Tuesday, December 20, 2005

Nem queria ter vindo MESMO...

Do diário de uma frustrada Isabel McCallister


Ai, quanto sonhei em estar deitada na minha cama em Nova York, na minha casinha, com meu pai e somente meu pai como companhia! Ao contrário dos meus sonhos eu estou a quilômetros de lá, meu pai deve estar atravessando a barreira da via Láctea com um ônibus espacial e eu tenho pelo menos mais 100 pessoas como companhia...

Um terço da minha frustração é por isso, os outros dois terços eu explico já! Sábado de manhã eu separava no armário algumas roupas para fechar a mala, afinal, segundo meus devaneios, deveria voltar para casa na manhã de ontem. Amaralina também estava no dormitório juntando suas coisas para voltar para casa e o humor não poderia estar melhor.

Quando achei que estava tudo preparado e descia para o almoço, uma coruja branca com manchas caramelo entrou no quarto e voou até o meu encontro. Morgana havia voltado de sua viagem, finalmente... Fazia duas semanas que a tinha mandado para casa avisando papai do dia do meu retorno para casa, e a hora que deveria desembarcar na cidade para ele me pegar. Esperava uma resposta de confirmação de sua parte, porém, o que me foi entregue foi algo bem diferente...

Querida filha, tudo bem? Eu estou indo muito bem, melhor impossível eu diria... Hoje, assim que Morgana chegou, eu tinha acabando de voltar do escritório com uma novidade maravilhosa! Lembra-se do meu projeto, o que andei trabalhando o ano todo junto com David? Acaba de ser aprovado... Sairemos em vôo teste nele na próxima semana! Estava tão empolgado com o seu regresso filha, e de repente me cai esse balde de água gelada. A notícia é maravilhosa, mas você sabe o tanto que esses vôos testes demoram... Acho que só voltaremos em três ou quatro semanas, possivelmente. Tentei adiar isso para o inicio de janeiro, mas não consegui. Isa, me desculpa, você terá que ficar no castelo nessas festas de fim de ano. Estou morrendo de saudades, mas finalmente todo o meu trabalho foi reconhecido e não posso desperdiçar uma oportunidade dessas. Te recompensarei, eu prometo! Fique bem, e a não ser que consiga uma coruja astronauta, não me mande cartas até eu avisar a minha volta! Beijos do seu pai que te ama, Richard.

Se isso foi frustrante? Não, nem um pouco... Imagina você fazer planos e mais planos para seu fim de ano com seu pai, estar fechando a mala e contando os segundos para o outro dia nascer e receber uma notícia dessas. Seria menos frustrante para mim saber que a Anabel não iria ao acampamento de estudo do que essa carta de papai... Claro, eu fiquei super mega giga feliz com a notícia que ele me deu do trabalho, afinal, ele desenhou cada parafuso do ônibus espacial, mas em circunstância foi como se alguém tivesse me tirado um vestido de seda da mão na hora em que o encostei.

Foi por ficar com algumas visões na cabeça que me lembrei do que viria pela frente. Os alunos de quinto, sexto, e sétimos anos que permaneceriam no castelo iriam para o acampamento do Lago Moliets estudar mais abertamente e naturalmente as aulas de Botânica e Zoologia. Claro que não era uma obrigação, quem quisesse ficar no castelo que se sentisse a vontade, mas então conclui que entre ir para o acampamento onde alguns conhecidos estariam e ficar no castelo um mês sozinha e trancafiada, seria melhor embarcar no ônibus com o resto do pessoal enfrentando o mato, os mosquitos, a terra, e a falta de civilização.

Desci decidida... Iria almoçar e logo depois iria à sala do professor Pierre, me inscrever para o acampamento. Estava concentrada na minha salada de bacalhau que nem vi quando Samuel sentou-se ao meu lado e me cumprimentava...

SB: Oi Isa... Tudo bem?

IM: Indo, e você Samuel?

SB: Melhor impossível! Estou empolgado com a viagem amanhã...

IM: Eu estava também, mas enfim... Vai passar as festas com a família?

SB: Não, eu e mais alguns amigos concordamos que seria melhor não voltar para casa agora... Nossas famílias ainda devem se reter na nossa brincadeira dos Comensais. Vou para o acampamento, você não vai?

IM: Ponto positivo para ele... Bom, não ia, mas fui praticamente empurrada para lá, e vou sim, se as inscrições ainda estiverem abertas... Pensei que ficaria sozinha, Amaralina vai para sua terra passar o fim de ano com seu povo... Ainda bem que você vai!

SB: Ah, você nunca ficaria sozinha por muito tempo lá não é mesmo? Conhece tanta gente... De qualquer maneira, se quiser que guarde um lugar no ônibus próximo de mim e dos meus outros amigos pra você, eu guardo sem problema algum... Você vai gostar deles!

IM: Ok, obrigada... Eu estou indo Samuca, vou até a sala do Pierre tentar me inscrever... A gente se vê, certo?

SB: Com certeza!

Samuel é um garoto da Nox que conheci um pouco depois de chegar ao castelo... Havia se mostrado um menino muito legal e um ótimo amigo, e se meu sexto sentido não me enganasse, era apaixonado na Lina, o que fazia que nossa aproximação se intensificasse. Segui até a sala do professor Pierre que organizava alguns papéis da mesa, e tinha uma mala trouxa aberta em cima de uma cadeira. Por sorte eu ainda consegui preencher a ficha de inscrição e o entregar, o que ele disse ter sido muita sorte realmente, uma vez que as inscrições estavam quase se encerrando.

O resto do dia passou sem qualquer expectativa. Acordamos no domingo, e carregamos as malas para baixo. Após tomar o café me despedi desanimada de Lina e segui para a entrada onde alguns ônibus amarelos daqueles típicos para passeios trouxas estavam estacionados e nos esperavam.

Mal havia entrado no ônibus e avistei Bel e Adhara nas poltronas da frente, com caras de quem tinha comido e não gostado.

IM: É, pelo visto essa viagem não está sendo indesejada só para mim não é mesmo?

BM: Eu até estava animada em ir estudar Isabel, mas esperava ficar um mês longe de você e desse seu cabelo colorido. Some da minha frente...

A gentileza da minha irmã para comigo é realmente de se espelhar em qualquer outra relação. Sentei-me ao fundo, onde Morgan estava sentada com uma menina. Samuel e seus amigos ainda não haviam chegado, e só foram aparecer quando o ônibus se preparava para partir. Após ser apresentada para todos, o professor Pierre (para minha total felicidade, uma vez que eu me recusava a ir ao mesmo ônibus da professora Milenna) entrou e se sentou junto ao motorista. A estrada começou a ser percorrida.

A viagem foi até divertida... Samuel e seus amigos começaram uma série de canções e após um tempo quase todos do ônibus estavam embalados e concentrados nela. Bel estava prestes a cometer um suicídio e Adhara prestes a cometer um homicídio conjunto quando paramos e todos começaram a descer.

Terça parte da minha frustração começou nesse momento. Descemos e nos encaminhamos para o bagageiro, para apanhar as malas. Vem mala de cá, vai mala pra lá quando todos se afastaram com suas devidas bagagens e me aproximei para apanhar a minha. Uma onda de total desespero invadiu meu coração no momento que olhei o bagageiro totalmente vazio... Onde está a minha mala???

O motorista não soube me responder e então sai procurando ela com o olhar em todos os lugares mas nenhum sinal de uma mala rosa perdida e solitária buscando a sua dona. Após garantir que ela não estava com ninguém, o motorista constatou que a porta do bagageiro estava aberta quando chegamos, ele não entendia o porquê, mas se despreocupou quando todos encontraram suas malas. Deu para perceber a minha tamanha sorte? No meio do mato, no meio do nada, sem querer estar ali, e sem a minha mala, as minhas roupas, os meus produtos, os meus objetos... Apenas eu, a roupa que estava usando no corpo, os mosquitos e... a Bel e sua mala! Pensar na hipótese de ter que pedir para Bel me emprestar algumas roupas para eu passar o acampamento era torturante... Não pelo fato de pedir, mas de pensar nas roupas da Bel...

Agora deu pra você entender meu estado não é? Merlin ao menos iluminou...

MO: Isa, nós soubemos o que aconteceu... Que pena e falta de sorte hein? Não poderiam usar um feitiço convocatório da mala?

IM: Acho que não Morgan... Estamos em território trouxa e seria um choque uma mala voando não é? Não sei o que fazer...

MO: Bom, pra começar você pode ficar na barraca comigo e a Marienne. Ela é grande pra nós duas mesmo... Vamos montar ela?

IM: Vamos! Não sei nem como agradecer Morgan... Teria que dormir com a Bel e Adhara, imagina isso...

MO: No mínimo uma iria sair degolando a outra lá!

Foi assim que minha viagem começou. Eu, Marienne (que por sinal é muito simpática) e Morgan colocamos nossa barraca em pé. Eu não havia acampado muitas vezes com papai ainda, mas tinha uma breve noção de como montar uma barraca e com mais algumas conclusões das meninas ela saiu reta e paralela. Os estudos começaram essa manhã, mas eu estava bem distraída e alheia a eles. O resto das tardes de ontem e hoje, fomos desvendar o local e bolar algumas coisas para se fazer nesse lugar.

Após as súplicas que fiz para Bel, ela me cedeu dois conjuntos de roupas para que eu alternasse todos os dias, e é isso... Não sei como esse acampamento pode acabar bem, mas pior do que já está, não fica!

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