Tuesday, August 14, 2007

~ Memórias de Anabel Damulakis. Semana posterior à Copa Mundial de Futebol... ~

A velha mansão da família Damulakis continuava exatamente igual como eu havia deixado desde a última vez que estivera ali, no verão passado. Os mesmos sofás, estantes, enfeites, quadros, lareira...

Quando eu, Bernard e Isa entramos na Sala de Estar, mamãe que estivera sentada no sofá conversando com Tia Sophia, se levantou sorrindo e veio até nós. Estava decidida com relação a Bernard, então quando ele fez menção de dar um passo para trás, e ficar ao lado de Isabel, apertei sua mão fazendo-o permanecer do meu lado. Quando ela terminou de me abraçar apertado e me olhar de cima a baixo, dirigiu seu olhar a Bernard.

AD: Mãe, esse é Bernard. Meu namorado.

Tia Sophia, que estivera até então observando com muita curiosidade, soltou um suspiro “Aww” e mamãe olhou Bernard como se ele fosse o primeiro garoto da Terra. Uma novidade.

RD: Namorado, é?
AD: É, meu namorado! – Bernard continuava estático ao meu lado, sustentando nervoso o olhar de mamãe. Segurei a mão dele novamente, com firmeza. Mamãe sorriu.
RD: Bom, então muito prazer, Bernard! Seja bem-vindo! – mamãe estendeu a mão educadamente e ele segurou parecendo tenso. Só então, Isabel, com um sorrisinho irônico se adiantou. – Ah, Isabel, que bom, que bom que você veio! Como está seu pai?
IM: Muito bem. E você?
RD: Na mesma... Bom, não quero vocês plantados aí na porta, não é? Mostre a casa a Bernard, Bel. Ah, e essa é Sophia, minha irmã. - Tia Sophia se adiantou e cumprimentou a todos sorrindo. – Veio nos trazer o convite de casamento de Dora!
IM: O QUE?! Dora vai se casar? – Isa exclamou perplexa. Acho que estivera pensando em como seria bom se sua mais fiel companheira de compras continuasse solteira e livre de compromissos. Tia Sophia sorriu.
SD: Vai sim, Isa. Também acho que ela está se precipitando um pouco, mas... Agora, vendo Anabel de namorado, percebi que os tempos mudaram!

Como tia Sophia conseguia ser desagradável quando queria! Gostaria de perguntar a ela o porquê do tom cínico na voz quando teceu o último comentário. Mexi um pouco a cabeça e chamei Bernard e Isa para subirem e largarem as malas nos quartos. Quando alcançamos o de visitas, Bernard se sentou na cama, incomodado.

BL: Elas não gostaram de mim! Nem um pouco...
IM: Ta brincando?! Rebecca estava a ponto de te abraçar também! – Isa sorriu. Olhei atravessado para ela. – Verdade. Desculpa Bel, mas Sophia tem razão. Acho que até uns dois anos atrás, toda a sua família pensava que seria praticamente impossível você abrir a guarda para um garoto. Não fique irritada se eles se chocarem, inicialmente... Eu mesma confesso que imaginei você, diversas vezes, envelhecendo com vários gatinhos ao redor.
AD: Se você não parar de falar, eu juro que a última visão que você vai ter de mim, vai ser lançando um jato verde contra você, Isabel. – minha voz saiu fria, cortando o quarto. Isa sorriu e anunciou que iria até o quarto dela. Sentei ao lado de Bernard. – Você está se saindo muito bem! Sério. Acho que Isa tem razão em alguns pontos... Minha família está acostumada a me ver atrás de livros, não de mãos dadas com um garoto. Só que quando se acostumarem, vão ser mais simpáticos! Mas ela definitivamente não conhece a minha alergia a gatos! – Sorri e Bernard sorriu também, me dando um beijo.
BL: Também não conhecia... E eu que sonhava com uma casa no campo, vários gatinhos e cachorros, e várias crianças! Mas tudo bem, cortamos os gatinhos da lista, e aumentamos o número de cachorros.
AD: Podemos tirar o plural de crianças também, o que acha? Criança me parece muito mais agradável!
BL: O que??? Um filho? Não, não! Acho que vamos ter que negociar isso, sabe? Dois, no mínimo!
AD: Só queria poupar meu filho de ter um irmão como a Isabel. A criança não pode crescer em seu estado normal. Sorte que mamãe nos separou quando ainda havia tempo... Mas, ah, por que estamos discutindo isso agora??? Vem, vamos descer! Não dá para fazer elas se acostumarem com essa idéia de namoro, se ficarmos isolados o dia inteiro!

°°°

À medida que os dias foram passando, mamãe e Bernard já estavam se entendendo particularmente bem. Quando ele contou sobre seu interesse em fazer parte do Ministério da Magia, foi como se tivesse dito palavrinhas mágicas. Passavam horas conversando sobre isso.

Isa, ao contrário, vivia saindo de casa mesmo que sozinha. Voltava com as mãos carregadas de sacolas, e nem mesmo as compras pareciam estar fazendo com que ela se divertisse tanto.

Na manhã do dia do casamento de Dora, ela conseguiu finalmente me trancar no meu quarto com ela, onde entrou carregada de bolsas e sacolas. À primeira vista, era assustador o sorriso que ela deu. Mas ela me pareceu tão feliz, que não me importei de ceder aos caprichos dela ao menos um dia, deixando que ela me arrumasse.
Duas horas de tortura. Sobrancelha tirada, cabelo esticado, cachos, óculos discreto, vestido com decote, maquiagens e mais maquiagens e um salto alto e fino que me fez parecer uma grande girafa andando.

AD: Não vou de salto. Não sei andar com essas coisas.
IM: Ah, mas você vai de salto sim, senhora! Não é um salto, Anabel. São Prada! Entende o que digo? Prada! E toma essa bolsa, da mesma coleção. Discreta, chique. Você está linda! – Olhei as sandálias e a bolsa, e entendi que era a marca. Virei os olhos.
AD: Ok, mas não tem um vestido menos decotado? Minhas costas estão nuas, e meus seios...
IM: São bem bonitos para ficarem escondidos atrás daquelas velharias que você usa. E esse também não é só um vestido. É o último da nova coleção “Giorgio Armani”! E para de tentar mudar as roupas, não vai mudar nada!
AD: Ah... Será que posso ao menos tirar esses cachinhos da frente do meu cabelo? Estão me irritando!
IM: Até poderia, se eu não tivesse lançado um feitiço permanente neles!
AD: Você O QUE?
IM: Feitiço permanente. Vão ficar aí pelo menos por mais alguns meses, mas eram exatamente o que faltava no seu cabelo! Estava... RETO demais! Entende? – ela disse com uma naturalidade tão grande, que me senti uma idiota.
AD: NÃO! Eu gostava deles!
IM: Eu não. Pare de reclamar e vamos embora!

Saiu do quarto andando com delicadeza sobre os saltos, bem maiores que os meus, e um vestido bem mais aberto. Observando-a, até pensei que talvez não fosse difícil, já que apostava que Isa seria praticamente capaz de sambar com eles nos pés. Dei uma última olhada no espelho. Estava bonita, mas me senti uma boneca, completamente artificial. Soltei um suspiro tentando esticar os cachos, que desciam e subiam se enrolando novamente. Irritada, sai do quarto arrastando os pés para evitar uma queda. Assim que cheguei à porta, deparei com Bernard que estava quase tão elegante quanto o tinha visto na noite da formatura. Ele arregalou um olho quando me viu.

BL: Caramba, é você Bel???
AD: Não. A Anabel mandou avisar que está passando mal e prefere ficar em casa. Sou a Isabel.
BL: Não sabia que você usava óculos, Isa. – ele sorriu, ainda lançando olhares para o decote. Soltei um muxoxo.
AD: Pode dizer. Ela acabou comigo. Esses saltos, esse vestido do George não sei das quantas, essa bolsinha minúscula. E esses cachos!!! Me dá um minuto, vou tirar essa tinta da cara! – me virei para a porta e Bernard segurou meu braço.
BL: Você está linda! Não que não seja, naturalmente. Mas hoje...

Olhei constrangida. Ele parecia encantado. Sorri agradecendo e puxei a mão dele com impaciência.

AD: Gostaria que você parasse de lançar olhares a esse decote. E fechasse a boca. E me oferecesse o braço para me ajudar a andar, por que estou prestes a me desequilibrar!
BL: Ah, hum, certo. – ele balançou a cabeça rindo e me ofereceu o braço. Mamãe e Isabel já estavam na sala, e Isa parecia estar travando uma guerra interior, pois observava os sapatos de mamãe com muito desagrado. Porém, ao nos ver descendo a escada lentamente, abriu um sorriso.
IM: Não querendo me gabar, mas fiz um ótimo trabalho! Você está linda, Bel! – Mamãe, ao contrário, ficou chocada também.
RD: Anabel?! Nossa!
AD: Eu sei, eu sei, está extravagante. Vamos depressa? – perguntei impaciente. Estava me sentindo desconfortável com o choque dela e os sorrisos de Isabel e Bernard.

Ainda com a boca aberta e os olhos perplexos, mamãe saiu de casa.

What day is it, and in what month
This clock never seemed so alive
I can’t keep up
And I can’t back down
I’ve been losing so much time

Cause it’s you and me, and all of the people
With nothing to do, nothing to lose
And it’s you and me, and all of the people
And I don’t know why
I can’t keep my eyes off you

[To be continued...]

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