Wednesday, August 15, 2007

[Parte II]


O espaço aberto, onde seria o casamento já estava abarrotado de pessoas. A maioria, familiares longínquos, que só via em casamentos e velórios. Tentando evitar mais olhares e perguntas, dirigi com Bernard e Isa até a última fileira de cadeiras, onde permanecemos sentados até o começo da cerimônia.

Após a entrada dos noivos e as rotineiras exclamações de ‘Nossa, como ela está bonita’, o casamento começou e correu, sem diferenças.
Ao término, nos levantamos e nos unimos à mamãe a uma mesa, para esperarmos e cumprimentarmos os noivos. Achava tudo aquilo uma chatice!!!

Quando Dora e Thomas finalmente passaram por todas as mesas, as músicas começaram. Mas mal tivemos tempo de nos levantarmos, Samantha chegou à nossa mesa, sorridente.

SD: BEL!!! Não acredito! É você? Pensei que fosse a Isabel! Se não fossem os óculos...

Samantha era a irmã mais nova de Dora, e era a prima que eu mais gostava. Nos entendíamos bem, uma vez que ela também era bastante estudiosa e mais caseira. Porém, desde que tinha se transferido para Hogwarts, andava diferente. Mais solta, mais arrumada, muito mais social. Mas mesmo assim, sentia uma simpatia imensa por ela.

AD: Oi Sam. É, sou eu... Isabel quem produziu, mas sou eu. E esse aqui é meu namorado, Bernard.

Os olhos dela então se desviaram do meu vestido a Bernard. Ele mantinha uma expressão tão tensa, tão tensa, que pensei que fosse ter um colapso. Não conseguia entender o que estava acontecendo. Nem quando o apresentei à mamãe ele me pareceu tão nervoso. Samantha também o olhou séria e então sorriu. Não de educação. Um sorriso irônico.

SD: Bernard. ‘O que namora a Bel’...
AD: Ah, tia Sophia contou né? Bê, essa é a Samantha. Irmã da Dora.

Mas Bernard não falou uma única palavra. Olhou Sam com a testa enrugada, e suas mãos estavam suando.

AD: Ela não morde, sabe... – sussurrei no ouvido dele sorrindo. Ele continuou sério.
SD: Acho que está assim, por que já nos conhecemos antes, Bel. – Sam disse, o sorriso irônico e o tom irônico. – Está se lembrando de mim, Bernard?
AD: Se conhecem? De onde?

Agora olhava atônita, de um para outro, sem entender nada. Como Bernard conhecia Samantha, se não tínhamos encontrado com ela nem uma única vez desde que chegamos?

BL: Ah sim, me lembro! Nos conhecemos na viagem de formatura, Bel. Se lembra? Foi aqui. Conheci Samantha no luau de despedida. Que coincidência! Como vai?

Bernard falava rápido, e parecia bastante nervoso. Alguma coisa no tom de voz dele me fez perceber que ele não parecia nada feliz de ter se encontrado com Samantha. Samantha, por outro lado, parecia radiante.

SD: Muito melhor agora. Então... estão namorando é? Sabia que você é o primeiro namorado da Bel? Não vai decepcionar minha priminha, hein? – sorriu.
BL: Seria a última coisa que iria querer fazer nessa vida, não se preocupe.

E então eu tive certeza que alguma coisa muito errada estava acontecendo. Samantha usava o mesmo tom desagradável de tia Sophia e Bernard a respondeu com um tom gelado. Nunca tinha o visto responder alguém daquela maneira. Isa que até então estivera sentada observando, pensativa, se levantou.

IM: Esse mundo é uma ervilha, não? – e sorriu. Mas não conseguiu descontrair o ambiente e foi para a pista de dança sozinha.
BL: Bem, foi um prazer te encontrar, Samantha. Até mais! – saiu me puxando com força para longe da mesa, atravessou a pista de dança, e só quando chegamos ao gramado enfeitado de fadinhas, ele parou, ainda apertando meu braço, e me encarou. – Bel, eu preciso te contar uma coisa!
AD: Algo que explique a maneira que você tratou a Samantha? – puxei meu braço, levantando a sobrancelha. – O que foi aquilo? Não entendi nada!
BL: Aquilo foi a demonstração física da tortura psicológica que venho sofrendo desde que voltei da viagem de formatura. E a sua prima, é a torturadora. No luau de despedida, estávamos eu e Dominique sozinhos conversando, quando sua prima e um grupo de amigas chegou. Você conhece o Dominique, não conhece?! Ele logo começou a lançar olhares e sorrisos, e se convenceu de que Samantha não tirava os olhos de mim. Eu não achei que ela estivesse olhando para mim, até a hora que Dominique saiu com uma amiga dela e eu pensei em voltar para o hotel e dormir. Então Ian passou por mim e largou um copo de batida na minha mão. Eu pensei que não poderia ir dormir tão sóbrio na última noite da última viagem da turma, então tomei metade e comecei a voltar para o hotel, quando Samantha me abordou. Quando vi, tinha me arrastado para a pista de dança. E então, ela me puxou e me deu um beijo, e eu não pude reagir, eu...

PAFT!

Sem pensar muito, sentindo a raiva subir, eu bati no rosto do Bernard com a maior força que consegui reunir nas mãos. Lágrimas de raiva já escorriam pelos meus olhos e saíam pretas de lápis de olho.

BL: Bel, eu sei! A culpa é minha! Mas eu estava bêbado, não conseguia pensar direito! E além do mais, Dominique me lembrou que ainda não éramos namorados oficialmente, e aconteceu tudo tão rápido!
AD: Cala-a-boca, Bernard!

Me sentei no banco tremendo. Bernard ficou parado me olhando, as marcas vermelhas da minha mão se intensificando no seu rosto. Um filme começou a ser rodado na minha mente, como se eu estivesse em uma penseira e visse a cena toda passar do alto. Samantha e Bernard dançando e sorrindo, se beijando.

AD: Sabe o que me dá raiva? O que me faz estar com ódio? Não é nem o fato de você e Samantha terem aproveitado a festinha na praia juntos. Afinal, ‘como Dominique te lembrou’, nós ainda não éramos namorados. O que me faz ter uma vontade louca de te encher de tapas, e ir arrancar os cabelos da Samantha nesse exato momento, é a falsidade. Principalmente a sua. Se você tivesse sido sincero e contado desde o começo, nada disso aconteceria. E eu não ficaria olhando de você para a Samantha como se vocês estivessem ficando malucos! Mas não. Ficaram nesses sorrisos cínicos até o último segundo! Talvez Isa tenha razão quando diz que eu nasci para envelhecer sozinha, com animais ao meu redor...
BL: Bel, eu nunca me arrependi tanto de uma coisa! Eu estou sendo o mais sincero que posso, nesse momento. Vim a viagem inteira de volta odiando ter feito isso. E querendo matar o Dominique. E assim que cheguei a Beauxbatons eu fui te procurar, lembra? Estava ficando louco já. Mas então quando eu te vi, e você aceitou namorar comigo, eu simplesmente achei que não era necessário voltar à essa história. Nunca mais ia ver Samantha, e você não precisaria saber do que aconteceu. Não quando eu prometi pra mim mesmo que a partir daquele momento seria só você, entendeu? Mas aí eu descubro que ela é sua prima?! Só piorei a situação.
AD: Quando um não quer, dois não beijam. Nem dançam. Nem namoram. Não coloca a culpa no Dominique.
BL: Eu sei, eu sei. Mas ahh, se ele não tivesse enchido minha cabeça...
AD: A Samantha iria te abordar da mesma maneira, você iria se deixar arrastar por ela da mesma maneira, e ia me esconder tudo, da mesma maneira!
BL: Me desculpa, Bel? Olha, eu faço qualquer coisa pra mostrar que estou arrependido. Eu gosto de você como eu nunca gostei de nenhuma garota! Até mesmo o Dominique vai poder comprovar isso. Ele sabe. Eu não quero estragar tudo.
AD: E se acontecer de novo? Agora você não vai estar mais em Beauxbatons. Vai morar sozinho, ter responsabilidades. Não vamos ter muito tempo para nos vermos... E se outra Samantha te abordar e você preferir ‘esquecer de me contar’ por que não me encontra há dias? – disse azeda. Bernard se ajoelhou na minha frente segurando minhas duas mãos.
BL: Eu te prometo. Aliás, eu te juro, que nunca mais vai acontecer. Confia em mim? Eu sei que você gosta de mim também.

Olhei para os olhos azuis dele que estavam a poucos centímetros dos meus. Tinham uma expressão desesperada e sincera. E os meus dedos ainda continuavam se destacando no rosto pálido dele. Abaixei a cabeça.

AD: Não quero me decepcionar de novo com você, Bernard. Não mesmo. Gosto muito de você, e acho que você já está farto de ouvir da família inteira que você é meu primeiro namorado. Mas faço você virar passado em um minuto se isso acontecer novamente... Isso não é uma ameaça, é um aviso! – apontei o dedo pro nariz dele. Ele sorriu aliviado ao ver minha expressão e me abraçou com força, me dando um beijo.
BL: Se acontecer de novo, não se preocupe. Antes que você fique sabendo, eu desapareço.
AD: Assim que se fala! – sorri. – E nunca mais te trago aqui na Grécia. Foi uma vez para nunca mais! Aliás, vou garantir que você e Samantha mantenham a maior distância possível, um do outro.
BL: Isso seria ótimo!

Passamos o restante da noite distante do barulho de música e vozes que vinham do salão. Não tínhamos a mínima vontade de entrar. Quando Isabel e mamãe saíram assustadoramente tontas e andando juntas, a cena me chamou tanta atenção que não conseguia parar de olhar. Mamãe e Isa, que mantinham uma relação extremamente formal, vinham caminhando juntas, abraçadas, rindo alto, sem penteados e sem maquiagens. Olhei para Bernard assustada e ele devolveu a expressão, rindo. Foi até bom que Isa não estivesse em seu estado natural, pois assim não prestou atenção que a maquiagem do meu rosto já estava àquela altura toda borrada, os saltos Prada estavam em minhas mãos ao invés de estarem nos pés, e o decote do vestido da última coleção sendo injustamente tampado pelo blazer de Bernard, que continha no seu rosto a forma exata de cinco dedos longos e finos.

All of the things that I want to say
Just aren’t coming out right
I’m tripping in words
You got my head spinning
I don’t know where to go from here

Cause it’s you and me, and all of the people
With nothing to do, nothing to prove
And it’s you and me, and all of the people
And I don’t know why
I can’t keep my eyes off you

Lifehouse – You and me #

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