Friday, February 03, 2006

Nem todos são, o que parecem....

Do diário de Morgan O'Hara

Ai que tédio...
Sim, tédio, pois a minha vida havia virado uma rotina chata: estudar para os NIEMS, tentar me sair bem nas matérias novas, falar com Porshy todos os dias sobre alguma coisa estranha ocorrendo no castelo... Para minha felicidade Carlinhos estava cumprindo a promessa e sempre me mandando cartas ou bilhetinhos carinhosos junto com as novidades em Londres.
Durante o café da manhã, o garoto McGregor saiu correndo do salão depois de receber um berrador da mãe, garantindo a todos umas boas risadas. Marienne e eu fomos para nossa aula de Oclumência e o professor Couggle ficou satisfeito com meu desempenho, dizendo que embora eu seja nova na matéria, estou conseguindo aprender a fechar minha mente. Isso é bom, pois a sensação de alguém entrando em seus pensamentos é horrível, e também constrangedor.
Logo seguimos para a aula de Botânica e a professora Milenna, que não ia com minha cara; mudou de atitude desde o ataque na floresta e agora falava civilizadamente comigo, o que deixou meus colegas de classe chocados.
E aula transcorreu com a professora falando várias vezes comigo e dando dicas de como cuidar melhor de uma bétula de encantamentos. A professora ficou satisfeita em saber que mamãe usava este tipo de feitiço em algumas árvores para a cura, e pediu que eu contasse para a turma o que sabia sobre o assunto, e ela completava minhas explicações. E por isto eu ganhei 5 pontos para minha casa. Achei que fosse desabar um temporal em cima das estufas hehe.
Depois do almoço, teríamos aulas de Mitologia e para nossa surpresa o professor estava irritado e logo nos contou o motivo: alguns alunos haviam roubado seus canopus egípcios e realizaram a mumificação de um gato. E o tal gato era de madame Máxime, Napoleon.
Muitos alunos estavam ou fingiam estar chocados, eu não me contive e comecei a rir, fazendo com que o professor se aproximasse:
FR- Porque está rindo, senhorita O'Hara? O que eles fizeram foi uma barbárie...
MOH- Desculpe professor, mas não acho.
FR- Como não? Vai me dizer que apóia o roubo destes alunos.
MOH- Não apóio o roubo. Mas... Foi uma peça realizada com um propósito maior.
Ele levantou a sobrancelha curioso e expliquei:
MOH- Bem... Pelo que entendi eles acharam o gato morto e como eles haviam adorado sua aula sobre mumificação, resolveram reforçar a matéria; e temos de convir que o gato de Madame Máxime teve um funeral digno de um rei não? Suas aulas são apaixonantes professor, não culpe os garotos por apreciá-las. E os vasos serão repostos, tenho certeza que além das detenções daqui, eles serão punidos pelas famílias.
O professor me olhava com vontade de me tirar pontos, dava para ver o dilema em que ele estava passando pelos seus olhos; por fim acho que alguma razão deve ter entrado na sua cabeça, pois disse:
FR- Sabe senhorita O'Hara, vendo por este lado da questão deveria me sentir lisonjeado não? – e sorriu.
Alguns alunos respiraram aliviados talvez com medo de que eu perdesse os pontos ganhos no dia, e eu assenti com a cabeça. Ao final da aula, me chamou e Marienne ficou me esperando na sala, enquanto ele perguntava:
FR- Soube que foi atacada por um comensal no lago Moliets. Está recuperada do susto?
MOH- Sim, já estou bem.
FR- Pelo que ouvi dizer você ficou bem machucada, deve ter ficado com muito medo.
MOH- Não fiquei.
FR- Como não ficou? Era um comensal da morte e você estava sozinha...
MOH- Não costumo ter medo de covardes.
O professor me olhava sério e achei estranho o tom em que falou:
FR- Para ser um comensal precisa ter coragem.
MOH- Se ele fosse corajoso mesmo, não usaria máscara.
O professor começou a se aproximar, e me olhava nos olhos de um jeito estranho e eu mantive meu olhar firme:
FR- Você não se assusta à toa...
MOH- Não.
Cof, Cof, Cof....
A tosse seca de Marienne parece ter acordado o professor, porque ele ficou sem jeito e disse:
FR- Fico feliz, que esteja bem. Tenha um bom dia.
Saímos da sala e Marienne de cara feia me perguntou:
- O que foi aquilo lá dentro?
MOH- Não sei... Esquisito não?
MD- É... Só espero que os boatos que ouvi não sejam verdadeiros...
MOH- Que boatos?
MD- De que ele costuma ser "amável" com algumas alunas...
Comecei a rir.
Marienne estava achando que o professor estava me cantando e estava com ciúmes, era no mínimo engraçado.
MOH- Você me conhece o suficiente para saber que meu relacionamento com Carlinhos é sério, e que não vou dar bola para um professor como ele.
MD- Ah, mas ele é bonitão e não é pobre, pois vem de uma família antiga e puro sangue.
MOH- Para quem gosta do tipo dele é, e eu te garanto: ele não faz o meu, pois não ligo para esta história de sangue puro, família antiga e fortuna. Acredita em mim?- disse olhando em seus olhos para que ela visse que eu dizia a verdade.
Ela assentiu e logo nos encontramos com Julian que havia ido buscá-la para "um encontro romântico com os livros da biblioteca", enquanto eu ia rever minhas anotações no meu quarto e escrever algumas cartas.
Pude pensar com calma sobre o que Marienne me falou e acho que vou pedir a Porshy para observar um pouco mais o professor de Mitologia. Não gostei do tom dele ao se referir "à coragem" dos comensais.

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