Das memórias de Gabriel Graham Storm
- A Fontana di Trevi, ou Fonte das trevas, é a maior e mais ambiciosa construção de fontes barrocas da Itália e...
- Estou ficando entediado. Vamos, já vimos o suficiente aqui!
Meu padrinho fez sinal para que o seguíssemos e nos afastamos do grupo que acompanhávamos. Desde que chegamos aqui, temos sido guiados por um italiano empolgado falando em inglês o tempo todo, junto com mais um monte de gente. Até que era uma idéia excelente, pois o cara nos explicava cada monumento da cidade, íamos a todos os lugares sem risco de nos perder e ele nos deixava livres, mas depois do 4° dia andando com as mesmas pessoas e ouvindo longas explicações, começava a ficar cansativo.
O resto do grupo continuou absorvendo cada palavra dita por Lorenzo e sentamos cansados na calçada. Já havíamos conhecido todas as fontes de Roma, igrejas, monumentos, tumbas e praças. Essa manha havíamos visitado o Vaticano e desde que voltamos, tio Scott estava com um ar estranho. Sabe quando você pressente que a pessoa está tramando alguma coisa? Pois é, era essa a sensação que ele me passava. Ele levantou de repente, animado, e nos puxou da calçada.
- Bom, agora que já fizemos todos os passeios de praxe e eu já ensinei o básico do italiano aos dois, vou deixa-los com outros guias.
- Que outros guias? O que mais pra ser dito sobre essas fontes?? – Mi falou, desanimada.
- Ah não, esses guias vão mostrar o outro lado de Roma a vocês. O lado mais divertido de todas essas coisas que visitamos. Eles já chegaram, vamos!
Olhava sem entender nada, mas logo a compreensão começou a me invadir. Ouvi uma buzina e em seguida duas lambretas pararam na nossa frente, com um menino e uma menina nelas. No mesmo instante os reconheci como sendo do grupo que nos encarava no 1° dia, quando almoçávamos na Piazza Navona. Olhei para meu padrinho sem acreditar que ele realmente tinha feito isso, mas ele ria e se adiantou para falar com os dois. Os três começaram a conversar em um italiano que passava longe do básico que ele havia nos ensinado e depois se virou para Miyako e eu.
- Gabriel, Miyako, esses são Vincenzo e Vittoria. Eles serão seus guias por hoje e por mais quantos dias quiserem! Já avisei que eles estão proibidos de sair de Roma com vocês e que devem estar de volta até às 21hs! Vão, estão esperando o que??
Miyako abriu um sorriso e cumprimentou o garoto, subindo na garupa da lambreta dele, empolgada. Encarei a menina sem graça e me virei para meu padrinho, tendo certeza de que meu rosto estava da cor dos meus cabelos.
- Você enlouqueceu?
- Não. Vocês têm 15 anos, não devem gastar 10 dias em Roma seguindo um grupo de adultos, tem que sair com pessoas da idade de vocês!
- Mas você nem sabe quem são eles! E se forem assassinos??
- Pelo amor de Deus Gabriel, não exagera! E conheço sim, sei até onde eles moram se isso te deixa mais tranqüilo.
- Mas nem falamos a mesma língua, como vamos conversar?
- Ora, essa pode ser sua chance... Se você falar alguma besteira, Vittoria não vai entender.
- Ha Ha, muito engraçado...
- Olha, para de inventar desculpas e curta o resto do dia. Se não falam a mesma língua, encontrem algo em comum e que ambos entendam. Compreendeu? – falou piscando
Ele me deu um empurrão na direção da menina e montei sem graça na garupa da lambreta. Eles falaram mais alguma coisa a ele e arrancaram em seguida, entrando numa rua estreita logo à frente. Os dois iam muito rápido, era impossível distinguir os lugares, dizer por onde estávamos passando. Tudo que via era o cabelo de Vittoria na minha frente e riscos multicoloridos passando pela gente, misturados com borrões que deviam ser pessoas. Já não estava dando conta de me segurar no banco, então me vi obrigado e agarrar a cintura dela antes que fosse jogado pra fora do veiculo. Via com muita dificuldade Miyako agarrada a Vincenzo na moto emparelhada a nossa, parecendo estar amando aquilo tudo. Ok, não vou mentir, eu também estava gostando...
Os dois falaram alguma coisa aos berros e entendi no meio delas as palavras ‘Piazza del Popolo’. Um costume que notei aqui: os italianos falam tão alto com os brasileiros... Em seguida eles dobraram com violência numa rua ainda mais apertada a toda velocidade, desviando dos postes e hidrantes, saindo de volta a claridade no meio de uma praça que deduzi imediatamente como sendo a tal Piazza Del Popolo. Eles continuaram correndo, cortando por entre as pessoas distraídas que passeavam na praça admirando a arquitetura. Juro que não sei como conseguiam fazer isso sem atropelar alguém! Depois de dar uma volta na praça, eles estacionaram na entrada dela. No centro tinha um monumento cercado por fontes e leões que cuspiam água.
- Então, aqui é a Piazza Del Popolo! Tem uma igreja ali, a de Santa Maria del Popolo, mas acho que vocês já estão cheios disso, não? – Vincenzo falou, descendo da lambreta e ajudando Miyako.
- Vocês falam inglês?? – Mi perguntou incrédula
- Um pouco, sim... As escolas daqui ensinam o básico, mas aprendemos em cursos.
- Por favor, não nos obriguem a entrar em mais nenhuma igreja! Temo por virar um ateu se isso acontecer...
- Não se preocupem, o tio de vocês nos proibiu de fazer passeios chatos. Venham, tem jeitos mais divertidos de se conhecer essa piazza!
Vittoria agarrou minha mão e saiu me puxando pelo meio da praça, largando as motos lá. Vincenzo vinha logo atrás puxando Miyako depressa e paramos em frente ao monumento de leões. Ele tirou os sapatos e foi entrando na fonte, como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo. Vittoria fez o mesmo e Miyako e eu ficamos parados nos encarando confusos.
- Andem, estão esperando por um convite formal?
- Ahn... Nenhum guarda vai nos prender por invadir um monumento histórico? – Mi falou incerta
- Se algum ver, no máximo reclamar... Relaxem, todos fazem isso! Roma é muito quente, as pessoas gostam de se refrescar dentro das fontes. Olhem...
Olhei para os lados e percebi que varias pessoas faziam o mesmo, a maioria turista, mas alguns italianos no meio. Bom, já que é comum... Miyako e eu arrancamos os sapatos e pulamos dentro do chafariz, espalhando agua pra todos os lados quando nossos pés bateram no fundo. Hoje sem dúvida prometia ser o dia mais divertido desde que chegamos...
((Continua...))
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