Das memórias de Ian Lucas Renoir Lafayette
Ah, o ar fresco das montanhas que cercam Beauxbatons... Por dias pensei que nunca mais sentiria esse cheiro. O sol já batia na minha cara quando Bernard me sacudiu, fazendo com que eu caísse da cama. Até da maneira delicada dele de me acordar eu senti falta! Pela primeira vez desde que entrei para a escola levantei sem reclamar e depois de tomar banho e me arrumar, descemos para o café. Dominique e Marie ainda não sabiam que eu havia voltado, já era tarde e acabei por me decidir em fazer surpresa. O Grande Salão já estava apinhado de gente e logo avistei Marie sentada lendo o Profeta Diário na mesa da Fidei. Caminhei devagar ate ela e sentei ao seu lado.
IL: Alguma noticia interessante ai?
ML: Não, só o de se... IAN?? – Marie saltou da mesa e se pendurou em meu pescoço, me derrubando da mesa e caindo por cima de mim.
IL: Sim, sou eu! Ou o que sobrou de mim depois da queda.
ML: Desculpa, foi a empolgação... Quando você voltou? O que aconteceu?
Nos levantamos do chão e contei a ela tudo que aconteceu nos últimos dias em minha casa, as razões e acordos que me fizeram voltar. Ela não desgrudava de mim, me enchendo de beijos o tempo todo. Droga, porque ela faz isso? Marie é meio lerda por ainda não ter percebido que gosto dela e eu sou um idiota por não tomar vergonha na cara e dizer isso de uma vez por todas... Procurei Dominique na mesa da Nox, mas não o encontrei. Marie então me informou que ele estava em detenção, ajudando o professor de DCAT a arrumar a sala para a aula daquela manha.
Dominique empilhava uma dúzia de livros na mão pendurado em uma escada quando chegamos. Bernard bateu na porta pedindo licença e entramos. Ao ouvir minha voz meu amigo largou todos os livros em cima do professor e saltou da escada, correndo em nossa direção. Não deu tempo de ver muita coisa, apenas àquela roupa azul com listras verdes e pretas voar na minha direção e me derrubar. Podia ver tudo girar quando Bernard estendeu a mão para me puxar do chão enquanto Dominique ainda bagunçava meu cabelo.
DC: Não credito que você voltou! Quando isso aconteceu?
IL: Cheguei ontem a noite, já era tarde pra sair atrás de vocês.
DC: Ah meu companheiro, até que enfim você está de volta! Esse castelo estava perdendo a graça, não é nada divertido cumprir detenção sem você...
SZ: Detenção que ainda não terminou monsieur Cartier. Volte já aqui e termine de organizar os objetos para a aula!
Dominique respirou fundo e voltou para o fundo da sala. Pela quantidade de detector de arte das trevas, a aula de hoje seria destinada a nos ensinar a farejar o perigo. Aposto que mamãe ia dar pulinhos de felicidade se soubesse... Logo o restante da turma chegou e encheu a sala. Bernard me cutucou quando Antoine entrou e se sentou do outro lado da sala, longe da gente. Meu amigo me contou num tom de voz quase inaudível que ele e Marie haviam brigado feio há quatro dias e não estavam nem se falando mais. O motivo da discussão ninguém sabe, mas diziam as más línguas que foi ou por causa de outra garota ou de outro garoto... Não pude impedir que um sorriso imenso brotasse na minha cara e acenei para o bolha d’água, que parecia ter vontade de me estrangular.
O professor, Sir Shaft Zambene, ordenou que Dominique tomasse seu lugar e deu inicio a aula. Como havia previsto, ela seria voltada a nos ensinar a detectar arte das trevas e inimigos. Eu tinha medo desse professor... Quer dizer, não era medo, era mais respeito. Nunca fui fã de DCAT, mas sempre gostei das suas aulas, que eram práticas e diretas. Ele foi ate a bancada e pegou um pequeno objeto prateado, andando entre as almofadas espalhadas pela sala, erguendo-o no ar.
SZ: Alguém sabe o que é isso?
BL: Um Bisbilhoscópio. – respondeu Bernard, como de costume.
SZ: Muito bem, 5 pontos para a Sapientai. E quem sabe como ele funciona?
BL: Ele apita quando o perigo está se aproximando de você?
SZ: Muito bem, monsieur Lestel, mais 5 pontos para a Sapientai! Poderia se levantar e me ajudar a mostrar a turma como ele funciona?
Bernard levantou e foi de encontro ao professor. Ele segurou o bisbilhoscópio no alto para que todos pudessem ver enquanto o professor explicava seu mecanismo e dizia como deveríamos reagir quando o nosso começasse a apitar desenfreado. Dominique e eu assobiávamos enquanto Bernard servia de modelo de programa trouxa de auditório, mas ele ignorava os gritinhos e se esforçava para não ficar vermelho demais. Sir Shaft agradeceu a ajuda e mandou que ele se sentasse indo pegar o próximo objeto. Era uma antena dourada que girava rápido na mesa.
SZ: Esse objeto eu acho que nenhum de vocês já viu, pois não é vendido na Zonko’s...
IL: Parece uma antena de TV, Sir Shaft. Ela capta o que? Interferência?
SZ: Muito engraçado monsieur Lafayette, mas não é uma antena de TV. Alguém arrisca um palpite valido? – e vendo que ninguém ia responder, ele continuou. – Isso é um Sensor de Segredos.
IL: Aha! Ele capta segredos então! – falei arrancando risos da turma.
ZS: Brilhante dedução! Estou orgulhoso dos meus alunos hoje! – o professor riu e continuou caminhando, puxando uma aluna da Fidei para ser sua assistente dessa vez.
Ela a fez segurar a anteninha como se ela estivesse encaixada em uma televisão, fazendo a turma rir da garota. Ela mais parecia um ET em pé lá na frente, ainda mais porque começou a ficar verde com as gozações. Ele explicou como ele funcionava, exatamente como fez com o bisbilhoscópio. Pediu então para que a menina contasse uma mentira para ele. Ela inventou qualquer besteira e a antena apitou alto. Sir Shaft dispensou ela e começou a andar pela sala, interrogando os alunos. Ele já tinha motivo para distribuir umas 30 detenções quando chegou ao fundo da sala e parou ao lado de Dominique.
SZ: Diga-me monsieur Cartier... O senhor tomou banho esta manha?
DC: Claro que sim, que pergunta... - disse ofendido
A antena desatou a apitar, fazendo a turma rir e Dominique ficar roxo. O professor continuou andando e parou ao meu lado. Eu já suava frio, com medo do que ele ia me perguntar e se seria algo comprometedor. Marie ria ao meu lado, mas parecia um pouco nervosa também.
SZ: Monsieur Lafayette! Ontem encontrei alguns desenhos em meus arquivos, coisa antiga. Nenhum estava assinado e todos continham caricaturas dos professores da escola. Caricaturas um tanto quanto bizarras, usando a linguagem de vocês... Por acaso monsieur não sabe quem foi o autor das obras de arte, sabe?
Não foi preciso nem responder à pergunta, pois a antena começou a assobiar alto e girar. O professor riu e explicou que ela também capta uma mentira mesmo sem que ela seja dita, dependendo da intensidade da mesma. Eu estava mesmo bolando uma mentira bem exagerada para tentar enganar o sensor e escapar, pois era o autor dos desenhos... Sir Shaft então virou-se para Marie ainda rindo. Ela quase tremia ao meu lado. O que será que Marie esconde? Quem não deve não teme e aparentemente ela estava temendo a pergunta do professor...
SZ: Mademoiselle Laforêt, alguém me contou que... – a sineta tocou, cortando a frase do professor. – Ah, salva pelo gongo! Vejo vocês na próxima segunda, leiam o capitulo sobre detectores de artes das trevas e se preparem para uma aula pratica!
DC: Não deu tempo sabe, a detenção era muito cedo e não queria acordar de madrugada, ta muito frio... – Dominique tentava se explicar
BL: Não interessa porquinho, já ta feito o estrago. E fica longe de mim, não quero me sujar! – Bernard falava às gargalhadas enquanto arrumava as coisas.
IL: Nick, só duas palavras pra você: Oinc, oinc!
Saímos da sala no meio da multidão rindo de Dominique, que nos olhava revoltado. Nunca vi uma turma recolher o material espalhado com tanta eficiência. Marie atirou o dela de qualquer jeito na mochila e saiu apressada da sala, nos esperando há metros de distancia da porta. Agora estou intrigado... Qual será o segredo dela? Será que Sir Shaft me empresta aquela antena? Ou quem sabe ele não tem um pouco de Veritaserum? Só sei que agora eu to com uma pulga atrás da orelha...
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