Friday, July 07, 2006

O melhor da juventude...

Das lembranças de Ian Lucas Renoir Lafayette

- Como não vai sair hoje? O que você tem?
- Não sei, minha garganta ta fechada, to me sentindo sufocado...
- Ah cara, o que eu vou fazer sozinho o dia todo??
- Desculpa... Não tem como sair daqui hoje, nem consigo andar!
- Tudo bem... Descansa então pra não perder o resto dos dias.

Sai do quarto da família de Bernard desolado. Meu amigo havia comido, de brincadeira, uma ostra no lual do hotel na noite anterior e acabou descobrindo que é alérgico àquela gosma. Alias, o lual não poderia ter terminado pior. Vincent arrumou uma dúzia de grilos e os soltou dentro da saia dos dançarinos no palco, o que resultou em uma grande correria e gritos das meninas histéricas derrubando tudo pela frente na tentativa de se afastar dos bichos.

Eu agora estava sem companhia pra passar o dia. Sophie encontrou um grupo de amigos da faculdade no balneário e havia saído com eles, antes mesmo que eu pudesse acordar e pensar em ir junto. Meus pais estavam determinados a passar o dia descansando na piscina do hotel, assim como os pais de Bernard, que se revezavam em tomar conta das crianças. Ótimo, perfeito, o que vou fazer o dia todo? Ficar boiando na água é que não! Sem muitas opções, resolvi dar uma volta na praia, sem rumo. Devo ter andado muito, pois não avistava nem sinal de lugar conhecido por perto, apenas um píer. Tirei os sapatos e sentei debaixo dele, atirando pedrinhas nas gaivotas que voavam baixo para pegar peixes.

- Se você acertar uma delas, pode ser preso. Sabia disso?
- E por que? São só gaivotas idiotas...
- Huum, já vi que está de mau humor... Tudo bem, não esta mais aqui quem falou, tchau.
- Não, espera. Desculpa, não quis ser grosso. Ian, muito prazer.
- Terri...

A menina de olhos azuis e cabelos castanhos sentou ao meu lado, sorrindo. Ela era bonita e aparentava ser pelo menos 3 anos mais velha. Achei estranho alguém vir conversando com um desconhecido desse jeito, sem receios, mas ela parecia não se importar com isso. Começou a falar sobre um monte de coisas e eu fazia esforço pra responder tudo sem me embolar. Ela era meio doidinha...

- Então você é daqui mesmo? Como é morar em Saint-Tropez?
- Não tem nada de especial, acho que estou acostumada... Só é ruim nessa época, pois a cidade lota de turistas e não conseguimos nem jantar sossegados sem pegar filas imensas!
- Nós sentimos muito... – falei brincando
- Ah tudo bem, também não é tão ruim assim. Pelo menos tenho a chance de conhecer gente nova... Vem, vamos passear, vou lhe mostrar o lado bom de Saint-Tropez! Aposto que seus pais só programaram aqueles passeios típicos de turistas.

Terri levantou empolgada e me puxou do chão, saindo me arrastando pela praia. Eu ia tentando calçar os sapatos de volta enquanto ela me puxava, pensando cada vez mais que ela era maluca. Em menos de uma hora, havia passado pelos mais loucos lugares da cidade, lugares que passei longe com meus pais e que nem imaginava que tinham por aqui. Ela me levou a uma praça afastada, onde parecia ser a concentração de todos os jovens da cidade. Tinha gente de todos os estilos lá, andando de patins, bicicleta, conversando, uns ate dançando sem musica ou usando o chafariz no centro da praça para se refrescar. Encontramos alguns amigos dela e fui apresentado a eles, todos pareciam legais. Paramos em uma sorveteria e ela pelo visto conhecia o dono, pois saimos cada um com uma enorme casquinha e sem pagar nada. Havia umas bicicletas encostadas no poste. Terri parou ao lado de uma delas, pegando cuidadosamente. Em seguida montou nela e indicou uma outra com a cabeça.

- Ficou maluca? Isso deve ter dono!
- E dai? Só estamos pegando emprestado, vamos devolver depois. Esta com medo?
- Medo? Claro que não! Passa a bicicleta!
- Pega ai senhor coragem... Mas anda depressa ou não consegue me acompanhar!
- Ei, espera!!

Ela começou a rir e saiu correndo com a bicicleta, antes mesmo que eu montasse na minha. Subi depressa e disparei atrás dela, tentando alcança-la. Ok, ela definitivamente era doida... Estava tão determinado em emparelhar com ela que não percebi que estávamos andando no meio de um píer, cortando entre as pessoas que caminhavam ali. O píer dava acesso a uma espécie de passarela que cortava a praia e percorremos toda a extensão dela. O sol já estava se pondo quando alcançamos a outra ponta, de onde eu havia partido inicialmente. O cenário era indescritível. O tom alaranjado do sol batia em toda a orla e muitas pessoas paravam o que estavam fazendo para admirar os últimos segundos de claridade.

- Bonito, não?
- Sim... Nunca tinha visto isso!
- Vantagens de se morar no litoral...
- Ah droga, olha a hora! Preciso voltar, já devem estar me procurando no hotel. Olha, adorei o passeio, de verdade. Eu...

Terri parou perto de mim e do nada enfiou o que restava do seu sorvete no meu rosto. Fiquei parado olhando-a estático e em seguida ela me beijou. Não estava esperando por essa, mas correspondi ao beijo. Quando nos separamos ela mordia os lábios e sorria.

- É... gostoso como o sorvete... Então, vamos nos ver outra vez?
- Ah, er, claro. Podemos sair hoje à noite?
- Lógico, melhor ainda! Tem muitos bares legais por aqui, você vai adorar.
- Ótimo. Só vou passar no hotel para dizer que estou vivo e tomar um banho. Onde encontro você?
- Na praça onde pegamos as bicicletas, lembra o caminho? Assim você aproveita e devolve a sua. Até daqui a pouco...

Ela me beijou outra vez, tirando o resto o sorvete do meu rosto, e foi embora, descendo depressa a rampa do píer e sumindo no meio da multidão que caminhava no calçadão. Ainda fiquei um tempo olhando as gaivotas que antes eu tentava acertar e depois comecei a pedalar lentamente de volta ao hotel. Minhas férias estavam começando a melhorar...

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