Do diário de Miyako Kinoshita
TM: Sinceramente, não consigo entender o que minha mãe quer conversar comigo amanhã! Se ela começar a chorar, eu vou ficar ainda com mais raiva... Não vejo como isso pode terminar bem!
Ty se sentou ao meu lado parecendo extremamente aborrecido. Gabriel abriu a boca pra falar alguma coisa, mas acho que preferiu guardar pra ele. No dia seguinte teríamos nossa primeira visita a Paris do ano. Eu estava animada a sair um pouco do castelo e dar umas voltas, e como Gabriel também não tinha compromissos, iríamos passar o dia andando juntos.
Já estava no fim da tarde e as aulas tinham acabado de terminar, o que explicava um grande fluxo de alunos circulando pelos gramados. Decidimos voltar para o castelo. Assim que estávamos chegando na entrada...
TM: Ah não, que saco!
MH: Que foi Ty?
TM: Savie... Vamos sair daqui, depressa! A última coisa que quero agora é conversar com ela!
Ty agarrou minha mão e saiu correndo desabalado. Gabriel ficou pra trás nos olhando correr, e rindo, decidiu entrar. Quando demos uma boa volta e chegamos na entrada lateral, paramos de correr forçando a respiração.
MH: Nossa! Essa daí deve ser bem enjoada mesmo hein? Você correndo dela... – disse enquanto apoiava as mãos nos joelhos.
Ele não respondeu, mas concordou com a cabeça, o que já foi suficiente...
-*-
Levantei cedo. Não consegui dormir direito, estava inquieta e nem mesmo sabia por quê. O castelo ainda estava silencioso, e o dia estava acabando de amanhecer. Me vesti e fui tomar café da manhã, sozinha, pois Denise ainda dormia profundamente.
JB: Oi Mi! Tudo bem? – Jardel, um dos artilheiros do time, sorriu me cumprimentando quando me sentei na mesa da Nox.
MH: Estressada, você?
JB: Beleza...
Servi um pouco de leite, quando alguma coisa me atacou nas costas com um baque forte, fazendo o leite derramar na saia. Virei pra trás instantaneamente, e vi Savannah se distanciando.
MH: Ei, Savannah!
Ela se virou, e me olhou dos pés a cabeça indiferente.
SB: Sim?
MH: Acho que você devia prestar mais atenção com os movimentos bruscos que faz com seus braços enquanto anda! – disse sem rodeios, começando a alterar a voz.
SB: Como?
MH: Você acabou de me fazer derramar todo o leite na roupa, com um golpe nas minhas costas!!!
SB: Oh, me desculpe! – sorrindo afetadamente me estendeu um lenço cor de rosa. – eu realmente não tive a intenção, estava distraída!
MH: Uff... Tudo bem!
Virei a cara totalmente nervosa e voltei a me sentar. Porém, um segundo depois, senti alguém me cutucar suavemente no ombro.
MH: Eu já disse que está tudo bem, não se preocupe!
SB: Ah, não é isso, Mi... Queria dar uma palavrinha com você, se for possível!
Tive que conter com todas as minhas forças a vontade de jogar o resto do leite na cara dela. Além de me encharcar toda, ainda estava me chamando de... Mi??? Quero dizer, todos meus amigos, próximos ou não, me chamam de Mi, mas ela? Ela nunca conversou comigo, nem desejou bom dia... Sempre me olhando com uma cara reprovadora, e sem contar que estava deixando o Ty aterrorizado com a sua perseguição! Ela falou “Mi” com tanta falsidade, que me deu náuseas. Encarei Jardel, que parecia ter percebido minha cara de descontentamento, e me levantei, seguindo-a pela fileira da mesa.
SB: Então, você é amiga do Ty?
MH: Sim. Quase irmã, posso dizer...
SB: Mas você é SÓ amiga, certo?
MH: É claro! Já disse... Somos quase irmãos! – “Um hipógrifo incomoda muita gente, dois hipógrifos incomodam incomodam muito mais...”
SB: Certo! Ah, bom, é, só poderiam ser...
MH: O que disse?
Ela parou de caminhar me encarando, e dessa vez, friamente, como se estivesse analisando cada centímetro do meu corpo.
SB: Quero dizer, o Ty não ficaria com uma menina como você, não é mesmo?
Menina como eu? O que aquela lambisgóia estava querendo me dizer? Porque não ficaria? Aliás, acho que se eu não fosse tão amiga do Ty...
MH: Como assim, “querida”?
SB: Quero dizer que você é legalzinha, e tudo mais, mas já está tão fora de moda! Se veste largada, como um... menino! O Ty procura uma menina bonita, popular, moderna...
Ok, agora ela exagerou! Ela estava me chamando de brusca? Sem educação? De homem? Essa salamandra seca e pálida está me chamando de homem???
MH: E imagino que ele ainda não tenha encontrado alguém assim... – disse pensativa. – É, os últimos comentários dele sobre as meninas desse castelo não são bem positivos...
SB: Oras, é claro que ele já encontrou! EU sou perfeita para o Ty!
MH: Oh, sim, é claro! Tanto que ele corre de você! – “Três hipógrifos incomodam muita gente, quatro hipógrifos incomodam incomodam incomodam incomodam muito mais...”
SB: Hahaha... Você está com ciúmes? Só porque o Ty nunca quis nada com você?
MH: Não vou discutir com você a minha amizade com o Ty, ok? Me dá licença!
Nessa hora, porém, Ty e Gabriel entraram no salão me acenando. Levantei a mão em resposta e fui até eles. Estava sentindo meu rosto queimar de raiva. Me sentei com eles na mesa da Sapientai, e contei minha conversa com a “Savie”. Gabriel segurou o riso. Acho que ele queria rir da minha atitude de ter ficado estressada com esse tipo de provocação. Ty, porém, levantou as sobrancelhas.
TY: Essa menina é um porre Mi! Sou muito mais você! – ele sorriu e transmitiu toda a sinceridade que poderia ter.
MH: Ararambóia delgada! Tronquilho de hortelã...
Savannah passou por nós enquanto eu repetia ofensas. Estava com muita raiva, não só dela, mas precisava de alguém em quem descontar... Antes que um dos dois pudesse me impedir, agarrei minha varinha e apontei para a cabeça loira se afastando...
MH: Furnunculus!
Um raio azul atingiu em cheio Savie nas costas, que pareceu petrificada uns segundos. Gabriel se engasgou com o suco e Ty olhava dela para mim, estupefato. Savannah soltou um grito de horror, e levou as mãos ao rosto. Bolhas surgiam em cada centímetro do rosto dela. Vermelhas e cheias de pus.
SB: Foi VOCÊ! Eu te odeio! Te odeio! O Ty nunca vai sair com você! Você vai me pagar, ah, sei vai!
MH: Ok, depois você se vinga, mas se eu fosse você, iria para a ala hospitalar agora mesmo, antes que fique pior... Se isso ficar mais intenso, é fatal!
Ela saiu bufando de ódio, me xingando e chorando. Bebi o restante do leite sorrindo.
TM: MI, genial! Obrigado!
GS: Cara, adoro briga de mulher! É sempre mais emocionante! – Gabriel agora ria deliberadamente.
MH: Essa daí estava merecendo!
Rindo, fomos juntos conversando até chegarmos em Paris. Não é que eu seja má, exatamente... Eu só não levo desaforo pra casa! E foi ela quem provocou primeiro!
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