Das memórias de Ian Lucas Renoir Lafayette
Acordei cedo naquele sábado, 03/12/96, dia do nosso 1º fim de semana em Paris. Aqui em Beauxbatons nós temos três fins de semana destinados a batermos perna na capital da França, torrando nossos galeões pelas ruas paralelas ao Champs Elysée, ou para quem sabe se comunicar direito sem dar bandeira, gastar dinheiro trouxa nas dezenas de lojas da avenida. Ainda estava escuro, mas pelo meu relógio, o barco que nos leva até lá sairia em três horas. Bernard ainda dormia tranqüilo, então sai do quarto para não acorda-lo. Não conseguia tirar da cabeça as palavras de Dominique... “Chega nela logo antes que outro faça isso!”, ele me disse depois que comuniquei ao mesmo que não teria coragem de seguir seu conselho estúpido sobre como abordar uma garota. Havia conversado com Morgan sobre isso e ela me garantiu que isso não funciona sempre, era mais seguro não arriscar.
Desci para tomar café com as palavras do meu amigo martelando na minha cabeça. Não precisava ser bruto com ela, mas tinha que fazer alguma coisa. Estava decidido, iria ser hoje durante o passeio. Existe lugar melhor para esse tipo de assunto do que as ruas de Paris? A cidade luz, considerada por muitos a mais romântica do mundo, tanto bruxo quando trouxa? O salão ainda estava vazio, somente meia dúzia de alunos-coruja estavam espalhados por ele, tomando o café ainda quente, acabado de ser servido pelos elfos. Vou começar a considerar levantar cedo, pela 1ª vez em seis anos o pão não está duro e as torradas estão inteiras, não é um quebra-cabeça. Bernard apareceu algum tempo depois, uma cara de quem foi acordado a força e ainda dormiria por pelo menos uma hora.
BL: Bom dia.
IL: Ta de mau humor?
BL: To. Aqueles pivetes do 3º ano resolveram acordar a todos, excitados com a primeira visita a Paris... Juro que se não fosse monitor, teria azarado todos.
IL: Sorria, vamos passear hoje! Aqui, come uma torrada, olha como ela é bonita quando ainda é um quadrado!
BL: Geléia! Nós já comemos isso aqui na escola??
Acabamos o café quando a escola estava descendo para começar a comê-lo e resolvemos esperar por Dominique e Marie no cais. Atualizei Bernard sobre minha decisão de falar com ela de uma vez por todas e ele me apoiou. Quando o assunto acabou, o restante dos alunos chegou e madame Maxime liberou a entrada no bâteaux.
A viagem seguiu tranqüila, sem novidades. Como de costume, os meninos e eu entretemos a tripulação com piadas idiotas e brincadeiras com os alunos mais novos, fazendo o percurso parecer menos demorado. Ao desembarcarmos na Pont de la Concorde, nos separamos. Marie foi com as amigas comprar roupas na parte trouxa da cidade e eu segui com os garotos para o lado bruxo. Esperaria até à hora do almoço, iria convidá-la para almoçar em um daqueles restaurantes trouxas do Champs-Elysée e tocaria no assunto.
A manha correu rápida. Enchi os bolsos com produtos da loja de logros e comprei penas e tintas que estavam acabando. Comprei também algumas roupas na parte trouxa, coisas da moda deles que pareceram boas. Não parava de olhar no relógio, esperando dar meio dia e eu ir ate onde sabia que ela estaria. Despedi-me dos meninos, pois tudo que não queria era platéia, e marchei até a avenida principal. Avistei logo suas amigas encostadas em uma arvore, rindo. Aquelas risadas idiotas que as meninas sabem fazer quando querem te constranger. Corri os olhos pela calçada ao redor delas tentando encontra-la. Derrubei todas as sacolas que carregava assim que meus olhos a acharam. Ela estava parada em frente a uma loja de perfumes e não estava sozinha. Um garoto que reconheci como Antoine Georges, da Lux e mesmo ano que eu, estava de mãos dadas com Marie e eles se beijavam. Entendi na hora o porquê das risadinhas das amigas. Recolhi as sacolas no chão e passei por eles depressa, descendo a rua. Ouvi Marie me chamar, mas ignorei, fingi que não havia escutado. Minha vontade era de sumir dali, se já tivesse prestado o exame de aparatação, não teria pensado duas vezes e estaria longe.
Andava sem prestar atenção, esbarrando nas pessoas que passavam por mim. Já estava quase no final da avenida quando parei. Havia um café ali perto e como estava cansado e com raiva, sentei numa das mesas do lado de fora. Estava com raiva sim, mas não de Marie ou do idiota do Antoine. Estava com raiva de mim mesmo por ter esperado tanto tempo! Se tivesse feito algo ao menos antes de sair da escola, talvez fosse eu no lugar do intrometido.
Abaixei a cabeça na mesa, o café e o muffin que havia pedido esfriando, e tive a impressão de que adormeci, quando senti uma mão me balançar devagar e uma voz suave chamando meu nome. Levantei a cabeça pesada, os olhos marejados, e Nathalie Deruelle estava parada na minha frente. Nathalie foi minha namorada há uns dois anos, mas por alguma razão decidimos que seria melhor continuarmos amigos. Ela era da Lux e nos conhecemos há mais de nove anos. Ela sentou-se ao meu lado, me perguntando o que eu tinha. Contei a ela o que aconteceu, sem dizer que a pessoa por quem estava daquele jeito era minha melhor amiga. Fiquei feliz por ter sido ela a 1ª pessoa com quem encontrei, era muito mais fácil conversar com Nathalie sobre isso do que com os garotos. Ela me ouviu pacientemente por horas e horas, tentando me consolar, dizendo que tudo ia ficar bem, que ela ia perceber que eu era a pessoa certa pra ela e não o outro. Encarei minha amiga por um tempo. Ela havia crescido, estava mais alta, não usava mais óculos, estava mais bonita do que sempre foi. Naquele momento me perguntei por que havíamos terminado o namoro, se sempre nos demos tão bem, e não consegui encontrar a resposta. Agindo sem pensar, segurei seu rosto e a beijei. E para minha surpresa, ela correspondeu ao beijo...
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