway, com direito a um jantar no Le Bernadin depois. Se você aceitar claro?! ’

‘Vou adorar’ respondi sincera me sentindo corar.

°°°

Os passeios foram muito divertidos. Henrique e eu tiramos várias fotos na Estátua da Liberdade, Central Park, Empire State Building e no Museu de Cera, principalmente. Quando anoiteceu, ele me deixou em casa para trocar de roupa e voltou uma hora depois para me buscar.

‘Você está linda’ disse quando abri a porta a segunda vez naquele dia para ele. Sorri. ‘Sabe que estive percebendo uma mudança de cheiros na sua casa desde que você voltou das aulas?’ Disse minutos depois, enquanto abria a porta do carro para que eu entrasse.

‘Que mudança?’ Perguntei quando ele entrou.

‘Um cheiro novo de maçã’

‘São meus incensos’

‘Não sabia que você gostava de incensos!’ Ele disse surpreso.

‘Aprendi a gostar. Eles me deixam mais calma. E calma significa juventude’

‘Você é tão jovem ainda’ ele riu dando uma olhada breve para mim enquanto dirigia. ‘Mas tem um ótimo gosto. Também gosto de incensos e coisas esotéricas. Só não sou bruxo, como você e sua irmã, mas deve ser interessante’.

‘É... É bom’

O musical da Broadway e o jantar foram maravilhosos. Ele me perguntava sobre Beauxbatons, minha relação com a Bel e outras coisas da minha vida. Logo eu tomei liberdade de perguntar sobre a vida dele e descobri que tinha dois irmãos, um que morava na Austrália, outro que morava na Inglaterra. Tinha se formado em Engenharia da Aeronáutica e conseguido um estágio na NASA através de uma seleção bem acirrada de currículos, e agora havia sido contratado pelo mesmo departamento que papai, que estava o instruindo. Era, além de muito bonito, muito agradável, simpático e inteligente. As horas se passaram sem que me desse conta. Estacionou o carro na porta de casa e ficamos nos encarando. Sorrimos.

‘Boa noite’ disse abrindo a porta e me preparando pra sair. Ele segurou meu braço.

‘Tenho um presente pelo dia maravilhoso que você me deu’

‘Não foi nada!’ Comecei a dizer apressada mas ele abriu o porta-luvas e tirou um pequeno livro “O livro da sorte”.

‘Antes que você pense que é um livro didático ou de auto-ajuda, já adianto que não. Ele funciona assim... Você fica rodando ele e faz uma pergunta sobre amor, carreira, saúde... Enfim! Sobre o que quiser. Então, abre em qualquer página e lê se a mensagem é positiva ou negativa. Ele nunca me falhou’

‘E por que você está me dando?’

‘Por que ele me disse que você é a pessoa certa a quem devo compartilhar isso. Mas antes, quero fazer só mais uma pergunta...’ ele começou a girar o livro nas mãos e fechou os olhos concentrado. Quando parou, abriu em uma página e leu: “O Cometa: Um cometa rasga o espaço, o destino está marcado. A luz de uma boa estrela seguindo, forte, ao teu lado”. ‘Nada mal. As estrelas sempre me trouxeram coisas boas...’

‘O que você perguntou?’

‘Perguntei ao livro se você me daria um tapa caso eu te beije agora’ ele disse sem rodeios me encarando sério. Senti o estômago afundar e o coração acelerar o passo.

‘O livro te respondeu que o nosso destino está marcado. Ele te respondeu tudo o que precisava?’ Perguntei um pouco gelada e ele sorriu se aproximando e segurando meu rosto.

‘Respondeu sim. Tudo o que eu precisava e um pouco mais.’ Disse antes de me puxar para mais perto e me beijar lenta e intensamente.

It’s gonna be love
It’s gonna be great
It’s gonna be more than I can take
It’s gonna be free
It’s gonna be real
It’s gonna change everything I feel
It’s gonna be sad
It’s gonna be true
It’s gonna be me, baby
It’s gonna be you, baby
It’s gonna be love

N.A.: It’s gonna be love – Mandy Moore

Monday, December 17, 2007

Meninos do Rio...

Por Gabriel Storm Lupin

- Falta um, o Pedro viajou – Sandro contou outra vez – Precisamos de reforço pro time, não podemos jogar com um a menos!
- Ok, deixa comigo!

Chutei a bola de volta pro Breno e corri pela areia até onde Chris estava sentado brincando com Nicholas. Já havíamos voltado pras férias de fim de ano e como todos passariam o natal na minha casa, ele veio comigo depois do jogo de quadribol no Texas para voltar com o tio Kegan e a tia Karen dia 26. Ele ajudava Nicholas a montar um castelo de areia e enfrentavam dificuldade em mantê-lo de pé sem magia.

- Precisamos de mais um pra completar o time, quer jogar? – falei parando ao lado deles
- Ah não sei, não sou muito bom em futebol. Prefiro quadribol
- Ninguém é profissional, é só um time de amigos, jogamos nas férias pra nos divertirmos. E você os conhece, vamos!

Chris inclinou o corpo e olhou na direção das traves. Igor, Luiz, Breno e Sandro brincavam de cabecear a bola e Breno, sem camisa, fazia jus ao apelido de cotonete. Ele era incrivelmente magro e alto! Sandro fazia o estilo moderninho e andava sempre arrumado, até a sunga de praia dele era diferente. Igor era o gordinho do grupo e também o mais desinibido, o pé de valsa das festas. E o Luiz era o tímido e ao mesmo tempo atrevido, e que agora queria virar modelo. De todos eles apenas Igor também era bruxo e estudava no Instituto Brasileiro de Magia. E para minha total inveja, todos estavam de férias até Fevereiro. Chris os observou por um instante e me encarou.

- E ele? – Disse indicando Nicholas
- Nicholas, você se importa de brincar mais perto das traves? – Ele fez que não com a cabeça e levantaram – Só não fique perto demais para não levar uma bolada
- Gabriel, eu sou muito ruim jogando futebol, é serio – Chris falou preocupado e ri
- Nota-se que você nunca viu a gente jogando...

Chegamos perto dos outros e eles pararam de brincar, cada um indo para sua posição. O time adversário já estava esperando, e eram os garotos mais malas da cidade. Moravam todos no prédio vizinho ao nosso e tínhamos uma rixa desde crianças. Artur, o mais encrenqueiro da turma de lá, começou o jogo. E o que era pra ser uma pelada de fim de tarde se transformou numa batalha à moda da Roma antiga. Éramos 12 gladiadores correndo pelas areias da praia do Leblon tentando forçar a bola, coadjuvante no embate, a atravessar as balizas protegidas pelo Igor e pelo cão de guarda do Artur, Rafael.

Chris havia entendido que para sair vivo teria que abandonar a diplomacia e passou a ir com tudo para cima deles nas tentativas de roubar a bola. Já ficando irritado porque ganhávamos de 2 x 0 e eles ainda não haviam conseguido fazer nenhum gol em cima do Igor, Artur veio correndo feito um touro e acertou Breno com um carrinho. Breno rolou na areia e foi parar longe, não levantando de tanta dor. Corremos até ele e vi os outros rindo debochados.

- Está vivo? – Igor virou o corpo dele e o deixou de barriga pra cima – Quantos dedos têm aqui?
- A pancada não foi na cabeça, seu burro – Luiz empurrou Igor pro lado e rimos –Conseguiu anotar a placa do caminhão ou nem viu ele chegando?
- Como é que é, maricas? – ouvimos Artur gritar e os outros rirem – Vamos jogar ou não?
- Depende – Respondi irritado ajudando Breno a se levantar – Vamos jogar direito ou vai continuar fazendo faltas desnecessárias?
- Não tenho culpa se esse cotonete ai não agüenta uma pancadinha. Devia fazer balé ao invés de jogar futebol. Isso é esporte de homem, não de mulherzinha
- EI – Sandro apontou o dedo na cara dele e nos assustamos. Ele odiava confusão – Só a gente pode chamar ele de cotonete, seu jeca tatu!

Bingo. Sandro tinha atingido o pronto fraco dele. Artur morava no prédio vizinho desde os 8 anos, tinha sido o último a chegar de todos os garotos e veio com a família do interior do Rio, depois que o pai dele enriqueceu. E tudo que ele mais odiava era ser chamado de caipira e similares, quando seus maiores esforços eram esconder o sotaque do interior, forçando o sotaque carioca.

- Pois é, e se futebol não é esporte de mulherzinha, está jogando por quê? – Provoquei também, motivado pela bravura repentina do Sandro – As meninas que jogam aqui de manhã deixam você no chinelo!
- Ele já jogou com elas, Gabriel – Luiz chegou com Breno apoiado no ombro – Poucos dias antes de você voltar da escola estava aqui na praia e vi quando eles desafiaram as meninas. Foi uma lavada histórica. Aliás Rafinha me tira uma duvida: qual o gosto da areia de praia?

Dois dos garotos ainda tentaram segurar o Rafael, mas ele e Artur já tinham avançado pra cima da gente. Luiz largou Breno no chão e partiu pra cima dele sem nem pensar duas vezes e Igor e eu detemos Artur antes que ele chegasse ao Sandro. Igor era grandalhão e não precisou de muito esforço para jogar ele na areia. Queria poder sacar a varinha e estuporar todo mundo, e sabia que Chris compartilhava desse pensamento comigo, mas não podíamos, ainda éramos menores de idade. Ele correu para pegar Nicholas e quando Breno gritou de dor por um dos garotos ter pisado no seu pé já torcido, Igor se irritou e prendeu o pescoço de Artur nos braços.

- Solta o Luiz, Rafael! – Gritou enquanto enforcava-o. Não sabia se ria ou se ficava sério – Eu juro que torço o pescoço do caipira se você não soltar!

Rafael ainda olhou descrente para Igor, mas quando ele apertou com mais força o pescoço do Artur, ele soltou o Luiz e todos os outros se afastaram. A gente sabia que o Igor não tinha coragem de matar nem mesmo uma mosca, mas eles não sabiam disso. Ele soltou Artur quando Luiz já estava salvo do nosso lado e como num passe de mágica todos desapareceram pelo calçadão.

- Que legal! – Nicholas veio correndo arrastando Chris pela mão – Você ia mesmo quebrar o pescoço dele??
- Não, só queria assustar o valentão – Igor riu – Depois ensino uns truques pra você
- Alô, será que alguém pode me ajudar aqui? – Breno falou alto sacudindo os braços no alto – Torci o pé, não consigo levantar!

Fomos até ele rindo e o ajudamos a levantar, voltando para o prédio. Como minha mãe era a única mãe em casa, fomos direto pro meu apartamento. Quando entramos pela porta da cozinha com Breno apoiado nos ombros e os cabelos bagunçados e cheios de areia, ela parou o que estava fazendo e veio correndo assustada.

- Pensei que tinham saído para jogar bola! – Disse nos empurrando e levando Breno até o sofá
- Foram os garotos do Village – Falei sério e ela entendeu logo
- Quando vão parar com essa rixa boba? Não estão grandinhos demais não?
- São aqueles babacas filhos da mãe que começam sempre!! – Luiz respondeu alto
- Luiz Eduardo! Olha os modos! – Mamãe chamou a atenção dele
- Desculpa tia... – Luiz ficou vermelho e rimos
- Tia, acha que pode dar um jeito nele? – Igor indicou o pé torcido – Sabe, com magia. Não podemos fazer nada, mas uma curandeira tão boa quanto você pode...
- Não precisa puxar meu saco, Igor – mamãe riu e levantou do sofá – Vou resolver isso em um instante, esperem aqui

Mamãe foi até o escritório e voltou minutos depois com alguns vidros de poções, fazendo Breno beber todas. Ele fazia careta com os gostos horríveis, mas engoliu assim mesmo. Ela convidou todos para ficarem para o lanche e passamos o resto da tarde no meu quarto jogando videogame e comendo besteiras, ninguém com pressa de ir pra casa. Só quando mamãe bateu na porta do quarto, já de noite, dizendo que o interfone não parava de tocar com mães pedindo que ela devolvesse os filhos, eles foram embora. No dia seguinte íamos levar Chris e Nicholas pra conhecer o Parque da Tijuca de bicicleta e à noite íamos a um ensaio de escola de samba. Adorava estudar fora, com o ano letivo trocado, mas não via a hora de me formar e voltar a morar aqui, com o horário normal que estou acostumado, podendo passar carnaval em casa e não só me contentando com os relatos dos meus amigos. Calma Gabriel! Só mais um ano e meio, e tudo volta ao normal...

Tuesday, December 04, 2007

Fazia duas semanas que as Olimpíadas haviam terminado e nossa rotina já estava 100% de volta ao normal, com a diferença de que agora o correio coruja viajava para alguns lugares a mais do que antes. As aulas estavam cada dia mais carregadas, mas estava conseguindo estudar sem desesperos. Mas os treinos não. Esses estavam pesados, cansativos e nem sempre rendiam bons resultados. Estávamos em 1º lugar no nosso grupo, mas em 4º na classificação geral do campeonato. O treinador Boone ficava a ponto de estourar uma veia a cada jogada errada feita nos treinos e ameaçava mudanças drásticas há semanas. E a aparição repentina dele no fim das aulas daquele dia me dizia que vinha algo novo por ai.

- Boa tarde, Harold – o treinador Boone abriu a porta da sala e sorriu amigável para o professor de Cálculos. Rimos
- Ah, Herman – Collins respondeu indiferente – Veio checar se não vou prender seus jogadores em mais alguma detenção?
- Exatamente. Para que mentir a você? – ele nos encarou sério e já íamos recolhendo o material, mas sem saber se levantávamos ou não
- Podem ir, sem detenções hoje – Collins falou cansado repousando os óculos redondos na mesa – Lupin, ainda quero aquele dever na minha mesa até amanhã
- Vou entregar professor – respondi passando por ele aliviado – Amanhã, sem falta

Trocamos de roupa no vestiário e caminhamos para o campo junto com o resto do time. O treinador não parava de rabiscar a prancheta e hora sorria animado, hora fazia cara de descrente e tornava a rabiscar. Ninguém ousou interromper aquele momento e perguntar quando o treino ia começar, então esperamos quietos. Depois de quase meia hora ele colocou a prancheta debaixo do braço e fez sinal para nos reunirmos perto dele. Sentamos no gramado e o encaramos curiosos. Ele sorriu, mas logo ficou sério.

- O time que vem jogando as partidas do campeonato está longe de ser o time que imaginei para essa temporada – disse sem rodeios – Não há entrosamento e com isso os passes saem errados. Não há liderança e com isso o time fica perdido. Não há comunicação e dessa forma minhas ordens não são repassadas. A partir de hoje vamos corrigir esses erros. – ele puxou a prancheta novamente e podia sentir a tensão entre cada um dos garotos sentados perto de mim. Ele ia mexer no time titular, ninguém mais tinha dúvida – Quando ouvirem seus nomes quero que fiquem de pé e peguem a camisa nova nessa caixa – disse batendo numa caixa de papelão que até então não havia sido notada – Peter Harris Bertier, vem pegar sua camisa

Peter, que estava sentado atrás de mim, deu um salto tão empolgado da grama que quase caiu em cima de mim. Ele correu até a caixa e tirou a camisa com o nome dele nas costas e o número 05. O modelo novo era totalmente diferente, todo branco com apenas algumas listras vermelho escuro. Mais bonito que o antigo. Boone sorria satisfeito e abaixou os olhos para a prancheta outra vez.

- Spencer Michel Hannigan, pode levantar – Spencer não esperou falar duas vezes e correu para o lado de Peter, ambos muito animados. Sean e Evan se entreolharam receosos – Para formar minha dupla de batedores, sem mudanças. Evan Green Hawke e Sean Ronald Bass, para o lado de cá.

Os dois deixaram um suspiro de alívio bem audível escapar e saltaram do chão, apanhando as camisas novas e cumprimentando os outros dois. Os que iam restando não escondiam a aflição e eu era um deles. Estava me dedicando muito aos treinos e não queria ficar no banco.

- No gol, Matthew Curtis Reid – Matt soltou uma exclamação de felicidade e todo mundo riu. Boone esperou que ele pegasse a camisa e continuou – Completando o time de artilheiros, direto do Alabama, Wes Allen Bentley. Levanta cowboy, é você mesmo – completou rindo

Wes me olhou chocado quando ouviu o nome e empurrei-o rindo. Ele levantou ainda sem acreditar muito e caminhou devagar até os demais. Tentei me segurar, mas foi impossível. Olhei para o lado e vi que Josh tinha uma expressão de pura incredulidade. Sabia que tudo que ele mais queria naquele momento era questionar a decisão do treinador, mas nem ele seria louco o suficiente para tanto.

- E por último, mas não menos importante – a voz dele me trouxe de volta ao campo e o encarei tentando disfarçar a ansiedade – A parte essencial do time e que vai liderá-lo com o título de capitão, Gabriel Storm Lupin. Venha se juntar ao seu time, Lupin.

Eu ouvi meu nome, pude até mesmo ler os lábios dele o dizendo, mas não me movi. Estava tão chocado quanto Wes, talvez até um pouco mais. Ele disse... capitão?? Fiquei estático sentado na grama até que meus companheiros de time que ainda estavam sentados começaram a me dar tapas nas costas animados e me empurraram para o alto. Caminhei ainda sem acreditar até os demais e a ficha somente caiu quando o treinador Boone prendeu a faixa preta com o C no meu braço. Um sorriso animado começou a surgir no meu rosto e encarei Evan e Sean, que eram os mais empolgados. Os três artilheiros e o goleiro também não pareciam ter alguma objeção e sorriam.

- É com esse time que pretendo trazer o campeonato para nossa escola. Confio nele, e sei que não me decepcionarão. Pretendo seguir com essa formação até o fim. Storm, leve seu time para o alto – falou virando outra vez para os demais - Agora, O’Toole, Portman, Greenwood, Campbell, Bennet, Hopper e Paxton são o time adversário do treino hoje. Os demais façam aquecimento na lateral do campo por meia hora e comecem os exercícios da semana passada.

Os garotos do time reserva levantaram depressa e pegaram as camisas de cores inversas e logo estavam todos no alto, aquecendo com a goles. Eu ainda estava no chão e vi quando os que ficaram de fora começaram a correr ao redor do campo, menos Josh. Ele sentou na arquibancada com cara de poucos amigos sem dar sinais de que sairia dali. O treinador percebeu também e foi até ele. Fui atrás, fingindo que queria falar com ele para ouvir.

- Pace, quer falar alguma coisa comigo antes de começar o aquecimento? – Boone falou parando na frente dele. Josh deu uma risada debochada
- Não ‘treinador’ – falou arrogante – Mas não estou com vontade de correr feito um cavalo de corrida pelo gramado. Acho que vou observar o treino daqui hoje.
- No meu campo você não tem querer, Pace – Boone estava espantado com a ousadia de um aluno em lhe desobedecer – Sei que está com raiva porque lhe tirei do time titular, mas mudanças são necessárias. Tenho plena certeza que Lupin irá preencher os buracos abertos desde o inicio da temporada
- Ah claro, ele conseguiu o que tanto queria. Desde que chegou aqui estava de olho no meu posto. Quanto ele pagou pela braçadeira?
- EI! Não estava de olho em nada, e você sabe disso! – me meti na conversa indignado. Boone notou pela primeira vez que estava atrás dele – Você perdeu o posto quando traiu seus amigos, e ninguém obedecia mais nada que você mandava em campo!
- Storm, o que está fazendo aqui? Não mandei aquecer com o time?
- Você pensa que sabe liderar, não é? – Josh ria debochado – Pois vou estar na 1ª fila do próximo jogo e rir quando vocês perderem. Vão implorar para que eu assuma o posto outra vez!
- Se enxerga garoto! Será que consegue ouvir o que diz? Não é a toa que sua namorada te deu um pé na bunda!
- Cavalheiros, por favor, chega. Pace vá aquecer agora. Storm, para junto do resto do time! – Boone estava entre nós dois já prevendo confusão
- Cala essa boca! Não fala do que você não sabe!
- Por que não? Falar do que não sabe parece ser sua especialidade. E quer saber mais? Sua ex-namorada está cada vez mais amiga do Micah. Acha que eles vão ficar? Eu apostaria que sim...

Antes mesmo que pudesse piscar Josh já tinha saltado para cima de mim, mas o treinador o segurou com força e encerrou a briga antes mesmo dela começar. Ele me empurrou para trás e continuou entre nós dois. Josh se soltou do braço dele irritado. Seu rosto estava vermelho.

- Vou mandar pela última vez. Pace, para o aquecimento. Storm, para o alto!
- Não pode mais me dar ordens, porque eu estou fora! – Josh tirou a camisa de treino e jogou no chão, pegando a mochila na arquibancada – Boa sorte com seu novo time, pois vai precisar!

Ele deu as costas para nós dois e saiu do campo sem olhar para trás. Boone não pareceu se abalar com a decisão dele de sair e me olhou erguendo a sobrancelha, que entendi como o derradeiro aviso para me aquecer. Montei na vassoura e logo estava junto com os outros. Esse treino hoje teria que voar. Precisava mandar uma carta a alguém que ia rir muito com o que acabou de acontecer...

*********

‘Saudações californianas!

Como estão as coisas aí no Pólo Norte? Já esbarraram com o Papai Noel?
Sei que a carta da semana já foi enviada, mas tenho novidades excelentes e precisava de mais uma para contar o que acabou de acontecer por aqui.

Houve mudanças no time titular de quadribol, o treinador mudou tudo, e os únicos antigos que permaneceram foram eu, Sean e Evan. Sim, isso mesmo, Josh está fora e não foi escalado nem mesmo para treinar no time reserva no dia. Se acalmem, fica melhor. Com a saída dele, o time precisava de um novo capitão. E adivinhem quem foi o escolhido? Se vocês não falaram ‘Gabriel’, considerem os laços de amizade cortados! Sou eu mesmo! Nem acreditei quando o treinador falou, precisei de alguns segundos para assimilar a novidade. Tudo bem que isso implica em treinos mais pesados que nunca e mais cobrança, mas acho que dou conta.

E quando falei que ficava melhor, não tinha chegado à parte boa ainda. Diante da humilhação de ser cortado até mesmo do time reserva de treino, Josh se rebelou contra o treinador e abandonou o time. Saiu revoltado, jurando nunca mais voltar e rogando praga pra cima de mim e do time, dizendo que vamos afundar. Ele é uma piada, não é?

Nosso próximo jogo, o meu primeiro no comando, é daqui a duas semanas conta o Texas Bulls, na casa deles. Podem tratar de dar um jeito de aparecer por lá, quero todos os meus amigos assistindo! Já enviei uma carta para a Miyako, Seth e Griffon falando a mesma coisa, portanto peçam autorização para usar uma chave de portal por aí ou encontrem alguém que saiba aparatar, mas não faltem.

Espero vocês lá!

Abraços animados,
Gabriel’


Dei uma ultima lida e selei o pergaminho, prendendo na pata da Osíris e deixando-a voar pela janela do correio da escola. O sinal tocou e voltei para o prédio para a aula de astrologia. Tomara que eles possam vir, vai ser muito bom ter todos eles perto quando for fazer minha estréia como capitão do Californiam Coyotes. Não poderia ter acontecido nada melhor pra mim.

Wednesday, November 28, 2007

A delegação de Durmstrang havia acabado de partir e nos despedimos de Ty, que saiu aborrecido com a tia Alex depois de ouvi-la contar a mamãe e tia Yulli que ainda gostava do tio Logan. Ainda tentamos falar com ele, mas Ty estava irredutível e sumiu entre os alunos com os uniformes vermelhos.

Separei-me de Miyako, Griff, Seth e Maddie quando a delegação de Beauxbatons e os voluntários franceses começavam a se reunir para partir e fui até a enfermaria procurar minha mãe. Parei na porta e vi Ian e ela de frente um pro outro. Fiquei encostado na porta ouvindo, eles não tinham me notado ainda.

- Sem ressentimentos, chefinha? – Ian estendeu a mão sério, mas depois acabou rindo
- Não sou mais sua chefe, pode me chamar de Louise, Ian – mamãe riu e apertou a mão dele – E sem ressentimentos. Contanto que não tenha mais que trabalhar com você, está tudo ótimo!

Ian jogou a mochila nas costas rindo e se encaminhou para a saída. Parou quando me viu e estendeu a mão outra vez.

- Vou tentar trocar algum plantão para conseguir assistir a um dos seus jogos com a Maddie. Foi bom rever você aqui, Harry Potter
- Também foi bom rever você, Chapolin – apertei a mão dele rindo – Nos vemos em breve

Ele acenou mais uma vez para minha mãe e sumiu pelo corredor da escola, indo se juntar aos demais voluntários da França que já se reuniam no jardim para pegar a chave de portal. Entrei na enfermaria e minha mãe sorriu, terminando de arrumar as coisas. Ela era a última ali, tia Sam já tinha ido embora com o tio Josh.

- Ian importunou muito nessas três semanas? – perguntei rindo e sentando em uma das camas
- Um bocado – ela fechou a mochila e ficou de frente para mim – Ele é muito piadista, mas também é muito atencioso com o que está fazendo, e muito certinho também, não gosta de cometer nenhuma falha. Lembra um pouco de mim quando comecei a estagiar no St. Mungus
- Não consigo imaginar o Ian trabalhando sério em nada, sempre o vejo brincando e fazendo piada com a cara dos outros
- Pois na hora de atender um paciente, ele é outra pessoa. É sério, concentrado e muito prático. Vai se tornar um excelente curandeiro, mas ainda precisa crescer em algumas coisas. Quem sabe se ele se sentir responsável por algo mais sério na vida pessoal o ajude. Mas ele tem futuro, pode apostar

Sorri e mamãe foi terminar de fechar a última bolsa de coisas. Quando terminou percebeu que a encarava sério e ela parou ao meu lado, me olhando desconfiada.

- O que foi Gabriel? – disse sentando ao meu lado
- Nada, por quê?
- Conheço você, e quando fica quieto me olhando é porque quer falar alguma coisa. A delegação da sua escola não saiu ainda?
- Não, ainda tenho meia hora, Beauxbatons está saindo agora – respondi vago e olhei para ela – Você odiou a Maddie, não é?
- Quem? – perguntou confusa
- Minha namorada, Madeline – respondi ainda olhando para ela e mamãe pareceu entender – Você olhou torto para ela durante toda a Olimpíada
- Eu não odeio a menina – respondeu na defensiva – E não olhei torto para ela!
- Olhou sim, mãe. A senhora julgou ela sem nem ao menos conhecê-la! Não esperava que fosse cair de amores, mas esperava ao menos que fosse mais simpática – voltei a encarar o chão antes de continuar – Ela é importante pra mim. É minha primeira namorada, e gosto muito dela
- Desculpe, não era minha intenção chatear você. Mas tente ser compreensivo, ainda não me acostumei a isso – mamãe disse séria e voltei a olhar para ela – Ela esteve aqui algumas vezes, com a namorada do Ian. E em uma das vezes a ouvi dizer a eles que achava que não tinha me agradado muito e estava preocupada, porque gostava de você
- Quando pretendia me contar isso? – falei erguendo a sobrancelha
- Não pretendia, ainda estava processando a idéia – falou sincera e ri – Ciúmes, admito. Ciúme de mãe por saber que perdeu o filho para outra mulher. Sei que você não é mais criança e preciso me adaptar a isso ainda. Me desculpe, ok?
- Vai ser mais compreensiva?
- Sim. E se ela é tão importante assim para você, por que não a convida para passar o Natal conosco? Me dê a chance de conhecê-la direito e formar uma opinião.
- Tem certeza? – perguntei surpreso e ela confirmou sorrindo. Sorri mais animado – Obrigado. E mãe, você não me perdeu para outra. Você vai ser a mulher da minha vida.

Mamãe sorriu e apertou meu pescoço, me cobrindo de beijos. Quando me soltou pude notar que estava muito feliz, e não parava de sorrir. Aproveitei a deixa para brincar com ela.

- Mas então, quando vai seguir o exemplo da tia Yulli e me dar um irmãozinho ou uma irmãzinha? – perguntei sonso e o sorriso evaporou do rosto dela. Prendi o riso
- Se quiser outro cachorro eu compro pra você. Podemos abrir até um canil, mas tira essa idéia de que vou engravidar outra vez da cabeça!
- Mas mãe, não seja tão ruim com o meu pai! Dê a ele a chance de criar um filho dessa vez! Poxa, ele perdeu toda a diversão!
- Quer me ver irritada depois de me agradar, Gabriel? Pois está conseguindo! – falou revoltada e comecei a rir, então ela relaxou e riu também

Esperei até que ela terminasse de recolher as coisas e saímos juntos da enfermaria. Quando o diretor da escola do Arizona ordenou que nos reuníssemos no lago para partir me despedi dela e do meu pai e me juntei aos meus amigos, já com saudades dessas três semanas, e contando os dias para o Natal.

Friday, November 23, 2007

plantão de noticias 3

By Jaeda Smith, direto de Hogwarts


Caros leitores do Rangers, este é meu último boletim informativo sobre as olimpíadas e já há um sentimento de saudade no ar, pois estas três semanas foram simplesmente mágicas, levarei na memória o som da alegria no pódio, e muitas vezes o choro sentido dos atletas que não conseguiram as medalhas almejadas para sempre em meu coração.
A última etapa destes jogos é em Hogwarts, e o porquê disso? Porque foi nesta escola em que ocorreram os dois eventos que definiram a sobrevivência do nosso mundo. Um deles foi a morte de Alvo Dumbledore, um bruxo de enorme poder e que até hoje meses após sua a morte, os alunos e professores sentem a sua falta e por que não dizer, aqueles que o conheceram continuam com o seu legado de ensinar, e orientar os jovens bruxos para um mundo melhor. E o outro evento foi a vitória de Harry Potter sobre Voldemort, o maior bruxo das trevas que já existiu, aqui mesmo nos terrenos de Hogwarts. Em alguns lugares ainda é possível ver a destruição da qual foram vítimas, mas o bem mais precioso desta instituição não foi enfraquecido: o amor pelo ensino, pois a atual diretora Minerva McGonnagal, inspira não só respeito dos jovens alunos, como tem a admiração de muitos ex-alunos que foram voluntários neste evento apenas para fazer com que estes jogos fossem um sucesso e alguns se ofereceram para ajudar a reconstruir o que foi danificado. No último dia aqui, foram realizadas competições com os voluntários e foi um verdadeiro espetáculo. Contarei sobre isso, numa reportagem especial. Aplausos a eles.
Nestes jogos, tive a honra de conhecer Harry Potter, já sabia que ele era jovem, mas o que mais me surpreendeu foi ele ser um jovem tímido que tem as mesmas preocupações que nós: estudar, namorar, planos de carreira (ele vai ser Auror, nada mais apropriado) e senti que enquanto houverem jovens com a sua coragem e sua humildade, nosso mundo estará seguro, pois aqui a barreira da língua, e dos costumes foi superada com mímicas, e grandes amigos foram feitos. Uma das coisas que os participantes dos jogos olímpicos tinham em mente era: o mundo seja ele bruxo ou trouxa sempre será melhor quando a tolerância, e o respeito aos diferentes for a prioridade.
Até os próximos jogos!

Abaixo um resumo das competições da semana:
- Equipe da Durmstrang ganha ouro na Montaria (equipe), Equipe de Beauxbatons fica com a prata e a equipe do Brasil leva o bronze.
- No Trancabola, a Espanha ganha Ouro. Irlanda fica com a Prata e EUA fica com o Bronze.
- Durmstrang arrebata as 3 medalhas na final de natação. Parabéns Milla, Lavinia e Evie.
- Beauxbatons ganha ouro na esgrima, Durmstrang fica com prata e bronze respectivamente.
- Afonso Toledo da Espanha ganha de Harry Potter (Hogwarts) na Esgrima (modalidade Espada). Tyrone McGregor (Durmstrang) fica com o Bronze.
- Chris Parker (Durmstrang) ganha Ouro no tiro esportivo (Carabina) e Diego Stanislav (Espanha) fica com a Prata, o bronze foi para Shaoran Lee (Japão)
- Helena Sanchez ganha Ouro no tiro esportivo (Alvo móvel). Shannon Austen (EUA) fica com a Prata e Amber O’Shea (Escócia) com o Bronze.
- Beatrice Sheridan (EUA) ganha Ouro no tiro esportivo (Carabina), a prata foi para Mary McKellen (Irlanda) e Salma Portobello (Espanha).
- Christopher Parker fica com o Ouro na Esgrima (Florete). Santiago Toledo fica com a Prata e Micah Wade com o Bronze.
- Decatlo Micah Wade (Durmstrang) ganha ouro, Gabriel Storm (EUA) prata e Karl Von Griffen (Alemanha) bronze.
- Arquearia (Arco composto) Marta Toledo (Espanha) ganha o ouro, Ludmilla Kovac (Durmstrang) fica com a Prata. Arabella Schiorra (Itália) fica com o bronze.
- Arquearia (Arco recurvo) Amber O’Shea (Escócia) ganha Ouro, Sophia Caprese (Itália) fica com a Prata, o bronze foi para Caitlin O’Bannion (Irlanda).
- Christopher O’Shea (Durmstrang) fica com o ouro no Pentatlo, Padraic O’Sullivan (Irlanda) fica com a prata e Kenosuke Sagara (Japão) fica com o bronze.
- Diego Stanislav ganha Ouro no Xadrez de Bruxo. Christopher Parker fica com a Prata, Dominic Monaghan (Escócia) fica com o bronze.
- Jaeda Smith (EUA) ganha Ouro na Ginástica Rítmica. Chloe O’Shea (Escócia) fica com a Prata e Letícia Sanchez (Espanha) com o Bronze.
Obrigada a todos os recados de incentivo que recebi. Pude sentir a vibração de vocês a milhares de km de distância. O ouro é de vocês.
Até breve!

Querida Rory,
A semana aqui voou, mas foi animada, pois houve até pancadaria. Não, não estou falando do jogo de Trancabola que foi um verdadeiro massacre, mas entre duas garotas. Conto os detalhes quando chegar em casa. E vou querer saber tudo sobre você ter saído com Brian. Não adianta fazer esta cara, ele me escreveu contando e disse que você é uma garota fascinante. O que vocês beberam? Suco de letrinhas? Brian não conhecia a palavra fascinante *rindo muito*.
Um abraço amiga, e se prepare: teremos muito trabalho pela frente.
Abraços
J.S.

Saturday, November 17, 2007

‘Medalha de ouro para Miyako Kinoshita, de Beauxbatons. Parabéns!’ Viera levantou meu braço sem conseguir disfarçar a satisfação que sentia.

Sorri agradecendo e recebendo a medalha. Evie e Lavínia ocupavam a segunda e terceira colocação, respectivamente. Evie, após a final no florete, me cumprimentou parecendo realmente feliz que eu tivesse ganhado. Mas Lavínia se mantinha no podium firme e decidida a me ignorar. E decidida a fazer aquela cara de quem estava com quilos de bosta de dragão embaixo do nariz. Não estava me importando. Havia treinado muita Esgrima para conseguir aquela medalha, e não seria ela a me deixar preocupada...

Assim que desci do podium, mamãe e Sergei me agarraram em abraços apertados, seguidos de perto por meus amigos e tantos outros ‘tios’. Até tio Scott parecia estar se divertindo bastante ali. Era o penúltimo dia das Olimpíadas e nada parecia sair errado, só que eu já começava a me sentir um pouco depressiva em voltar para Beauxbatons e rotina, sem meus amigos, sem as competições, festas... O restante do ano passaria se arrastando, com certeza.
Assim que deixamos o ginásio e chegamos aos jardins gramados de Hogwarts, Ricard me puxou e me deu um beijo longo, me levantando alguns centímetros do ar e me rodando. Sorri.

‘Estava te procurando’ falei quando ele finalmente me colocou no chão.

‘Eu fiquei sem graça de me intrometer no meio da sua família... ’ ele disse um pouco constrangido. Balancei a cabeça.

‘Pois não precisa. Eles iriam te adorar’

‘Por que não iriam adorar o Ricard, não é mesmo? Ele é o genro que toda mãe pediu a Merlin... ’ uma voz sarcástica falou às minhas costas e involuntariamente meus punhos se fecharam. Ricard se adiantou de modo a ficar na minha frente enquanto Lavínia avançava sorrindo.

‘Parabéns pela medalha, Vina’ Ricard falou sério. A menina não tirou o sorriso irônico do rosto.

‘Muito obrigada, Dragash. Mas não que você se importe com as medalhas de bronze não é mesmo? De uns dias para cá, você parece ter se esquecido dos seus amigos, da sua escola. Parece já ter adotado novas famílias... ’ ela disse azeda. Ricard enrijeceu o corpo. Ri alto.

‘Ai, ai, ai... Nossa. Estou sentindo náuseas. Como você consegue ser hipócrita quando quer, Lavínia!’

A partir desse ponto, Ricard já não tinha mais nenhum controle sobre as mãos. Pois Lavínia fechou a cara e eu sentia meus punhos tão apertados que estavam queimando as palmas das mãos. Só precisava de um incentivo... E ele não demorou a aparecer.

‘Hipócrita? Eu? Quem está se fazendo de moça de família agora, mas que tenho absoluta certeza que vai abandonar Ricard assim que entrar naquela maldita carruagem e voltar para sua própria escola, hein? Não sou eu...’

‘E QUEM você pensa que é para julgar o que eu vou fazer ou não vou fazer? Logo você, a defensora dos frascos e comprimidos??? Você que se preocupa mais com seu melhor AMIGO do que com seu próprio namorado?’

‘Você também me pareceu muito preocupada com a vida do Ty!’ Ela já começou a gritar e a perder a razão. Quer dizer, ela nunca teve uma razão, de fato. Ri.

‘Claro que me preocupo com a vida dos meus amigos. Mas você quer ter o controle dela em suas mãos. Ainda não aprendeu que amigos não são marionetes. Muito menos, terapeutas dando plantões na hora que você precisa!’

‘Ohhhh, então Ricard já te contou tudo sobre nossas conversas é? Ele que gosta de bancar o terapeuta, não sou eu quem procura um...’

‘Você precisa é de um psiquiatra, isso sim’ respondi agressiva.

Ela pareceu chegar ao seu limite, pois avançou para cima de mim prestes a me bater no rosto. Graças ao quadribol, à esgrima e algumas aulas com o Ty, meus reflexos eram bastante bons, pois segurei o braço dela no ar e o torci até os olhos dela marejarem de lágrimas.

‘Escuta aqui o que eu vou te falar, sua recalcada, mimada e idiota: da próxima vez que você TENTAR me bater, evite usar tapas na cara. Já estão passados. E cuide da sua vida, por que eu já sei cuidar da minha sozinha, e Ricard também não anda pedindo ajudas para cuidar da dele. Muito obrigada pela sua preocupação, mas nós estamos ótim... OUCH!’

Minha frase não se completou. Como eu não soltei seu braço, ela me deu um chute na canela e acabou conseguindo se soltar. Em menos de um minuto estávamos rolando no chão. Prendi Lavínia contra a grama e esbofeteei cada nano pedaço de corpo que consegui alcançar com os punhos. A gritaria ao redor era ensurdecedora, mas só nos afastamos quando tia Alex e Sergei entraram correndo na roda, me lançando um feitiço contra o peito e me jogando de costas na grama alguns metros.

Sergei agarrou meus braços com violência me pondo de pé. Suas mãos tremiam e ele me olhava de uma maneira que nunca me olhara antes. Como se estivesse se controlando para não gritar. Escolheu bem as palavras.

‘Eu não sei como isso começou, mas quero que você vá imediatamente para a enfermaria. Vou chamar sua mãe.’

Estava me sentindo tão nervosa e elétrica que nem contrariei. Ricard estava ajoelhado ao lado de Lavínia, que estava sentada na grama com o nariz jorrando sangue e os olhos inchados. Senti uma mistura de prazer e ódio ao ver aquela cena, mas Ty e Gabriel me seguravam pelos braços me arrastando até a enfermaria. Ambos calados.

‘Sabe... Vocês podem se manifestar. Não vou agredir mais ninguém. Já estou uma tonelada mais leve depois dessa.’ Falei seca e Gabriel e Ty largaram meus braços se entreolhando e gargalharam.

‘Belo soco de direita, Mi. Pena que não teve bolão... Ninguém pareceu disposto a apostar na Lavínia...’ Ty disse pesaroso e riu brincalhão.

‘Nem deu tempo de você arrancar umas mechas loiras! Sacanagem.’ Gabriel completou com um brilho divertido nos olhos. Não consegui conter o sorriso. Mas ao chegar à enfermaria, tia Louise e tia Samantha pararam de rir e se desesperaram vindo na minha direção.

‘O que aconteceu?’ Tia Samantha perguntou levantando um olho meu, que estava ardendo e me arrastando até uma maca.

‘Miyako deu uma surra em uma garota de Durmstrang’ Gabriel disse rindo. Tia Louise fechou a cara.

‘Não é para rir, Gabriel.’ Repreendeu e se aproximou de mim. ‘Você está bem. Só precisa de um pouco de gelo. Onde está a garota?’

A pergunta morreu no ar. Lavínia entrou dando um verdadeiro show na enfermaria. Os estagiários que correram para atendê-la levaram coices. Tia Louise soltou um suspiro de impaciência e foi até ela.

‘São só alguns cortes e inchaços, srta. Durigan. Se acalme.’ Ela disse com serenidade. Lavínia gritou.

‘Alguns cortes? ALGUNS? Eu poderia ter morrido com isso. E se peguei a gripe asiática?’

‘NÃO SE PREOCUPE. VOCÊ TOMA TANTOS REMÉDIOS QUE SEU SANGUE É A BASE DE OXIDADOS!’ Gritei da minha maca. Gabriel e Ian se dobraram de rir. Ty abaixou a cabeça disfarçando.

‘Miyako, quer POR FAVOR, ficar quieta?’ Tia Louise disse brava e encolhi. Mas lancei à Lavínia um olhar vitorioso.

Minha mãe irrompeu pela porta parecendo nervosa. Sergei atrás dela. Correu até mim.

‘Como você está? Está tudo bem?’ Perguntou parecendo aflita. Balancei os ombros sorrindo.

‘Estou. Lavínia que não parece muito bem depois da surra que levou...’

‘MIYAKO’ tia Louise gritou novamente. A menina se rebateu contra os braços dela querendo vir para cima de mim. ‘SR. LAFAYETTE, QUER FAZER O FAVOR DE PARAR DE RIR E PEGAR UM CALMANTE?’

Ian levou um susto e correu até o armário apanhando uma poção roxa púrpura e empurrando sem muita delicadeza na boca de Lavínia, que ficou amolecida.

‘Melhor assim. Se ela insiste que vai morrer amanhã, melhor mantermos ela sob observação essa noite na enfermaria. Sr. Lafayette, fique responsável em lhe dar uma dose de calmante por hora. Eu cuido dos hematomas.’ Tia Louise disse finalmente e Lavínia a encarou zangada, mas não disse nada. Ian, porém, pareceu se divertir com a idéia.

‘E você, mocinha...’ mamãe começou. Interrompi.

‘Nem tente, mãe. Estou tão feliz que bateria nessa garota outra vez, se fosse preciso. Eu estava quietinha no meu canto.’

Pressionei o gelo contra o olho. Tia Samantha me deu uma poção verde.

‘Tome. Para diminuir os inchaços. Você já está boa, Miyako. Pode ir, se quiser.’

Levantei-me da cama e sem mais delongas sai da enfermaria. Mamãe e Sergei me seguiram, e eu sabia que levaria uma bronca danada. Mas nada me importava. Passei as últimas três semanas me controlando, e teria sido uma baita injustiça, comigo mesma, se não tivesse extravasado um pouco dessa tensão com alguém.

°°°
‘Como assim?’ Ricard perguntou rindo tenso.

A festa de encerramento na Lufa-lufa estava, literalmente, BOMBANDO. Os alunos pareciam dispostos a aproveitarem suas últimas horas por ali, e dançavam, conversavam, bebiam e namoravam como se nunca tivessem feito nada disso antes. Eram tantas risadas e músicas que eu me sentia tonta. Passei a acreditar em todas as descrições de festas que mamãe já presenciou naquele lugar! Era fantástico.

‘Não dá Ricard. Queria que Lavínia tivesse errada, mas ela está coberta de razão. Você e eu? Não dá. Não preciso de um acompanhante para todos os lados. Preciso de um namorado. De alguém que aja por conta própria, sem pensar nas conseqüências. De alguém que não se preocupe com o dia de amanhã, entende? Você é todo certinho, cheio de planos. E você adora a Lavínia. Eu só dei uns socos nela, não matei. Você sabe muito bem que ela fez aquela manha toda para exagerar a situação de vítima... E mesmo assim você ficou do lado dela e me olha como se eu fosse uma agressora em potencial. Eu provavelmente não seria a nora ideal para a SUA família.’

Ricard me encarava sem palavras. Eu tinha acabado de terminar com ele. Era a coisa mais sensata a se fazer.

‘Agora é você quem está se deixando levar pela Lavínia. Nós podemos fazer isso dar certo!’ Ele disse confiante e se aproximou. Dei um passo para trás, decidida.

‘Você é uma pessoa maravilhosa. Um ótimo conselheiro, amigo. É sensato, é inteligente, é realista. É romântico. Mas você precisa achar uma garota que não queira te manipular, e nem que queira te mudar. Eu iria te mudar, se ficássemos juntos. Gosto de desafios e gosto que me coloquem em desafios. Desculpa, Ricard, mas enquanto você não dar um basta na influência que a Lavínia coloca na sua vida, e enquanto não tiver suas decisões para escolher por si só, nós nunca daremos certo... O que não quer dizer que não exista alguém que vá suportar tudo isso sem dizer nada! Cada laranja tem duas metades, não é? Mas valeu ter te conhecido. Podemos ser amigos?!’

Sugeri sorrindo e estendi a mão. Ele me olhou em silêncio um segundo e apertou minha mão, me puxando com força para mais perto. Ficamos a centímetros de distância.

‘Amigos, então.’ E me deu um beijo no rosto. ‘Nós ainda viajaremos juntos para o Japão, não é? Você me prometeu um tour...’

‘É claro que sim. Promessa é dívida. Prepare seu kimono, pois quando menos esperar estará ao pé do Monte Sinai.’

Sorri alegre. Ele também. Parecia ter entendido por que nunca daríamos certo. Seríamos bom amigos, e somente assim poderíamos manter laços saudáveis para ambos os lados. O puxei para dançar e curtimos a última noite de confraternização das escolas de magia, juntos.

Thursday, November 15, 2007

Hogwarts X Beauxbatons

O dia que eu pisei em Hogwarts pela primeira vez deveria ter sido lembrado como o dia mais feliz da minha vida. Infelizmente, ou talvez eu considerasse ‘felizmente’ uns anos depois, esse dia nunca mais seria esquecido, por vários motivos...

1° de setembro de 1992

O Expresso de Hogwarts se preparava para partir. Despedi brevemente de mamãe na plataforma e entrei no trem vermelho sangue. Por sorte, havia conseguido uma cabine só para mim... Já estava bastante nervosa sem precisar conversar com outros calouros curiosos e empolgados.

A viagem correu bastante tranqüila. Passei a maior parte do tempo praticando de fato os feitiços básicos que já tinha aprendido por livros didáticos e imaginando como seria estudar magia. Estudar magia DE VERDADE.

Quando o trem diminuiu a velocidade até parar, e do lado de fora explodiu uma confusão de alunos e conversas, recolhi minhas malas no bagageiro, dei uma última olhada no vidro da janela para a garota extremamente pálida, com cabelos perfeitamente esticados em coque e uns óculos um pouco arredondados que me encarava. O uniforme estava impecavelmente bem passado e brilhoso. Sua expressão era de ansiedade disfarçada de severidade intelectual.

‘Anabel Damulakis McCallister, aluna de Hogwarts e futura auror’ disse para mim mesma, e sentindo um calor simpático me invadir, deixei a cabine me misturando à massa de alunos que desembarcavam para a estação de Hogsmeade.

‘ALUNOS DE PRIMEIRO ANO, JUNTEM-SE AQUI POR FAVOR. ’ Uma voz grossa e rouca se sobressaiu às conversas e risadas. Quando segui seu interlocutor me deparei com uma espécie de homem que cresceu demais. Tinha a altura de dois homens normais, cabelos e barbas despenteados e grandes e olhinhos pretos de besouro.

Acompanhei duas meninas, que também pareciam desconfiadas do homem que as chamava, até o amontoado de estudantes primeiranistas que já se formava ao redor dele.

‘Meu nome é Rúbeo Hagrid. Sou guarda-caça de Hogwarts. Vamos atravessar o lago até o castelo, em barcos tudo bem? Não se preocupem, os barcos são confiáveis. ’ Acrescentou de imediato ao ouvir um garoto logo a sua frente choramingar. Até tentou um sorriso simpático, mas provavelmente se perdeu em sua barba.

A travessia pelo lago foi... magnífica! À medida que os barquinhos avançavam pelo lago, e o castelo de Hogwarts, suas torres e luzes, iam se avolumando em frente, se tornava impossível não soltar uma exclamação deslumbrada. E ao entrarmos ao Saguão de Entrada, as conversas só aumentavam. Mas não houve tempo para muitas demonstrações excitadas. Em poucos minutos, uma mulher de vestes verdes escuras, óculos quadrados e cabelos também presos em coque por baixo de um chapéu cônico igualmente verde, se postou a nossa frente e olhou para todos e cada um, de uma só vez...

‘Bem-vindos a Hogwarts. Sou Minerva McGonagall, vice-diretora e professora de Transfiguração. Em poucos minutos daremos início à seleção das casas. Para os alunos que ainda não sabem como vai funcionar, é simples: Chamarei o nome de cada um de vocês, e ao chegar sua vez, adiante-se e sente no banquinho onde colocarei o chapéu seletor em sua cabeça e ele lhe dirá para qual das quatro casas você irá. Elas são quatro: Grifinória, Sonserina, Lufa-lufa e Corvinal. Suas casas serão suas moradas enquanto estiverem aqui. Seus êxitos implicarão em pontos positivos para ela, assim como seus erros serão descontos. No final do ano, a casa que mais tiver pontos, ganha a Taça das casas. Alguma dúvida?’

Ela esquadrinhou os estudantes, e como ninguém se manifestou virou-se de frente para duplas portas de carvalho e as abriu. Os alunos ao meu redor que estavam calados (talvez tentando absorver com clareza cada uma das informações ligeiramente transmitidas) deixaram seus queixos cair ao seguirem em fila única a professora pelo Salão Principal. O lugar era magnífico. Cinco grandes mesas, centenas de estudantes e os professores, velas que flutuavam em harmonia com os fantasmas. O céu encantado. Tudo tão caprichosamente perfeito!

Eu poderia ter ficado ali mesmo estudando o céu o restante da noite. Mas quando os estudantes começaram a se dispersar para uma das quatro mesas das casas, senti o estômago dar cambalhotas. Tinha um plano: passar despercebida. Seria selecionada, sentaria à mesa da minha casa, ponto final. Acho que nem preciso dizer que meu plano foi um completo fracasso, preciso?

‘McCallister, Anabel’ Minerva McGonagall leu meu nome no pergaminho e dei dois passos à frente, me sentando no banco de três pernas. Estava tudo muito bem, até uma grande bomba explodir.

Foi em uma fração minúscula de segundo. Quando me sentei e encarei as centenas de olhos ansiosos que me observavam, senti o mundo girar. Mas então, meus olhos foram tapados por um chapéu muito velho e costurado, que tinha uma abertura em forma de boca e falava.

‘CORVINAL’ o chapéu e uma mesa à direita gritaram. Os alunos aplaudiram. Só precisava me unir a eles... Só isso.

Porém, mal tinha me mexido no banco. Mal tinha voltado a ver a luz do Salão Principal e um grito agudo e histérico cortou o ar. Uma garota, de cabelos castanhos (como os meus), olhos verdes (como os meus), nariz, boca, orelhas e altura (COMO OS MEUS) parou bem na minha frente. Minha primeira reação foi fechar os olhos e tornar a abri-los, esperando que aquela minha metade desaparecesse no ar e eu pudesse enfim, me unir aos alunos da Corvinal. Mas quando os abri, ela continuava lá. Tão idêntica e tão diferente a mim, que poderia jurar que ela tinha me dividido em dois contra meus protestos.

‘Você... Hum... Você sou eu?’ ela perguntou hesitante e tão chocada quanto eu estava.

‘Por favor. Srta. McCallister, queira se dirigir para a mesa da Corvinal?’ McGonagall me empurrou com severidade para os degraus. Eu não despregava os olhos da menina, que continuava no aglomerado de alunos a serem selecionados.

‘McCallister, Isabel’ parei de chofre no caminho à mesa. Para meu absoluto terror, foi aquela menina quem se adiantou para o banco. Ela não tinha só minha aparência. Tinha o meu sobrenome. Ela era, incontestavelmente, minha irmã GÊMEA.

°°°
Quando o tiro cortou o ar, eu, Brenda, Anne e Isa começamos a remar com força total. Assumimos com facilidade a liderança. As torcidas ao redor explodiam em motivações para as equipes de suas escolas, mas a única que ainda nos oferecia algum tipo de ‘perigo’ era a de Hogwarts.

‘ELAS ESTÃO CHEGANDO!’ Isa gritou e um segundo depois se emparelhavam do nosso lado.

‘PARE DE PRESTAR ATENÇÃO NELAS, ISABEL. REME. ANNE, COM MAIS VELOCIDADE, POR FAVOR?!’

Gritei com violência. Estávamos emparelhadas. No breve segundo que me permiti olhar para o lado, percebi que a única garota da equipe que parecia tão concentrada quanto eu era a mais robusta e musculosa. Não iria me deixar vencer tão facilmente. Girava o remo com tanta rapidez que meus ombros e cotovelos começavam a reclamar...

‘VAMOS, VAMOS. NÃO DESISTAM. NÓS PODEMOS GANHAR ESSA PARA BEAUXBATONS. ’

Então eu percebi que tinha dito a palavrinha mágica. Pois ao ouvirem o nome da escola, misturada aos cantos e gritos de incentivo da torcida dominante de azul, as meninas pareceram tomar um fôlego renovado. Não só deixamos a equipe de Hogwarts para trás, como cruzamos os cones de chegada com 5 segundos de diferença. A medalha de ouro era nossa!

°°°
‘Acreditem. O monstro da Câmara Secreta é um Chifres-Longos Romeno’ a garota de cabelos louro escuros, olhos azul-acinzentados e exageradamente expressivos dizia com convicção para outras duas primeiranistas, que pareciam assustadas com a hipótese. Ri.

‘Essa é a pior teoria que já ouvi, até agora. E pode se sentir honrada. Já ouvi até sobre a possibilidade de ser uma Quimera. ’ Cortei sem muita simpatia. As duas garotas me olharam sem expressão, enquanto Luna Lovegood (que em pouco tempo aprendi a denominar de “Di-Lua”) me encarou com grande interesse. ‘Acho que acredito mais em uma quimera solta por aí, do que em um dragão. ’

‘Quimeras não existem’ ela disse e sorriu. Sua varinha estava fixamente presa na orelha e ela usava um colar de rolhas de cerveja amenteigada. Tive que rir. Logo Luna Lovegood, a garota mais maluca da escola que diziam acreditar em Bufadores de Chifre-Enrugado, me dizendo que Quimeras não existiam e um dragão morava em uma câmara secreta do castelo, rondava pelos corredores e atacava os alunos sem que eles aparecessem torrados?

‘Ah, é, certo. Não existem...’ acabei com a discussão. Não levaria a nada mesmo. Aliás, se tinha uma única coisa que eu tinha aprendido BEM em Hogwarts era: não cair em discussões inúteis. E as principais causadoras dessas se chamavam Luna Lovegood e Isabel McCallister.

Sai do dormitório rindo daquela idéia patética. Minha intenção era ir até a biblioteca, mas ao passar pelos corredores e ver o dia ensolarado e quente que fazia, decidi ir tomar um pouco de luz do que poderia ser a última aparição do sol no ano.

Sentei no gramado verde embaixo de uma árvore a beira do lago onde alguns estudantes tomavam banho. O primeiro ano em Hogwarts estava na metade e nada parecido do que eu imaginei. Em poucos meses eu tinha superado todos os meus limites... Descobri que tinha uma irmã gêmea, descobri que meu pai era vivo, dormia ao lado de uma maníaca em potencial e lidava dia-a-dia com suas teorias e colocações bizarras e o mais estranho: eu estava completamente apaixonada por um fantasma! Seu nome é, ou era, Nicholas de Mimsy-Porpington, injustamente conhecido pelos estudantes como “Nick-quase-sem-cabeça” devido ao fato de que sua morte teria sido causada por uma decapitação muito mal-sucedida e ele perambulava os corredores com coletes de golas altas para impedir que sua cabeça tombasse para o lado. Mas, por mais estranha que fosse a situação, era um fantasma apaixonante... Fosse pelos gestos cavalheiros de tirar o chapéu de plumas em reverências toda vez que nos cruzávamos pelos corredores, fosse sua auto-estima e otimismo, ou pelas horas em que eu e ele gastávamos conversando sobre nossas vidas. Nick era meu único amigo em Hogwarts. E eu, era a única estudante que gastaria horas conversando com quem já morrera.

Ao longe, no lago, vi uma figura branco e pérola emergir da água escura. Meu coração até chegou a falhar um segundo, pensando que poderia ser ele. Mas logo reconheci a Murta-que-geme, fantasma da menina chorona que assombrava o banheiro feminino do 2° andar e dava depressão em qualquer um que dividisse mais do que 5 minutos no mesmo ambiente que ela... Aproximou-se de onde eu estava, gesticulando e falando consigo mesma, furiosa.

‘Só por que morri... Por que dar atenção a alguém que já morreu não é mesmo?’ ela ia passando ao meu lado, fazendo caretas.

‘Algum problema, Murta?’ perguntei curiosa e ela parou me olhando. Por um momento, ficou em dúvida sobre que reação tomar, mas então sorriu.

‘Ah, Anabel. A menina dos fantasmas...’ deu risadinhas zombadoras antes de continuar. Senti o rosto queimar desagradavelmente. ‘Me deram descarga e vim parar no lago.’ Ela completou novamente zangada. Senti uma vontade de rir, mas aquilo só pioraria a situação.

‘Hum. Sinto muito. Às vezes não tenham te visto...’ arrisquei um palpite e realmente só piorei. Ela se voltou aos berros contra mim.

‘POR QUE VERIAM A MURTA, NÃO É? ELA MORREU. SÓ SABE CHORAR. VAMOS DAR DESCARGA NA MURTA E VÊ-LA CAIR NO LAGO.’

‘Murta, eu não quis dizer nada disso’ argumentei assustada, mas ela ofegava.

'Vocês são todos iguais. Nick está completamente errado quando diz que você é uma garota especial, Anabel. Você também é um monstro!’

Dizendo isso, virou as costas e foi para o castelo. Continuei encarando seu brilho pálido até desaparecer. O que me faltava acontecer agora? Ser hostil com Nick? Ter todos de costas para mim? É Anabel, você começou muito bem sua estadia em Hogwarts...

°°°
Uma massa de pessoas histéricas saltou em cima de nós após recebermos as medalhas de ouro. Bernard foi o primeiro a me abraçar apertado e me rodar no chão, lascando um beijo. Eu me sentia tão feliz que seria capaz de vender esse sentimento para quem precisava.
Olhando a medalha, meus amigos e o castelo de Hogwarts, eu soube: Hogwarts teria sido a minha escola, mas Beauxbatons, definitivamente, era meu lar.

Tuesday, November 13, 2007

Por Jaeda Smith, direto de Hogwarts

Eu havia dormido feito uma pedra e acordei com a agitação das garotas pelo quarto, e resolvi levantar de uma vez e descer.
- Como dormiu?- perguntou Julianne animada.
- De olhos fechados? – respondi e elas começaram a rir.
- Eu disse que ela era fria. Tem certeza que não é parente das garotas picolé? – perguntou Beatrice, risonha e Shannon disse;
- Desculpe a bagunça, sabemos que o seu grande dia é hoje. Sua adversária tá nervosa. Mal dormiu esta noite. - e olhei para Chloe, que estava com as faces pálidas. Sabia o que ela estava sentindo e me levantei, tentando acalma-la:
- Chloe sua seqüência esta linda, e você vai se sair bem. – confortei-a.
- Mas e se eu errar alguma coisa? Todo mundo vai ficar olhando.
- Se você errar, você vai manter o sorriso no rosto e tentará novamente no próximo aparelho. Ninguém esta aqui para ser perfeito certo? Estamos aqui para o que garotas? - E formamos um circulo na hora que gritamos: “DIVERSÃO”.
Saímos da republica rindo e por dentro eu estava mais nervosa do que podia admitir.

o-o-o-o-o

Numa competição de Ginastica Ritmica Desportiva, as atletas individuais competem manipulando obrigatoriamente quatro de cinco aparelhos: arco, bola, corda, fita e maças. Vence a atleta que conquistar mais pontos, que lhes são atribuídos por um painel de jurados que utiliza-se dos critérios saltos, equilibrio, flexibilidade, piruetas, manuseio do aparelho e efeito artístico, por isso usamos colants coloridos, feito sob medida e prendemos o cabelo, fazendo uma maquiagem que ressalte nosso rosto. Tudo faz parte do conjunto.
A duração de cada exercício pode variar entre 1’15” e 1’30”. Para o conjunto, a composição é de dois exercícios. A duração é de no mínimo 2’15” e de no máximo 2’30”. As músicas executadas são de livre escolha de acordo com a rotina que se deseja executar, mas não pode haver voz humana cantada em forma de palavras.O cronômetro é acionado no momento em que a ginasta começa seu movimento e é parado no momento em que ela estiver completamente imóvel sobre o chão.
O ginásio estava calado enquanto uma atleta da Ucrania excutava sua sequencia, e ela era favorita pois era praticamente perfeita, ate que começou a sequencia com fita, da qual ela era especialista, e aconteceu com ela o maior pesadelo de poderia rondar uma competição como esta: o gancho que prende a fita, quebrou e a fita se enrolou no corpo dela e pelo burburinho entre os voluntários, ela não havia trazido uma fita reserva. Teria que terminar sua sequencia, recebendo zero por tudo. Ao final ela saiu de queixo erguido mas sem esconder as lágrimas. Sabia que estava desclassificada.
Depois das minhas sequencia com maças, e de ouvir as notas, ouvi os gritos da torcida organizada. Shannon, Miyako, Julianne, e Beatrice, pintaram os rostos com as cores dos EUA e também as cores da Irlanda, para apoiar a Chloe, e agitavam pompons com as cores das escolas. E estavam juntas da familia do Ty, que acenava animado, para nós duas. As garotas de Durmstrang estavam apoiando Letícia Sanchez, que descobri depois ser mais uma das milhares de primas da Evangeline, mas o que fazia as garotas que dividiam o quarto comigo serem ouvidas além da bagunça geral, eram seus gritos e animação. A cada intervalo, as gêmeas Sheridan organizavam coreografias como cheer leaders, e isso acabava levando pessoas de outras escolas a aplaudirem empolgados tanto a mim quanto Chloe. E as meninas da Avalon não estavam gostando disso. Quer dizer, apenas Lavinia e Anastácia, porque Evangeline, Nina e Ludmilla, resolveram aderir à moda dos pompons e conjuraram uns nas cores da Espanha. Claro que elas não tinham a mesma coordenação de Julianne e Beatrice para desenvolverem uma coreografia rapidamente mas estavam animadas e isso era o mais divertido.
Logo, uma atleta de Durmstrang entrava no tablado e seu nome era Georgia Yelchin e esperei que a escola fosse torcer em peso por ela. Enganei-me. Alguns torciam por ela, mas eram abafados pelos gritos tanto das minhas amigas quanto pelos das meninas da Avalon que gritavam todas juntas, junto com os garotos que estavam com elas, e por causa da animação a torcida se deixou levar. Geórgia tinha um sorriso congelado na boca, mas o olhos faiscavam de ódio. Executou sua sequencia com desenvoltura e por ultimo ela escolheu trabalhar com as maças. Este tipo de exercicio requer alto grau de ritmo, coordenação e precisão para boas recuperações. É um aparelho que exige o bom uso de ambos os lados do corpo.E a garota em questão, acabou se perdendo no ultimo lançamento quando jogou as maças para cima e ao tentar pega-las de volta, uma delas escorregou e caiu na sua cabeça, gerando uma gargalhada coletiva no ginásio. Ela se recuperou e terminou sua sequencia com um sorriso frio no rosto. Logo era a minha vez. E o locutor anunciou minha vez:
-... E dos EUA, da Escola Texana de Magia, Jaeda Smith, em sua última apresentação com a fita.
Respirei fundo, e deixei a musica entrar em minha cabeça, conhecia-a de todas as formas possiveis e saltava, girava e dava saltos mortais enquanto lançava minha fita para o alto, a pegava de volta e girava ao meu redor, eu só pensava em como eu me sentia feliz por estar ali, e isso deve ter transparecido no meu rosto, pois ao final da apresentação o ginásio me aplaudiu animado. E quando as notas foram divulgadas, eu soube que havia conquistado o meu objetivo. O ouro era meu!
No pódio Chloe sorria toda feliz por conquistar a medalha de prata e acenava para a familia e Letícia Sanchez após me cumprimentar e receber sua medalha de bronze, a levantou no alto e a familia dela pulou alegria. No fim, nós tres erguemos nossos braços vitoriosos, enquanto tiravam nossa foto.