Das lembranças de Ian Lucas Renoir Lafayette
O incidente da poção ilusória me deixou furioso, a escola quase inteira riu da nossa cara quando a gravação dos gritos ecoou pelo acampamento. Com a nossa moral lá embaixo, precisávamos dar o troco na rabugenta engraçadinha. Bernard avisou que não queria se envolver na nossa briga, pois estava disposta a aprender alguma coisa com a viagem. Já Dominique disse que até topava ajudar a bolar os contra-ataques, mas que também não queria se meter. Segundo ele, havia muitas coisas mais interessantes a se fazer num acampamento cheio de garotas com medo de inseto.
Éramos então dois x dois, já que a namoradinha do Bernard estava dando apoio à esquentadinha. Sai da barraca naquela manha com os garotos para nos juntarmos ao resto dos alunos para a aula pratica de Zoologia e Botânica com a cabeça na revanche. Segundo o roteiro do professor, hoje iríamos aprender sobre a vida das formigas que viviam naquela mata. A perspectiva de passar o dia observando formigas tombarem para carregar folhas e segui-las ate seus formigueiros não era animadora, mas fez surgir uma idéia. Ta, era um pouco arriscada, mas valia a pena...
Coloquei Samuel em dia com minhas maluquices e assim que a aula se encerrou, partimos para dentro da floresta, munidos de um pedaço de chocolate, uma jarra de vidro, pedaços de madeira para acertar qualquer coisa que pulasse em cima de nós e nossas varinhas, atrás do ator principal da brincadeira...
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Todos os alunos estavam reunidos em volta da fogueira contando historias idiotas que supostamente deveriam dar medo. O trabalho de Dominique e Bernard era manter todos presos ali com qualquer historia absurda que eles iam inventar, o importante era não deixar ninguém sair ate que Samuel e eu estivéssemos de volta.
Entramos na área onde as barracas estavam montadas e logo achamos a de Adhara e Anabel, era a única sem enfeites pendurados. Samuel abriu o zíper com cuidado e entramos. O processo durou apenas alguns minutos e assim que fiz um pequeno furo na parte de trás dela, saímos depressa, nos juntando ao grupo que prestava atenção nas baboseiras de Dominique, atentos.
O professor logo ordenou que nos recolhêssemos e todos seguiram para suas barracas sem questionar. Fingíamos que também estávamos indo, mas ao invés de entrarmos, pegamos o pote de vidro que levamos para a floresta e esperamos escondidos no mato.
Adhara e Bel entraram na barraca e dava para ver a sombra delas se arrumando para entrarem nos sacos de dormir. Samuel correu ate a brecha que havíamos feito e abriu o vidro, liberando milhares de formigas de todas as espécies que conseguimos encontrar, fazendo todas entrarem na barraca. A qualquer momento agora...
- Aaaaaaaaaaaaargh QUE PORCARIA É ESSA?
- Ecaaaaa, ta grudando! Ai que nojo, o que é isso???
- Calma Bel, é chocolate derretido...
- Quem passou chocolate nos nossos sacos de dormir??
- Ah, eu tenho uma vaga idéia...
- Adhara? Adhara... ADHARA! – Bel falava enquanto puxava a manga do pijama da amiga.
- O QUE FOI?
Bel apontou para o chão e gritou ao ver todas as formigas que soltamos subindo em suas pernas e nas de Adhara. O chocolate que passamos por todos os cantos as atraiu e em questão de segundos a barraca amarela delas ficou preta. Pela luz da fogueira ainda acesa dava para ver as duas correndo de um lado para o outro, sacudindo os cabelos e gritando, pois algumas eram daquela espécie que morde e deixa marca. Uma delas tentou abrir a barraca, mas as trancamos lá. Quanto mais elas esfregavam a mão nos braços e pernas para tirá-las, mais espalhavam o chocolate que havia grudado nelas dentro dos sacos de dormir e mais formigas surgiam.
Acho que foram mais ou menos 5 minutos de gritaria e pânico, onde podíamos ouvir Adhara falar todo o vocabulário de palavrões que conhecia e Bel berrar desesperada que suas pernas estavam coçando, quando corri ate a barraca e soltei o lacre. As duas saíram em disparada lá de dentro, se atirando direto no lago para se livrar da pasta e das formigas. A essa altura a escola inteira já havia acordado com os gritos e todos riam abertamente ao verem as duas saírem de pijama do lago, ensopadas e empoladas.
Samuel e eu estávamos deitados no chão, rolando de rir da cara de ódio que Adhara lançava a nós dois. O professor expulsou todos dali, dizendo que o show tinha terminado, e as duas voltaram para a barraca ainda preta de tanta formiga para começarem a limpar a sujeira. A noite delas vai ser longa...
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