MH: Eu não vou ficar aqui, Gabriel. Só essa noite e amanhã mesmo eu volto pra casa por flú. – Ty estava na cozinha em frente à geladeira enquanto eu cochichava irritada para Gabriel. – Você tinha que ter me avisado, tinha! Eu nem teria vindo para passar essa noite. Teria combinado com mamãe, da Toca direto para casa.
GS: E por que você acha que eu não disse nada? Sabia que você ia fazer isso. Essa briga de vocês está idiota. Além do mais, você iria perder a Copa Mundial por causa disso? – perguntou irônico.
MH: Não me obrigue a te violentar, Gabriel. Minha cota de paciência já estourou.
Gabriel ia responder, mas desistiu ao ver que Ty caminhava em nossa direção com bebidas gasosas e um bolo nas mãos. Sorriu sem graça na minha direção, e olhei para o chão.
TM: Er, bom, não temos muitas coisas aqui. Mas acho que podemos comer isso por enquanto, e mais tarde pedimos uma coisa mais definitiva.
GS: Se um bolo não é definitivo para você, me pergunto o que seria Ty. – Gabriel disse e os dois riram. Me controlei mentalmente para não rir também.
Sentamos à mesa enquanto devorávamos o bolo. A tarde gasta no Beco Diagonal fora suficiente para nos deixar exaustos e famintos. Ty e Gabriel embarcaram em uma discussão sobre a ansiedade para a Copa de Quadribol, e vez ou outra eu cheguei a abrir a boca para tecer um comentário, e tornava a fechá-la com uma fatia de bolo. Tia Alex chegou do Ministério algumas horas depois, parecendo abatida, mas sorriu ao nos ver.
AM: Gabriel, Miyako. Que bom vê-los aqui. Como estão?
GS, MH: Bem. – sorrimos de volta.
AM: Se importam se subir para tomar uma ducha e der uma descansada? Os preparativos para a Copa Mundial estão uma loucura.
MH: Vou me sentir extremamente afetada, Tia Alex. Não vou deixar você subir! – disse séria e todos riram.
GS: É. Tremenda falta de educação! – Gabriel disse risonho. Tia Alex agradeceu entendendo que aquela era a maneira de dizermos que estava tudo bem e começou a subir as escadas. Virou-se para Ty.
AM: Então. Encontrou tudo o que precisava para Durmstrang?
A menção daquilo fez toda a animação se esvair de mim novamente. Fechei a cara. Ty olhou nervoso de mim para a mãe antes de responder um “encontrei” rouco. Tia Alex deixou os olhos caírem sobre mim uns instantes e levantou as sobrancelhas parecendo entender o que se passava.
AM: Certo. Bom, se quiserem pedir uma pizza ou qualquer outra coisa. Não estou com fome, de qualquer maneira. Nos vemos depois, ok?
Concordamos e ela sumiu na escada. Ficamos novamente a sós e um clima pesado e silencioso planava. Eu gostaria de estar em qualquer outro lugar, menos naquela sala.
°°°
A Copa Mundial de Quadribol teve fim com vitória da França, depois de vários anos sem a taça. Saímos do estádio em meio a uma confusão de bruxos franceses que cantavam o hino, alucinados e balançavam gigantescas bandeiras. Minha relação com o Ty não tinha se alterado nadinha durante a semana. Alguns momentos, eu pensava em ir até ele esbofeteá-lo e dizer que aquilo estava me deixando maluca, mas quando estávamos juntos em algum lugar, só conseguia ignora-lo por completo.
Gabriel se desdobrava para dar atenção às duas partes, e estava ficando irritado com essa situação. Faltava somente uma semana para que eu voltasse sozinha à Beauxbatons. Acordei no meio da noite com um sonho esquisito que envolvia Ty, Gabriel, Seth, Griffon, minha mãe e um grande trasgo. Olhei ao redor do quarto de visitas e percebi que a cama de armar de Gabriel estava desocupada. Me levantei preocupada. Desci as escadas silenciosamente, a varinha em mãos, mas assim que cheguei ao andar de baixo, percebi que ele não era o único acordado. A luz da cozinha estava acesa e a voz de Gabriel e Ty saíam pela porta entreaberta.
GS: Nenhuma notícia?
TM: Nada. Não vejo e não falo com a Rory desde aquele dia. Ela deve estar ofendida comigo como se a culpa fosse minha! – falou nervoso. – Mas é até bom, sabe? Melhor assim.
GS: Já te disse o quanto acho essa história mal contada?
TM: Isso por que seu namoro com a Mad é uma maravilha. Fale por você. Não existem finais felizes!
Abri a porta e os dois me encararam inflexíveis. Pigarreei.
MH: Insônia, Gabriel? – perguntei, novamente ignorando Ty.
GS: É, um pouco. Você?
MH: Mais ou menos. Bom, acho que vou voltar para o quarto. Só vim ver onde você estava... Boa noite.
Virei as costas sem nem olhar para Ty. Antes que saísse da cozinha, a porta se fechou com um estalo e minha varinha voou do bolso, indo até a mão de Gabriel.
MH: O que você está fazendo? Devolve minha varinha e abre essa porta! – ordenei, mas ele apenas me encarou irritado.
GS: Chega! Só vamos sair dessa cozinha quando vocês se entenderem! E estou falando sério.
TM: Gabriel, abre a porta. – Ty disse ansioso. Gabriel guardou as três varinhas no bolso.
MH: Você vai abrir essa porta por bem, ou por mal? – ameacei.
GS: Todos vamos sair de bem. Então, quem vai começar?
Senti o corpo ficar quente de raiva e eu e Ty trocamos olhares rapidamente, antes de eu desviar. Me sentei.
MH: Ok, vou esperar tia Alex acordar e abrir a porta. Simples. – cruzei os braços e encarei o chinelo.
GS: Ótimo, vamos então. Vamos todos passar a noite quadrados nessas cadeiras duras por que vocês dois são moles demais para se entenderem. Por mim, sem problemas. – ele disse deixando claro que estava decidido. Fuzilei-o com os olhos.
Depois de dez minutos, continuávamos os três parados, e em silêncio. Gabriel soltava faíscas coloridas das pontas das varinhas e começou a cantarolar o hino da França novamente. Tentei pular em cima dele, pensando que ele estivesse distraído, mas assim que me movi, ele conjurou cordas e me prendeu à cadeira.
MH: Me solta nesse exato segundo!!! Agora!
GS: De qualquer maneira, quando sairmos dessa cozinha, você vai ficar sem olhar para a minha cara pelo menos dois ou três anos. Então quero te dar motivos reais. E se reclamar, te amarro abraçada ao Ty.
MH: Você está sugerindo que sou exagerada???
GS: E não é? Você está fazendo esse drama todo por que, afinal?
MH: Não vou discutir isso.
GS: Ah sim, certo. Mas vai continuar amarrada.
Ty estava estático. Eu semi-cerrei os olhos enquanto encarava Gabriel, o xingando mentalmente de todos os nomes cabeludos que conseguia me lembrar. Um minuto depois, explodi.
MH: Não estou fazendo drama! Não estou mesmo!
GS: Que nome você dá para essa sua irritação toda só por que o Ty vai para Durmstrang esse ano? Para mim é drama.
MH: Para mim é raiva! Você sabe muito bem que ele não está indo para Durmstrang por que quer conhecer lugares novos ou subir no quadribol. Ele está fugindo!
TM: Eu não estou fugindo!!!
MH: Claro que não está! Se transferir de colégio para evitar uma garota! Isso não é estar fugindo???
TM: Se você ao menos me deixasse falar...
MH: Bom, nesse momento eu estou presa e amarrada em uma cozinha, trancada, e sem varinha. Acho que não vou te impedir dessa vez. – olhei desafiadora. Ele devolveu o olhar.
TM: Eu não estou fugindo. Estou indo para Durmstrang, pois preciso fazer algo para o meu pai lá. – ele respondeu sério. Virei os olhos.
MH: E posso saber o que você tem que fazer lá, Tyrone? Deve ser muito importante, pro tio Kyle te pedir só depois de morto, não é? – quis atingi-lo o máximo que eu pudesse. Ele continuou no mesmo tom seco.
TM: É importante, mas ainda não posso contar o que é, nem para você e nem para ninguém. Você vai ter que confiar na minha palavra. Eu só fiquei sabendo disso depois que ele morreu, através do meu tio. Quando ele era vivo, ele nunca quis me pressionar. Acho que depois de tudo, devo isso ao meu pai.
Ele terminou e a cozinha caiu no mais absoluto silêncio de novo. Minha cabeça estava rodando. Metade de mim acreditava no Ty, no que ele estava dizendo, e na tal missão importante. Mas a outra metade insistia em dizer que aquilo era desculpa esfarrapada. Gabriel soltou as cordas que me prendiam e lançou minha varinha de volta, que segurei no ar.
GS: Agora se você quiser, pode sair daqui, ou me amaldiçoar, estourar a cozinha, me prender na cadeira... – ele disse listando. Parou. – Só queria que você escutasse o que o Ty tinha a dizer antes de começar a gritar.
Continuei parada com a cabeça baixa. E então, sem precedente nenhum, lágrimas começaram a escorrer do meu rosto sem parar. Ty e Gabriel não se moveram. Controlei um pouco delas e levantei a cabeça, molhada, para Ty.
MH: Ah, Ty, você me desculpa? Eu não sei o que deu em mim. Estou deprimida de voltar para Beauxbatons sem vocês. Primeiro o Biel, e agora você. Como vai ser? – mais algumas lágrimas escorreram. Gabriel e Ty se entreolharam assustados. – Eu devia ter confiado em você desde o começo. Eu sei que você não está fugindo, sei mesmo. Virei as costas logo quando você mais precisava de mim!!!
Escondi o rosto nas mãos. Senti duas mãos segurando meus braços e me fazendo olhar para cima. Ty estava ajoelhado na minha frente, parecendo aliviado.
TM: Quantas vezes eu te disse que você é doida? Você é muito doida, sabia?! Primeiro que eu não entendi toda essa briga, e segundo por que não precisava nem me perguntar se eu te desculpo, não é? Parece que não me conhece, alfabetinho!
Ri sem graça e dei um beliscão no braço dele pelo apelido. Ele me abraçou.
TM: Você é minha melhor amiga, Mi. Nada vai mudar. E só vamos estar um pouco longe, mas vamos nos falar todos os dias, e sempre que der, vamos nos encontrar. Ok? Prometo.
Confirmei com a cabeça e ri. Gabriel se ajoelhara ao lado dele rindo também.
GS: Acho que vou vomitar o bolo. – disse sarcástico. Caímos na risada. – Mi, você está ficando boa em dramatizações, hein? Professor Armand vai te dar um protagonista esse ano, posso apostar isso.
Mandei língua pra ele limpando o restante das lágrimas. Os encarei séria.
MH: Tudo bem. Vocês podem ir, eu deixo. Mas se eu chamar uma única vez nos espelhos, e vocês não aparecerem, eu busco vocês de volta pelos cabelos! E Ty, se cuida. De verdade. Durmstrang me dá arrepios, e eu nem conheço. E você, Gabriel, quero ingressos de todos os jogos!
TM: Sim senhora.
GS: Ok, ok, entendi.
MH: Ah, eu amo vocês! – disse abraçando os dois de uma vez, que dessa vez, não protestaram.
It’s hard to believe that there’s nobody out there
It’s hard to believe that I’m all alone...
Well, I don’t ever want to feel like I did that day
Take me to the place I love, take me all the way.
Red Hot Chili Peppers – Under the Bridge
°°°
N.A.: Texto feito com apoio moral da Ju, e apoio moral e duas mãozinhas da And. Thanks. FIM DE FÉRIAS DE VERÃO!
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