Das lembranças de Ian Lucas Renoir Lafayette
Faltava apenas 3 dias para a páscoa e estava já com tudo arquitetado: iria sair de Beauxbatons pela rede flu com meus amigos para passar o feriado em minha casa, já que meus pais estavam de malas prontas para o Caribe. Bernard já tinha conferido com seus pais e eles estavam mesmo indo passar o feriado em Lyon, na casa da avó dele, então não corríamos risco de sermos delatados. Passaríamos o feriado todo sozinhos, sem pais por perto para perturbar e fazendo bagunça. Samuel já havia me avisado que também iria, estava só bolando um jeito do pai não descobrir nada.
Tínhamos acabado de assinar nossos nomes na relação de alunos que vão se ausentar na páscoa quando uma menina da nossa turma veio correndo, dizendo que os professores Edward e Edmond estavam convocando os alunos que participariam do torneio imediatamente na saleta atrás do grande salão. Como Bernard e eu estávamos nos times, nos encaminhamos para lá.
Edmond: Por que demoraram tanto? Não importa! Renoir queira se juntar aos seus companheiros de equipe. Estou passando instruções finais, o torneio irá começar dentro de 15 minutos!
Separei-me de Bernard, que era do time de Oclumencia, e sentei ao lado do resto do grupo. O professor parecia nervoso com tudo isso, repetia insistentemente para que nos concentrássemos o máximo possível e não baixássemos a guarda, pois qualquer deslize permitiria que o adversário bloqueasse a mente e invadisse a nossa. Acho que ele estava mais preocupado em provar ao professor Edward que Legilimencia era mais útil que Oclumencia do que qualquer outra coisa, mas não importava. Ele querendo ou não, transformou sua equipe em pessoas extremamente competitivas! Passados os 15 minutos, fomos posicionados em frente a mesas com duas cadeiras cada, esperando pelo sorteio que definiria as duplas. Bernard foi sorteado com uma garota do 7° ano e eu, para minha felicidade, cai para fazer dupla com o Gabriel Storm, o garoto que me derrubou em esgrima por causa de um deslize meu.
IL: Nos encontramos outra vez...
GS: Infelizmente...
IL: Guarda muitos segredos, Storm? Espero que não, ou vou descobrir todos...
GS: Não tenho segredos e você não vai conseguir descobrir nem o que eu comi ontem. - ele disse confiante, mas notei um ar preocupação em sua voz, o que me deixou mais curioso ainda.
Edward: Todos prontos? Podem começar!
Ao sinal do professor, a sala caiu em um silencio que beirava ao mórbido. As duplas concentradas em seus adversários mal respiravam e os espectadores observavam atentos, sem dizer uma única palavra. Queria olhar para os lados e ver como meus amigos estavam se saindo, mas sabia que se o fizesse, o cabelo de fogo bloquearia a mente de maneira que eu não conseguiria mais penetrar. Em vez disso, continuei o encarando sério e aos poucos conseguia enxergar algumas coisas. Sempre que via algo mesmo que embaçado, sorria cinicamente e ele, mesmo que não demonstrasse muito, parecia preocupado. O que ele esconde para estar tão determinado a não me deixar ir além? Não podia ser só o fato de querer vencer!
Esforcei-me um pouco mais e as imagens começavam aos poucos a fazer sentido. Vi um garotinho de óculos de no máximo 5 anos numa festa de aniversário, uma mulher ruiva de um lado e um homem loiro do outro, sorrindo satisfeitos. Talvez seus pais, apesar do homem não se parecer em nada com ele. O menino ia falar alguma coisa com a mulher, mas Gabriel bloqueou o que viria em seguida e a cena se apagou, cortando para um castelo antigo. Era o mesmo garoto, agora maior e com um uniforme preto que era claramente o da Escola de Magia e Bruxaria de Hogwarts. Ele tinha um emblema azul e prata no peito e usava uma gravata da mesma cor, provavelmente correspondente à casa que ele pertencia. Não devia ter mais que 11 anos e carregava vários livros nos braços, lendo um pedaço de pergaminho e parecendo perdido. Um homem que se parecia muito com ele o abordou no corredor e se apresentou como Remo Lupin, apontando a direção da sala de aula. Instantaneamente o garoto derrubou todos os livros no chão e novamente a cena foi bloqueada.
Parei de tentar por um momento para prestar atenção em Gabriel. Ele tinha uma expressão séria no rosto e senti que por um segundo, por ter abaixado a guarda, ele invadiu minha mente e bloqueou a dele. Sabia que ele havia visto algo que me comprometesse, pois sorriu levemente e aproveitei a deixa para furar seu bloqueio outra vez. Dessa vez ele estava nos jardins de Hogwarts numa noite de lua cheia e olhava para um salgueiro lutador fixamente, escondido atrás do pátio da escola. Em frente ao salgueiro havia algumas pessoas, muita confusão e um homem gordo que desapareceu de repente, causando alguns gritos. O professor que se parecia com ele começou a se contorcer e se transformou em um imenso lobisomem, atacando um cachorro, correndo para a floresta e deixando 2 crianças gritando e uma inconsciente. “Eu sei que ele é sei pai, mas talvez seja melhor você entrar...”, falou um velho barbudo que parou calmamente ao lado de Gabriel, pousando a mão em seu ombro, antes da ultima lembrança ser bloqueada. Pela cara de pavor que o Gabriel do presente fez quando percebeu o que eu tinha visto, ficou claro que o lobisomem era o mesmo homem que o velho disse ser pai dele.
Havia ido longe demais, sabia disso e ninguém precisava me dizer. Encostei-me na cadeira encarando ele ainda sério, sem dizer nada. Gabriel provavelmente achava que agora que eu sabia seu segredo, sairia espalhando pra toda escola. Não iria fazer isso, nunca! Mas os professores iriam perguntar o que eu havia visto na mente dele para poder nos avaliar e teria que dizer alguma coisa. Ficamos calados sem fazer mais nada até que um dos professores declarou encerrado o torneio e começaram a ir de mesa em mesa anotando o que as duplas diziam. Eles pararam ao lado da nossa um tempo depois, mas nenhum dos dois se pronunciou.
Edmond: Então? Renoir, o quanto conseguiu penetrar a mente do Storm?
Edward: Storm bloqueou bem a mente das tentativas dele, não foi?
IL: Não consegui ver nada além do aniversário de 5 anos dele... Depois ele bloqueou a mente e invadiu a minha, não pude fazer mais nada. – disse depressa.
Edward: Muito bem Storm! O que viu?
GS: Ahn, nada demais, só o dia que ele se vestiu de comensal da morte, no Halloween, depois ele também bloqueou sua mente... - falou me olhando confuso. Claramente havia dito a 1ª coisa que pensou e não o que realmente viu.
Os professores pareceram um pouco desapontados e deram como empate nossa disputa. Eles passaram para a mesa seguinte e vi que Bernard me olhava sem entender nada, perguntando por que havia mentido. Dominique, Samuel e Michel também faziam caras intrigadas na platéia, mas Marie parecia perceber que eu tinha algum motivo forte. Levantei da cadeira cansado para me juntar a meus amigos e Gabriel também levantou.
GS: Obrigado.
IL: Não precisa agradecer.
Falei sendo sincero e me encaminhei até o pessoal, que imediatamente começou a me perguntar sobre o que havia acontecido. Disse apenas que tinha falado a verdade e ninguém questionou mais nada, apesar de ter certeza que Marie não acreditou, pela cara que fez. Teria que driblar o interrogatório dela mais tarde...
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