Das memórias de Gabriel Graham Storm
SF: Eu estou dizendo, só presta atenção e você vai ver...
Vinha caminhando devagar ao lado do meu padrinho enquanto meus pais iam mais à frente, conversando. Havíamos chegado da Disney há três dias e estávamos indo para a casa do vovô Henry, enquanto tio Scott me contava que ele há muitos anos fez quase que um terrorismo com meu pai quando mamãe o apresentou a família, e que até hoje ele ainda se sente intimidado pelo vovô. Eu ria, duvidando que meu bisavô ainda fosse super protetor com a minha mãe, mas tio Scott me garantia que estava certo. Tia Claire veio nos receber na porta quando chegamos, ela era minha tia avó, mãe dos meus tios Julian e Brendan.
CS: Não estou acreditando que seja você mesmo, Louise! Jurava que nunca mais pisaria em Londres! – e abraçou mamãe enquanto falava.
LS: Pois é, nunca diga nunca... Senti tanta falta desse lugar, não venho aqui desde que tinha 17 anos!
CS: Ah Scott, meu sobrinho adotado! É possível que você esteja mais bonitão a cada vez que nos encontramos?
SF: Olá Claire! É só impressão, vocês têm mania de me considerar desperdício, por isso andam tendo alucinações... – e minha tia riu.
CS: Ora, mas é verdade, não me conformo! Gabriel, não vai falar comigo?? Deus, como você cresceu desde a ultima vez que estive no Brasil...
Minha tia me puxou para um abraço e segurou meu ombro, fitando meu pai por um tempo. Em seguida olhou para mamãe rindo e o abraçou.
CS: Tinha certeza que a passagem da minha sobrinha pela cidade não seria em vão... Fico muito feliz em ver você outra vez, Remo.
RL: Também estou feliz de poder voltar aqui. Só espero que ele pense o mesmo...
LS: Ah por Merlin Remo, você não tem mais 17 anos!
Tio Scott me cutucou e riu como quem diz “eu falei...” e seguida me empurrou para dentro da casa. Vovô Henry estava sentado na poltrona lendo o jornal e levantou assim que nos viu, me abraçando. Ele já era bem velhinho, mas estava mais lúcido que muitas pessoas novas por ai... Era divertido, tinha sempre histórias para contar sobre os anos em que trabalhou para a Scotland Yard, eu adorava sentar para ouvi-las. Mamãe entrou em seguida e ele parecia extremamente feliz em vê-la na casa outra vez, mas quando notou que papai estava ao seu lado, sua fisionomia mudou. Ele ficou mais serio, formal, apenas estendeu a mão para que ele a apertasse e notei que meu pai estava nervoso. ‘Hunf, vejo que você está por perto outra vez...’ ele falou quando soltou sua mão e não pude deixar de rir. Vovô então viu que tio Scott também estava conosco e abriu logo um sorriso, lhe dando um abraço.
HS: Ah Scott, que bom vê-lo! Como está?
SF: Estou bem Sr. Storm, e o senhor? Ainda assustando a criançada do bairro?
HS: Eu tento, mas elas estão mais espertas hoje em dia... Mas me conte como vão as coisas, Louise me disse que você está escrevendo um livro!
Meu padrinho sentou no sofá com vovô e eles engataram em uma animada conversa sobre trabalho. Olhei confuso para minha mãe e minha tia riu, fazendo sinal para que saíssemos da sala e a acompanhássemos para um outro cômodo, deixando os outros dois na sala.
CS: Remo, não se estressa com o papai, ele não faz por mal... – disse quando fechou a porta.
RL: Não consigo entender porque ele implica tanto comigo... O que eu fiz?
LS: Vamos ver... – mamãe falou fingindo estar pensando – você foi o 1º namorado que a neta mais velha dele o apresentou... Você também foi o ‘monstro’ que tirou ela de casa... Ah, e claro, foi com você que ela teve um filho do qual você só tomou conhecimento há menos de um mês!
GS: Ah então isso é antigo? Tio Scott não mentiu quando disse que ele fez terrorismo com você?
RL: Não, seu avô é maluco! Depois eu conto o que ele fez...
Minha mãe e tia Claire começaram a rir, provavelmente lembrando o que fez meu pai ter tanto trauma do vovô. Mamãe explicou também que ele morria de amores pelo tio Scott porque ele sempre foi como irmão pra ela, sempre freqüentou a casa e que se mudou para o Brasil no mesmo instante que soube que ela precisava de ajuda. E tia Claire completou dizendo que meu padrinho era a única pessoa que conseguia conversar por horas com o vovô sem se cansar e tinha a maior paciência com ele.
Passamos o fim de semana todo na casa em Devon. Mamãe queria visitar amigos de infância e papai iria acompanhá-la, mas se machucou numa brincadeira com meus tios e não conseguia andar direito. Tio Scott falou que vovô Henry devia ter pagado algo ao tio Brendan para derrubá-lo com brutalidade no rugby. Papai agora estava deitado no sofá com dor na coluna, ouvindo mamãe rir e dizer que ele estava ficando velho. Ele ficou em casa e meu padrinho foi com ela visitar as pessoas. Eu também fiquei, passei o dia com a minha prima Kate, filha do tio Julian.
Enquanto conversava com ela, passavam mil coisas pela minha cabeça. Via meu pai jogando cartas no sofá com vovô e lembrava do que mamãe tinha dito sobre ele nunca ter gostado dele. Será que vovô tinha um motivo que ninguém sabia e só queria proteger sua neta? Afinal, ela sofreu quando eles se separaram, quando ainda estava grávida. Mas mamãe estava feliz por estar junto dele outra vez, há tempos que não a via assim. E sei que eu deveria estar me sentindo do mesmo jeito, pois estaria mentindo se dissesse que nunca sonhei em ver meus pais juntos, mas por algum motivo não conseguia. Ela notou que eu estava pensativo quando voltou para casa, já de noite, e sentamos para conversar.
LS: Sei que tem alguma coisa lhe incomodando, o que é?
GS: Vocês vão continuar juntos?
LS: Seu pai e eu? Claro! Mas por que a pergunta? Achei que fosse ficar feliz com isso.
GS: Eu estou, muito! Mas tenho medo...
LS: Medo de que?
GS: De vocês se separarem de novo... Não quero ver você sofrer. No 1º dia que chegamos a Londres a vi chorando por causa dele e não quero que isso aconteça de novo.
LS: Gabriel, você não tem que se preocupar com isso. Não posso garantir a você que nunca mais irei me afastar de seu pai, pois não posso prever o futuro. Mas posso lhe garantir que no que depender de nós dois, isso nunca vai acontecer. Nós nos amamos e queremos ficar juntos.
GS: Eu sei disso... Mas o vovô não gosta dele. É só por ciúme mesmo?
LS: Seu avô não odeia o Remo, ele só é implicante. Se você reparar, ele também pega no pé do marido da Susan. E a prova de que ele não odeia seu pai é que eles passaram a tarde inteira juntos, jogando cartas.
GS: É, mas o vovô reclamou o dia inteiro dele.
LS: Não ligue pra isso, é o jeito dele. Não quero que você pense nessas coisas, odiaria ver você se afastando de seu pai por causa de incertezas e preocupações comigo. Você gosta dele e ele te adora, não consegue falar em outra coisa quando está comigo.
GS: E quando voltarmos ao Brasil? Ele vai ficar aqui, não?
LS: Quando chegar a hora, eu e ele iremos resolver isso. Por enquanto, aproveite suas férias e esqueça isso, ok?
Mamãe beijou minha testa e foi ate a sala, onde papai ainda estava deitado no sofá. Eu a segui e fiquei sentado na escada, olhando através madeira. Vovô deu boa noite aos dois e subiu, passando por mim e piscando. Fiquei os observando.
LS: Deixou o vovô ganhar?
RL: Todas as partidas...
LS: Quantas vezes ele falou que Scott é o genro ideal?
RL: Pelo menos umas cinco... Como foi o dia?
LS: Bom... Revi muitos amigos... Mas faltou você.
RL: Desculpe não poder ir, mas Brendan é um cavalo... Lembre-me de descontar amanha, por favor?
LS: Vem, vamos dormir, estou cansada. Eu te ajudo a subir as escadas.
Mamãe ajudou meu pai a se levantar e eles vieram andando devagar na minha direção. Deram-me boa noite quando passaram e subiram. Fiquei sentado no mesmo lugar, olhando para a sala. Talvez quando o assunto é família, tudo venha para o bem. Não é fácil crescer, não importa a idade que você tenha, certas coisas nunca mudam. Acho que tudo depende de sorte e também um pouco de amor. Só sei que naquela noite, pela primeira vez, me senti parte de uma coisa duradoura. Parte de uma família.