Dos relatos desesperados de Ian Lucas Renoir Lafayette
Terça-feira, 04/04/97 - Sala de Transfiguração.
- Monsieur Lestel, por favor, recolha os relatórios e deixe-os sobre a minha mesa.
Bernard se levantou do meu lado e fez menção de puxar meu pergaminho, mas pedi que me deixasse por último. Ele concordou e começou a recolher os dos demais alunos, me deixando sozinho na mesa. O professor Grangier havia passado algumas revisões para os NOMs e nos pedido para descrever todos os feitiços já ensinados até ali. Levando em consideração que já temos quase 6 anos de estudos completos, minha lista sem sombra de dúvidas estava incorreta, visto que preenchi muito mal e porcamente 2 rolos de pergaminho enquanto meu amigo havia feito no mímino 4! Bernard voltou depois de alguns minutos e arrancou meu trabalho da minha mão sem dó nem piedade, dizendo que o professor estava cobrando, e entreguei a Merlin minhas chances de não levar um “T”.
- Muito bem, agora vamos passar para um exercício prático. Todos peguem um gatinho aqui nessa caixa e executem o feitiço de desaparecer. Lembrem-se que os gatos devem sumir por completo, não vou considerar nada dessa vez mesmo que deixem apenas o rabo visível.
Dominique largou um gato no meu colo e se se sentou na mesa da frente, começando a praticar no dele. Normalmente acharia esse feitiço algo simples de se fazer, mas ando perdendo minha concentração nas aulas esses dias. Talvez sejam os NOMs se aproximando ou papai que me escreve quase que diariamente para me lembrar que começo meu estágio assim que pôr os pés em casa. Ou talvez seja o fato de que o vovô não quer me dizer o que tem naquela maldita caixa, diz apenas que na hora certa irei descobrir e que é para andar com aquilo comigo o tempo todo. Percebi que havia me distraído mais uma vez quando Bernard e Marie agora acariciavam o ar e Dominique e Michel tinham apenas 8 patas circulando pela mesa, sem corpo. Voltei minha atenção ao gato e tentando me concentrar no feitiço, disse o encantamento. A principio ele não mudou, depois começou a falhar, como se estivesse mal sintonizado. Depois foi desbotando lentamente até desaparecer por completo. Abismado comigo mesmo por ter conseguido recuperar a nota da aula no exercício prático, carreguei o gato invisível até a mesa do professor e guardei meu material, saindo da sala com meus amigos.
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Quarta-feira, 05/04/97 - Aula de Botânica
Mamãe me escreveu hoje, depois de 2 meses sem dar notícia. Disse que estava indo para o Caribe com papai e os pais de Michel para o feriado de páscoa e que era para ficarmos pela escola, já que vovô Henri estaria fora também, com uns amigos que estudaram com ele. Ingratos, nem para nos convidarem para passear pelas praias do Caribe com eles! Será que eles ainda estão receosos por conta da última viagem de família onde nós transformamos a piscina do hotel em uma imensa máquina de lavar, com espumas pra todos os lados? Ah, quem quer ir ao caribe afinal? Prefiro ficar aqui, curtindo o final de frio nesse inicio de primavera...
- Atenção! Monsieur Lafayette, está estrangulando sua planta! Mais delicadeza ou terei de reprová-lo!
A voz aguda da professora Milenna me fez saltar na bancada e olhei para a planta que deveria estar cuidando. De fato ela estava quase com a língua pra fora. Soltei a pobre coitada no vaso e me levantei para buscar adubo. Não levava o menor jeito para essa matéria, detestava cuidar de planta! Deve ser trauma de infância, pois mamãe conserva um jardim lindo nos terrenos da casa e quando criança era proibido de me aproximar dele. Pra falar a verdade, até hoje não tenho permissão de chegar muito perto sem que ela esteja presente...
ML: Quer ajuda?
IL: Você faria essa caridade?
ML: Você está plantando errado, por isso ela joga terra em você, tem que ser mais delicado...
IL: Deixo a delicadeza pra você, sabe que não tenho paciência pra essas frescuras!
ML: Ora, mas você está adorando as aulas de esgrima... Não acha que ficar lutando com a mão na cintura é a mesma coisa?
IL: Não vou responder a acusação de alguém que só se inscreveu nas aulas pra passar mais tempo com o professor bombadinho...
Marie riu e esfregou esterco no meu rosto. Peguei um punhado e passei nela também, desencadeando uma série de risadas na aula, que só cessou quando a professora casca-grossa bateu a mão pesada na nossa bancada e tomou nossos vasos, rabiscando um notável “P” na prancheta.
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Quinta-feira, 06/04/97 - Lago, Aula de Sereiano
DC: O que foi que ela falou? Não entendi o final da frase...
BL: Ela disse que vai passar revisão na próxima aula
MD: Como vocês conseguem entender isso? Estou completamente perdido!
IL: Não esquenta, eu estou aqui há 6 anos e até hoje não entendo a língua. Você só chegou há 3 meses.
MD: Aonde ela vai? A aula já acabou??
ML: Já Michel, ela acabou de se despedir...
IL: Saco, não consegui entender lhufas dessa aula, vou precisar de toda ajuda possível pros NOMs!
DC: Eu vou te ajudar cara, vem comigo.
Dominique foi andando até a beira do lago, onde um grupo de sereianos da nossa idade ainda conversava. Dividíamos as aulas com eles, a professora ensinava nossa língua a eles simultaneamente. Com certa dificuldade ele disse alguma coisa a eles, que aparentemente entenderam e submergiram em seguida. Antes que eu pudesse perguntar alguma coisa, Nick me agarrou pelo pescoço e afundou minha cabeça na água, me segurando lá embaixo. Me sacudia desesperado tentando sair, mas descobri do pior jeito que Dominique era forte. Os sereianos que estavam na margem do lago se encontravam parados na minha frente e falavam alguma coisa, mas eu não entendia nada. Já estava quase perdendo os sentidos quando captei algo que parecia ser "chuta a canela dele" e obedecendo ao que entendi, acertei a canela de Dominique. Ele me soltou na hora e voltei à margem do lago sem ar, engasgado e cuspindo água.
IL: Ficou louco????
ML: Ian, você ta bem??
BL: O que deu em você Nick?
DC: Conseguiu entender o que eles disseram?
IL: Claro que não! Só o final, que acho que eles me mandaram chutar você!
DC: Viu? Funcionou!
Levantei ainda sem força por estar com falta de ar e completamente encharcado, apanhei meus livros no gramado e marchei em direção ao castelo sem dar atenção ao que eles diziam e indignado com a tentativa de afogamento do Dominique. Todo mundo olhava pra mim no caminho, no mínimo tentando entender porque eu havia obviamente mergulhado no lago se ainda estava fazendo frio. Estou muito bem arranjado com esses amigos e suas tentativas de me ajudar a estudar... Quer saber? Isso vai ter troco! Mas por enquanto deixa eu mergulhar de cabeça, dessa vez nos livros, pois realmente não sei nada de sereiano e vai ter teste semana que vem, ai, ai, ai...
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