- VOCÊ FICOU COMPLETAMENTE MALUCA, ISABEL MCCALLISTER?! – Brenda berrava enquanto tinha o dedo apontado diretamente para meu peito e avançava ameaçadoramente. – VOCÊ COMEU BOSTA DE DRAGÃO? ERA A NOSSA MELHOR ENTREVISTA E VOCÊ FAZ ISSO? PARABÉNS! VOCÊ ACABA DE FERRAR COM O MEU FUTURO DE JORNALISTA.
Ela se deixou desabar em uma canoa, mas tremia violentamente. Bel estava sentada do outro lado, em silêncio, e me lançava um olhar de censura periodicamente. E Anne parecia em dúvida se ajudava Brenda a se acalmar, ou não. Estávamos as quatro, na beira do lago de Beauxbatons. Era para ter sido mais um dos treinos de canoagem, agora que só faltavam alguns dias para a final em Hogwarts, mas desde o dia que eu tinha ‘disseminado’ histórias sobre Ben O’Shea na rádio, algumas pessoas (e posso incluir Anne, Bel e Brenda) simplesmente achavam que eu tinha batido a cabeça em algum lugar e estava ficando louca.
Para ser sincera comigo mesma, melhor teria sido se só elas tivessem achado isso. A verdade é que todos me olhavam de maneira estranha agora. As fãs mais antigas me lançavam insultos por ter espalhado calúnias sobre o ídolo. As fãs um pouco mais relapsas, não gostaram nem um pouco do que escutaram. Meus amigos estavam contra mim e na maior parte do dia eu tinha que correr de algumas pessoas que estavam à caça de minha cabeça. Entre elas: Miyako, Ty e Gabriel, que gritavam a plenos pulmões que o próprio Ben jogara a culpa em cima deles sobre o ocorrido, já que foi por intervenção deles que a entrevista aconteceu. Alex McGregor que estava esperando um momento oportuno para me fazer de picadinhos, as amigas de Alex que também me encaravam ameaçadoramente, e o próprio Ben que dera uma coletiva um dia depois, para jornalistas que ele julgou serem CREDENCIADOS, desmentindo todas as fofocas e dizendo que eu precisava de um pouco de atenção.
Eu estava me sentindo péssima. Me deixei levar pela empolgação das minhas alucinações e paranóias e acabei criando histórias. E o pior, havia julgado a fidelidade da mãe do Ty. Eu sabia que havia sido horrível o que eu fizera, e sabia muito bem o que tinha de fazer para consertar isso. Embora eu admitisse que seria difícil, eu faria. Só precisava de um pouco mais de tempo, para colocar as coisas em ordem...
‘Olha, Brenda, me desculpa. Eu sei que eu errei. Eu vou consertar está bem? Te garanto que você não vai ter nenhum prejuízo nessa história toda...’ me aproximei lentamente dela e sentei ao seu lado. Ela me olhou furiosa.
‘E como você pretende consertar isso? Posso saber? As pessoas também estão me olhando feio ok? Elas sabem que eu estive naquela entrevista, e provavelmente estão certas de que eu sou cúmplice de todas as suas viagens.’
‘Pois então, eu vou dizer para quem quiser escutar que você também não sabia de nada!’ Respondi em desespero. ‘As pessoas vão ter de acreditar em mim.’
‘Depois de você ter falado tudo aquilo? Você ainda quer credibilidade? Francamente.’ Ela se levantou e me olhou irônica. ‘O melhor que você tem a fazer é ficar de boca calada até o final dessas Olimpíadas e arcar com as conseqüências do que você fez. Não precisa se preocupar com a minha integridade... E Bel, me desculpa, mas não vai dar para treinar mais. Vou conseguir uma substituta na equipe para vocês, sem que vocês saiam prejudicadas ok?’
Bel sacudiu os ombros. Parecia já estar esperando que uma de nós abandonasse o barco. Senti meu estômago dar uma volta completa.
‘Não. Se alguém vai sair dessa equipe, esse alguém sou eu. Estou fora.’ Levantei encarando as três. Nenhuma fez qualquer objeção.
Sentindo uma lágrima morna cair no meu rosto, sai para o outro lado. Se eu tivesse se quer imaginado que perderia a confiança dos meus poucos amigos... Se eu soubesse que em pouco menos de dois dias depois do que me pareceu ser uma notícia interessantíssima, eu ficaria completamente só, e se meu arrependimento me matasse...
Dora estava andando de mãos dadas com Sávio. Exibia no peito sua conquista na montaria individual: uma grande medalha de ouro. E parecia muito feliz e satisfeita. Caminhei em linha reta na direção dela.
‘Dora, posso falar um minuto com você?’ Ela me olhou assustada. Provavelmente percebeu que eu estivera chorando há pouco menos de um minuto.
Sávio a olhou significativamente e saiu. Ela se aproximou, parecendo preocupada.
‘O que aconteceu, Isa?’
‘Será que você pode me substituir no time de canoagem com a Bel, Anne e Brenda? Eu não posso mais ficar na mesma equipe com elas... ’
‘O que? Por que não?’
‘Por que eu cometi um erro. Brenda não confia mais em mim. Anne prefere não tomar partido, mas é óbvio que ela acha que eu estou errada. E a Bel, bom... Não mudou muita coisa, não é mesmo?’ Recomecei a chorar.
‘Por causa do que você disse sobre o Ben?’ Ela perguntou vacilante.
‘É... Você pode? Por favor? É importante para elas ganharem essa medalha. Eu nunca me perdoaria.’
‘Exatamente por isso que não posso aceitar, Isa. Eu não sei nem como se parece um remo! Seria um atraso para elas...’ ela respondeu triste. ‘Não se preocupe, vai tudo ficar bem. Logo elas percebem que você está arrependida e...’
‘NÃO! Não há tempo! Por favor? Eu também não sabia, mas a Bel me ensinou e estávamos fazendo ótimos tempos! Tenho certeza que é só uma questão de se acostumar e você logo estará encaixada. Elas estão agora mesmo na beira do lago. Vá até lá e diga que vá me substituir.’
De duas uma: ou Dora realmente sentiu pena de me ver em estado de tamanho desespero, ou achou que estivesse me devendo algum tipo de favor. O fato é que ela, mesmo parecendo hesitante, aceitou. Deu um tapinha de consolo em meu ombro e saiu em direção ao lago. Quanto a mim, tinha me decidido: iria naquele mesmo momento reparar tudo o que tinha feito!
Caminhei em direção ao castelo um pouco mais depressa do que o natural. Só queria chegar à rádio, dizer que era tudo uma mentira, que eu era um monstro, que Alexandra e Ben me perdoassem, que meus amigos me entendessem e...
‘Onde você pensa que vai, mocinha?’ Um par de mãos me agarrou com força pelos braços e me empurrou para uma sala de aula deserta. Não fossem duas pessoas: Alexandra McGregor e Benjamin O’Shea. Em outras circunstâncias, eu provavelmente acharia que a sorte estava me sorrindo. Mas nem a sorte, muito menos o casal estava sorrindo ali. Os dois me encaravam furiosos e de braços cruzados.
‘Olhem, me desculpem. Foi horrível o que eu fiz, horrível! Eu não sei como... Aliás, sei. É que eu via vocês dois tão juntos, e mais a história do filho, e vocês falando que namoravam e... Sei lá, eu me confundi, acreditei na minha alucinação. Mas não se preocupem, eu estava indo agora mesmo até a rádio desfazer todo esse mal entendido!’ Disse tudo aos atropelos e com urgência. Os dois se entreolharam.
‘Está indo lá envenenar mais? Dizer que Alex está grávida de gêmeos?’ Ben perguntou com azedume. Alex riu sarcástica.
‘Ou dizer que terminamos nosso caso por que agora ele caiu na boca do povo.’
Os dois riram, mas não de alegria. Riam zombando da minha cara. E no fundo, eu sabia que merecia aquilo, e já até esperava... Me sentei em uma cadeira e recomecei a chorar.
‘Não, eu juro, não é nada disso. Eu vou contar toda a verdade. Eu vou pedir desculpas. Eu só quero ter amigos que confiam em mim de novo. Prometo. Não vou dizer mais nada.’
Escondi o rosto entre as mãos. A sala ficou em completo silêncio. Passados dois ou três minutos, dois pares de pernas se agacharam na minha frente. Levantei a cabeça. Ben ainda me encarava desconfiado, mas Alex já parecia um pouco mais calma.
‘Olha, Isabel, vou ser sincera com você. Senti uma vontade louca de surrar cada pedacinho do seu corpo quando você disse aquelas coisas. Se eu fosse sua mãe, você estaria encrencada. Mas eu acho que você está sendo sincera quando se diz arrependida, e todos nós erramos um dia. Por mim tudo bem, se te dermos mais uma chance... ’ Ela disse séria e olhou para Ben. Ele sacudiu os ombros.
‘Para ser sincero, eu me preocupei muito mais com a Alex do que comigo mesmo. Ser famoso implica em ter fofocas e mentiras sobre você diariamente. E além do mais, minha carreira já chegou ao fim. Não me abalou em nada. Só não admito que coloquem meus AMIGOS no meio disso tudo. Alex e eu NUNCA tivemos um caso, nem de um dia e muito menos de anos. Nunca tivemos um filho. E ela nunca traiu o marido dela. Entendeu?’
Concordei com a cabeça. Mais lágrimas saíram descompassadas dos meus olhos.
‘Até por que, você acha mesmo que se eu namorasse esse gato, ou tivesse tido um filho com ele, eu me esconderia? É claro que não.’ Ela riu com bondade e Ben também. Acabei rindo. ‘Agora, por que você não para de chorar, vai lavar o rosto e terminar o que ia fazer?’
Ainda tremendo, limpei de qualquer maneira o rosto e lancei um último olhar de desculpas aos dois. Cheguei à rádio dois minutos depois e fechei a porta. Arrumei o microfone e entrei no ar.
‘Há dois dias atrás, depois de colocar ao ar a entrevista com Ben O’Shea, eu cometi um terrível erro. E que me causou arrependimentos. Quando disse que ele tinha um caso com Alexandra McGregor, e tinham tido um filho, eu não só inventei uma mentira. Eu julguei pessoas que nem conhecia. Julguei a fidelidade de casamentos, a lealdade em amizades... Coisas essenciais. Me deixei levar por visões borradas e distantes de cenas, e disse tudo aquilo sem nenhum fundamento. Mas vim aqui hoje, ao menos tentar consertar para algumas pessoas, esse grande equívoco. Ben O’Shea e Alex McGregor são só bons amigos. Nunca tiveram casos, filhos ou o que quer que seja além de um grande carinho, um pelo outro. Fui eu, ISABEL MCCALLISTER, quem inventou tudo isso. E SOMENTE eu. E por causa desse terrível erro, eu paguei caro. Meus amigos não confiam mais em mim, não tenho mais nenhum tipo de credibilidade e estou vivendo um inferno. Não quero me fazer de vítima. A culpa é só minha. Só queria pedir desculpas por tudo e dizer que estou muito arrependida.’
Desliguei a rádio. Não conseguiria dizer mais nada. Nem chorei também. Um minuto de silêncio então alguém bateu na porta... Eu esperava algum tipo de manifestação agressiva, dizendo que eu era sim uma idiota fofoqueira necessitada de atenção. Enganei. Quando abri a porta, estava a única pessoa que eu não esperava encontrar ali, e justamente a que eu mais estava precisando: Brendan. Ele me encarou sério por uns segundos e então abriu os braços. Sem pensar duas vezes, me larguei no peito dele e ele me abraçou forte esperando que eu chorasse.
‘Está tudo bem. Você fez o que era certo’ ele dizia enquanto passava a mão pelo meu cabelo.
‘Eu sei... ’ me livrei do abraço dele e o encarei. ‘Então você não está com raiva de mim?’
‘Pensei que você soubesse que eu sou apaixonado por você, Isabel. ’
‘Mas você me pediu um tempo!’
‘Bom, eu estou aqui, não estou? Mas posso ir embora se você quiser um tempo desse seu amigo idiota. ’ Ri.
‘Nunca. Eu estava com tantas saudades de você, Bren. ’ Disse sincera e o abracei novamente. Ele riu.
‘Eu também, Izzie. ’ E dizendo isso, apertou minha cintura me fazendo cócegas. Estava rindo e tentando me livrar das mãos dele quando Brenda, Anne, Bel, e Dora (ensopada da cabeça aos pés) entraram na sala.
‘Sabe, eu disse que isso não ia funcionar, Isa. ’ Dora disse olhando para baixo. Suas roupas pingavam. ‘Fui treinar e ao invés de remar, cai no lago. ’
‘Você é uma idiota, Isabel’ Brenda disse. Mas não estava séria. Sorria. ‘Mas é a idiota mais engraçada que eu conheço. ’
‘E a mais corajosa’ Anne completou também rindo.
‘Acabou a moleza, Isabel. Já para o lago. Temos uma medalha para conquistar e não temos tempo para treinos de substitutas. ’ Bel completou, com sua típica voz de general, mas com um brilho no olhar diferente. Quase amistoso.
Ver meus amigos ali me fez sentir como se tivesse tirado dos meus ombros um peso imenso. Brendan riu e disse que assistiria nosso treino. E eu prometi a mim mesma: depois desse dia, eu me preocuparia somente com a minha vida, que já era atordoada demais.
You had a bad day
The camera don’t lie
You’re coming back down and you really don’t mind
You had a bad day
You had a bad day
Well you need a blue sky holiday
The point is they laugh at what you say
And I don’t need no carryin’ on
N.A.: Daniel Powter – Bad Day
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