‘Uau, você está linda!’ Sergei deu uma olhada de cima a baixo e soltou um assovio. ‘Tal mãe, tal filha, é o que eu sempre digo...’ ele sorriu sacana olhando mamãe se aproximar com uma micro roupa de dançarina de hula. Ela também me lançou um olhar de avaliação ao se posicionar ao lado de Sergei.
‘Posso saber que vestido curto é esse, mocinha?’ perguntou em tom indignado. Levantei a sobrancelha.
‘Só se você me disser o que está fazendo com esse projeto de tanga, mamãe.’ Sorri vitoriosa e Sergei me acompanhou dando uma piscadinha. Mamãe olhou de mim para ele revoltada.
‘Abusada. Eu faço a pergunta e EXIJO uma resposta, dona Miyako. A senhora ainda é menor de idade, vive sob o meu teto, minhas custas, minha responsabilidade...’ Mamãe ia listando monotonamente e Sergei a puxou sem muita delicadeza dando um beijo. Sorri agradecendo e me afastei. A festa de Halloween já estava estourando nos jardins e eu não queria perder nem um segundo. Logo avistei Gabriel, Ty, Griffon, Seth e várias outras pessoas sentadas em uma mesa. Sentei com eles.
A conversa ali era sobre as fantasias das centenas de estudantes que agora se espalhavam pelos gramados, mesas e pistas de dança. Em poucos segundos, tínhamos uma disputa acirrada entre os prováveis vencedores das mais engraçadas: Biel de Harry Potter, Samuel e Anne de Chavez e Chiquinha, Ian de Chapolin, Ty e Micah de Toquinho Boardman e Ben O’Shea, e um casal de voluntários que desfilavam de escova de dente e pasta dental.
‘Hum, chegou o trio encrenca.’ Micah falou rindo e apontando com a cabeça uma menina e dois meninos vestidos de bobos da corte. Ty concordou sorrindo.
‘Quem são?’ Perguntei interessada. ‘Lavínia e...?’
‘Victor, o namorado dela, e Ricard que ele insiste em dizer que é só amigo, e Lavínia insiste em demonstrar que são siameses.’ Micah completou. Rimos. Acompanhei os três se sentando em um sofá com outros amigos de Durmstrang.
‘Então o caso é sério assim? Quero dizer, eu também admito que seja grudenta com Ty e Gabriel de vez em quando, mas não controlo a vida deles...’ respondi rápido observando Ty e esperando que ele ousasse dizer o contrário. Ele me olhou um segundo, rindo.
‘Perto da Vina, você fica uma amiga sem coração, Mi. Ela deve controlar até os passos que o Ricard dá. Isso sem contar no desespero que fica quando ele espirra. Diz que ele está com pneumonia e enfia um monte de poções para dentro do coitado. Por isso ele é pálido desse jeito!’
Ty e Micah recomeçaram a gargalhar. Sorri, mas já estava concentrada em Ricard. Ele conversava sem muita empolgação com Victor e Lavínia, que eventualmente estavam abraçados e se beijavam de vem em quando. Quando as músicas começaram a agitar, fui levada para a pista de dança com meus amigos, mas já bolava um plano na minha mente... Precisava fazer a boa ação do dia!
°°°
‘Então quer dizer que você não dança?’ sorri e me sentei ao lado de Ricard no sofá. As músicas lentas tinham tomado lugar e a pista de dança estava abarrotada de casais dançando colados. Ricard sorriu para mim olhando desanimado para as pessoas ali...
‘Bom, não posso me enfiar no meio da Lavínia e do Victor e dançar entre os dois, não é? Embora, provavelmente, Lavínia adoraria isso... Ela diz que Victor se empolga quando estão dançando músicas lentas e fica grudado demais nela.’ Ele abaixou os olhos para a taça na mão e sorriu amargurado. ‘E você? Também não dança?’ ele se virou para mim.
‘Ah, danço sim! Adoro dançar! Na verdade, vim aqui perguntar se você não quer dançar comigo, sabe? Meus amigos estão muito ocupados em trocarem de par, e acho que nesse momento, mais vale a confraternização entre pessoas de outros lugares do que repetir figurinhas... Então te vi aqui e me lembrei que você ao menos zelou pelo bem-estar do meu ombro aquele dia e pensei... gostei dele! E aí, vamos dançar?’ Levantei ficando de frente para ele e estendendo a mão. Ele pareceu um tanto assustado e temeroso.
‘Melhor não!!! Nunca dancei com ninguém assim... tão junto. Tenho medo de pisar no seu pé, fazer você cair, enfim!’
‘Ah, deixa de bobagens! Levanta! Se eu cair, não vai fazer diferença... No ritmo que os alunos estão bebendo por aqui, não dou duas horas e vamos ter a maioria no chão. E não tem segredo para dançar... Se eu ensinei Gabriel e Ty a enganarem uns passinhos, posso muito bem te ensinar! Anda!’ Sorri e agarrei o braço dele o arrastando para o meio das pessoas.
Ele parecia um tanto nervoso quando paramos um de frente para o outro. Envolvi meus braços ao redor do pescoço dele e aos poucos ele percebeu que teria de tomar providências e colocar os braços dele ao redor da minha cintura. Quando finalmente fez isso, comecei a conduzi-lo lentamente entre passos completamente sem ordem e ríamos quando um pisava no pé do outro. Passados alguns minutos, depois de várias risadas e pisões, Ricard pareceu finalmente ter se entendido com suas próprias pernas e já me conduzia com mais segurança. Apoiei minha cabeça em seu ombro...
Dançamos juntos várias músicas enquanto conversávamos sobre as Olimpíadas, as modalidades que cada um estava participando, as escolas, as matérias... Ele se interessou muito por Beauxbatons e se divertiu quando eu contei que tínhamos aula de sereiano e etiqueta. Depois de um longo tempo, as músicas lentas pararam e deram lugar às agitadas, mas como nós dois estávamos gostando muito de conversarmos sobre as diferenças e semelhanças de nossas escolas, resolvemos sair do meio da confusão e do barulho dos alunos e nos sentamos em um pufe com desenho de teia de aranha.
‘É sério que vocês tinham Arte das Trevas?’
‘É... Até o ano passado. Ainda bem que o pai da Annia assumiu a diretoria e acabou com essa mania idiota. Estamos estudando para nos tornarmos pessoas melhores e não criminosos!’ ele respondeu sombriamente.
‘Quando Ty me contou que viria para cá, eu tive medo... Não tinha boas referências de Durmstrang.’ Sorri vendo Samuel e Anne dançando. Ela tinha se espremido dentro do barril da fantasia dele para ficarem grudados. ‘Samuel e Sávio me contavam coisas sinistras desse lugar.’
‘São os dois que fugiram em um bote?’ ele riu alto e concordei. Sávio e Dora também não se desgrudavam um segundo. ‘Ficaram bastante conhecidos, aqui. Aliás, acho que causaram alguns traumas nos professores...’
‘Bom, te garanto que não causaram traumas só aqui então. Samuel e os amigos eram os maiores criadores de casos em Beauxbatons. Já aprontaram cada uma que eu senti o castelo calmíssimo quando eles se formaram!!!’
Rimos e entramos em uma conversa ainda mais divertida sobre confusões nos dois colégios. Logo descobri que Ricard era verdadeiramente intelectual, certinho e não criara nenhum problema até então, por isso, se dobrou de rir quando relatei que já tínhamos embalsamado a gata de Madame Máxime. Estava me surpreendendo com ele a cada minuto. Incrível a capacidade que ele tinha de prender as pessoas e começar assuntos duradouros. Não era à toa que Lavínia o protegia tanto... Ele devia ser o melhor psicólogo para quaisquer tipos de problemas!
Ao nosso redor os casais começavam a se beijar frequentemente, e hora ou outra, Ricard desviava o olhar incomodado, ou ficava em silêncio, constrangido. Quando mais um desses silêncios caiu, eu observei Bel e Bernard ali perto conversando felizes. Olhei para Ricard.
‘Então...’ pensava em começar outro assunto, mas não havia nada na minha mente com tamanha urgência. Ele fingiu tossir para quebrar o clima tenso. ‘Sabe, Ricard, eu estava agora mesmo me perguntando quando é que você pretende me beijar!’ disse sem rodeios e ele realmente começou com uma crise de tosses. ‘Hum, ok, acho que já entendi que você não quer.’ Respondi com simplicidade e ele parou puxando o ar e me olhando assombrado.
‘Não é isso!’ ele respondeu com urgência. ‘É que... Bem. Eu não sei se posso te beijar.’ Ele disse tímido e lançou um olhar nervoso para Lavínia e Victor ali perto. Ela já tinha reparado em nós dois, pois também nos olhava desconfiada parecendo não prestar atenção no que Victor a dizia. Olhei para ela também e perdi a paciência.
‘Lição número um...’ disse puxando o rosto dele para que me olhasse. Estava gelado. ‘Beijo não se pede.’ E dizendo isso, me aproximei e o beijei definitivamente. Embora ele continuasse intacto por alguns segundos, aos poucos me abraçou para mais perto e descobriu que meninas não mordem, afinal.
I’m quiet, you know
You make a first impression
I’ve found I’m scared to know
I’m always on your mind
Even the best fall down sometimes
Even the stars refuse to shine
Out of the back you fall in time
I somehow find, you and I collide.
Howie Day - Collide
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