Tuesday, October 17, 2006

Eu, meus pais e a... outra.

Anotações de Ty McGregor

Acordamos cedo para o passeio a Paris, tomamos o café da manhã e do nada eu me vi no meio de uma confusão com a Miyako e a Savannah. No fim o saldo foi: Savannah indo para ala hospitalar cheia de bolhas vermelhas e com pus, Miyako segurando meu braço rumando decidida para o barco da escola e Gabriel enxugando lágrimas de riso junto conosco. No barco, sentados junto com Griffon e Seth, começamos a falar do acontecimento e a pensar em formas de proteção contra a vingança da garota-porrinho, quando notei Rory junto com os irmãos. Embora eu ainda estivesse chateado pelos comentários dela, não deixei de notar como estava bonita. Se fosse qualquer outra garota eu simplesmente ignorava, mas ela eu... Não consigo.
Quando desembarcamos, nós andamos um pouco pelos arredores e logo nos separamos: Griffon e Seth iriam fazer turismo pela cidade, Gabriel e Miyako tinham outras coisas a fazer e eu optei por tomar o caminho do restaurante. Conhecia o caminho de cor, era um local pequeno que freqüentávamos a muitos anos. Cheguei e o gerente que me conhecia me cumprimentou:
- Olá, Ty. Prazer em tê-lo conosco.
- Obrigado Jacques. Vim encontrar meus pais.
- Madame já chegou, vou leva-lo até a mesa dela.
Seguimos por algumas mesas e logo avistei mamãe. Á primeira vista me pareceu bem, e deixei de lado as minhas preocupações sobre ela cair em prantos, devido aos problemas.
- Oi mãe. – cumprimentei enquanto a abraçava.
- Oi, querido, como está? Deixe-me olhar para o meu menino lindo. - mexendo no meu cabelo.
- Mãe... Assim você me mata de vergonha. - comecei a arrumar meu cabelo, pois tinha visto umas pessoas rindo na outra mesa.
- Desculpe querido, mas estava morta de saudades de você.
- Onde está ele?- disse me referindo ao meu pai. - e minha mãe se retesou.
-"Ele" chama-se papai, e logo estará aqui. Sabe que vamos esclarecer isso hoje, então tenha um pouco de boa vontade Ty. - me repreendeu suavemente e assenti.
E começou a perguntar sobre meus progressos com a projeção, contou sobre sua viagem para os EUA, onde irá conhecer uma jovem que segundo o tio Logan tinha poderes como os nossos, e se realmente ela tiver, mamãe terá que dar um jeito de ajudá-la a se controlar.
O restaurante foi ficando cheio e eu me levantei para ir ao banheiro. Quando voltei, vi meu pai de pé em frente à mesa e ao seu lado estava a professora de Mitologia.
Fui andando rápido até lá e disse irritado:
- O que ela faz aqui?? Não vou admitir que você faça isso com a minha mãe.
- Oi filho, precisamos conversar. Vamos nos acalmar ok?
- Ty...- avisou mamãe e a professora me olhava espantada.
- Que calma, o que mãe, ele teve a coragem de trazer esta mulher para cá, e você quer calma?- meu pai abriu a boca para falar, mas mamãe foi mais rápida:
- Ela é sua irmã Tyrone. Faz parte da família.
- Selene.- disse papai agitado.
- Desculpe Kyle, mas detesto quando o Ty começa a fazer escândalo e entre uma bofetada e a verdade, preferi a verdade. Olá, Emily querida, sente-se. O que gostaria de beber? – disse mamãe como se estivesse em nossa casa recebendo alguém para uma festa.
Meu pai puxou a cadeira para a garota sentar-se e ficou me encarando um tempo. Então ele puxou a cadeira e se sentou. Depois de um tempo, acabei me sentando também.
Não demorou muito e Jacques trouxe o vinho e nos serviu. Eu ficava olhando da professora para meu pai e perguntei:
- Que história é esta?
- Emily é minha filha. - ele respondeu e pôs a mão dele sobre a dela, e isto me irritou profundamente.
- Sei... E ela veio de onde? Do repolho?- e mamãe estreitou aqueles olhos verdes dela numa ameaça muda. Ignorei.
- Fui noivo de Elizabeth, mãe da Emily, alguns anos antes de me casar com a sua mãe. Eu não sabia da existência dela. Só fui conhecê-la há pouco tempo em Londres, quando ela me contou sobre nosso parentesco, quando dividíamos a responsabilidade pela família do Ministro trouxa, ela é auror como eu e sua mãe. - e notei como ele falou isso orgulhoso. Eu fervi por dentro.
- E como você tem tanta certeza disso? Ela pode ser filha de qualquer um. - disse cínico.
Ok, eu merecia uma porrada agora. Minha mãe fechou os punhos, diante da minha grosseria e a garota tinha uma expressão magoada. Papai tinha uma veia latejando no pescoço, e eu sabia que ele se controlava com esforço, ele nunca levantou a mão para mim, mas percebi que faltava pouco.
- Ela é minha filha. Conheço o meu sangue. - ele disse entredentes.
- Como deixa um filho seu vagando por ai? Você sempre me cobrou responsabilidade, vejo que você não conhece esta palavra direito. - E levantei bruscamente da mesa. Sai do restaurante e dei um esbarrão num grupo de pessoas.
- Cuidado meu jovem. - disse o homem.
- Desculpe. – disse e continuei andando. Precisava arejar a cabeça.
- Ei, é o Ty. Olá Ty. - disse uma garota, mas nem parei para olhar, andava rápido para me afastar dali e ouvi passos apressados me seguindo. Senti alguém puxando meu braço e me virando, e eu já estava com os punhos cerrados:
- O que aconteceu? - era a Rory, exibindo um ar preocupado.
- Não é da sua conta. Me solta. - respondi grosso.
Ela pensou por um tempo e me soltou:
- Está bem, vai e faça a burrada que sua cara ta prometendo. Mas eu não vou deixar você ir sozinho.
- Faça o que quiser. – respondi e andamos até uma pracinha com um playground cheio de crianças. Sentei-me num banco e ela se sentou ao meu lado. Após algum tempo, soltei:
- Tenho uma irmã. - como ela continuasse quieta completei:
- É a professora de Mitologia. E antes que você diga que isto é legal, eu digo que não é.
- Porque não é legal? Eu gosto de ter irmãos. - ela comentou cautelosa.
- Ela surgiu do nada ok? De repente vejo meu pai abraçando aquela mulher e pensei que eles fossem amantes, conto para minha mãe, a vi se controlar para não chorar como se o mundo tivesse acabado, eles se separam, agora ele vem e me diz que ela é minha irmã? O que ele esperava? Que eu achasse isso lindo e desse algum apelido carinhoso para ela tipo: nana, naninha, ou qualquer outro inha por ai? Eu não quero ter uma irmã, já quis quando pequeno, mas agora não preciso mais. – e contei tudo que meu pai havia falado e parei para respirar.
- Sabe você devia se olhar no espelho agora. Parece um garoto de três anos que descobriu que não pode andar no cavalinho do carrossel.
- Não venha zombar de mim. Já sou crescidinho. ¬¬
- Não Ty, você não é. Pelo que pude perceber você nem deu uma chance para o seu pai poder explicar como tudo aconteceu, já julgou e deu seu veredicto. E nem mesmo deixou espaço para a garota falar alguma coisa. Agiu como um bebê mimado.
- Não sou mimado... - comecei e ela respondeu:
- Não? Então como você explica este seu jeito? Já tentou se pôr no lugar dela? Ou você acha que é fácil para alguém, depois de adulto chegar ao seu pai e dizer: Olá sou sua filha, e esperar receber algum carinho em troca? Daí quando ela vai ser apresentada ao irmão, ele quer saber se ela veio do repolho? Ora, francamente, sua sensibilidade, é do tamanho de uma noz. Isto é o que eu acho, e se você não quiser mais olhar na minha cara tudo bem, não vai ser diferente de como você vem agindo há alguns dias.
Fiquei quieto por um tempo, vendo as crianças brincarem e vi quando um menino dividiu um doce com uma menininha menor que ele. Eles se pareciam fisicamente e deduzi que eram irmãos.
Comecei a lembrar deste período em que Emily era nossa professora. Eu reconhecia que ela era boa no que fazia, e entendi o porquê que ela patrulhava os corredores com uma postura diferente de um professor normal. Passei a vida toda vendo aquela postura alerta em meus pais e no meu padrinho. E acabei assumindo para mim mesmo o real motivo da minha explosão: papai havia realizado seu sonho de ter um filho auror e era isso que havia me descontrolado.
Droga, Rory tinha razão. Agi como um bebê mimado. Fiquei mais alguns minutos pensando e vi quando ela se levantou para ir embora:
- Bem... Não deveria te dar conselhos, mas vou dá-lo assim mesmo: Você deveria voltar pra lá e pelo menos ouvir tudo o que eles têm a dizer. É sua família e merecem esta consideração de sua parte. Até qualquer hora Ty.
Fiquei ali absorvendo tudo que ela disse e no fim acabei voltando ao restaurante para conversar com meus pais e pedir desculpas a todos pelas grosserias. Não é porque eu não quero ter uma irmã, que meu desejo vai se realizar. Nem sempre querer é poder.

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