Das memórias de Ian Lucas Renoir Lafayette
Depois do ocorrido na festa do dia dos namorados, não falei mais com Marie. Não porque não quis, é claro que não! Mas porque ela andava me evitando pelos corredores. Sempre que me avistava grudava em alguma amiga e sumia e em sala sentava afastada. Quando pegava ela me olhando, percebia que ela corava e abaixava a cabeça. A situação já estava incomodando e com Bernard me cobrando uma atitude, decidi acabar com a palhaçada no passeio a Paris. Não ia cobrar nada dela, apenas chama-la para nos acompanhar como sempre fazemos e delicadamente tocar no assunto.
Já estávamos sentados no fim da embarcação quando Marie entrou. Ao perceber que ela fez menção de ir se sentar na proa, começamos a berrar e sacudir os braços. Como não teve como ignorar o chamado, ela se juntou a nós. A viagem correu tranqüila, ninguém mencionou a festa durante todo o trajeto até o porto. Assim que atracamos Bernard sugeriu que fossemos às comprar, antes que as lojas lotassem de estudantes enlouquecidos. Marie evitava ficar sozinha comigo e comecei a me perguntar se ela lembrava de tudo que tinha acontecido, mas tudo mesmo. Estava com a impressão que ela havia esquecido de alguns fatores constrangedores da noite e me contive para não interroga-la.
Dominique reclamou que estava com fome e paramos em um café no Champs Elysée. Um silencio mórbido se instalou depois de alguns minutos de conversa e Bernard não conseguiu segurar aquela boca grande dele.
BL: Ok isso é ridículo!
DC: O que houve?
IL: Senta Bernard, fica quieto.
BL: Não, não dá! Marie, por Merlin, você tem que dizer por que ta com essa cara! Todo mundo aqui já sabe que você ficou com o Ian na festa, não é mais segredo!
DC: Hã? Como é? Vocês ficaram na festa? Como que ninguém me contou isso?
ML: Luke, o que você andou contando a eles??
IL: Ora, contei o que aconteceu... Você se lembra não é?
ML: Parcialmente...
Outra vez um silencio se instalou na mesa. Bernard sentara outra vez e encarava Marie à espera de uma explicação, Dominique tinha um muffin na boca e olhava dela pra mim curioso e eu a encarava. Ela parecia forçar a memória para se lembrar de tudo.
IL: O que você se lembra?
ML: Lembro de ter bebido... Muito! E que você apareceu e ficou conversando comigo, mas não sei sobre o que.
DC: E...
ML: E... bom... Depois me lembro de ter agarrado você. – falou tampando a mão com o rosto, um pouco envergonhada.
IL: Você só lembra disso? Não lembra do que aconteceu depois que você me beijou?
ML: Lembro que você não se esforçou para me impedir... O que mais aconteceu??
DC: É, o que mais aconteceu?
BL: Quieto Nick, deixa o Luke falar!
ML: Luke, o que mais eu fiz?
Olhei para os três na mesa e tive que rir. Tinha certeza que os meninos esperavam ouvir algo impróprio para menores e Marie temia o que eu ia dizer. Mas a verdade é que o resto da noite não foi muito agradável. Depois de me agarrar, Marie começou a, bom, querer esquentar um pouco as coisas. O normal seria não me opor a uma situação dessas, mas ela estava realmente bêbada. Eu comecei a afastá-la e quando mais eu tentava freia-la, mais ela me agarrava. Marie finalmente parecia ter entendido que naquela condição eu não iria mais além e ficou me encarando por um tempo, piscando depressa, até que vomitou. Sim, ela vomitou em cima de mim nos jardins. Saltei na hora, evitando receber a carga máxima de tudo que ela comeu no dia e depois que ela parou, a carreguei de volta para o castelo. Levei-a ate um banheiro, a limpei toda e depois a deixei em seu dormitório. Nenhuma de suas amigas nos viu, por isso então ela não sabia o que tinha acontecido. Enquanto eu ia contando, Dominique ria escandalosamente, Bernard mantinha a mão na boa para segurar a gargalhada e Marie ia afundando na cadeira, corando cada vez mais.
ML: Eu vomitei em você? Tem certeza?
IL: Plena certeza.
DC: Por que ninguém me chamou pra ver isso? Onde eu estava? – Dominique ria de chegar a balançar a cadeira e Marie olhava para ele furiosa.
ML: Luke me desculpa. Eu não devia ter bebido daquele jeito, olha no que deu? Desculpa ter usado você pra curar minha dor de cotovelo, não tinha esse direito. O que eu fiz foi besteira, eu não sou assim. será que você pode esquecer tudo que aconteceu naquela noite? Foi tudo um grande erro, prometo que não vai se repetir!
Fiquei sem reação na hora, não esperava que ela dissesse que foi tudo um erro e que ela preferia que eu esquecesse, mas diante daquilo, só consegui balançar a cabeça concordando em passar uma borracha em tudo. Bernard olhou para mim indignado, mas o que ele queria que eu fizesse? Pegasse a rosa que enfeitava a mesa, me ajoelha-se ali e dissesse a ela que eu não queria esquecer nada, que tinha gostado do beijo? Ta, provavelmente teria sido o melhor a se fazer, mas estava claro que ela só me via como amigo e esse ato insano e inesperado não mudaria nada.
Voltei à atenção ao meu café quando um estouro seguido de gritos nos chamou a atenção. Homens encapuzados que reconheci imediatamente como comensais da morte vinham descendo a Champs Elysée, fazendo os trouxas que estavam nos cafés da avenida voarem. Levantamos depressa e corremos avenida abaixo, tentando chegar o mais rápido possível no barco. Aurores vinham correndo de encontro aos comensais e logo o som de feitiços ricocheteando podiam ser ouvidos, enquanto os gritos ficavam cada vez mais intensos. Alcançamos a Pont de la Concorde em questão de minutos e muitos alunos já estavam lá dentro apavorados enquanto os professores e outros funcionários da escola tentavam acalma-los e saiam para resgatar os demais. Deixamos o porto antes do barco encher e alguns professores ficaram para encontrar os alunos desaparecidos. Eu respirava com dificuldade devido a distancia que corri até ali, mas só conseguia me perguntar o que havia dado inicio a esse ataque e se meus pais estavam com aqueles aurores. Precisava dar um jeito de avisar a minha mãe que estava vivo, antes que ela tivesse um enfarte!
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