Monday, December 26, 2005

Meu natal foi pro brejo, literalmente!

Do diário de Isa McCallister

Longe de casa,
Há mais de uma semana,
Milhas e milhas distante do meu amor...

Momento depressivo? Desde que cheguei no meio desse nada que só tenho momentos como esse! Não que isso esteja com um clima de enterro, longe disso... Ian e Samuel declararam uma verdadeira guerra contra a Bel e Adhara, e isso já me renderam boas gargalhadas. Além disso, Morgan e Marienne fazem de tudo para que eu me divirta aqui também. Já decorei as músicas da viagem, já enfeitamos nossa barraca para o espírito das festas e já descolei algumas roupas com elas. Usar roupas da Bel e ter que alternar três pares de roupas para três semanas não vale, é covardia...

O que está me deprimindo é a falta da minha casa, do meu pai. Tantos planos feitos para nosso fim de ano e estamos à milhas de distância... Se é que podemos medir nossa distância por milhas... Provavelmente ele deve estar estacionado em algum lugar da lua, ou pesquisando vida em Marte.

Será que ela está me esperando,
Eu fico aqui sonhando,
Eu vôo alto, chego perto do céu...

O pior não é pensar no que eu poderia estar fazendo nesse momento, caso meus planos tivessem dado certo, é pensar no que os mosquitos estão fazendo por meus planos definitivamente não terem dado certo! Tenho a impressão de estar no meio de uma sociedade de mosquitos, abelhas, formigas e todos os outros insetos... Quase uma colônia isso aqui. Não sei se já teve a impressão de ser o banquete, mas é essa que tenho! Me sinto como o último ser com sangue doce da face da Terra. Isso aqui é um inferno o dia todo...

E quando saio à noite,
Vou andando sozinho,
Mas não entro em qualquer barra,
Sigo o meu caminho...

Sábado, véspera de Natal, acordei agoniada com o ataque mórfico dos pernilongos. Ainda estava cedo, mal o sol tinha nascido, e todos ainda dormiam... Levantei e fui até uma torneira lavar o rosto. Professor Pierre estava atiçando uma fogueira para preparar o café da manhã, e sorriu quando me aproximei...

PC: Bom dia senhorita McCallister... Porque levantou tão cedo? Ansiosa pelo Natal?

IM: Não exatamente professor! É que sofri um ataque de pernilongos essa noite e estou até ardendo de tanto coçar...

PC: Ah sim, eu entendo... Ai Merlin, não acredito!

IM: O que foi professor?

PC: Esqueci a caixa com comidas dentro do ônibus! Não dá pra fazer o café da manhã só com a fogueira! Vou ter que ir lá pegar...

Ele levantou e de repente parou, me olhou com expressão de alívio e ao mesmo tempo resposta para o dilema dele...

PC: Isabel, você se importaria de ir até o ônibus pegar essa caixa para mim? Ele não fica muito longe daqui...

IM: Hum, claro que não! Por onde devo ir?

PC: Bom, seguindo aquele caminho ali entre as árvores, lá no final, na bifurcação dele, siga pela esquerda e o ônibus vai estar parado no fim! Enquanto isso esquento alguma água...

IM: Tudo bem!

De repente rola uma canção,
E ela me faz lembrar você,
Fico louco de emoção,
E eu já não sei o que vou fazer...

Entrei pelo caminho e as árvores o circulavam... A cada passo que dava, ia ficando mais escuro e silencioso. Continuei pelo caminho um tempo, até chegar à bifurcação... Então parei! A pergunta X veio na minha cabeça: E agora? Tudo bem que o professor Pierre tinha dito em qual deveria ir, mas e quem disse que eu lembrei? Estava tão distraída pensando no que poderia ter naquele mato que esqueci completamente que caminho tomar!

Fui pela intuição, acreditando que o sexto sentido feminino nunca se engana. Pensei comigo: Entre o esquerdo e o direito, eu iria pelo direito, sou destra não é verdade? Lá fui eu, segui pelo direito. As árvores cada vez mais próximas, e a escuridão quase total, sem poder usar varinha... Ia me apoiando nas árvores e não ouvia nada até que...

Ruable! Ruable! Ruable!

As árvores onde me apoiava na lateral de repente sumiram... Mergulhei meu pé em uma gosma grossa e ouvi o coaxar de pelo menos uns duzentos sapos desordenadamente. Ruable! Ruable! Ruable! Aquele som constante e aquela gosma no pé que tinha um efeito de me puxar mais para dentro daquilo... Lutei contra aquele líquido e consegui sair quase ilesa, me apoiando novamente em uma árvore!

Amaldiçoando o Professor Pierre com todos os argumentos que conseguia encontrar, e fazendo vômitos para a minha situação, peguei a varinha e iluminei um pouco o local! Me encontrava na beira de um grande pântano, onde não duzentos, mas pelo menos quinhentos sapos de todos os tamanhos e estilos se aglomeravam. Sai correndo dali, a lama do meu pé me fazendo escorregar, mas eu queria ir bem pra longe daquele local...

Quando cheguei novamente à bifurcação, tomei o caminho da esquerda e corri. Logo as árvores foram se distanciando e estava tudo claro, e lá, no final do caminho, estava o ônibus estacionado.

Com raiva e me sentindo pregada de sujeira, peguei a caixa e voltei ao acampamento. Muitos já tinham levantado e o professor Pierre estava olhando ansioso esperando minha volta.

PC: Ih, pelo visto a senhorita tomou o caminho errado não é?

IM: Sim. Aqui está!

PC: Obrigado...

IM: Não há de quer!

Sai bufando e resmungando e fui novamente até a torneira lavar os pés que estavam grudando... Passamos a noite de Natal em volta de uma fogueira, comendo sanduíches e cantando as mesmas músicas de acampamento e algumas histórias de terror. Meu esmalte já era, mais uma vez, estou dentro de uma barraca sendo atacada pelos pernilongos, com insônia e ouvindo o coaxar daquelas criaturas que ficou impregnado na minha cabeça!

Estou a dois passos do paraíso
Não sei se vou voltar,
Estou a dois passos do paraíso
Talvez eu volte ou fique por lá,

Não sei por que eu fui dizer:
Bye, bye, bye, bye...

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Música: Planta e Raiz - A dois passos do paraíso

N.A.: A música não tem quase nada a ver com o texto, mas quis colocar uma e lembrei a da propaganda! O Ruable é o barulho de sapos que a Mone sugeriu e eu aderi, e o texto é baseado em um fato real!

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