Wednesday, November 28, 2007

A delegação de Durmstrang havia acabado de partir e nos despedimos de Ty, que saiu aborrecido com a tia Alex depois de ouvi-la contar a mamãe e tia Yulli que ainda gostava do tio Logan. Ainda tentamos falar com ele, mas Ty estava irredutível e sumiu entre os alunos com os uniformes vermelhos.

Separei-me de Miyako, Griff, Seth e Maddie quando a delegação de Beauxbatons e os voluntários franceses começavam a se reunir para partir e fui até a enfermaria procurar minha mãe. Parei na porta e vi Ian e ela de frente um pro outro. Fiquei encostado na porta ouvindo, eles não tinham me notado ainda.

- Sem ressentimentos, chefinha? – Ian estendeu a mão sério, mas depois acabou rindo
- Não sou mais sua chefe, pode me chamar de Louise, Ian – mamãe riu e apertou a mão dele – E sem ressentimentos. Contanto que não tenha mais que trabalhar com você, está tudo ótimo!

Ian jogou a mochila nas costas rindo e se encaminhou para a saída. Parou quando me viu e estendeu a mão outra vez.

- Vou tentar trocar algum plantão para conseguir assistir a um dos seus jogos com a Maddie. Foi bom rever você aqui, Harry Potter
- Também foi bom rever você, Chapolin – apertei a mão dele rindo – Nos vemos em breve

Ele acenou mais uma vez para minha mãe e sumiu pelo corredor da escola, indo se juntar aos demais voluntários da França que já se reuniam no jardim para pegar a chave de portal. Entrei na enfermaria e minha mãe sorriu, terminando de arrumar as coisas. Ela era a última ali, tia Sam já tinha ido embora com o tio Josh.

- Ian importunou muito nessas três semanas? – perguntei rindo e sentando em uma das camas
- Um bocado – ela fechou a mochila e ficou de frente para mim – Ele é muito piadista, mas também é muito atencioso com o que está fazendo, e muito certinho também, não gosta de cometer nenhuma falha. Lembra um pouco de mim quando comecei a estagiar no St. Mungus
- Não consigo imaginar o Ian trabalhando sério em nada, sempre o vejo brincando e fazendo piada com a cara dos outros
- Pois na hora de atender um paciente, ele é outra pessoa. É sério, concentrado e muito prático. Vai se tornar um excelente curandeiro, mas ainda precisa crescer em algumas coisas. Quem sabe se ele se sentir responsável por algo mais sério na vida pessoal o ajude. Mas ele tem futuro, pode apostar

Sorri e mamãe foi terminar de fechar a última bolsa de coisas. Quando terminou percebeu que a encarava sério e ela parou ao meu lado, me olhando desconfiada.

- O que foi Gabriel? – disse sentando ao meu lado
- Nada, por quê?
- Conheço você, e quando fica quieto me olhando é porque quer falar alguma coisa. A delegação da sua escola não saiu ainda?
- Não, ainda tenho meia hora, Beauxbatons está saindo agora – respondi vago e olhei para ela – Você odiou a Maddie, não é?
- Quem? – perguntou confusa
- Minha namorada, Madeline – respondi ainda olhando para ela e mamãe pareceu entender – Você olhou torto para ela durante toda a Olimpíada
- Eu não odeio a menina – respondeu na defensiva – E não olhei torto para ela!
- Olhou sim, mãe. A senhora julgou ela sem nem ao menos conhecê-la! Não esperava que fosse cair de amores, mas esperava ao menos que fosse mais simpática – voltei a encarar o chão antes de continuar – Ela é importante pra mim. É minha primeira namorada, e gosto muito dela
- Desculpe, não era minha intenção chatear você. Mas tente ser compreensivo, ainda não me acostumei a isso – mamãe disse séria e voltei a olhar para ela – Ela esteve aqui algumas vezes, com a namorada do Ian. E em uma das vezes a ouvi dizer a eles que achava que não tinha me agradado muito e estava preocupada, porque gostava de você
- Quando pretendia me contar isso? – falei erguendo a sobrancelha
- Não pretendia, ainda estava processando a idéia – falou sincera e ri – Ciúmes, admito. Ciúme de mãe por saber que perdeu o filho para outra mulher. Sei que você não é mais criança e preciso me adaptar a isso ainda. Me desculpe, ok?
- Vai ser mais compreensiva?
- Sim. E se ela é tão importante assim para você, por que não a convida para passar o Natal conosco? Me dê a chance de conhecê-la direito e formar uma opinião.
- Tem certeza? – perguntei surpreso e ela confirmou sorrindo. Sorri mais animado – Obrigado. E mãe, você não me perdeu para outra. Você vai ser a mulher da minha vida.

Mamãe sorriu e apertou meu pescoço, me cobrindo de beijos. Quando me soltou pude notar que estava muito feliz, e não parava de sorrir. Aproveitei a deixa para brincar com ela.

- Mas então, quando vai seguir o exemplo da tia Yulli e me dar um irmãozinho ou uma irmãzinha? – perguntei sonso e o sorriso evaporou do rosto dela. Prendi o riso
- Se quiser outro cachorro eu compro pra você. Podemos abrir até um canil, mas tira essa idéia de que vou engravidar outra vez da cabeça!
- Mas mãe, não seja tão ruim com o meu pai! Dê a ele a chance de criar um filho dessa vez! Poxa, ele perdeu toda a diversão!
- Quer me ver irritada depois de me agradar, Gabriel? Pois está conseguindo! – falou revoltada e comecei a rir, então ela relaxou e riu também

Esperei até que ela terminasse de recolher as coisas e saímos juntos da enfermaria. Quando o diretor da escola do Arizona ordenou que nos reuníssemos no lago para partir me despedi dela e do meu pai e me juntei aos meus amigos, já com saudades dessas três semanas, e contando os dias para o Natal.

Friday, November 23, 2007

plantão de noticias 3

By Jaeda Smith, direto de Hogwarts


Caros leitores do Rangers, este é meu último boletim informativo sobre as olimpíadas e já há um sentimento de saudade no ar, pois estas três semanas foram simplesmente mágicas, levarei na memória o som da alegria no pódio, e muitas vezes o choro sentido dos atletas que não conseguiram as medalhas almejadas para sempre em meu coração.
A última etapa destes jogos é em Hogwarts, e o porquê disso? Porque foi nesta escola em que ocorreram os dois eventos que definiram a sobrevivência do nosso mundo. Um deles foi a morte de Alvo Dumbledore, um bruxo de enorme poder e que até hoje meses após sua a morte, os alunos e professores sentem a sua falta e por que não dizer, aqueles que o conheceram continuam com o seu legado de ensinar, e orientar os jovens bruxos para um mundo melhor. E o outro evento foi a vitória de Harry Potter sobre Voldemort, o maior bruxo das trevas que já existiu, aqui mesmo nos terrenos de Hogwarts. Em alguns lugares ainda é possível ver a destruição da qual foram vítimas, mas o bem mais precioso desta instituição não foi enfraquecido: o amor pelo ensino, pois a atual diretora Minerva McGonnagal, inspira não só respeito dos jovens alunos, como tem a admiração de muitos ex-alunos que foram voluntários neste evento apenas para fazer com que estes jogos fossem um sucesso e alguns se ofereceram para ajudar a reconstruir o que foi danificado. No último dia aqui, foram realizadas competições com os voluntários e foi um verdadeiro espetáculo. Contarei sobre isso, numa reportagem especial. Aplausos a eles.
Nestes jogos, tive a honra de conhecer Harry Potter, já sabia que ele era jovem, mas o que mais me surpreendeu foi ele ser um jovem tímido que tem as mesmas preocupações que nós: estudar, namorar, planos de carreira (ele vai ser Auror, nada mais apropriado) e senti que enquanto houverem jovens com a sua coragem e sua humildade, nosso mundo estará seguro, pois aqui a barreira da língua, e dos costumes foi superada com mímicas, e grandes amigos foram feitos. Uma das coisas que os participantes dos jogos olímpicos tinham em mente era: o mundo seja ele bruxo ou trouxa sempre será melhor quando a tolerância, e o respeito aos diferentes for a prioridade.
Até os próximos jogos!

Abaixo um resumo das competições da semana:
- Equipe da Durmstrang ganha ouro na Montaria (equipe), Equipe de Beauxbatons fica com a prata e a equipe do Brasil leva o bronze.
- No Trancabola, a Espanha ganha Ouro. Irlanda fica com a Prata e EUA fica com o Bronze.
- Durmstrang arrebata as 3 medalhas na final de natação. Parabéns Milla, Lavinia e Evie.
- Beauxbatons ganha ouro na esgrima, Durmstrang fica com prata e bronze respectivamente.
- Afonso Toledo da Espanha ganha de Harry Potter (Hogwarts) na Esgrima (modalidade Espada). Tyrone McGregor (Durmstrang) fica com o Bronze.
- Chris Parker (Durmstrang) ganha Ouro no tiro esportivo (Carabina) e Diego Stanislav (Espanha) fica com a Prata, o bronze foi para Shaoran Lee (Japão)
- Helena Sanchez ganha Ouro no tiro esportivo (Alvo móvel). Shannon Austen (EUA) fica com a Prata e Amber O’Shea (Escócia) com o Bronze.
- Beatrice Sheridan (EUA) ganha Ouro no tiro esportivo (Carabina), a prata foi para Mary McKellen (Irlanda) e Salma Portobello (Espanha).
- Christopher Parker fica com o Ouro na Esgrima (Florete). Santiago Toledo fica com a Prata e Micah Wade com o Bronze.
- Decatlo Micah Wade (Durmstrang) ganha ouro, Gabriel Storm (EUA) prata e Karl Von Griffen (Alemanha) bronze.
- Arquearia (Arco composto) Marta Toledo (Espanha) ganha o ouro, Ludmilla Kovac (Durmstrang) fica com a Prata. Arabella Schiorra (Itália) fica com o bronze.
- Arquearia (Arco recurvo) Amber O’Shea (Escócia) ganha Ouro, Sophia Caprese (Itália) fica com a Prata, o bronze foi para Caitlin O’Bannion (Irlanda).
- Christopher O’Shea (Durmstrang) fica com o ouro no Pentatlo, Padraic O’Sullivan (Irlanda) fica com a prata e Kenosuke Sagara (Japão) fica com o bronze.
- Diego Stanislav ganha Ouro no Xadrez de Bruxo. Christopher Parker fica com a Prata, Dominic Monaghan (Escócia) fica com o bronze.
- Jaeda Smith (EUA) ganha Ouro na Ginástica Rítmica. Chloe O’Shea (Escócia) fica com a Prata e Letícia Sanchez (Espanha) com o Bronze.
Obrigada a todos os recados de incentivo que recebi. Pude sentir a vibração de vocês a milhares de km de distância. O ouro é de vocês.
Até breve!

Querida Rory,
A semana aqui voou, mas foi animada, pois houve até pancadaria. Não, não estou falando do jogo de Trancabola que foi um verdadeiro massacre, mas entre duas garotas. Conto os detalhes quando chegar em casa. E vou querer saber tudo sobre você ter saído com Brian. Não adianta fazer esta cara, ele me escreveu contando e disse que você é uma garota fascinante. O que vocês beberam? Suco de letrinhas? Brian não conhecia a palavra fascinante *rindo muito*.
Um abraço amiga, e se prepare: teremos muito trabalho pela frente.
Abraços
J.S.

Saturday, November 17, 2007

‘Medalha de ouro para Miyako Kinoshita, de Beauxbatons. Parabéns!’ Viera levantou meu braço sem conseguir disfarçar a satisfação que sentia.

Sorri agradecendo e recebendo a medalha. Evie e Lavínia ocupavam a segunda e terceira colocação, respectivamente. Evie, após a final no florete, me cumprimentou parecendo realmente feliz que eu tivesse ganhado. Mas Lavínia se mantinha no podium firme e decidida a me ignorar. E decidida a fazer aquela cara de quem estava com quilos de bosta de dragão embaixo do nariz. Não estava me importando. Havia treinado muita Esgrima para conseguir aquela medalha, e não seria ela a me deixar preocupada...

Assim que desci do podium, mamãe e Sergei me agarraram em abraços apertados, seguidos de perto por meus amigos e tantos outros ‘tios’. Até tio Scott parecia estar se divertindo bastante ali. Era o penúltimo dia das Olimpíadas e nada parecia sair errado, só que eu já começava a me sentir um pouco depressiva em voltar para Beauxbatons e rotina, sem meus amigos, sem as competições, festas... O restante do ano passaria se arrastando, com certeza.
Assim que deixamos o ginásio e chegamos aos jardins gramados de Hogwarts, Ricard me puxou e me deu um beijo longo, me levantando alguns centímetros do ar e me rodando. Sorri.

‘Estava te procurando’ falei quando ele finalmente me colocou no chão.

‘Eu fiquei sem graça de me intrometer no meio da sua família... ’ ele disse um pouco constrangido. Balancei a cabeça.

‘Pois não precisa. Eles iriam te adorar’

‘Por que não iriam adorar o Ricard, não é mesmo? Ele é o genro que toda mãe pediu a Merlin... ’ uma voz sarcástica falou às minhas costas e involuntariamente meus punhos se fecharam. Ricard se adiantou de modo a ficar na minha frente enquanto Lavínia avançava sorrindo.

‘Parabéns pela medalha, Vina’ Ricard falou sério. A menina não tirou o sorriso irônico do rosto.

‘Muito obrigada, Dragash. Mas não que você se importe com as medalhas de bronze não é mesmo? De uns dias para cá, você parece ter se esquecido dos seus amigos, da sua escola. Parece já ter adotado novas famílias... ’ ela disse azeda. Ricard enrijeceu o corpo. Ri alto.

‘Ai, ai, ai... Nossa. Estou sentindo náuseas. Como você consegue ser hipócrita quando quer, Lavínia!’

A partir desse ponto, Ricard já não tinha mais nenhum controle sobre as mãos. Pois Lavínia fechou a cara e eu sentia meus punhos tão apertados que estavam queimando as palmas das mãos. Só precisava de um incentivo... E ele não demorou a aparecer.

‘Hipócrita? Eu? Quem está se fazendo de moça de família agora, mas que tenho absoluta certeza que vai abandonar Ricard assim que entrar naquela maldita carruagem e voltar para sua própria escola, hein? Não sou eu...’

‘E QUEM você pensa que é para julgar o que eu vou fazer ou não vou fazer? Logo você, a defensora dos frascos e comprimidos??? Você que se preocupa mais com seu melhor AMIGO do que com seu próprio namorado?’

‘Você também me pareceu muito preocupada com a vida do Ty!’ Ela já começou a gritar e a perder a razão. Quer dizer, ela nunca teve uma razão, de fato. Ri.

‘Claro que me preocupo com a vida dos meus amigos. Mas você quer ter o controle dela em suas mãos. Ainda não aprendeu que amigos não são marionetes. Muito menos, terapeutas dando plantões na hora que você precisa!’

‘Ohhhh, então Ricard já te contou tudo sobre nossas conversas é? Ele que gosta de bancar o terapeuta, não sou eu quem procura um...’

‘Você precisa é de um psiquiatra, isso sim’ respondi agressiva.

Ela pareceu chegar ao seu limite, pois avançou para cima de mim prestes a me bater no rosto. Graças ao quadribol, à esgrima e algumas aulas com o Ty, meus reflexos eram bastante bons, pois segurei o braço dela no ar e o torci até os olhos dela marejarem de lágrimas.

‘Escuta aqui o que eu vou te falar, sua recalcada, mimada e idiota: da próxima vez que você TENTAR me bater, evite usar tapas na cara. Já estão passados. E cuide da sua vida, por que eu já sei cuidar da minha sozinha, e Ricard também não anda pedindo ajudas para cuidar da dele. Muito obrigada pela sua preocupação, mas nós estamos ótim... OUCH!’

Minha frase não se completou. Como eu não soltei seu braço, ela me deu um chute na canela e acabou conseguindo se soltar. Em menos de um minuto estávamos rolando no chão. Prendi Lavínia contra a grama e esbofeteei cada nano pedaço de corpo que consegui alcançar com os punhos. A gritaria ao redor era ensurdecedora, mas só nos afastamos quando tia Alex e Sergei entraram correndo na roda, me lançando um feitiço contra o peito e me jogando de costas na grama alguns metros.

Sergei agarrou meus braços com violência me pondo de pé. Suas mãos tremiam e ele me olhava de uma maneira que nunca me olhara antes. Como se estivesse se controlando para não gritar. Escolheu bem as palavras.

‘Eu não sei como isso começou, mas quero que você vá imediatamente para a enfermaria. Vou chamar sua mãe.’

Estava me sentindo tão nervosa e elétrica que nem contrariei. Ricard estava ajoelhado ao lado de Lavínia, que estava sentada na grama com o nariz jorrando sangue e os olhos inchados. Senti uma mistura de prazer e ódio ao ver aquela cena, mas Ty e Gabriel me seguravam pelos braços me arrastando até a enfermaria. Ambos calados.

‘Sabe... Vocês podem se manifestar. Não vou agredir mais ninguém. Já estou uma tonelada mais leve depois dessa.’ Falei seca e Gabriel e Ty largaram meus braços se entreolhando e gargalharam.

‘Belo soco de direita, Mi. Pena que não teve bolão... Ninguém pareceu disposto a apostar na Lavínia...’ Ty disse pesaroso e riu brincalhão.

‘Nem deu tempo de você arrancar umas mechas loiras! Sacanagem.’ Gabriel completou com um brilho divertido nos olhos. Não consegui conter o sorriso. Mas ao chegar à enfermaria, tia Louise e tia Samantha pararam de rir e se desesperaram vindo na minha direção.

‘O que aconteceu?’ Tia Samantha perguntou levantando um olho meu, que estava ardendo e me arrastando até uma maca.

‘Miyako deu uma surra em uma garota de Durmstrang’ Gabriel disse rindo. Tia Louise fechou a cara.

‘Não é para rir, Gabriel.’ Repreendeu e se aproximou de mim. ‘Você está bem. Só precisa de um pouco de gelo. Onde está a garota?’

A pergunta morreu no ar. Lavínia entrou dando um verdadeiro show na enfermaria. Os estagiários que correram para atendê-la levaram coices. Tia Louise soltou um suspiro de impaciência e foi até ela.

‘São só alguns cortes e inchaços, srta. Durigan. Se acalme.’ Ela disse com serenidade. Lavínia gritou.

‘Alguns cortes? ALGUNS? Eu poderia ter morrido com isso. E se peguei a gripe asiática?’

‘NÃO SE PREOCUPE. VOCÊ TOMA TANTOS REMÉDIOS QUE SEU SANGUE É A BASE DE OXIDADOS!’ Gritei da minha maca. Gabriel e Ian se dobraram de rir. Ty abaixou a cabeça disfarçando.

‘Miyako, quer POR FAVOR, ficar quieta?’ Tia Louise disse brava e encolhi. Mas lancei à Lavínia um olhar vitorioso.

Minha mãe irrompeu pela porta parecendo nervosa. Sergei atrás dela. Correu até mim.

‘Como você está? Está tudo bem?’ Perguntou parecendo aflita. Balancei os ombros sorrindo.

‘Estou. Lavínia que não parece muito bem depois da surra que levou...’

‘MIYAKO’ tia Louise gritou novamente. A menina se rebateu contra os braços dela querendo vir para cima de mim. ‘SR. LAFAYETTE, QUER FAZER O FAVOR DE PARAR DE RIR E PEGAR UM CALMANTE?’

Ian levou um susto e correu até o armário apanhando uma poção roxa púrpura e empurrando sem muita delicadeza na boca de Lavínia, que ficou amolecida.

‘Melhor assim. Se ela insiste que vai morrer amanhã, melhor mantermos ela sob observação essa noite na enfermaria. Sr. Lafayette, fique responsável em lhe dar uma dose de calmante por hora. Eu cuido dos hematomas.’ Tia Louise disse finalmente e Lavínia a encarou zangada, mas não disse nada. Ian, porém, pareceu se divertir com a idéia.

‘E você, mocinha...’ mamãe começou. Interrompi.

‘Nem tente, mãe. Estou tão feliz que bateria nessa garota outra vez, se fosse preciso. Eu estava quietinha no meu canto.’

Pressionei o gelo contra o olho. Tia Samantha me deu uma poção verde.

‘Tome. Para diminuir os inchaços. Você já está boa, Miyako. Pode ir, se quiser.’

Levantei-me da cama e sem mais delongas sai da enfermaria. Mamãe e Sergei me seguiram, e eu sabia que levaria uma bronca danada. Mas nada me importava. Passei as últimas três semanas me controlando, e teria sido uma baita injustiça, comigo mesma, se não tivesse extravasado um pouco dessa tensão com alguém.

°°°
‘Como assim?’ Ricard perguntou rindo tenso.

A festa de encerramento na Lufa-lufa estava, literalmente, BOMBANDO. Os alunos pareciam dispostos a aproveitarem suas últimas horas por ali, e dançavam, conversavam, bebiam e namoravam como se nunca tivessem feito nada disso antes. Eram tantas risadas e músicas que eu me sentia tonta. Passei a acreditar em todas as descrições de festas que mamãe já presenciou naquele lugar! Era fantástico.

‘Não dá Ricard. Queria que Lavínia tivesse errada, mas ela está coberta de razão. Você e eu? Não dá. Não preciso de um acompanhante para todos os lados. Preciso de um namorado. De alguém que aja por conta própria, sem pensar nas conseqüências. De alguém que não se preocupe com o dia de amanhã, entende? Você é todo certinho, cheio de planos. E você adora a Lavínia. Eu só dei uns socos nela, não matei. Você sabe muito bem que ela fez aquela manha toda para exagerar a situação de vítima... E mesmo assim você ficou do lado dela e me olha como se eu fosse uma agressora em potencial. Eu provavelmente não seria a nora ideal para a SUA família.’

Ricard me encarava sem palavras. Eu tinha acabado de terminar com ele. Era a coisa mais sensata a se fazer.

‘Agora é você quem está se deixando levar pela Lavínia. Nós podemos fazer isso dar certo!’ Ele disse confiante e se aproximou. Dei um passo para trás, decidida.

‘Você é uma pessoa maravilhosa. Um ótimo conselheiro, amigo. É sensato, é inteligente, é realista. É romântico. Mas você precisa achar uma garota que não queira te manipular, e nem que queira te mudar. Eu iria te mudar, se ficássemos juntos. Gosto de desafios e gosto que me coloquem em desafios. Desculpa, Ricard, mas enquanto você não dar um basta na influência que a Lavínia coloca na sua vida, e enquanto não tiver suas decisões para escolher por si só, nós nunca daremos certo... O que não quer dizer que não exista alguém que vá suportar tudo isso sem dizer nada! Cada laranja tem duas metades, não é? Mas valeu ter te conhecido. Podemos ser amigos?!’

Sugeri sorrindo e estendi a mão. Ele me olhou em silêncio um segundo e apertou minha mão, me puxando com força para mais perto. Ficamos a centímetros de distância.

‘Amigos, então.’ E me deu um beijo no rosto. ‘Nós ainda viajaremos juntos para o Japão, não é? Você me prometeu um tour...’

‘É claro que sim. Promessa é dívida. Prepare seu kimono, pois quando menos esperar estará ao pé do Monte Sinai.’

Sorri alegre. Ele também. Parecia ter entendido por que nunca daríamos certo. Seríamos bom amigos, e somente assim poderíamos manter laços saudáveis para ambos os lados. O puxei para dançar e curtimos a última noite de confraternização das escolas de magia, juntos.

Thursday, November 15, 2007

Hogwarts X Beauxbatons

O dia que eu pisei em Hogwarts pela primeira vez deveria ter sido lembrado como o dia mais feliz da minha vida. Infelizmente, ou talvez eu considerasse ‘felizmente’ uns anos depois, esse dia nunca mais seria esquecido, por vários motivos...

1° de setembro de 1992

O Expresso de Hogwarts se preparava para partir. Despedi brevemente de mamãe na plataforma e entrei no trem vermelho sangue. Por sorte, havia conseguido uma cabine só para mim... Já estava bastante nervosa sem precisar conversar com outros calouros curiosos e empolgados.

A viagem correu bastante tranqüila. Passei a maior parte do tempo praticando de fato os feitiços básicos que já tinha aprendido por livros didáticos e imaginando como seria estudar magia. Estudar magia DE VERDADE.

Quando o trem diminuiu a velocidade até parar, e do lado de fora explodiu uma confusão de alunos e conversas, recolhi minhas malas no bagageiro, dei uma última olhada no vidro da janela para a garota extremamente pálida, com cabelos perfeitamente esticados em coque e uns óculos um pouco arredondados que me encarava. O uniforme estava impecavelmente bem passado e brilhoso. Sua expressão era de ansiedade disfarçada de severidade intelectual.

‘Anabel Damulakis McCallister, aluna de Hogwarts e futura auror’ disse para mim mesma, e sentindo um calor simpático me invadir, deixei a cabine me misturando à massa de alunos que desembarcavam para a estação de Hogsmeade.

‘ALUNOS DE PRIMEIRO ANO, JUNTEM-SE AQUI POR FAVOR. ’ Uma voz grossa e rouca se sobressaiu às conversas e risadas. Quando segui seu interlocutor me deparei com uma espécie de homem que cresceu demais. Tinha a altura de dois homens normais, cabelos e barbas despenteados e grandes e olhinhos pretos de besouro.

Acompanhei duas meninas, que também pareciam desconfiadas do homem que as chamava, até o amontoado de estudantes primeiranistas que já se formava ao redor dele.

‘Meu nome é Rúbeo Hagrid. Sou guarda-caça de Hogwarts. Vamos atravessar o lago até o castelo, em barcos tudo bem? Não se preocupem, os barcos são confiáveis. ’ Acrescentou de imediato ao ouvir um garoto logo a sua frente choramingar. Até tentou um sorriso simpático, mas provavelmente se perdeu em sua barba.

A travessia pelo lago foi... magnífica! À medida que os barquinhos avançavam pelo lago, e o castelo de Hogwarts, suas torres e luzes, iam se avolumando em frente, se tornava impossível não soltar uma exclamação deslumbrada. E ao entrarmos ao Saguão de Entrada, as conversas só aumentavam. Mas não houve tempo para muitas demonstrações excitadas. Em poucos minutos, uma mulher de vestes verdes escuras, óculos quadrados e cabelos também presos em coque por baixo de um chapéu cônico igualmente verde, se postou a nossa frente e olhou para todos e cada um, de uma só vez...

‘Bem-vindos a Hogwarts. Sou Minerva McGonagall, vice-diretora e professora de Transfiguração. Em poucos minutos daremos início à seleção das casas. Para os alunos que ainda não sabem como vai funcionar, é simples: Chamarei o nome de cada um de vocês, e ao chegar sua vez, adiante-se e sente no banquinho onde colocarei o chapéu seletor em sua cabeça e ele lhe dirá para qual das quatro casas você irá. Elas são quatro: Grifinória, Sonserina, Lufa-lufa e Corvinal. Suas casas serão suas moradas enquanto estiverem aqui. Seus êxitos implicarão em pontos positivos para ela, assim como seus erros serão descontos. No final do ano, a casa que mais tiver pontos, ganha a Taça das casas. Alguma dúvida?’

Ela esquadrinhou os estudantes, e como ninguém se manifestou virou-se de frente para duplas portas de carvalho e as abriu. Os alunos ao meu redor que estavam calados (talvez tentando absorver com clareza cada uma das informações ligeiramente transmitidas) deixaram seus queixos cair ao seguirem em fila única a professora pelo Salão Principal. O lugar era magnífico. Cinco grandes mesas, centenas de estudantes e os professores, velas que flutuavam em harmonia com os fantasmas. O céu encantado. Tudo tão caprichosamente perfeito!

Eu poderia ter ficado ali mesmo estudando o céu o restante da noite. Mas quando os estudantes começaram a se dispersar para uma das quatro mesas das casas, senti o estômago dar cambalhotas. Tinha um plano: passar despercebida. Seria selecionada, sentaria à mesa da minha casa, ponto final. Acho que nem preciso dizer que meu plano foi um completo fracasso, preciso?

‘McCallister, Anabel’ Minerva McGonagall leu meu nome no pergaminho e dei dois passos à frente, me sentando no banco de três pernas. Estava tudo muito bem, até uma grande bomba explodir.

Foi em uma fração minúscula de segundo. Quando me sentei e encarei as centenas de olhos ansiosos que me observavam, senti o mundo girar. Mas então, meus olhos foram tapados por um chapéu muito velho e costurado, que tinha uma abertura em forma de boca e falava.

‘CORVINAL’ o chapéu e uma mesa à direita gritaram. Os alunos aplaudiram. Só precisava me unir a eles... Só isso.

Porém, mal tinha me mexido no banco. Mal tinha voltado a ver a luz do Salão Principal e um grito agudo e histérico cortou o ar. Uma garota, de cabelos castanhos (como os meus), olhos verdes (como os meus), nariz, boca, orelhas e altura (COMO OS MEUS) parou bem na minha frente. Minha primeira reação foi fechar os olhos e tornar a abri-los, esperando que aquela minha metade desaparecesse no ar e eu pudesse enfim, me unir aos alunos da Corvinal. Mas quando os abri, ela continuava lá. Tão idêntica e tão diferente a mim, que poderia jurar que ela tinha me dividido em dois contra meus protestos.

‘Você... Hum... Você sou eu?’ ela perguntou hesitante e tão chocada quanto eu estava.

‘Por favor. Srta. McCallister, queira se dirigir para a mesa da Corvinal?’ McGonagall me empurrou com severidade para os degraus. Eu não despregava os olhos da menina, que continuava no aglomerado de alunos a serem selecionados.

‘McCallister, Isabel’ parei de chofre no caminho à mesa. Para meu absoluto terror, foi aquela menina quem se adiantou para o banco. Ela não tinha só minha aparência. Tinha o meu sobrenome. Ela era, incontestavelmente, minha irmã GÊMEA.

°°°
Quando o tiro cortou o ar, eu, Brenda, Anne e Isa começamos a remar com força total. Assumimos com facilidade a liderança. As torcidas ao redor explodiam em motivações para as equipes de suas escolas, mas a única que ainda nos oferecia algum tipo de ‘perigo’ era a de Hogwarts.

‘ELAS ESTÃO CHEGANDO!’ Isa gritou e um segundo depois se emparelhavam do nosso lado.

‘PARE DE PRESTAR ATENÇÃO NELAS, ISABEL. REME. ANNE, COM MAIS VELOCIDADE, POR FAVOR?!’

Gritei com violência. Estávamos emparelhadas. No breve segundo que me permiti olhar para o lado, percebi que a única garota da equipe que parecia tão concentrada quanto eu era a mais robusta e musculosa. Não iria me deixar vencer tão facilmente. Girava o remo com tanta rapidez que meus ombros e cotovelos começavam a reclamar...

‘VAMOS, VAMOS. NÃO DESISTAM. NÓS PODEMOS GANHAR ESSA PARA BEAUXBATONS. ’

Então eu percebi que tinha dito a palavrinha mágica. Pois ao ouvirem o nome da escola, misturada aos cantos e gritos de incentivo da torcida dominante de azul, as meninas pareceram tomar um fôlego renovado. Não só deixamos a equipe de Hogwarts para trás, como cruzamos os cones de chegada com 5 segundos de diferença. A medalha de ouro era nossa!

°°°
‘Acreditem. O monstro da Câmara Secreta é um Chifres-Longos Romeno’ a garota de cabelos louro escuros, olhos azul-acinzentados e exageradamente expressivos dizia com convicção para outras duas primeiranistas, que pareciam assustadas com a hipótese. Ri.

‘Essa é a pior teoria que já ouvi, até agora. E pode se sentir honrada. Já ouvi até sobre a possibilidade de ser uma Quimera. ’ Cortei sem muita simpatia. As duas garotas me olharam sem expressão, enquanto Luna Lovegood (que em pouco tempo aprendi a denominar de “Di-Lua”) me encarou com grande interesse. ‘Acho que acredito mais em uma quimera solta por aí, do que em um dragão. ’

‘Quimeras não existem’ ela disse e sorriu. Sua varinha estava fixamente presa na orelha e ela usava um colar de rolhas de cerveja amenteigada. Tive que rir. Logo Luna Lovegood, a garota mais maluca da escola que diziam acreditar em Bufadores de Chifre-Enrugado, me dizendo que Quimeras não existiam e um dragão morava em uma câmara secreta do castelo, rondava pelos corredores e atacava os alunos sem que eles aparecessem torrados?

‘Ah, é, certo. Não existem...’ acabei com a discussão. Não levaria a nada mesmo. Aliás, se tinha uma única coisa que eu tinha aprendido BEM em Hogwarts era: não cair em discussões inúteis. E as principais causadoras dessas se chamavam Luna Lovegood e Isabel McCallister.

Sai do dormitório rindo daquela idéia patética. Minha intenção era ir até a biblioteca, mas ao passar pelos corredores e ver o dia ensolarado e quente que fazia, decidi ir tomar um pouco de luz do que poderia ser a última aparição do sol no ano.

Sentei no gramado verde embaixo de uma árvore a beira do lago onde alguns estudantes tomavam banho. O primeiro ano em Hogwarts estava na metade e nada parecido do que eu imaginei. Em poucos meses eu tinha superado todos os meus limites... Descobri que tinha uma irmã gêmea, descobri que meu pai era vivo, dormia ao lado de uma maníaca em potencial e lidava dia-a-dia com suas teorias e colocações bizarras e o mais estranho: eu estava completamente apaixonada por um fantasma! Seu nome é, ou era, Nicholas de Mimsy-Porpington, injustamente conhecido pelos estudantes como “Nick-quase-sem-cabeça” devido ao fato de que sua morte teria sido causada por uma decapitação muito mal-sucedida e ele perambulava os corredores com coletes de golas altas para impedir que sua cabeça tombasse para o lado. Mas, por mais estranha que fosse a situação, era um fantasma apaixonante... Fosse pelos gestos cavalheiros de tirar o chapéu de plumas em reverências toda vez que nos cruzávamos pelos corredores, fosse sua auto-estima e otimismo, ou pelas horas em que eu e ele gastávamos conversando sobre nossas vidas. Nick era meu único amigo em Hogwarts. E eu, era a única estudante que gastaria horas conversando com quem já morrera.

Ao longe, no lago, vi uma figura branco e pérola emergir da água escura. Meu coração até chegou a falhar um segundo, pensando que poderia ser ele. Mas logo reconheci a Murta-que-geme, fantasma da menina chorona que assombrava o banheiro feminino do 2° andar e dava depressão em qualquer um que dividisse mais do que 5 minutos no mesmo ambiente que ela... Aproximou-se de onde eu estava, gesticulando e falando consigo mesma, furiosa.

‘Só por que morri... Por que dar atenção a alguém que já morreu não é mesmo?’ ela ia passando ao meu lado, fazendo caretas.

‘Algum problema, Murta?’ perguntei curiosa e ela parou me olhando. Por um momento, ficou em dúvida sobre que reação tomar, mas então sorriu.

‘Ah, Anabel. A menina dos fantasmas...’ deu risadinhas zombadoras antes de continuar. Senti o rosto queimar desagradavelmente. ‘Me deram descarga e vim parar no lago.’ Ela completou novamente zangada. Senti uma vontade de rir, mas aquilo só pioraria a situação.

‘Hum. Sinto muito. Às vezes não tenham te visto...’ arrisquei um palpite e realmente só piorei. Ela se voltou aos berros contra mim.

‘POR QUE VERIAM A MURTA, NÃO É? ELA MORREU. SÓ SABE CHORAR. VAMOS DAR DESCARGA NA MURTA E VÊ-LA CAIR NO LAGO.’

‘Murta, eu não quis dizer nada disso’ argumentei assustada, mas ela ofegava.

'Vocês são todos iguais. Nick está completamente errado quando diz que você é uma garota especial, Anabel. Você também é um monstro!’

Dizendo isso, virou as costas e foi para o castelo. Continuei encarando seu brilho pálido até desaparecer. O que me faltava acontecer agora? Ser hostil com Nick? Ter todos de costas para mim? É Anabel, você começou muito bem sua estadia em Hogwarts...

°°°
Uma massa de pessoas histéricas saltou em cima de nós após recebermos as medalhas de ouro. Bernard foi o primeiro a me abraçar apertado e me rodar no chão, lascando um beijo. Eu me sentia tão feliz que seria capaz de vender esse sentimento para quem precisava.
Olhando a medalha, meus amigos e o castelo de Hogwarts, eu soube: Hogwarts teria sido a minha escola, mas Beauxbatons, definitivamente, era meu lar.

Tuesday, November 13, 2007

Por Jaeda Smith, direto de Hogwarts

Eu havia dormido feito uma pedra e acordei com a agitação das garotas pelo quarto, e resolvi levantar de uma vez e descer.
- Como dormiu?- perguntou Julianne animada.
- De olhos fechados? – respondi e elas começaram a rir.
- Eu disse que ela era fria. Tem certeza que não é parente das garotas picolé? – perguntou Beatrice, risonha e Shannon disse;
- Desculpe a bagunça, sabemos que o seu grande dia é hoje. Sua adversária tá nervosa. Mal dormiu esta noite. - e olhei para Chloe, que estava com as faces pálidas. Sabia o que ela estava sentindo e me levantei, tentando acalma-la:
- Chloe sua seqüência esta linda, e você vai se sair bem. – confortei-a.
- Mas e se eu errar alguma coisa? Todo mundo vai ficar olhando.
- Se você errar, você vai manter o sorriso no rosto e tentará novamente no próximo aparelho. Ninguém esta aqui para ser perfeito certo? Estamos aqui para o que garotas? - E formamos um circulo na hora que gritamos: “DIVERSÃO”.
Saímos da republica rindo e por dentro eu estava mais nervosa do que podia admitir.

o-o-o-o-o

Numa competição de Ginastica Ritmica Desportiva, as atletas individuais competem manipulando obrigatoriamente quatro de cinco aparelhos: arco, bola, corda, fita e maças. Vence a atleta que conquistar mais pontos, que lhes são atribuídos por um painel de jurados que utiliza-se dos critérios saltos, equilibrio, flexibilidade, piruetas, manuseio do aparelho e efeito artístico, por isso usamos colants coloridos, feito sob medida e prendemos o cabelo, fazendo uma maquiagem que ressalte nosso rosto. Tudo faz parte do conjunto.
A duração de cada exercício pode variar entre 1’15” e 1’30”. Para o conjunto, a composição é de dois exercícios. A duração é de no mínimo 2’15” e de no máximo 2’30”. As músicas executadas são de livre escolha de acordo com a rotina que se deseja executar, mas não pode haver voz humana cantada em forma de palavras.O cronômetro é acionado no momento em que a ginasta começa seu movimento e é parado no momento em que ela estiver completamente imóvel sobre o chão.
O ginásio estava calado enquanto uma atleta da Ucrania excutava sua sequencia, e ela era favorita pois era praticamente perfeita, ate que começou a sequencia com fita, da qual ela era especialista, e aconteceu com ela o maior pesadelo de poderia rondar uma competição como esta: o gancho que prende a fita, quebrou e a fita se enrolou no corpo dela e pelo burburinho entre os voluntários, ela não havia trazido uma fita reserva. Teria que terminar sua sequencia, recebendo zero por tudo. Ao final ela saiu de queixo erguido mas sem esconder as lágrimas. Sabia que estava desclassificada.
Depois das minhas sequencia com maças, e de ouvir as notas, ouvi os gritos da torcida organizada. Shannon, Miyako, Julianne, e Beatrice, pintaram os rostos com as cores dos EUA e também as cores da Irlanda, para apoiar a Chloe, e agitavam pompons com as cores das escolas. E estavam juntas da familia do Ty, que acenava animado, para nós duas. As garotas de Durmstrang estavam apoiando Letícia Sanchez, que descobri depois ser mais uma das milhares de primas da Evangeline, mas o que fazia as garotas que dividiam o quarto comigo serem ouvidas além da bagunça geral, eram seus gritos e animação. A cada intervalo, as gêmeas Sheridan organizavam coreografias como cheer leaders, e isso acabava levando pessoas de outras escolas a aplaudirem empolgados tanto a mim quanto Chloe. E as meninas da Avalon não estavam gostando disso. Quer dizer, apenas Lavinia e Anastácia, porque Evangeline, Nina e Ludmilla, resolveram aderir à moda dos pompons e conjuraram uns nas cores da Espanha. Claro que elas não tinham a mesma coordenação de Julianne e Beatrice para desenvolverem uma coreografia rapidamente mas estavam animadas e isso era o mais divertido.
Logo, uma atleta de Durmstrang entrava no tablado e seu nome era Georgia Yelchin e esperei que a escola fosse torcer em peso por ela. Enganei-me. Alguns torciam por ela, mas eram abafados pelos gritos tanto das minhas amigas quanto pelos das meninas da Avalon que gritavam todas juntas, junto com os garotos que estavam com elas, e por causa da animação a torcida se deixou levar. Geórgia tinha um sorriso congelado na boca, mas o olhos faiscavam de ódio. Executou sua sequencia com desenvoltura e por ultimo ela escolheu trabalhar com as maças. Este tipo de exercicio requer alto grau de ritmo, coordenação e precisão para boas recuperações. É um aparelho que exige o bom uso de ambos os lados do corpo.E a garota em questão, acabou se perdendo no ultimo lançamento quando jogou as maças para cima e ao tentar pega-las de volta, uma delas escorregou e caiu na sua cabeça, gerando uma gargalhada coletiva no ginásio. Ela se recuperou e terminou sua sequencia com um sorriso frio no rosto. Logo era a minha vez. E o locutor anunciou minha vez:
-... E dos EUA, da Escola Texana de Magia, Jaeda Smith, em sua última apresentação com a fita.
Respirei fundo, e deixei a musica entrar em minha cabeça, conhecia-a de todas as formas possiveis e saltava, girava e dava saltos mortais enquanto lançava minha fita para o alto, a pegava de volta e girava ao meu redor, eu só pensava em como eu me sentia feliz por estar ali, e isso deve ter transparecido no meu rosto, pois ao final da apresentação o ginásio me aplaudiu animado. E quando as notas foram divulgadas, eu soube que havia conquistado o meu objetivo. O ouro era meu!
No pódio Chloe sorria toda feliz por conquistar a medalha de prata e acenava para a familia e Letícia Sanchez após me cumprimentar e receber sua medalha de bronze, a levantou no alto e a familia dela pulou alegria. No fim, nós tres erguemos nossos braços vitoriosos, enquanto tiravam nossa foto.

O atleta mais completo

Por Gabriel Storm Lupin, direto de Hogwarts

Domingo, 11 de Novembro de 1998

O Expesso de Hogwarts foi perdendo velocidade na medida que se aproximava da estação de Hogsmeade e abri a janela da cabine. Dava para ver o vilarejo que não visitava desde os 12 anos e quando o trem parou, pude ver o castelo. Embora gostasse mais de Beauxbatons, sentia saudades de Hogwarts. Estava louco para pisar outra vez no Três Vassouras, na Dedosdemel e na Zonkos, e mostrá-las aos meus amigos. Stuart estava parado ao meu lado na janela e parecia compartilhar esses pensamentos. Quando os alunos começaram a desembarcar empolgados, pegamos nossas bagagens e acompanhamos o fluxo. Ia começar a última semana de competições.

ººº

Segunda-feira, 12 de Novembro de 1998

- Está com todo o equipamento? Onde está o capacete? – falei olhando para Chris – Chris, está me ouvindo?
- Foi aqui, não foi? – ele falou com o olhar vago e a voz baixa, e entendi o que quis dizer
- Sim, foi. – meu estômago revirou lembrando do relato da minha mãe sobre a batalha que aconteceu aqui, da qual tia Megan acabou não sobrevivendo – O castelo ainda conserva as marcas

E conservava mesmo. Algumas paredes ainda tinham buracos e nem todos os quadros dos corredores estavam lá. Uma das estufas da professora Sprout não existia mais e até a cabana do Hagrid ainda precisava de reforma. Era bom retornar, mas ruim ao mesmo tempo. Era impossível estar aqui sem pensar em tudo que aconteceu.

- Espero que não estejam remoendo lembranças ruins – ouvi uma voz conhecido e viramos ao mesmo tempo para trás, sorrido. Era o tio Scott – Viemos nos divertir, não ficar tristes
- Tio Scott! – corremos até ele e o abraçamos – Pensávamos que não viria mais!
- Não ia perder as últimas provas de vocês – disse sorrindo e olhando ao redor de onde estávamos - Já está na hora de seguirmos em frente, e voltar aqui foi a melhor coisa que decidi fazer. Encarar para superar, certo?
- Isso mesmo. – Chris falou deixando um último suspiro escapar – Cadê meu capacete? A prova já vai começar
- Está aqui – Chloe veio correndo pelo gramado e entregou a ele, dando um beijo na sua bochecha – Boa sorte, Chris.

Tio Scott abraçou Chloe e Chris ajeitou o capacete na cabeça, montando no cavalo. A primeira etapa da maratona de provas do Pentatlo ia começar, e meu primo estava decidido a vencê-lo.

ººº

Terça-Feira, 13 de Novembro de 1998

Hoje foi o dia da 2ª etapa do Pentatlo, com as provas de Esgrima e Natação. Chris havia feito a melhor pontuação no Hipismo ontem, passando por todos os obstáculos sem deixar o cavalo recuar e derrubar nenhuma barra. Para não assustar os cavalos não era permitido gritar ou fazer qualquer tipo de barulho, e foi engraçado ver meus tios mordendo a mão para evitar soltar um berro, ou fazendo mímicas como se estivessem empurrando Chris com as mãos.

Na Esgrima ele perdeu para o atleta da Romênia, mas venceu o Suiço e conseguiu manter a 1ª colocação. Mas na Natação ele perdeu a posição para o nadador da Austrália, que parecia um torpedo na água. Era impossível alcançá-lo e Chris terminou a prova em 3º lugar. Nessa era permitido gritar a vontade, e tio Ben e tio Kegan levaram bóias para a arquibancada, e brincavam com elas na cintura enquanto gritavam feito dois malucos. Com certeza Chris pode ouvir a bagunça mesmo com a cabeça dentro do lago. Nossa torcida estava ficando conhecida como a mais animada. Pagar mico era o nosso forte...

ººº

Quarta-feira, 14 de Novembro de 1998

Hoje era o dia decisivo, as duas últimas provas que iam definir quem era o atleta mais completo da competição. Chris estava particularmente nervoso. A 3ª colocação o preocupava, teria que fazer a melhor pontuação no Tiro Esportivo e a melhor marca na corrida se quisesse vencer.

- Como está se sentindo? – perguntei tão ansioso quanto ele
- Nervoso – ele se sacudia no gramado e não parava de conferir a pistola – Minha pontaria não é muito boa
- Você chegou até aqui, então é bom. Relaxa, vai se sair bem. Vou para a arquibancada, boa sorte.

Chris balançou a cabeça tentando sorrir e sai da área demarcada para os competidores. Eles teriam que disparar 20 tiros e no fim o somátorio deles definiria a posição de largada da corrida 3000 metros cross-country. O vencedor dela seria o vencedor do Pentatlo, independente das demais pontuações. Então tudo dependia de como Chris se sairia no Tiro, para largar em uma boa posição na corrida.

Shannon hoje acompanharia as provas no meio da nossa família e já estava conversando com tio Scott quando me sentei ao seu lado. Ela parecia nervosa também, como se quisesse falar alguma coisa, e assim que sentei ela me encarou séria e começou a falar mantendo o tom de voz baixo.

- Descobri uma coisa ruim – falou aflita – Quer dizer, não sei se é ruim, mas não é certo
- Do que está falando? – perguntei confuso – Que coisa ruim? Quem fez?
- Não, esqueca o ruim, mas é errado. É o Micah – ela tapou o rosto com as mãos nervosa e voltou a me encarar – Acho que sei porque ele pediu transferência, e justo para Durmstrang
- Se não tem certeza de nada, não me conte! – falei depressa – Já chega de boataria, não é?
- Não vou falar sem antes conversar com ele, mas tenho certeza que estou com a razão! Ele quer magoar uma única pessoa, mas vai terminar magoando a si mesmo!
- Conversa com ele então, tente fazê-lo desistir do que quer que seja. Vocês são como irmãos, tenho certeza que ele vai ouví-la e pensar
- Espero que me escute mesmo – ela sentou reta e respirou fundo – Tem uma garota acenando pra você, Gabriel. Acho que é a sua namorada – falou rindo
- É ela sim, está como voluntária no Pentatlo hoje – acenei de volta sorrindo – E você? Já deu tchau pro seu namorado? - Provoquei
- Pare com isso, já disse que não somos namorados! Chris e eu estamos só nos conhecendo, e em todo caso, dentro de quatro dias vamos cada um para um lado.
- Quem é namorada do meu afilhado aí? – tio Ben ouviu a conversa e deslizou no banco, estendendo a mão para Shannon. Ela atingiu todas as cores do arco-íris – Prazer, Ben, padrinho do rapaz
- Shannon Austen, e eu não sou namorada dele – falou sem graça me beliscando
- Ah, eu conheco essa frase! – tio Scott falou rindo atrás de mim – Não era a que Karen repetia insistentemente quando Kegan conseguiu levá-la para jantar?
- Olha só quem voltou a ser um comediante! – tia Karen falou ranzinza quando todo mundo riu
- Não fique irritada, meu amor – tio Kegan abraçou ela rindo – Mas seu irmão tem razão. Aliás, se bem me recordo, foi aqui que você estava dando aquela aula sobre duelos medievais quando a vi pela primeira vez. Foi instantâneo!
- Eu me lembro dessa aula, você apareceu querendo se amostrar pra Karen e desafiou Scott no duelo – tio Ben falava saudoso – E perdeu!
- Bem lembrado, Ben – tio Scott virou para tio Kegan sorridente – Ele perdeu! Pra um garoto de 16 anos! Até hoje tenho a curiosidade, como é o gosto do feno, Kegan?
- Silêncio crianças, vai começar a prova – tio Wayne falou sacudindo os braços e ficamos quietos – VAI CHRISTOPHER! ACABA COM ELES! – berrou empolgado sem conseguir se conter e começamos a rir quando o juiz pediu silêncio.

A empolgação do tio Wayne acabou relaxando Chris, pois ele riu acenando para onde estávamos e quando tomou a posição para começar os disparos, estava totalmente concentrado. Dos seus 20 tiros, apenas 5 ficaram mais afastados do alvo central. Mas o atirador da Hungria teve uma pontuação perfeita e terminou em primeiro lugar. Com 50 pontos de diferença para o Húngaro, Chris largaria na corrida em 2º lugar, saindo 12 segundos depois dele. Ele tinha chances de vencer, e sabia disso, pois quando anunciaram a ordem de largada comemorou como se fosse o 1º lugar.

A corrida de 3000 metros cross-country seria por boa parte dos terrenos de Hogwarts. Muitos voluntários foram escalados para ela, pois a cada 15 metros era preciso ter um observando. Meus tios estavam tão empolgados com as boas chances de Chris vencer que decidiram acompanhar a prova de vários pontos. Então quando Chris largou 12 segundos depois do Húngaro, corremos junto. Cortando caminho pelo lado de fora da marcação da pista, estavamos sempre alguns passos à frente dele. Para completar os 1000 pontos máximos o perurso deveria ser feito em 10 minutos e nossos gritos e incentivos davam mais gás a Chris. Ele corria sem afobação, guardando energia para o final, quando precisaria ultrapassar o 1º colocado.

E foi isso que ele fez. Nos 500 metros finais, o alteta da Hungria começava a demostrar cansaso e Chris, ainda com energia para mais 1000 metros, deixou o Húngaro para trás e ele assumiu a liderança da prova. Meus tios pulavam desesperados enquanto acompanhávamos ele, o mantendo informado da distância dos outros atletas. Chris nem olhava para trás, mantinha o olhar fixo do que estava logo à sua frente: a linha de chegada. O Húngaro nem tinha mais chance. Chris conseguiu cruzar a faixa amarela com 15 segundos de diferença para ele e se atirou no gramado quando viu que havia vencido a prova. Corremos até ele comemorando e tio Ben e tio Scott o ergueram nos ombros. Fazia muito tempo que não via todos eles tão felizes assim. Era muito bom voltar ao que era antes.

Monday, November 12, 2007

Bad Day

- VOCÊ FICOU COMPLETAMENTE MALUCA, ISABEL MCCALLISTER?! – Brenda berrava enquanto tinha o dedo apontado diretamente para meu peito e avançava ameaçadoramente. – VOCÊ COMEU BOSTA DE DRAGÃO? ERA A NOSSA MELHOR ENTREVISTA E VOCÊ FAZ ISSO? PARABÉNS! VOCÊ ACABA DE FERRAR COM O MEU FUTURO DE JORNALISTA.

Ela se deixou desabar em uma canoa, mas tremia violentamente. Bel estava sentada do outro lado, em silêncio, e me lançava um olhar de censura periodicamente. E Anne parecia em dúvida se ajudava Brenda a se acalmar, ou não. Estávamos as quatro, na beira do lago de Beauxbatons. Era para ter sido mais um dos treinos de canoagem, agora que só faltavam alguns dias para a final em Hogwarts, mas desde o dia que eu tinha ‘disseminado’ histórias sobre Ben O’Shea na rádio, algumas pessoas (e posso incluir Anne, Bel e Brenda) simplesmente achavam que eu tinha batido a cabeça em algum lugar e estava ficando louca.

Para ser sincera comigo mesma, melhor teria sido se só elas tivessem achado isso. A verdade é que todos me olhavam de maneira estranha agora. As fãs mais antigas me lançavam insultos por ter espalhado calúnias sobre o ídolo. As fãs um pouco mais relapsas, não gostaram nem um pouco do que escutaram. Meus amigos estavam contra mim e na maior parte do dia eu tinha que correr de algumas pessoas que estavam à caça de minha cabeça. Entre elas: Miyako, Ty e Gabriel, que gritavam a plenos pulmões que o próprio Ben jogara a culpa em cima deles sobre o ocorrido, já que foi por intervenção deles que a entrevista aconteceu. Alex McGregor que estava esperando um momento oportuno para me fazer de picadinhos, as amigas de Alex que também me encaravam ameaçadoramente, e o próprio Ben que dera uma coletiva um dia depois, para jornalistas que ele julgou serem CREDENCIADOS, desmentindo todas as fofocas e dizendo que eu precisava de um pouco de atenção.

Eu estava me sentindo péssima. Me deixei levar pela empolgação das minhas alucinações e paranóias e acabei criando histórias. E o pior, havia julgado a fidelidade da mãe do Ty. Eu sabia que havia sido horrível o que eu fizera, e sabia muito bem o que tinha de fazer para consertar isso. Embora eu admitisse que seria difícil, eu faria. Só precisava de um pouco mais de tempo, para colocar as coisas em ordem...

‘Olha, Brenda, me desculpa. Eu sei que eu errei. Eu vou consertar está bem? Te garanto que você não vai ter nenhum prejuízo nessa história toda...’ me aproximei lentamente dela e sentei ao seu lado. Ela me olhou furiosa.

‘E como você pretende consertar isso? Posso saber? As pessoas também estão me olhando feio ok? Elas sabem que eu estive naquela entrevista, e provavelmente estão certas de que eu sou cúmplice de todas as suas viagens.’

‘Pois então, eu vou dizer para quem quiser escutar que você também não sabia de nada!’ Respondi em desespero. ‘As pessoas vão ter de acreditar em mim.’

‘Depois de você ter falado tudo aquilo? Você ainda quer credibilidade? Francamente.’ Ela se levantou e me olhou irônica. ‘O melhor que você tem a fazer é ficar de boca calada até o final dessas Olimpíadas e arcar com as conseqüências do que você fez. Não precisa se preocupar com a minha integridade... E Bel, me desculpa, mas não vai dar para treinar mais. Vou conseguir uma substituta na equipe para vocês, sem que vocês saiam prejudicadas ok?’

Bel sacudiu os ombros. Parecia já estar esperando que uma de nós abandonasse o barco. Senti meu estômago dar uma volta completa.

‘Não. Se alguém vai sair dessa equipe, esse alguém sou eu. Estou fora.’ Levantei encarando as três. Nenhuma fez qualquer objeção.

Sentindo uma lágrima morna cair no meu rosto, sai para o outro lado. Se eu tivesse se quer imaginado que perderia a confiança dos meus poucos amigos... Se eu soubesse que em pouco menos de dois dias depois do que me pareceu ser uma notícia interessantíssima, eu ficaria completamente só, e se meu arrependimento me matasse...

Dora estava andando de mãos dadas com Sávio. Exibia no peito sua conquista na montaria individual: uma grande medalha de ouro. E parecia muito feliz e satisfeita. Caminhei em linha reta na direção dela.

‘Dora, posso falar um minuto com você?’ Ela me olhou assustada. Provavelmente percebeu que eu estivera chorando há pouco menos de um minuto.

Sávio a olhou significativamente e saiu. Ela se aproximou, parecendo preocupada.

‘O que aconteceu, Isa?’

‘Será que você pode me substituir no time de canoagem com a Bel, Anne e Brenda? Eu não posso mais ficar na mesma equipe com elas... ’

‘O que? Por que não?’

‘Por que eu cometi um erro. Brenda não confia mais em mim. Anne prefere não tomar partido, mas é óbvio que ela acha que eu estou errada. E a Bel, bom... Não mudou muita coisa, não é mesmo?’ Recomecei a chorar.

‘Por causa do que você disse sobre o Ben?’ Ela perguntou vacilante.

‘É... Você pode? Por favor? É importante para elas ganharem essa medalha. Eu nunca me perdoaria.’

‘Exatamente por isso que não posso aceitar, Isa. Eu não sei nem como se parece um remo! Seria um atraso para elas...’ ela respondeu triste. ‘Não se preocupe, vai tudo ficar bem. Logo elas percebem que você está arrependida e...’

‘NÃO! Não há tempo! Por favor? Eu também não sabia, mas a Bel me ensinou e estávamos fazendo ótimos tempos! Tenho certeza que é só uma questão de se acostumar e você logo estará encaixada. Elas estão agora mesmo na beira do lago. Vá até lá e diga que vá me substituir.’

De duas uma: ou Dora realmente sentiu pena de me ver em estado de tamanho desespero, ou achou que estivesse me devendo algum tipo de favor. O fato é que ela, mesmo parecendo hesitante, aceitou. Deu um tapinha de consolo em meu ombro e saiu em direção ao lago. Quanto a mim, tinha me decidido: iria naquele mesmo momento reparar tudo o que tinha feito!

Caminhei em direção ao castelo um pouco mais depressa do que o natural. Só queria chegar à rádio, dizer que era tudo uma mentira, que eu era um monstro, que Alexandra e Ben me perdoassem, que meus amigos me entendessem e...

‘Onde você pensa que vai, mocinha?’ Um par de mãos me agarrou com força pelos braços e me empurrou para uma sala de aula deserta. Não fossem duas pessoas: Alexandra McGregor e Benjamin O’Shea. Em outras circunstâncias, eu provavelmente acharia que a sorte estava me sorrindo. Mas nem a sorte, muito menos o casal estava sorrindo ali. Os dois me encaravam furiosos e de braços cruzados.

‘Olhem, me desculpem. Foi horrível o que eu fiz, horrível! Eu não sei como... Aliás, sei. É que eu via vocês dois tão juntos, e mais a história do filho, e vocês falando que namoravam e... Sei lá, eu me confundi, acreditei na minha alucinação. Mas não se preocupem, eu estava indo agora mesmo até a rádio desfazer todo esse mal entendido!’ Disse tudo aos atropelos e com urgência. Os dois se entreolharam.

‘Está indo lá envenenar mais? Dizer que Alex está grávida de gêmeos?’ Ben perguntou com azedume. Alex riu sarcástica.

‘Ou dizer que terminamos nosso caso por que agora ele caiu na boca do povo.’

Os dois riram, mas não de alegria. Riam zombando da minha cara. E no fundo, eu sabia que merecia aquilo, e já até esperava... Me sentei em uma cadeira e recomecei a chorar.

‘Não, eu juro, não é nada disso. Eu vou contar toda a verdade. Eu vou pedir desculpas. Eu só quero ter amigos que confiam em mim de novo. Prometo. Não vou dizer mais nada.’

Escondi o rosto entre as mãos. A sala ficou em completo silêncio. Passados dois ou três minutos, dois pares de pernas se agacharam na minha frente. Levantei a cabeça. Ben ainda me encarava desconfiado, mas Alex já parecia um pouco mais calma.

‘Olha, Isabel, vou ser sincera com você. Senti uma vontade louca de surrar cada pedacinho do seu corpo quando você disse aquelas coisas. Se eu fosse sua mãe, você estaria encrencada. Mas eu acho que você está sendo sincera quando se diz arrependida, e todos nós erramos um dia. Por mim tudo bem, se te dermos mais uma chance... ’ Ela disse séria e olhou para Ben. Ele sacudiu os ombros.

‘Para ser sincero, eu me preocupei muito mais com a Alex do que comigo mesmo. Ser famoso implica em ter fofocas e mentiras sobre você diariamente. E além do mais, minha carreira já chegou ao fim. Não me abalou em nada. Só não admito que coloquem meus AMIGOS no meio disso tudo. Alex e eu NUNCA tivemos um caso, nem de um dia e muito menos de anos. Nunca tivemos um filho. E ela nunca traiu o marido dela. Entendeu?’

Concordei com a cabeça. Mais lágrimas saíram descompassadas dos meus olhos.

‘Até por que, você acha mesmo que se eu namorasse esse gato, ou tivesse tido um filho com ele, eu me esconderia? É claro que não.’ Ela riu com bondade e Ben também. Acabei rindo. ‘Agora, por que você não para de chorar, vai lavar o rosto e terminar o que ia fazer?’

Ainda tremendo, limpei de qualquer maneira o rosto e lancei um último olhar de desculpas aos dois. Cheguei à rádio dois minutos depois e fechei a porta. Arrumei o microfone e entrei no ar.

‘Há dois dias atrás, depois de colocar ao ar a entrevista com Ben O’Shea, eu cometi um terrível erro. E que me causou arrependimentos. Quando disse que ele tinha um caso com Alexandra McGregor, e tinham tido um filho, eu não só inventei uma mentira. Eu julguei pessoas que nem conhecia. Julguei a fidelidade de casamentos, a lealdade em amizades... Coisas essenciais. Me deixei levar por visões borradas e distantes de cenas, e disse tudo aquilo sem nenhum fundamento. Mas vim aqui hoje, ao menos tentar consertar para algumas pessoas, esse grande equívoco. Ben O’Shea e Alex McGregor são só bons amigos. Nunca tiveram casos, filhos ou o que quer que seja além de um grande carinho, um pelo outro. Fui eu, ISABEL MCCALLISTER, quem inventou tudo isso. E SOMENTE eu. E por causa desse terrível erro, eu paguei caro. Meus amigos não confiam mais em mim, não tenho mais nenhum tipo de credibilidade e estou vivendo um inferno. Não quero me fazer de vítima. A culpa é só minha. Só queria pedir desculpas por tudo e dizer que estou muito arrependida.’

Desliguei a rádio. Não conseguiria dizer mais nada. Nem chorei também. Um minuto de silêncio então alguém bateu na porta... Eu esperava algum tipo de manifestação agressiva, dizendo que eu era sim uma idiota fofoqueira necessitada de atenção. Enganei. Quando abri a porta, estava a única pessoa que eu não esperava encontrar ali, e justamente a que eu mais estava precisando: Brendan. Ele me encarou sério por uns segundos e então abriu os braços. Sem pensar duas vezes, me larguei no peito dele e ele me abraçou forte esperando que eu chorasse.

‘Está tudo bem. Você fez o que era certo’ ele dizia enquanto passava a mão pelo meu cabelo.

‘Eu sei... ’ me livrei do abraço dele e o encarei. ‘Então você não está com raiva de mim?’

‘Pensei que você soubesse que eu sou apaixonado por você, Isabel. ’

‘Mas você me pediu um tempo!’

‘Bom, eu estou aqui, não estou? Mas posso ir embora se você quiser um tempo desse seu amigo idiota. ’ Ri.

‘Nunca. Eu estava com tantas saudades de você, Bren. ’ Disse sincera e o abracei novamente. Ele riu.

‘Eu também, Izzie. ’ E dizendo isso, apertou minha cintura me fazendo cócegas. Estava rindo e tentando me livrar das mãos dele quando Brenda, Anne, Bel, e Dora (ensopada da cabeça aos pés) entraram na sala.

‘Sabe, eu disse que isso não ia funcionar, Isa. ’ Dora disse olhando para baixo. Suas roupas pingavam. ‘Fui treinar e ao invés de remar, cai no lago. ’

‘Você é uma idiota, Isabel’ Brenda disse. Mas não estava séria. Sorria. ‘Mas é a idiota mais engraçada que eu conheço. ’

‘E a mais corajosa’ Anne completou também rindo.

‘Acabou a moleza, Isabel. Já para o lago. Temos uma medalha para conquistar e não temos tempo para treinos de substitutas. ’ Bel completou, com sua típica voz de general, mas com um brilho no olhar diferente. Quase amistoso.

Ver meus amigos ali me fez sentir como se tivesse tirado dos meus ombros um peso imenso. Brendan riu e disse que assistiria nosso treino. E eu prometi a mim mesma: depois desse dia, eu me preocuparia somente com a minha vida, que já era atordoada demais.

You had a bad day
The camera don’t lie
You’re coming back down and you really don’t mind
You had a bad day
You had a bad day

Well you need a blue sky holiday
The point is they laugh at what you say
And I don’t need no carryin’ on

N.A.: Daniel Powter – Bad Day

Plantão de Notícias parte 2

Por Jaeda Smith, direto de Beauxbatons, Paris

Bienvenue, queridos leitores do Rangers, a cada dia me sinto mais feliz por haver decidido me inscrever para as Olimpíadas. O propósito dos organizadores dos jogos de promover maior integração entre as escolas e bruxos de diferentes países, está sendo um sucesso. Não é difícil numa competição você ver os adversários se apoiarem após o termino das partidas, ou mesmo uma escola inteira apoiar outra, por causa dos novos laços de amizade. Beauxbatons como não poderia deixar de ser, é uma escola maravilhosa, não só por sua estrutura física, quanto por seus alunos, estão se superando no quesito boas vindas. Sempre estão animados e mesmo ex-alunos que fazem parte do corpo de voluntários, defendem as cores da escola com garra e muita animação. Para se chegar aqui, os alunos usam um bateux (barco) muito charmoso, e ao desembarcar você vê um castelo de grandes dimensões, muito iluminado, com cores suaves, e um cheiro muito convidativo, tendo de fundo um céu de uma cor azul impressionante. Nesta segunda semana, Beauxbatons continua na frente no quadro de medalhas, seguida de perto por Durmstrang, e mesmo sendo uma competição, não é raro vermos atletas de países diferentes serem convidados a defender as cores de outras escolas, devido a alguma baixa, e isto demonstra que mais importante que ganhar uma medalha, é o espírito de colaboração entre os atletas. Muitos não conseguem se comunicar devido os idiomas diferentes, mas quem se importa? Aqui a principal linguagem é: mímica e bom humor, e tem dado muito certo. Abaixo o quadro de medalhas desta semana.

- Renomaru Kollontai (Durmstrang) ganha Ouro na Natação e Griffon Chronos (Beauxbatons) fica com a Prata e Declan Caprese (Itália) com o Bronze.
- Gabriel Lupin (EUA) ganha de Micah Wade (Durmstrang) na final da Esgrima, com Sabre.O bronze foi para Manoel Cortez (Portugal)
- Shannon Austen (EUA) ganha ouro em tiro esportivo (pistola), Isabell McCallister (Beauxbatons) leva a prata, Shanti Suresh (Índia) o bronze.
- Isabel McCallister (Beauxbatons) ganha em Arquearia (Arco Recurvo). Evangeline Parvanov (Durmstrang) fica com a Prata. Letícia Ruiz (Espanha) o bronze.
- Dario Stanislav (Espanha) ganha Ouro na Esgrima (Espada). Tyrone McGregor (Durmstrang) fica com a Prata e Juan Pablo Villa Real (México) ficou com o bronze.
- Bram Capter (Durmstrang) ganha Ouro no tiro esportivo (Alvo móvel).A prata foi para David Mackenzie (EUA) e o bronze foi para Aidam McDonald (Escócia).
- Joshua Pace (EUA) ganha Ouro no Tiro esportivo (Pistola). Christopher O'Shea (Durmstrang) fica com a Prata e Dario Stanislav (Beauxbatons) com o Bronze.
- Julianne Sheridan (EUA) ganha Ouro no tiro esportivo (Tiro ao prato).Bárbara Heche (Alemanha) ficou com a prata e Valentine Lindtz (Suécia) o bronze.
- Nina Olenova (Durmstang) derrota Hermione Granger (Hogwarts) no Xadrez de bruxo e fica com o Ouro. Moira O’Bannion (Irlanda) ficou com o bronze.
- Tyrone McGregor (Durmstrang) ganha Ouro no Decatlo. John McKellen (Irlanda) fica com a Prata. Dionisius Stravos (Grécia) fica com o bronze.
- Mary McKellen (Irlanda) ganha Ouro no tênis. Marta Toledo (Espanha) fica com a Prata. Anastácia Ivanovitch (Durmstrang) fica com o bronze.
- Evangeline Parvanov e Nina Olenova (Durmstrang) ganham Ouro no Tênis. Sophia Caprese e Chloe O’Shea (Itália/Escócia) ficam com a Prata. O bronze foi para Ulli e Dory Svenson (Suécia)
- Chris Parker (Durmstrang) ganha Ouro na Esgrima (Florete). Michael Parker (Durmstrang) fica com a Prata. O bronze foi para Kolya Gorbatchev (Rússia).
E na última semana, será a terceira e última etapa: Hogwarts, e peço que todos torçam por mim, na Ginástica Rítmica Desportiva, as atletas são de alto nível, e vou dar o meu melhor.
Au revoir mon ami
Jaeda Smith

Querida Rory,
Esta semana aqui foi uma loucura. Não só pelas competições, mas por causa dos rumores sobre Ben O’Shea e Alex McGregor terem um filho. Agora entendo a sua resistência em publicar as noticias e dou graças a Deus por isso, pois mesmo com a certeza demonstrada por Isa McCallister, ao me dar as declarações sobre Ben,talvez ela não tenha checado as informações direito, e isso possa trazer-lhe problemas, pois os envolvidos estão muito irritados e não sei como isso vai terminar. Fiquei curiosa em saber de onde você conhecia os McGregor, mas lembrei que você estudou em Beauxbatons e o Ty é do tipo que faz amizade fácil. Esqueci de contar: na festa de Halloween em Durmstrang, teve briga no final, e nunca vi tantos garotos se socarem com gosto. Você deve estar se perguntando: ‘mas e os tais laços de amizade?’. Ah, querida eles estavam presentes, pois quem começou a briga foi Micah e Joshua, (já falei sobre eles), eles têm uma richa antiga que começou quando estudaram juntos na Califórnia. Só sei que na hora de medir forças, os amigos de Josh, levaram a pior dos amigos de Micah, pois até garotos de outras escolas que fizeram amizade com ele, foram ajudar. Então no meio da briga, quem fazia parte da turma do deixa disso? Ben O’Shea disfarçado de Dumbledore *.*. Quando arrancaram a barba dele, ele foi atacado pelas fãs, e a coisa só não ficou pior, porque os aurores e voluntários conseguiram apartar. Apesar disso, foi uma festa maravilhosa, e só de estar aqui e fazer parte de tudo isso, estou muito feliz. Gostaria que vocês estivessem comigo.
Abraços e saudades...
J.

Thursday, November 08, 2007

Por trás dos bastidores...

- Preparar. Apontar. Lançar!

Uma das voluntárias apitou e cerca de 15 flechas saltaram de arcos recurvos para alvos posicionados há alguns metros diretamente à frente das competidoras. Apertei com força meu arco enquanto observava minha própria flecha descrever uma trajetória semicircular no céu e pousar, com perfeição, no centro do alvo. Abaixei o arco sorrindo satisfeita.
Logo nesse primeiro lançamento, oito competidoras foram eliminadas por não acertarem o alvo. Me concentrei e preparei a segunda flecha. Olhei fixamente o alvo.

- Preparar. Apontar. Lançar!

Novamente ouviu-se um apito e sete flechas voaram. Meu segundo lance não foi tão ao centro, mas a flecha continuou no círculo central. Saltei. De acordo com o quadro de pontuações eu estava em primeiro lugar, enquanto Evie (uma das meninas de Durmstrang) estava em segundo com uma diferença de 7 pontos. Só mais um bom lance e a medalha seria minha...

E quando o apito soou pela terceira vez, apenas quatro flechas passaram com velocidade em direção aos alvos. Senti meu estômago embrulhar. Minha flecha saltou para o meio do menor círculo, novamente, e gritei. Uma massa de torcedores azuis acompanhou meu grito e invadiram os jardins para me abraçarem. Evie me cumprimentou sorrindo enquanto subíamos ao podium. A medalha de ouro era minha e de Beauxbatons!

°°°

‘Oi Brenda.’ Cumprimentei animada fechando a porta da sala.

Brenda deu um aceno de mão sorrindo. A rádio estava no ar enquanto ela lia para todos os resultados das competições do dia... Organizei minhas coisas e esperei ela terminar o boletim.

‘E por último, Beauxbatons faturou mais um ouro na Arquearia essa tarde. No Arco Recurvo, Isabel McCallister ficou com o ouro, Evangeline Stanislav do Instituto Durmstrang, ficou com a prata, e Liesel Scobar do Instituto Heraclion finalizou o podium com a medalha de bronze. Parabéns, Isa.’ Ela finalizou e sorriu para mim, que retribui o gesto. A medalha de ouro ainda estava pesando no meu peito. ‘Por hoje é só. Amanhã teremos mais competições em esgrima, natação, arquearia, montaria e tantas outras modalidades. Boa noite para todos, e nos vemos amanhã.’

Brenda arrancou o fone arrumando os cabelos e se levantando. Colocou uma fita para tocar.

‘Vocês ouviram agora: Boletim das Olimpíadas – Atletas de Beauxbatons, por Brenda Vasseur. Em cinco minutos, Isa McCallister entra no ar com uma entrevista exclusiva ao ídolo Benjamin O’Shea. Não durmam!’ a voz terminou de anunciar. Rimos.

Enquanto eu me sentava e arrumava os fones e as pastas com a entrevista à minha frente, eu sentia, mesmo estando isolada de 99,9% das pessoas que ocupavam o castelo, que naquele momento eu prendia 100% das atenções. Todos andavam me cercando e cobrando essa entrevista há uma semana. Agora que ela iria ao ar com exclusividade, duvidava muito que alguém estivesse dormindo.
Brenda terminou de recolher as coisas e me encarou um tanto apreensiva. Faltavam dois minutos...

‘Tem certeza que está tudo certo com a entrevista?’

‘Tudo. Escutei agora mesmo, cinco minutos antes de chegar aqui. Não se preocupe, ela está perfeita...’ confirmei, colocando a fita da entrevista na rádio. Ela continuou me olhando apreensiva. ‘Não se preocupe, ok? Está tudo certo.’ Repeti e ela sorriu sacudindo os ombros.

‘Ok então... Mas Isa... Você não está preparando nenhuma surpresa além, está?’ ela perguntou séria e ri.

‘Que tipo de surpresa?’

‘Sei lá. Alguma informação além da entrevista... Alguma coisa extra.’

‘Se estiver, é crime?’ perguntei. Um minuto... Brenda falou em tom urgente.

‘Por favor. Controle-se. Estamos falando de Ben O’Shea e de nossa principal entrevista. Por favor.’ Ela disse em tom de súplica.

‘Já disse para ficar tranqüila, não disse? 30 segundos. Tenho que entrar no ar. Me deseje sorte!!!’

‘Boa sorte.’ Ela respondeu não parecendo muito calma. Mas sorriu.

‘Obrigada.’

Ela deu um último aceno e saiu da sala. Tranquei a porta com a varinha e entrei ao ar. O grande momento chegara...

°°°

A entrevista estava rolando perfeitamente bem. Do lado de fora da rádio eu ouvia uma pequena aglomeração de fãs afobadas que tinham se reunido ali. A cada pergunta elas se expressavam de maneiras diferentes. Quando não eram gritos, eram suspiros, ou risadas histéricas, ou grandes “AHHH” ou “OHHHN”. Eu ria me identificando com elas. Finalmente, a última pergunta foi respondida...

- Como você encara o futuro, sem a banda, sem a mídia, as fofocas?
R: O futuro é incerto. Mas devo admitir que não tenho do que me queixar do meu presente... Tenho amigos maravilhosos, um filho que me orgulho muito, alguém especial que amo muito, fãs fiéis, uma condição tranqüila para viver, uma profissão que gosto. Enfim. Não sei como vai ser meu futuro, mas espero que se pareça muito com o HOJE, o AGORA.

- Para encerrar, gostaríamos de agradecer sua paciência e disposição. Seu carisma. E tudo o que você nos proporcionou antigamente, e nos proporcionou hoje.
R: Eu é quem tenho de agradecer. Por se lembrarem de mim. Respeitarem minha decisão. Me admirarem como pessoa também. Devo tudo a vocês, meus fãs. Obrigado por essa oportunidade de estar mais perto de todos...

A fita da entrevista parou. Do lado de fora, as meninas agora choravam, gritavam e aplaudiam com entusiasmo. Peguei o microfone.

‘E essa foi a entrevista com meu ídolo, e com o ídolo de várias outras pessoas por aqui, tenho certeza. Mais uma vez, gostaria de agradecer ao apoio de todos, aos meus amigos que intercederam para a realização desse sonho, ao Ben por ser tão simpático e maravilhoso...’

As meninas gritaram e aplaudiram ainda mais forte. Deixei que elas se recuperassem por um minuto antes de recomeçar a falar.

‘Mas, além dessa entrevista, há ainda algumas curiosidades sobre Ben que gostaria de compartilhar...’ então tudo ficou quieto e silencioso. Ninguém esperava nada além da entrevista, mas eu tinha uma carta na manga. Um curinga. ‘Durante toda a semana eu me propus a perseguir Ben por todos os lugares, saber dos seus gostos, seus costumes... Seus segredos. Mesmo que ele não tenha visto, mesmo que ninguém tenha reparado. Devo dizer: há muito mais sobre Ben O’Shea do que cabem nossas vãs idolatrias!’

O silêncio continuou intenso. Do lado de fora eu senti uma tensão ansiosa. Respirações se prendendo. Ouvidos se apurando.

‘Ben O’Shea, como ele mesmo disse, ama muito alguém. E agora, caríssimos ouvintes, eu tenho a honra de dizer quem é a felizarda de tanto amor e tanta sorte. Seu nome e sua identidade não são ocultos. Muito pelo contrário. A sortuda atende pelo nome de Alexandra Selene McGregor, e está trabalhando como Chefe de Segurança das Olimpíadas, junto com Ben.’

Então, em questão de milésimos de segundos, as garotas explodiram em exclamações surpresas. Foram tantos “OHHH” e “NÃO ACREDITO! É ELA MESMO?” ou até mesmo “ELA NEM É TÃO BONITA ASSIM PARA ELE. SOU MUITO MAIS EU” que eu sabia: havia alcançado meu objetivo.

‘Eu sei, eu sei como vocês estão se sentindo. Também tive um momento de completa perplexidade. Mas acreditem: o romance de Ben e Alex (e acho que já tenho intimidade para chamá-la assim) é muito antigo! Fontes seguras afirmam que eles foram grandes amigos em Hogwarts e se formaram juntos. Assim como se formaram juntos na Academia de Aurores. E MAIS: Nicholas O’Shea é na verdade NICHOLAS MCGREGOR O’SHEA, filho de Alexandra e Benjamin! Se ele nasceu fruto de uma crise no casamento de Alex, ou outra coisa qualquer, não sei responder, mas Nicholas é, sempre foi, e sempre será, fruto desse amor tão intenso e duradouro entre os dois.’

O barulho era tão intenso no corredor que me assustava. Acho que algumas meninas desmaiaram no chão enquanto eram acudidas por outras histéricas. O circo estava armado. Começaram a socar a porta e chutar com violência.

‘Espero que Ben possa confirmar seu romance de agora em diante. Assim como Alex. Não é vergonha amar e ser amado. É tudo que desejamos para nosso ídolo. No mais, fico por aqui. Agradeço a compreensão e paciência de todos e até o próximo programa. Boa noite.’

Desliguei a rádio. O barulho do lado de fora só aumentou. Tinha decidido: esperaria que as coisas se apaziguassem um pouco, antes de sair. Sabia que não seria fácil a aceitação tão breve de todas... Eu havia acendido o fósforo perto demais de um barril de pólvoras.

Tuesday, November 06, 2007

Por Gabriel Storm Lupin, direto de Beauxbatons

Domingo, 4 de Novembro de 1998

Ah, lar doce lar. As delegações haviam desembarcado em Beauxbatons depois de uma semana em Durmstrang na manhã de domingo e estava muito feliz por estar de volta a minha verdadeira casa. Não vou dizer que não gosto da Califórnia, pois estaria mentindo. Mas só aqui me sinto à vontade de verdade. Fomos todos alojados na Fidei mesmo Ty e eu sendo da Sapientai e Miyako deu um jeito de escapar da Nox para ficarmos todos juntos. E como Beauxbatons estava na frente no quadro de medalhas, os alunos que ficaram na escola fizeram questão de lembrar esse fato aos visitantes espalhando cartazes e faixas por todos os corredores. Acho que os meus ex-colegas de escola vão ganhar também em animação...

ººº

Segunda, 5 de Novembro de 1998

- Que sono todo é esse, lobão? – Ty me sacudiu e bocejei
- Ainda estou no fuso horário da Califórnia. E mal tive tempo de me adaptar ao de Durmstrang e já viajamos outra vez. Essa hora eu estaria dormindo...
- Pois é bom acordar logo, ou não vai passar da semifinal da Esgrima – Miyako acertou seu sabre no que estava na minha mão derrubando-o – Não tem graça ganhar de você assim, lute direito!

Sacudi a cabeça para espantar o sono e peguei o sabre do chão, voltando a duelar com Miyako. Teria uma luta em algumas horas e estava valendo a vaga na final. Micah já havia vencido a semifinal da parte da manhã e se conseguisse passar, nos enfrentaríamos amanhã no duelo com sabre. Ty autorizou o inicio da luta e recomeçou a contar tempo e pontuação. Tinha que vencer e garantir minha primeira medalha amanhã, mesmo que fosse de prata.

ººº

Terça, 6 de Novembro de 1998

A semifinal de Esgrima de ontem não poderia ter sido melhor. Além de ter sido contra um argentino, Ramón Díaz, ainda venci. Foi preciso prorrogação, pois o Hermano era teimoso, mas consegui uma maior pontuação e me classifiquei para a final. Mais uma vez a delegação brasileira lotou a arena para mandar energias negativas ao eterno adversário, o que acabou me favorecendo. Mas não sei quem fez mais barulho nos intervalos entre os meus pontos marcados e a retomada de posições: os brasileiros ou Manuela e Miyako, que pareciam comandar a bagunça. Todos na arena sabiam meu nome e nem teria sido necessário Viera anunciar no microfone antes do início da luta.

Para a luta dessa tarde estava particularmente ansioso. Não só já tinha garantido uma medalha, como seria contra um amigo. Estava ansioso pelo início dela, mas tranqüilo. Independente do resultado ficaria feliz. Micah e eu já aquecíamos na lateral da arena enquanto um chileno e um português decidiam o terceiro lugar e quando o português espantou o outro para fora da arena, Viera ergueu seu braço e o declarou vencedor. Agora era nossa vez na disputa pelo ouro.

- Boa sorte, Gabriel – Micah estendeu a mão sorrindo antes de colocar o capacete com a tela de proteção
- Boa sorte você também – Respondi abaixando a máscara. Tomamos nossas posições e nos cumprimentamos formalmente como em toda luta
- En guarde – Viera se postou entre nós dois e ergueu a mão – combattent!

Viera abaixou o braço e Micah já avançou para cima de mim, atingindo minha mão. Por sorte ela não contava ponto e já havia me recuperado do golpe, partindo para cima dele. Micah recuou alguns passos e por pouco não pisou fora da arena. Viera fez sinal para retomarmos nossas posições e o combate recomeçou. Dessa vez comecei atacando, mas foi Micah que marcou o primeiro ponto desviando do meu golpe e me atingindo no braço. Nossos amigos da Califórnia não sabiam para quem torcer então quando marquei meu primeiro ponto e empatei a luta, eles aplaudiram do mesmo jeito que aplaudiram Micah.

A luta seguiu equilibrada até o último segundo. O placar estava 14 a 14 e os nove minutos de tolerância estavam prestes a estourar quando Micah se descuidou ao não se proteger depois de um ataque e avancei com o sabre sobre a cabeça, atingindo seu capacete de leve. Vi meus pais sorrindo felizes e aplaudindo enquanto meus amigos de Beauxbatons começaram a pular e gritar na arquibancada. Viera agarrou meu braço o erguendo sorridente, já deixando a imparcialidade de lado e me abraçando em seguida. Tirei o capacete e o atirei para o alto sem conseguir parar de sorrir e estendi a mão para Micah, que apesar de ter perdido, também sorria.

- Parabéns! – ele falou animado com o capacete debaixo do braço – Um adversário e tanto
- Você também deu trabalho, mas claro, o melhor sempre vence – Falei rindo e ele afundou o capacete dele na minha cabeça, batendo com a mão
- Ta bom, pode se gabar, eu deixo. Vamos nos enfrentar outras vezes, e vai ser a minha vez de tirar onda com a sua cara

Ouvi um grito estridente e quando olhei para o lado, Miyako saia atropelando as pessoas na arquibancada da arena e veio se atirando em cima de mim. Atrás dela Maddie vinha correndo me abraçar e todos os meus amigos daqui também desceram, transformando a arena em um mar azul que se misturava aos alunos da delegação americana. Para conseguirem montar o pódio para a entrega de medalhas foi um sacrifício, pois Ian e Samuel brincavam com os sabres e pediam para Viera contar pontos e declarar um vencedor, mas nada que Maxime não conseguisse resolver com uns olhares atravessados. Recebi minha primeira medalha das mãos da diretora, e logo de ouro, e a arena ficou em silencio para ouvir o hino dos Estados Unidos. Uma pena não poder ouvir o hino da França nessa hora. Acho que sinto falta daqui...

Monday, November 05, 2007

Xeque-mate

A primeira semana dos jogos correu tranqüila. Claro, se levarmos em consideração que o ‘tranqüilo’ abrangia muitas vezes a comunicação por mímicas ou as brigas em jogos que ocasionalmente ocorriam... Mas, tirando pequenos desentendimentos e controvérsias, os alunos de Durmstrang nos receberam muito bem e Beauxbatons disputava de maneira quase empatada a primeira colocação no quadro de medalhas.

Com as meninas da República Avalon eu também não tinha o que queixar. Logo no dia em que chegamos, elas nos mostraram toda a casa e nos acomodaram em beliches espalhados pelo último e maior quarto da casa. Já tinha trocado uma dúzia de palavras com cada uma delas na medida do possível. Algumas falavam inglês, o que facilitou muito nossa comunicação.

Mas o mais incrível mesmo estava sendo o espírito de equipe, participação e determinação que os ‘filhos de Madame Máxime’ estavam demonstrando nas competições. Sempre que tinha um tempo entre meus treinos e jogos de xadrez, e nossos treinos de canoagem, eu ia assistir os jogos com participações francesas e devo admitir: entramos para vencer. Mesmo que não ficássemos com o ouro em todas as competições, saíamos com a cabeça levantada e determinados a melhorar o empenho na próxima chave, ou próxima partida... E a torcida, liderada principalmente por Ian, Samuel, Bernard, Dominique, e cia. ilimitada só ajudava ainda mais esse espírito vencedor.

Na manhã da final de xadrez acordei cedo. Só uma pessoa estava acordada no quarto: Anastácia Ivanovich. Na frente dela, um tabuleiro de xadrez já parcialmente vazio e ao lado, na cama, restos de torres, bispos, cavalos e peões estraçalhados da luta.

- Bom dia. – disse sentindo meu estômago afundar em desaprovação. Ela seria minha rival na final de xadrez e parecia obcecada enquanto assistia a rainha branca ser decepada por um peão negro, que declarava ‘xeque-mate’. Sorriu vitoriosa e se virou para mim.

-Ah, Anabel! Bom dia! – reparou as peças e fechou o tabuleiro se espreguiçando. Estava parecendo muito confiante e isso me fez sentir náuseas. Estivera dormindo enquanto ela repassava as jogadas de xadrez!

Sentindo que não suportaria perder a final de xadrez para ela, me troquei depressa, apanhei meu tabuleiro e saí da república em direção ao castelo. O Salão Principal já estava cheio de madrugadores de diferentes fusos horários que conversavam. Tomei café rapidamente e segui para a sala de xadrez. Bernard estava por ali arrumando cadeiras e tabuleiros. Sorriu a me ver e veio me dar um beijo.

- Está nervosa? – ele perguntou enquanto nos sentávamos. Balancei a cabeça negativamente rápido demais e ele entendeu que estava sim, muito nervosa, mas não queria demonstrar isso. Riu. – Você vai se sair bem, ok? Foi bem em todas as eliminatórias! Venceu da Durigan ontem com 15 minutos de jogo! É um recorde!

Tentei sorrir, mas não consegui. Minha boca tinha um gosto amargo e tenso. No dia anterior, venci da Lavínia na semifinal, realmente muito rápido. Mas por que ela avistou Miyako e o amigo dela abraçados na arquibancada e não conseguiu perceber minha jogada com a torre e o bispo encurralando sem qualquer esperança o rei. Mas eu sabia que Anastácia seria uma concorrente difícil. Sabia que era concentrada no tabuleiro e não na platéia e sabia que tinha treinado um bom tempo de manhã, coisa que eu não tinha feito!

Bernard balançou a cabeça e me abraçou quando contei que ela parecia bem confiante de seu desempenho. Sentindo que eu precisava de ajuda, topou jogar uma partida contra mim, até a hora da final... Talvez ele tenha me deixado o vencer de propósito, para que eu também me sentisse confiante, ou talvez ele realmente tenha dado bandeira com a rainha a colocando de posição para ataque do meu cavalo, mas de qualquer maneira eu agradeci ter vencido essa partida, e quando as pessoas começaram a tomar as arquibancadas ao redor, falando agitadas, esvaziei minha mente da pressão, respirei fundo e me sentei de frente para Annia, que também parecia estranhamente despreocupada. A final iria começar.

°°°

Já se passara uma hora de partida, de acordo com o cronômetro que Bernard colocara em cima de nossa mesa. Até agora eu tinha eliminado três bispos, uma torre e um cavalo de Annia, mas ela tinha eliminado os mesmos três bispos e minha rainha! Ela estava levando a melhor...

A platéia estava em um silêncio fúnebre. De um lado, uma massa de torcedores azuis. De outro lado, um mar de estudantes vermelhos. A cada peça que eu eliminava de Annia, Samuel e Ian levantavam uma hola silenciosa do lado azul, e para não deixarem barato, a cada peça que Annia tirava de mim, suas amigas começavam um contra ataque com aplausos silenciosos, batendo as mãos no ar. Bernard estava ao lado do tabuleiro observando cada um dos nossos movimentos. Parecia totalmente indiferente quanto à sua preferência, embora eu visse que estava sendo difícil para ele segurar o riso cada vez que a torcida azul se levantava para me saudar. Annia observou eu ordenar minha torre em direção ao seu bispo que protegia o rei e ficou apreensiva. Ficou um minuto em silêncio observando as peças e depois no ar, começou a mexer com a mão as possíveis jogadas. Quando finalmente pareceu se decidir, segurou o bispo. Mas tirou a mão rapidamente, parecendo ter se arrependido, e foi com a mão em direção à rainha. Bernard parou sua mão no ar a olhando sério.

- “Piece touche, piece joue” – disse como se estivesse discursando. Annia balançou os ombros confusa e traduzi o francês.

- Peça tocada, peça jogada. Quer dizer que se você coloca a mão na peça, tem que movimentá-la.

Ela olhou de mim para Bernard, deste para seu bispo, e por último para sua rainha, com olhos cobiçosos. Segurou o bispo novamente e o movimentou, livrando-o do caminho. Sorri.

- Xeque-mate. – disse finalmente.

Minha torre avançou sobre o rei e se curvou como uma reverência, então, se lançou sobre ele o derrubando com força no tabuleiro. A peça se partiu ao meio. Bernard levantou meu braço ao ar e uma chuva de torcedores azuis saltou aos berros. Me levantei radiante e abracei apertado Bernard enquanto ele me girava no ar. A medalha de ouro era minha!

°°°

- Allons efants de la Patrieee...
- ... Lê jour de gloire est arrivééé!!!

Samuel e Ian cantavam aos berros o hino da França enquanto dançavam ao redor de mim. Todos os meus amigos se aglomeravam ao meu redor me abraçando e dando parabéns. E logo após a cerimônia de entrega de medalhas, eles me levantaram, empolgados, e me carregaram até os jardins, já tomados de uma claridade cinzenta e gélida.

Paramos todos na beira do lago. Ian, Samuel, Marie, Bernard, Viera, Dominique, Mad, Manu, Anne, Brenda e Chris ainda cantavam o hino da França. Isa anotava detalhes da partida para o jornal e rádio de Beauxbatons.

- O mais engraçado foi assistir Bernard com aquela pose indiferente barrando a jogada da menina. Estava louco para roubar uns peões dela! – Ian falou e todos caíram em gargalhadas. Bernard sacudiu os ombros.

- Regras são regras! “Piece touche, piece joue”. – ele disse satisfeito. Todos riram novamente.

- Ok, one down, one to go! – disse sorrindo e observando um caiaque solitário desbravar as partes não cobertas por gelo do lago de Durmstrang. Isa, Brenda e Anne acompanharam meu olhar e pareceram murchar.

- Hoje não, Bel, desiste! – Brenda disse vetando, mas com um tantinho de súplica na voz. Ela estava com as mãos enfaixadas depois da prova de atletismo. – Amanhã é a minha final de saltos e eu não posso forçar meu braço hoje.

- Não disse que vamos treinar hoje! – disse ofendida e Anne soltou um suspiro aliviado. – Estou só dizendo que vamos ganhar essa medalha de ouro na canoagem também! E a partir de segunda-feira, tratem de se preparar, pois vamos reforçar ainda mais os treinos...

- Ok, marechal, já entendemos. – Isa guardou a pena, e o pergaminho nos encarando. – Bom, agora se me dão licença, Jaeda Smith da Escola Texana quer me entrevistar sobre Ben O’Shea. E também, depois do que fiquei sabendo, essa entrevista vai vir a calhar...

- O que você ficou sabendo? – Manu perguntou se sentando mais reta. Viera girou os olhos pra ela. Sorri.

- Semana que vem todos saberão. Semana que vem. Até mais!

Isa balançou o cabelo para trás e se levantou. Saiu andando levemente, como se estivesse sobre nuvens. Ficamos a observando por uns minutos em silêncio até Ian rir.

- Sabem, acho que a Isa está aprontando alguma coisa! – disse e concordamos rindo.

Isa andara obcecada em perseguir Ben O’Shea por todos os lugares que conseguisse, e eu tinha certeza que o que fosse que ela tinha descoberto, não seria nada muito educativo...
Continuamos um tempo fazendo o balanço da semana. Dominique e Manu nos contavam as provas que tinham assistido com exclusividade e nos faziam rir. Já tinha me esquecido o quanto era bom gastar um tempo sem fazer nada, além daquilo: com amigos, conversando, rindo, sem preocupações com deveres e exames. E futuro.

Senti um cutucão no meu ombro e me virei. Bernard que estava me abraçando, também se assustou e se virou para trás. Era Ulisses. Senti o rosto queimar enquanto ele sorria para mim.

- Parabéns pela medalha, Bela. Ótima partida! – disse poetizando. Bernard deu uma tremida e me apertou.

- Obrigada Ulisses. – disse sorrindo educadamente, mas me sentindo extremamente constrangida.

Ele sorriu mais uma vez e se afastou com um amigo de Beauxbatons. Bernard se virou para mim.

- Bela? – perguntou ironicamente como quem está se divertindo, mas não havia sorriso no rosto dele. Balancei os ombros, indiferente.

- Ele é grego também, novato. Máxime me pediu que o ajudasse em algumas matérias, para ele se adaptar... Não tenho culpa se ele me chama de ‘Bela’.

- Folgado. – Bernard disse zangado e Dominique, Samuel, Ian, Viera e Chris concordaram com ele. Levantei a sobrancelha.

- Bobos.

Bernard continuou me olhando sério e então sorriu e me abraçou novamente, percebendo que não seria um bom negócio discutir por causa de um novato maluco. O problema é que Ulisses não saiu da minha cabeça o resto da tarde. Se eu achava que Isa estava aprontando alguma, eu tinha certeza que Ulisses também tinha um plano. Só precisava descobrir qual era...