Lembranças cômicas de Samuel Berbenott
SB: Eu não estou sendo exagerado Patrick! Essa foi a pior das burradas que eu já me meti na minha vida estudantil! Teatro? Merlin! Até mais, vou ali me afogar no rio!
PB: Olha, não adianta fazer escândalo! Depois você diz que a professora Mariska consegue me convencer a fazer tudo que ela quer, e agora está aí pagando a língua por causa da Emily! Eu vou rir muito da platéia, ok?
Lancei um olhar fulminante ao Patrick, que continuou rindo, e sai do dormitório batendo a porta com força. Precisava arrumar um meio de me livrar dessas aulas de teatro urgentemente, ou ia pirar! O que será da minha sagradíssima reputação no castelo se a professora levar isso a sério? Pensando assim, até que prefiro encomendar um telescópio bom e entrar pro Clube de Astronomia!
Mal tinha sentado à mesa da Nox pra tomar café da manhã, que Isa veio tremendo de fúria andando depressa. Ela carregava uma pasta rosa, e gesticulava baixinho consigo mesma.
SB: Isa! Isa! ISABEL!
IM: O QUE FOI? MERLIN!
Arregalei os olhos pra ela. Nunca tinha visto a Isa gritar com ninguém, ainda mais com um dos amigos...
SB: Nossa! O que aconteceu com você?
IM: Nada! Todos nós temos direito a ter um dia ruim, certo?
SB: Certo, mas seus amigos não são obrigados a receber seus aborrecimentos para eles, certo? Agora se acalma, senta aqui e me conta o que aconteceu!
Ela me encarou indecisa. Acho que estava considerando a idéia de me mandar ir catar tronquilhos, mas como ia ser complicado falar esse tanto de desaforo rapidamente, respirou fundo e se sentou de frente pra mim, depositando a pasta na mesa. Notei que estava tremendo um pouco.
SB: O que foi? Está tão cedo ainda para alguém já ter causado esse stress todo em você...
IM: Aí é que você se engana! Não acredito! Tava tão bom! Simplesmente irrecusável! Se ela soubesse o tanto que deu trabalho recolher opiniões e juntar as idéias de todos... E a maioria das meninas aprovou. Me explica, porque não?
SB: Dá pra você parar de falar sereiano e me explicar o que aconteceu?
Ela me olhou de novo, mais impaciente ainda, respirou fundo mais uma vez e começou a me contar do projeto de liberação dos dormitórios das meninas para a entrada dos meninos que Máxime tinha acabado de negar.
SB: E porque ela recusou? A idéia é tão...
IM: Boa! Eu sei! Mas às vezes ela acha que só porque é giganta e sabe se livrar de qualquer coisa sozinha, as outras meninas não precisam de um dormitório com acesso livre aos meninos para pedir socorro em uma emergência! Argh! Estava tão empolgada com a minha entrada no grêmio, com esse projeto, e o jornal... Que droga!
SB: E quem garante que ela consegue se livrar de tudo sozinha?
IM: Ela não consegue entender que... Hã? O que você está dizendo?
SB: Isa, você vai ter esse seu projeto aprovado ok? Deixa comigo! Até por que... Nossa, isso vai ser hi-lá-rio!
Ela continuou querendo saber o que eu estava querendo dizer, mas não havia tempo pra explicar naquela hora. Dei um beijo na testa dela e sai correndo em direção à mesa da Sapientai, onde Ian tomava café com os outros...
***
SB: Pronto? 1,2,3... Abre!
Ian abriu a caixa e nós saltamos pra longe. Na mesma hora, um pelúcio saltou e começou a rodar pelo quarto, derrubando a mesa de cabeceira. Ao mesmo tempo, eu larguei um diabrete que mordia a palma da minha mão furiosamente. Olhei para o Ian, e ambos garantimos que era hora de sair à francesa, mas aí...
MM: Amanhã a gente resolve isso Gerard! Boa noite...
Passos ecoaram no corredor. Sem dúvidas, Madame Máxime estava próxima, e ia dar de cara comigo, Ian, a caixa vazia e o resto do quarto sobrevivente quando abrisse a porta. Meu coração estava prestes a saltar pela boca quando Ian me puxou e nos enfiamos no armário, com caixa e tudo. Antes que eu conseguisse pensar, a porta abriu.
MM: Mas o que é isso? AHHH, me solta! Me solta!
O diabrete agarrou os cabelos de Máxime e a fez levantar alguns centímetros do chão. Devo dizer que esse diabrete era realmente mais forte do que imaginei. O diabrete soltou uma risadinha debochada e soltou os cabelos dela de uma vez. Quando os pés bateram com força o chão novamente, ele deu uma leve tremida, o que me fez apavorar ainda mais. O pelúcia já tinha se encarregado de destruir o quarto todo em busca de algo brilhante, inclusive a maçaneta da porta, arrancando-a violentamente. Quando viu Madame Máxime cheia de anéis e correntes, podia jurar que o bicho sorriu.
Não deu outra. Ele pulou nela e agarrou as correntes arrancando-as no mesmo instante. Um colar de pérolas se espatifou, voando bolinhas brancas para todos os lados. O bicho começou a morder forte os dedos de Máxime, que tentava lutar brava e inutilmente por seus anéis, mas perdeu a batalha assim que percebeu que ele seria capaz de arrancar seus dedos.
Madame Máxime deu um berro ensurdecedor, enquanto tentava se livrar do pelúcia arrancando seus dedos, e do diabrete dando gargalhadas no seu ouvido. Novos passos foram ouvidos no corredor e Gerard bateu a porta.
MM: Entre logo Gerard! DEPRESSA!
- Eu não posso, a porta está bloqueada! A maçaneta! Cadê a maçaneta?
MM: HAM? Mas, mas... ME SOLTA! Cadê minha varinha? Onde enfiaram a minha varinha?
- Diretora, a senhora terá que se livrar deles sozinha, ou arrastá-los até aqui fora! Não posso entrar no seu quarto!
Madame Máxime soltou um xingamento forte e começou a revirar os bolsos atrás da varinha. Finalmente a encontrou, mas só conseguiu parar os dois muito tempo depois, quando já estava descabelada, com a roupa totalmente rasgada, o quarto destruído e muitos hematomas no rosto e braços.
Lançou um feitiço que explodiu a porta e Gerard entrou, chocado.
MM: Leve esses bichos para longe daqui Gerard! Você é o responsável por descobrir quem os colocou aqui dentro, o mais rápido possível!
Ele assentiu e catou os dois bichos petrificados no chão, saindo do quarto em seguida. Máxime foi organizando o quarto, ainda sentada, com acenos de varinha. Depois consertou a porta, e a trancou. Segurei com mais força do que deveria o braço do Ian, que parecia estar congelado. Máxime vinha caminhando para o armário. Era o fim! Já estava preparando meu sorriso escarlate para dar um alô à diretora, quando ela foi até o banheiro.
Ta, você não vai acreditar na cena seguinte, mas ela voltou do banheiro só de camisola! Não, quem dera isso fosse brincadeira! Senti as pernas desabarem, e Ian puxou o ar, tampando a boca com as mãos rapidamente para abafar o barulho de choque.
Vestiu um casaco, deu uma olhada tensa para o quarto, como se esperasse encontrar algum animal por ali, e saiu porta afora. Foi a minha vez de puxar Ian, que estava com um aspecto roxo, para fora do armário, e de lá, para fora do quarto. O corredor estava deserto, mas tínhamos que nos esconder rápido por ali. Todos os alunos já deveriam estar dormindo. Se Gerard ou Máxime nos encontrasse... Merlin!
Saltei escadarias até chegarmos dois andares acima, e empurrei Ian porta adentro do Salão Comunal da Nox, onde desabamos no sofá. O ar começou a voltar devagar e Ian conseguiu ficar um pouco mais rosadinho, mas ainda em choque.
IL: Eu vi o inferno! Pensei que nunca chegaria a conhecer, mas eu o vi!
SB: Essa foi por pouco, foi por muito pouco!
IL: Ela estava de camisola! Eu vi o inferno!
SB: Acho que vamos ter que pedir sessões de terapia, ou alguma coisa assim.
Ele riu, e pouco tempo depois, o choque passou. Começamos a repassar a cena enxugando as lágrimas de riso. Ta, admito que nos arriscamos demais, e o desfecho da confusão foi traumático, mas que valeu a pena ver o desespero da giganta, ah, valeu! Acho que depois desse susto, ela vai repensar a idéia de liberar os dormitórios femininos...
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