Das memórias de Ian Lucas Renoir Lafayette
- Vamos, andem, ultima vez que estou chamando, quem não entrar no ônibus vai ficar para trás!
O professor de Zoologia berrava pendurado na porta de um dos grandes ônibus amarelos que ele havia conseguido para nossa viagem. Eram ônibus trouxas, muito diferentes do Noitebus, que tinha três andares. Peguei minha mochila largada na grama e embarquei junto com meus amigos. O ônibus já estava lotado, mas por sorte os bancos no fundo dele ainda estavam vagos, permitindo que nos acomodássemos bem lá atrás, um lugar muito estratégico pra esse tipo de viagem.
Estava pondo os pés no banco da frente, começando a rasgar folhas de papel e amassa-las em formatos de bolas, quando a viagem que prometia ser divertida de repente se tornou maravilhosa, melhor impossível: Adhara Black entrava com cara de poucos amigos no ônibus arrastando sua mochila como o Lino, um garotinho de um desenho trouxa que anda arrastando um cobertor até pra ir ao banheiro. Pelo visto os planos dela de passar o natal em casa fora por água abaixo, permitindo que nosso acampamento se tornasse algo memorável.
Os primeiros 15 minutos na estrada correram sem incidentes. Mas foi só terminarmos de abastecer os bolsos para um verdadeiro bombardeio ter inicio. Começamos escolhendo um alvo: o faraó sentado a três bancos de distancia. A bola de papel voou tão rápida ate sua cabeça que ele não conseguiu descobrir o que o acertou. Ainda procurando o atirador, outra bola voou, dessa vez acertando a cabeça de uma menina da Lux que gritou na mesma hora. O terceiro alvo foi Adhara, obvio. Nós quatro atiramos as bolas ao mesmo tempo, acertando todas em sua cabeça. A garota saltou do banco já sacando a varinha e disfarçamos. Claro que ela sabia que éramos os autores da brincadeira, mas não viu e não podia provar. Adhara apanhou as bolas do chão e devolveu furiosa, nos acertando. A guerra havia começado! Éramos nós quatro contra ela, que enfeitiçava as bolas para que voltassem com a mesma rapidez que as acertava.
A batalha só teve fim quando o professor pareceu ouvir os gritos dos alunos no meio do bombardeio e interveio, confiscando todos os papeis que encontrou no ônibus, até o higiênico. Sem munição para atacar o resto dos passageiros, desatamos a cantar canções irritantes.
...Um hipogrifo incomoda muita gente, dois hipogrifos incomodam, incomodam muito maaaaais. Três hipogrifos incomodam muita gente, quatro hipogrifos incomodam, incomodam, incomodam, incomodam muito maaaaaiis...
...53 hipogrifos incomodam muita genteee, 54 hipogrifos incomodam, incomodam, incomodam, incomodam, incomodam, incomodam, incomodam...
- CALEM A BOCA PELO AMOR DE MERLIN!
Adhara estava de pé de novo, com as mãos tampando os ouvidos e com cara de quem chupou limão. Anabel também estava em pé ao seu lado sacudindo a cabeça com os dedos enfiados no ouvido, na tentativa de abafar o som que àquela altura já tinha contagiado metade do ônibus.
- Até você Morgan?? – Bel falou quase chorando ao ver a amiga cantarolando animada ao meu lado, regendo o resto dos alunos com sua batuta invisível.
- Parem com essa musica dos infernos ou faço vocês engolirem cada um desses malditos 54 hipogrifos!
- Por favor, cantem outra coisa...
- Não, não... NÃO CANTEM MAIS NADA!
Samuel coçou a garganta com um sonoro “ham, ham” e tomando o lugar de Morgan na regência, começou a entoar uma musica que não conhecia, mas de letra fácil e que rapidamente aprendemos. Em questão de segundos 80% dos passageiros, incluindo o professor, cantavam com empolgação e devoção.
... Voldemort matou um, Voldemort matou um. É um, é morte. Viva Voldemort, Viva Voldemort! Voldemort matou dois, Voldemort matou dois. É dois, é um, é morte. Viva Voldemort, Viva Voldemort! Voldemort matou três, Voldemort matou três. É três, é dois, é um, é morte. Viva Voldemort, Viva Voldemort...
... Voldemort matou 30, Voldemort matou 30. É 30, é 29, é 28, é 27, é 26... É 5, é 4, é 3, é 2, é 1, é morte. Viva Voldemort, Viva Voldemort! Voldemort matou 31, Voldemort matou 31. É 31, é 30, é 29, é 28, é...
- Me mata agora Adhara, por favor...
- PAROU A PALHAÇADA! MORGAN, LARGA ESSE MICROFONE DE PAPEL! O PROXIMO QUE CANTAR QUALQUER MUSICA, PODE SER ATÉ A DO PAPAI NOEL, MORRE!
Uma enorme vaia começou a ecoar no ônibus e as bolas de papel confiscadas pelo professor saltaram do bolso dele quando mais de 10 feitiços expulsórios foram pronunciados e todas voaram em direção a Adhara, que caiu sentada no banco por cima de Bel. O professor, sentindo a tensão e a guerra de vontades que estava prestes a começar, pediu que encerrássemos o coral de Beauxbatons por um tempo, para darmos preferência a contar piadas ou historias de terror, pois eram mais silenciosas. Ele passou recolhendo as bolinhas e fazendo todas evaporarem, sentando-se ao lado do motorista de olhos atentos no fundo do ônibus.
O resto da viagem foi um porre, pois estávamos proibidos de cantar e atirar papel. Logo chegamos ao lago Moliets, dando inicio a montagem das barracas, sem magia. Não precisa nem dizer que a minha barraca era uma das mais tortas, remendada com fita adesiva trouxa que o professor emprestou. Os arquitetos Samuel, Bernard, Dominique e eu demos uma boa olhada na nossa obra de arte e ao constatarmos que ela não iria desabar na madrugada, nos alojamos. Adhara passou por nós esbarrando em mim de propósito enquanto pisava nos gravetos que Dominique tinha colhido pra nossa fogueira e triturando todos eles. Olhei bem pra cara dela, cutucando Samuel: estava declarada a guerra do século!
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