Da penseira de Miyako Hakuna Amor é fogo que arde sem se ver,
É ferida que dói e não se sente,
É um contentamento descontente,
É dor que desatina sem doer
GS: Quem te mandou esse Mi?
MH: Sem remetente... Porque ele insiste em me mandar esse poema em partes?
TM: Acho que quer dar ênfase que te ama, ou alguma coisa assim...
MH: Patético...
Havia acabado de sair da aula de Transfiguração e um elfo com peruca cacheada loira, asinhas nas costas, segurando um arco e flechas de borracha me entregou mais um bilhete de declaração. A caligrafia era a mesma em todas e eu não fazia a menor idéia de quem estava me mandando aquilo... Vários elfos perambulavam pelos corredores entregando bilhetes, fazendo serenatas, declamando poemas e até dançando para outros alunos, a maior parte, garotas!
O bom de um dia dos namorados quando não se tem um, é as boas risadas que você garante com a data... Tudo é tão romântico e meloso que chega a dar dor de barriga. Ver as meninas chamando os namorados de meu bebexinho e os meninos com a cara mais boba e apaixonada do mundo respondendo meu doxinho de abóbora cristalizada, pedacinho de céu era fatídico demais, mas uma constante piada. Você grava a cara dessas pessoas que se prestam a isso nesse dia, e faz com que eles nunca mais se esqueçam desse comportamento!
Sentei na mesa da Sapientai com os meninos para almoçar, e mais um bilhete chegou pra mim via fadinha multicolorida e piscante. Aquilo já estava ficando chato!
É um não querer mais que bem querer,
É um andar solitário entre a gente
É um nunca contentar-se de contente,
É um cuidar que ganha em se perder
TM: Isso ta parecendo coisa do búlgaro... Essas coisas que só ele entende!
MH: Não fala assim do Sávio, ele é um fofo!
GS: Ah é? Falando nele...
Sávio estava entrando no Salão Principal para almoçar naquele momento. Sentou-se na mesa da Nox ao lado do Samuel, a bóia amarela de pato na cintura... Dei um breve sorriso pra ele, que correspondeu, e voltei minhas atenções para o bilhete.
MH: Isso é um enigma! Me ajuda Gabriel, não entendo nada de enigmas!
GS: Não consigo interpretar essas coisas muito adocicadas, me desculpe...
MH: O que você acha Ty? – Ty não falou nada, ficou calado o tempo todo olhando para um ponto fixo em um horizonte... – Ty?
Ele olhava fixamente para a mesa da Fidei. Morgan estava sentada com a amiga almoçando. Estava começando a concordar com o Gabriel, o Ty estava possuído. Os olhos dele brilhavam e ele fixava uma cara maníaca pra cima da garota... Se eu fosse ela, começava a me preocupar!
MH: Ty, para! Chega de olhar pra menina, antes que você fure ela!
TM: Oras, não estou olhando pra ela, estou apenas pensando distante aqui...
GS: Sim, nós sabemos Ty... Você que gosta tanto de pensar né?
MH: O que você acha desses bilhetes que estão me mandando Ty?
TM: Acho que se chover, derretem... Isso ta o puro melado!
MH: Ah sim, obrigada pela inteligente opinião...
Mal tinha terminado a frase e outra fadinha largou mais um bilhete em forma de coração na minha frente, soltou um risinho esganiçado e saiu voando...
É um querer estar preso por vontade,
É servir a quem vence, o vencedor,
É ter com quem nos mata, lealdade,
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos maizade,
Se tão contrário a si mesmo é o amor?
Agora eu realmente estava começando a ficar encucada com esses bilhetes. O poema de amor mais enigmático que eu já tinha lido antes! Me despedi dos meninos e voltei para o Salão Comunal da Nox para terminar os deveres antes do baile. Sávio estava sentado em uma poltrona perto da lareira olhando para o pato e resmungando algo com ele, acho que conversando com o animal inanimado na cintura dele. Sentei-me de frente pra ele e ele sorriu. Com certeza não entenderia nada do que eu pudesse dizer, então tentava conversar com ele por mímicas. Ele conseguiu fazer o convite para irmos juntos ao baile juntando as poucas palavras que eu tinha ensinado de francês, e as mímicas, e eu subi pra me arrumar...
Descemos para o Grande Salão, e sentamos à mesa com um Gabriel solitário e entediado.
MH: Oi Biel...
GS: Olá!
MH: Sabia que ia vir...
GS: Só porque fui forçado por vocês!
MH: Sei... Você precisa se distrair!
SD: Mi-iako...
GS: No way Mi, manda esse búlgaro de volta pro iglu que ele veio… Até para falar seu nome a coisa é enrolada!
MH: Shii Gabriel, deixa ele... Tava ensinando o básico de francês, e meu nome ele já quase acertou... Um avanço!
As aulas básicas de francês continuaram, mesmo ali, no meio de um baile... Sávio se esforçava para repetir todas as palavras que eu dizia e Gabriel entediado rodava um garfo entre as mãos... Passou um bom tempo, quando um Ty totalmente atormentado, depressivo, e calado se juntou a nós, porque os amigos da Morgan estavam fazendo um rodízzio pra dançar com ela, e como era o de se esperar, ele tinha ido a escanteio... Os dois ficaram calados ouvindo Sávio repetir obedientemente uma frase inteira. Gabriel disse que iria dormir e se levantou decidido fincando o garfo de uma vez em uma superfície... Chuta qual era a superfície??? A bóia com o pato do Sávio! Instantaneamente, a bóia começou a murchar, murchar, murchar, até que virou um monte vazio de plástico com 4 furos identificados na parte superior... Estava instalado o caos!
Sávio agarrou a bóia desesperado, batendo nela e gritando alguma coisa que não conseguia entender... Começou a chorar e Gabriel e Ty se debulhavam de tanto rir na mesa. Belisquei os dois e mandei que ajudassem a arrumar o pato...
SD: убийство, убийство!
GS: O que ele ta falando?
TM: Sei lá! Mas deve estar te jogando uma macumba!
Sávio partiu pra cima de Gabriel, e Samuel veio correndo separar a briga. Ty se posicionou na frente dele empunhando os dois braços como se dissesse que era só ele começar... Gritei com os três e pedi calma... Precisava pensar em alguma coisa pra arrumar o pato! Gabriel apontava e murmurava feitiços para reparar, corrigir, colar e inflar, mas nada adiantava. Ty olhava ameaçadoramente pro Sávio, que retribuía o olhar zangado, e eu comecei a enrolar ataduras em volta do pato... Se tínhamos mumificado um gato, porque não um pato?
TM: Isso não vai funcionar!
MH: Se você tem idéia melhor do que essa, apresente-a por favor...
Mas como ninguém disse mais nada, apenas se deixaram levar e me ajudaram a mumificar o pato, deixando de fora apenas o buraco para encher de ar. Soprei, soprei, e o pato ia inflando novamente... Sávio pulava, apontava feliz para o pato. Novamente o pato estava inchado, porém, com uma pequena grande diferença agora... Ele estava branco! As únicas coisas fora das ataduras eram o bico, os olhos, e o inflador...
Depois desse sufoco, resolvi arrastar Sávio novamente contente de volta para a Nox e ir dormir com promessas de afogar o Gabriel e o Ty no dia seguinte!
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