Friday, July 07, 2006

Aceita tequila?

Eu sei... Não é todo dia que fazemos aniversário. Aniversários costumam ser comemorados com festas... A família reunida, um bolo bem grande de chocolate, velas e pedidos, chapéus cônicos, línguas de sogra e blá blá blá. A última vez que me lembro de ter tido um aniversário carregado desses clichês, meu pai e mamãe ainda eram casados, e eu ainda era filho único.

Entrei de férias e fui direto pra casa. Meu pai? Não tinha notícias dele desde os ataques em Beauxbatons. Os dias que antecederam meu aniversário passaram se arrastando. Ficava em casa o dia inteiro com Samara... As minhas férias tinham tudo para serem um marasmo! Tinham...

Na madrugada do meu aniversário, Peter e mamãe nos levaram para jantar fora. Foi até bem divertido. Chegamos tarde em casa, hora que eles cantaram os parabéns, e fomos dormir. Acordei com o sol batendo na minha cara e os olhos inchados. Papai estava me encarando. Depois, quando me sentei, se aproximou e sorriu me dando um abraço.

IS: Parabéns!
SS: Obrigado pai... – ele me largou e sentou-se na cama, não tirando os olhos de mim. – O que é?
IS: Nada! Estava longe. O que vai querer de aniversário?

Encarei meus pés pensando. Meu pai nunca me perguntava o que eu queria de aniversário... Pelo menos não diretamente! Todo o ano mamãe me arrastava para o Beco Diagonal, e lá eu comprava alguma coisa que considerava como presente dele... Tentei me lembrar de alguma coisa que quisesse, mas...

SS: Quero viajar... Sozinho.
IS: Como? Mas?
SS: É isso que eu quero... Se não puder, só a sua presença aqui já valeu o presente, porque não me lembro de nada mais... – soltei um sorriso forçado.
IS: Viajar pra onde?
SS: Sei lá, para qualquer lugar... Canadá, Caribe, México... É, México seria uma boa. Estou entediado dentro dessa casa, e acabo não aproveitando as minhas férias.

Agora quem encarava os pés era ele. Ficamos um tempo em silêncio, e ele respirou fundo sussurrando um “ok” quase inaudível. Sorri largo e me levantei da cama...

IS: A filha de um funcionário próximo, do Ministério, mora no México. Você vai, mas vou pedir pra te acompanhar sempre que puder, certo?

Sabia que estava tudo muito bom pra ser verdade. Tudo que eu precisava era de uma babá! Nem pra ter escolhido um país onde ele não tivesse nenhum conhecido, ou filho de conhecido morando... Fiquei um pouco irritado, mas ou concordava ou com certeza não iria, e acabei afirmando. Se consegui fazer ele me deixar ir sozinho para outro país, me livrar de alguém que nem sabia que eu sou não seria muito difícil.

***

IS: O nome dela é Letícia. É morena, alta. Vai estar no aeroporto te esperando. Aqui está sua passagem de volta e...
SS: Relaxa pai, não vou fugir em um jipe. Até mais!

Entrei no portão de embarque e dei um último aceno para meu pai. As férias iriam começar a decolar!

***
- Bienvenidos al México. Buena estadía!

Ouvi a voz da aeromoça e abri os olhos no impulso. Peguei minha mala e olhei ao redor. Morena, alta... Só umas duzentas sorrindo. Ótimo, começamos bem! Sai andando quando uma moça para na minha frente.

LS: Es Samuel?

A voz não saia. A tal da Letícia não era só linda, ela era... Fiz positivo com a cabeça e ela sorriu. Puxou meu braço com força e me rebocou pra fora do aeroporto. Completando a frase ali de cima: ela não era só linda, ela era completamente maluca!

Foi dirigindo pela cidade até pararmos na frente de um hotel.

LS: Primeiramente, meu nome é Letícia Salles, eu sou jogadora de quadribol para o time do México, falo francês e inglês, então não se preocupe com a comunicação – sorriu– e esse aí é o hotel onde seu pai disse que vai ficar. Eu vou rapidinho em casa, enquanto você se arruma aí no hotel. Passo em 20 minutos para te buscar, combinado?

Acho que estava com aquela cara de choque. A doida ia falando tão rápido as coisas que demorei um tempo para absorver tudo. Concordei e sai do carro.

Fui até o quarto e larguei as malas, troquei de roupa e desci de novo. Ela já estava na portaria me esperando, mas dessa vez sem o carro.

LS: Não vamos precisar de carro para andar em Cancun... Venha!

Mais uma vez ela puxou com força meu braço e fomos andando. As praias eram lindas! Passamos o restante da manhã e da tarde andando por todas as praias que nossos pés alcançavam.

- SOMBRERO, SOMBRERO

Letícia soltou do meu braço e correu até um mexicano que estavam vendendo os maiores chapéus que já tinha visto na vida. Ela pegou dois e colocou um na cabeça. Depois voltou me entregando um...

LS: Não se vem ao México sem comprar um chapéu desses.
SS: Mas não tem como enxergar com isso tampando os olhos e o que está na minha frente! – disse levantando o chapéu.
LS: Eu te levo. Vamos!
SS: Pra onde agora?
LS: Para a diversão...

Notei um tom um pouco mais empolgado e continuei indo atrás dela.

LS: Já bebeu tequila?
SS: Te o que?
LS: Esquece! Hoje você vai beber... Só não pode contar pro seu pai, ok?
SS: Ei, eu não fico contando nada pra ele não viu?
LS: Eu sei... Você não faz o tipo de menino que vai atrás dos pais na hora do sufoco. – ela deu uma piscadinha e parou de andar. – Finalmente! Chegamos... Bem-vindo ao Café Cancun.

O som alto explodiu nos meus tímpanos quando entramos. Era um tipo de casa de dança. Fomos atravessando a multidão até pararmos em frente a um balcão. Letícia pediu dois copos da tal bebida e logo me entregou um.

LS: Você pode tomar tequila de duas maneiras: Devagar... – ela deu um gole e me olhou depois- o que vai te deixando em estado de tonteira gradualmente, ou virando de uma vez – com dois goles ela engoliu o restante do copo- o que vai te deixar tonto quase instantaneamente. Escolhe e bebe!

Encarei o copo e tomei um gole. Aquilo desceu queimando até embaixo. O gosto era forte, e para não ter que ficar tomando goles, resolvi beber tudo de uma vez... Quando depositei o copo no balcão vazio, senti a cabeça inchar e rodar. Então, parou! Focalizei Letícia, que sorria pra mim, e peguei mais um copo, virando ele também. Mais uma tonteira inicial e... Não parava! A cabeça girando, girando...

LS: Samuel? Você ta me ouvindo?

Ouvindo eu estava, mas vendo já era outro departamento. Eu via tudo difuso. Sorri e ela deve ter levado isso como sim, porque me puxou bruscamente para a pista de dança.
A noite só estava começando...

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