Anotações de Ty McGregor
Mal amanheceu o dia e eu já estava acordado e pronto. Fui acordar o Gabriel:
-Lobão ta na hora de levantar... - disse perto da cama dele, mas sem me aproximar muito, uma vez fui cutuca-lo para que acordasse e ele me deu um soco no nariz.
Ele abriu os olhos sonolentos e procurou os óculos:
- Ty você já está pronto? O que aconteceu?- disse assustado.
- Não houve nada, relaxa. Eu acordei mais cedo, e quero pedir desculpas.
- É, você ficou com a consciência pesada mesmo, pra perder seus preciosos minutos de ronco. Tudo bem, eu não devia ter gritado com você, desculpa.
- Você estava certo. Agora corre porque se eu perder o café por sua causa, quem vai gritar sou eu. - e começamos a rir.
Após o café, fomos para a primeira aula do dia que era etiqueta e juro que me esforcei ao máximo para não errar nada, mas depois da bomba de bosta do Griffon, a Defossez começou a pegar no nosso pé. Teve a capacidade de reclamar que os óculos do Lobão não estavam limpos corretamente. Disse que Miyako sofria de ausência de graça natural, Griff era um caso perdido, eu caminhava para o abismo do suicídio social (olha que coisa besta de se dizer para um cara. ¬¬ ).
O único que agradava era o Seth. Aliás, ela olhava meio que hipnotizada por ele, engraçado que algumas meninas agiam assim também. Olhei para o lado próximo das janelas e Savannah sorriu para mim. Decidi que iria resolver a situação com ela e mandei um bilhete que foi passando de mão em mão até chegar nela. Ela leu e acenou positivamente com a cabeça. Rory ao seu lado me olhava séria, e logo desviou os olhos.
...
- Oi Savie tudo bem?
- Tudo Ty. O que você queria falar comigo? – perguntou me dando um beijo no rosto.
- Olha... É sobre o fato de ficarmos juntos outro dia e...
- Eu gostei de ficar com você. - ela interrompeu.
- Eu também, você é muito linda e tudo... Somos amigos e andam circulando uns rumores de que somos namorados e...
- Claro que somos amigos Ty. Não sei de onde surgiram estes rumores. Devem estar inventando isso, para deixar você chateado comigo. - ela interrompeu.
- Bem já que estamos esclarecidos vamos voltar pro salão comunal? Ainda não almocei. - disse aliviado porque ela não fez cena.
- Sim, vamos. Ty posso beijá-lo como amiga?
- Claro. - e achei que ela fosse beijar o meu rosto quando ela me agarrou e me deu um beijo na boca. Ouvi um barulho, e soltei seus braços do meu pescoço:
- Chega Savie. - disse firme procurando ao redor para ver quem estava ali.
Separamo-nos e eu voltei para o salão comunal para almoçar me sentindo intrigado.
Ao final do dia, antes do treino de Quadribol marcado para aquela noite, eu saía da Sapientai quando vi a Rory passando pelo corredor, carregada de livros. E o melhor: ela vinha sozinha. Era a minha chance, fui rápido até ela:
- Oi Rory.- disse confiante.
- Olá, Ty. – disse séria.
- Quer ajuda? Parece pesado. – ofereci.
- Não obrigada. Dou conta sozinha.
Como ela continuasse séria, resolvi falar logo o que me levou até perto dela:
- Rory, o passeio a Paris está próximo e eu quero saber se você gostaria de ir comigo. Sabe... Er... Tipo um encontro.
- Você é muito cara de pau mesmo. – disse e seus olhos azuis pareciam duas pedras de gelo.
- Como cara de pau? Só estou te convidando para um encontro. É só dizer sim ou não, não precisa xingar. – respondi um pouco irritado.
- Não sou do tipo de garota que sai com o namorado das outras.
- Mas eu não...
- Aliás, você deve achar isso comum não é? Já que seu pai e a professora de Mitologia são íntimos.
- Como você sabe disso? – segurei o braço dela, e ela soltou os livros no chão, e me encarou:
- Ouvi sem querer você conversando com seus amigos.
Acho que eu devia estar com uma cara péssima, e ela começou a dizer hesitante:
- Me desculpa não devia ter dito isso... Eu...
- Esquece. - Abaixei e peguei seus livros do chão, e coloquei em seus braços bruscamente, e sai andando. Ela ainda me chamou, mas eu ignorei, precisava bater em alguma coisa.
Cheguei ao campo e o time estava lá:
- Vamos treinar pesado hoje. - avisei.
Logo estávamos voando e todo e qualquer balaço que aparecia na minha frente eu rebatia com força, sem mirar direito, e uma hora quase derrubei DeVille da vassoura. Após umas duas horas de treino em que eu punha defeitos em todos, até no jeito do Gabriel procurar o pomo, Derkian veio perguntar:
- E aí já acabamos?
- Só acaba quando eu disser que acabou. - respondi rude.
Vi seus olhares revoltados, porém eles voltaram para o ar. Notei quando a Rory chegou e ficou sentada sozinha na arquibancada. Senti uma dor forte no pulso quando um balaço me acertou, e trinquei os dentes. Podia agüentar um pouco mais, mas ao ver o resto do time me olhando com cara de poucos amigos disse:
- O treino acabou. Obrigado.
Pude ouvir seus resmungos enquanto descia. Logo Gabriel estava do meu lado perguntando:
- O que foi isto?- se referindo ao meu jeito durante o treino.
- Nada. - e continuei andando em direção ao castelo e ele ia junto.
Rory se aproximou rápido e me chamou ofegante pela corrida que deu:
- Ty a gente pode conversar?
- Não. - respondi seco e ela ficou vermelha quando viu que Gabriel olhava dela para mim nos estudando.
Virei as costas e voltei a andar para o castelo, quando Gabriel perguntou:
- Vocês brigaram?
Fiquei quieto sem responder, e ele tomou meu silêncio com um sim e não falou mais nada. Agora que meu corpo voltava á temperatura normal, meu pulso latejava. Olhei para meu braço e ele estava pesado, inchado, e ficando roxo. Dei boa noite ao Lobão e fui para a enfermaria.
Quando voltei ao dormitório algum tempo depois, com o braço numa tipóia, Gabriel já dormia e em cima da mesinha de cabeceira havia uma carta da minha mãe, avisando que no dia do passeio a Paris, ela queria me ver num restaurante em que vamos sempre. Seria um encontro de família.
Ri sozinho: Queria entender a que família minha mãe estava se referindo.
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