Thursday, November 08, 2007

Por trás dos bastidores...

- Preparar. Apontar. Lançar!

Uma das voluntárias apitou e cerca de 15 flechas saltaram de arcos recurvos para alvos posicionados há alguns metros diretamente à frente das competidoras. Apertei com força meu arco enquanto observava minha própria flecha descrever uma trajetória semicircular no céu e pousar, com perfeição, no centro do alvo. Abaixei o arco sorrindo satisfeita.
Logo nesse primeiro lançamento, oito competidoras foram eliminadas por não acertarem o alvo. Me concentrei e preparei a segunda flecha. Olhei fixamente o alvo.

- Preparar. Apontar. Lançar!

Novamente ouviu-se um apito e sete flechas voaram. Meu segundo lance não foi tão ao centro, mas a flecha continuou no círculo central. Saltei. De acordo com o quadro de pontuações eu estava em primeiro lugar, enquanto Evie (uma das meninas de Durmstrang) estava em segundo com uma diferença de 7 pontos. Só mais um bom lance e a medalha seria minha...

E quando o apito soou pela terceira vez, apenas quatro flechas passaram com velocidade em direção aos alvos. Senti meu estômago embrulhar. Minha flecha saltou para o meio do menor círculo, novamente, e gritei. Uma massa de torcedores azuis acompanhou meu grito e invadiram os jardins para me abraçarem. Evie me cumprimentou sorrindo enquanto subíamos ao podium. A medalha de ouro era minha e de Beauxbatons!

°°°

‘Oi Brenda.’ Cumprimentei animada fechando a porta da sala.

Brenda deu um aceno de mão sorrindo. A rádio estava no ar enquanto ela lia para todos os resultados das competições do dia... Organizei minhas coisas e esperei ela terminar o boletim.

‘E por último, Beauxbatons faturou mais um ouro na Arquearia essa tarde. No Arco Recurvo, Isabel McCallister ficou com o ouro, Evangeline Stanislav do Instituto Durmstrang, ficou com a prata, e Liesel Scobar do Instituto Heraclion finalizou o podium com a medalha de bronze. Parabéns, Isa.’ Ela finalizou e sorriu para mim, que retribui o gesto. A medalha de ouro ainda estava pesando no meu peito. ‘Por hoje é só. Amanhã teremos mais competições em esgrima, natação, arquearia, montaria e tantas outras modalidades. Boa noite para todos, e nos vemos amanhã.’

Brenda arrancou o fone arrumando os cabelos e se levantando. Colocou uma fita para tocar.

‘Vocês ouviram agora: Boletim das Olimpíadas – Atletas de Beauxbatons, por Brenda Vasseur. Em cinco minutos, Isa McCallister entra no ar com uma entrevista exclusiva ao ídolo Benjamin O’Shea. Não durmam!’ a voz terminou de anunciar. Rimos.

Enquanto eu me sentava e arrumava os fones e as pastas com a entrevista à minha frente, eu sentia, mesmo estando isolada de 99,9% das pessoas que ocupavam o castelo, que naquele momento eu prendia 100% das atenções. Todos andavam me cercando e cobrando essa entrevista há uma semana. Agora que ela iria ao ar com exclusividade, duvidava muito que alguém estivesse dormindo.
Brenda terminou de recolher as coisas e me encarou um tanto apreensiva. Faltavam dois minutos...

‘Tem certeza que está tudo certo com a entrevista?’

‘Tudo. Escutei agora mesmo, cinco minutos antes de chegar aqui. Não se preocupe, ela está perfeita...’ confirmei, colocando a fita da entrevista na rádio. Ela continuou me olhando apreensiva. ‘Não se preocupe, ok? Está tudo certo.’ Repeti e ela sorriu sacudindo os ombros.

‘Ok então... Mas Isa... Você não está preparando nenhuma surpresa além, está?’ ela perguntou séria e ri.

‘Que tipo de surpresa?’

‘Sei lá. Alguma informação além da entrevista... Alguma coisa extra.’

‘Se estiver, é crime?’ perguntei. Um minuto... Brenda falou em tom urgente.

‘Por favor. Controle-se. Estamos falando de Ben O’Shea e de nossa principal entrevista. Por favor.’ Ela disse em tom de súplica.

‘Já disse para ficar tranqüila, não disse? 30 segundos. Tenho que entrar no ar. Me deseje sorte!!!’

‘Boa sorte.’ Ela respondeu não parecendo muito calma. Mas sorriu.

‘Obrigada.’

Ela deu um último aceno e saiu da sala. Tranquei a porta com a varinha e entrei ao ar. O grande momento chegara...

°°°

A entrevista estava rolando perfeitamente bem. Do lado de fora da rádio eu ouvia uma pequena aglomeração de fãs afobadas que tinham se reunido ali. A cada pergunta elas se expressavam de maneiras diferentes. Quando não eram gritos, eram suspiros, ou risadas histéricas, ou grandes “AHHH” ou “OHHHN”. Eu ria me identificando com elas. Finalmente, a última pergunta foi respondida...

- Como você encara o futuro, sem a banda, sem a mídia, as fofocas?
R: O futuro é incerto. Mas devo admitir que não tenho do que me queixar do meu presente... Tenho amigos maravilhosos, um filho que me orgulho muito, alguém especial que amo muito, fãs fiéis, uma condição tranqüila para viver, uma profissão que gosto. Enfim. Não sei como vai ser meu futuro, mas espero que se pareça muito com o HOJE, o AGORA.

- Para encerrar, gostaríamos de agradecer sua paciência e disposição. Seu carisma. E tudo o que você nos proporcionou antigamente, e nos proporcionou hoje.
R: Eu é quem tenho de agradecer. Por se lembrarem de mim. Respeitarem minha decisão. Me admirarem como pessoa também. Devo tudo a vocês, meus fãs. Obrigado por essa oportunidade de estar mais perto de todos...

A fita da entrevista parou. Do lado de fora, as meninas agora choravam, gritavam e aplaudiam com entusiasmo. Peguei o microfone.

‘E essa foi a entrevista com meu ídolo, e com o ídolo de várias outras pessoas por aqui, tenho certeza. Mais uma vez, gostaria de agradecer ao apoio de todos, aos meus amigos que intercederam para a realização desse sonho, ao Ben por ser tão simpático e maravilhoso...’

As meninas gritaram e aplaudiram ainda mais forte. Deixei que elas se recuperassem por um minuto antes de recomeçar a falar.

‘Mas, além dessa entrevista, há ainda algumas curiosidades sobre Ben que gostaria de compartilhar...’ então tudo ficou quieto e silencioso. Ninguém esperava nada além da entrevista, mas eu tinha uma carta na manga. Um curinga. ‘Durante toda a semana eu me propus a perseguir Ben por todos os lugares, saber dos seus gostos, seus costumes... Seus segredos. Mesmo que ele não tenha visto, mesmo que ninguém tenha reparado. Devo dizer: há muito mais sobre Ben O’Shea do que cabem nossas vãs idolatrias!’

O silêncio continuou intenso. Do lado de fora eu senti uma tensão ansiosa. Respirações se prendendo. Ouvidos se apurando.

‘Ben O’Shea, como ele mesmo disse, ama muito alguém. E agora, caríssimos ouvintes, eu tenho a honra de dizer quem é a felizarda de tanto amor e tanta sorte. Seu nome e sua identidade não são ocultos. Muito pelo contrário. A sortuda atende pelo nome de Alexandra Selene McGregor, e está trabalhando como Chefe de Segurança das Olimpíadas, junto com Ben.’

Então, em questão de milésimos de segundos, as garotas explodiram em exclamações surpresas. Foram tantos “OHHH” e “NÃO ACREDITO! É ELA MESMO?” ou até mesmo “ELA NEM É TÃO BONITA ASSIM PARA ELE. SOU MUITO MAIS EU” que eu sabia: havia alcançado meu objetivo.

‘Eu sei, eu sei como vocês estão se sentindo. Também tive um momento de completa perplexidade. Mas acreditem: o romance de Ben e Alex (e acho que já tenho intimidade para chamá-la assim) é muito antigo! Fontes seguras afirmam que eles foram grandes amigos em Hogwarts e se formaram juntos. Assim como se formaram juntos na Academia de Aurores. E MAIS: Nicholas O’Shea é na verdade NICHOLAS MCGREGOR O’SHEA, filho de Alexandra e Benjamin! Se ele nasceu fruto de uma crise no casamento de Alex, ou outra coisa qualquer, não sei responder, mas Nicholas é, sempre foi, e sempre será, fruto desse amor tão intenso e duradouro entre os dois.’

O barulho era tão intenso no corredor que me assustava. Acho que algumas meninas desmaiaram no chão enquanto eram acudidas por outras histéricas. O circo estava armado. Começaram a socar a porta e chutar com violência.

‘Espero que Ben possa confirmar seu romance de agora em diante. Assim como Alex. Não é vergonha amar e ser amado. É tudo que desejamos para nosso ídolo. No mais, fico por aqui. Agradeço a compreensão e paciência de todos e até o próximo programa. Boa noite.’

Desliguei a rádio. O barulho do lado de fora só aumentou. Tinha decidido: esperaria que as coisas se apaziguassem um pouco, antes de sair. Sabia que não seria fácil a aceitação tão breve de todas... Eu havia acendido o fósforo perto demais de um barril de pólvoras.

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