Das vergonhosas lembranças de Gabriel Graham Storm
Olha só, vamos combinar um negócio: eu não entendo o comportamento das pessoas em certas datas e pronto! É o unico jeito de explicar o que se passou nesse castelo nesse dia dos namorados!
Já disse várias vezes e repito que considero as meninas de Beauxbatons um tanto quanto fúteis e superficiais, mas também admito que algumas têm o seu valor e que nem todas preenchem esse estereótipo. Mas o fato é que uma em especial me deixa confuso. Não, não vou dizer quem é, podem esquecer. Nem sob tortura!
Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido
Como uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor obrigação de acontecer
Depois de um café da manha tranquilo, segui para minha aula de Feitiços. O castelo estava tão meloso com aquelas decoraçoes que estava com receio de vomitar tudo que havia comido mais cedo. Ty andava pra lá de esquisito, babando em uma menina 3 anos mais velha que ele... Pobre Ty, tem mesmo esperanças de que ela veja nele mais do que um menino engraçadinho. Já Miyako vinha atrás de nós conversando com o búlgaro. Quer dizer, vinha gesticulando, pois o garoto não fala absolutamente nada de francês. A unica lingua que ele parece falar além de búlgaro é a lingua daquele ridiculo pato de borracha pendurado na sua cintura.
Eu acho tão bonito
Isto de ser abstrato baby
A beleza é mesmo tão fugaz
É uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer
Adentramos a sala e qual não foi a minha surpresa em ver que ela estava de uma ponta a outra decorada para a data? Corações, querubins, flechas, babados e fitinhas rosas estavam pendurados em todos os cantos e a professora se encontrava sentada em uma enorme almofada vermelha em forma de coração sorrindo para os alunos que chegavam. Nem é preciso dizer que foi impossível absorver algo de útil naquela aula não é? Além dos alunos estarem extasiados com o clima que se alastrou pela escola, elfos fantasiados de cupidos invadiam a sala de tempo em tempo, cantarolando canções romanticas. Cada vez que eles entravam, o alvo era diferente. Já me perguntava quem estava com uma diarréia mental para bolar tal idéia quando um elfo estacionou ao meu lado. Tentei enxotá-lo, mas a criatura não saiu e começou a cantar. Minha cara devia estar da cor de um pimentão, pois a turma inteira ria sem disfarce e pude perceber lágrimas escorrendo dos rostos de Ty e Miyako. O elfo fez uma reverência e saiu, largando um coração de papel na minha mesa.
- Quem mandou?
- Não tem nome...
- Ai minha barriga...
Miyako mantinha as maos na barriga rindo, mas logo o sorriso evaporou da cara cínica dos dois. Mais elfos entraram na sala e por algumas vezes o torpedo apaixonado era para eles. O tempo de Feitiços terminou e caminhava lentamente para a sala de Poções quando fui parado mais uma vez. Agora era uma elfa de saias e peruca loira de cachinhos que atirou uma flecha de borracha em mim, lendo em voz alta para o meu total desespero, mais uma cartinha melequenta. Ela rodopiou não muito graciosamente no corredor soltando a carta no ar e a apanhei bastante sem graça. Mais uma vez não tinha remetente, apenas versinhos rimados tirados de algum livro de poesia. Quem será que me mandou esse? Será que foi quem eu estou pensando? Será que foi a mesma menina da outra? Será que é mesmo uma menina?? Espero profundamente que sim...
Pode até parecer fraqueza
Pois que seja fraqueza então,
A alegria que me dá
Isso vai sem eu dizer
O dia correu nesse ritmo. Recebi pelo menos mais uns 5 torpedos diferentes, todos sem assinatura. Já estava com trauma de elfos e completamente disperso, não conseguia me concentrar em nada que não fossem as tais cartinhas. Relia todas cuidadosamente, na esperança de que uma me desse alguma pista da autora. Encarava todas as meninas da escola enquanto carregava os corações de papel para ver se alguma delas dava um deslize, mas nada aconteceu. Aderi a tática de ignorar os comentários engraçadinhos dos meus amigos e me separei deles quando as aulas acabaram, pois cada um tinha seus compromissos. O meu era se esconder no salão comunal e não me deixar ser arrastado ao baile por eles.
Desviei o caminho para a torre da Sapientai e me sentei em um dos pufes já instalados no jardim para a festa de mais tarde. Casais passavam de mãos dadas para lá e para cá aos beijos, com aquelas expressões de panacas estampadas na cara. Os que estavam sozinhos secavam uns aos outros, as garotas dando aquelas risadinhas irritantes e os meninos com suas melhores caras de galã de 5ª categoria, mas que pareciam estar funcionando muito bem.
Até que algo chamou minha atenção. Do outro lado do gramado, a menina mais bonita da escola caminhava com as amigas sorrindo. Não conseguia desviar meus olhos dela, por mais que tentasse. Tive a impressão que ela percebeu que estava olhando, mas ou se fez de desentendida ou eu estava começando a ter alucinações. Que coisa mais ridícula, podia sentir meu coração batendo mais depressa. Me sentia patético nessa situação, isso não faz meu gênero! Tentei pensar em outra coisa, mas quando mais se precisa, nenhuma instrução de poção complicada vêm à cabeça... Olhei de novo para onde ela estava e abaixei a cabeça depressa ao notar que ela também me olhava. Queria ir até lá, mas alguma coisa mais forte e maior que eu me impedia. As coisas estavam bem desse jeito, não via motivo para querer mudar agora só porque estou começando a sentir os efeitos da adolescência.
Se amanhã não for nada disso
Caberá só a mim esquecer
O que eu ganho, o que eu perco
Ninguém precisa saber
Varri esses pensamentos da cabeça e levantei do pufe para voltar ao salão comunal e não me arrumar para a festa. Não estava com vontade de aparecer por lá, ficando vulnerável às meninas alegres que me mandaram os torpedos. E se uma delas resolve se declarar? Onde ia enfiar a minha cara? Dei uma volta maior para evitar esbarrar com ela, mas quando olhei notei que elas haviam sumido. Provavelmente foram se preparar para o baile. Já estava quase na entrada do saguão principal quando dei um encontrão forte em alguém. Era ela.
- De-des-desculpa. – gaguejei sem graça
- Tudo bem, não foi nada. Não vai me ajudar a se levantar?
- Desculpa – estendi a mão desajeitado e a ergui da grama.
- Obrigada. Voce só conhece essa palavra?
- Desculpa... *Burro, diz alguma coisa inteligente!*
Ela riu e entrou no castelo, me deixando lá com cara de pastel. Brilhante Gabriel, isso é hora de deixar o QI decair tanto? Dei um tempo até ela se afastar e entrei desacreditado no saguão. Patética minha atuação, se antes ela não sabia quem eu era, agora vai se lembrar de mim como o idiota que precisa expandir o vocabulário! Melhor tentar evitá-la nos corredores para não correr o risco de continuar me desculpando. Acho que Ty tem razão, meu problema é que eu penso demais...
Eu gosto tanto de você
Que até prefiro esconder
Deixo assim ficar
Subentendido
É uma idéia que existe na cabeça
E não tem a menor pretensão de acontecer
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N.A.: A música usada e que deu título ao texto é “Apenas mais uma de amor”, do Lulu Santos.
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