Monday, October 23, 2006

Estágios de humor

Do diário de Isa McCallister

SB: Aceitou? Mas... JÁ?
IM: Sim! Ah, Samuca! Muito obrigada!!! – Dei um beijo na bochecha do Samuel, e ele sorria transtornado. – Acabei de sair do escritório dela! Ela disse que até amanhã os dormitórios femininos vão estar liberados também!!!
SB: Uau! Não pensei que seria assim tão instantâneo. Mas o que ela disse?
IM: Hem hem...
“Senhorita McCallister, andei revendo o seu pedido para a liberação dos dormitórios femininos.”

Imitei o sotaque francês de Madame Máxime, fazendo Samuel, e o recente chegado Ian caírem às gargalhadas...

IM: “Ouso dizer que talvez tivesse tomado a perspectiva equivocada... Ela não me parece tão absurda assim. Afinal, como foi apresentado no seu projeto, não há nada que vocês meninas não possam fazer no dormitório dos meninos não é mesmo? Então pensei se o sensato seria bloquear o dormitório dos meninos também, ou se seria liberar o de vocês... Mas, bom, decidi que vou liberar os femininos. Casos de urgência, e outras eventualidades, reconheço a necessidade de ajuda que as garotas geralmente possuem...”
IL: Dá pra desenhar? – Ian girou os olhos pensativo, como se estivesse tentando captar a mensagem.
SB: Ela vai liberar e ponto!
IM: Essa é a última palavra dela! Ah, que ótimo! Mal posso acreditar... Devo isso a vocês! Se arriscaram demais...
IL: Disponha! O pior não foi o risco, e sim a visão do inferno na conclusão...

Ele desenhou um vaso de flores no ar com as mãos, e caímos na gargalhada ao notarmos que estava fazendo referência ao corpo “escultural” de Máxime. Depois desci com eles até o jardim, e segui sozinha para o Campo de Quadribol, treinar. Ah, não me lembre desse treino! Acho que foi o pior desde o começo do ano! Ta, o treino em si não foi tão ruim... O que está acontecendo comigo afinal?

Tinha acabado de entrar no campo, animadíssima com a notícia dos dormitórios, quando vejo uma cena que me faz parar e meu estômago dar uma volta completa. Rubens e a namorada, Nicole, estavam se beijando com tanta pressa que eram capazes de se engolirem mutuamente. Ela estava encostada contra a parede do vestiário, e ele a segurava com força enquanto se agarravam. Fiquei parada como uma idiota, olhando os dois ali, sem perceber que estava com náuseas. Entrei no vestiário e me joguei no banco, ao lado de Brendan que já estava de uniforme.

BL: Você está bem Isa?

Lancei um daqueles olhares lunáticos para ele, que logo percebeu que eu não estava bem coisíssima nenhuma. Antes, porém que ele me perguntasse o que estava acontecendo, Rubens entrou com os cabelos bagunçados, a boca vermelha, e a roupa amassada, um sorriso estampado no rosto. Acho que seria capaz de vomitar se tivesse comido algo mais consistente no café da manhã.

RW: Então, podemos começar afinal?
CC: Até que enfim de soltou da Nicole, Binho! Pensei que não começaríamos o treino tão cedo...

Ele sorriu e mostrou uma aliança prata na mão direita, novinha. O restante do time soltou assobios e aplausos, fazendo brincadeiras.

JM: Então, finalmente, resolveu assumir mais sério com ela han? Depois de dois anos enrolando?
RW: Uma hora eu tinha que assumir... Mas vamos parar de palhaçada porque eu não vim aqui pra vocês discutirem a minha vida pessoal sentimental não! Ao treino!

Acho que eu devia estar verde. Não sei mesmo o que anda acontecendo comigo! Meu estômago embrulha todas as vezes que vejo cenas assim, românticas... Será que eu ando precisando de um namorado, afinal? Ah, deixa de bobeira Isabel! O que acontece é que fiz um treino completamente mal-humorada, deixei duas goles passarem pelas minhas mãos de bobeira, não fiz nenhum gol, e ainda recebi um recado de “mais atenção, Isa, por favor” do Rubens! Aonde mesmo eu guardei aquela minha felicidade repentina que compartilhei com Ian e Samuca mais cedo?
Saí arrastando minha vassoura, tensa, até o castelo. Brendan veio correndo atrás de mim.

BL: Dá pra você parar de descontar sua raiva, fúria, frustração, ou seja lá qual for o nome, na sua vassoura?
IM: A vassoura é minha, certo?

Ele correu com mais velocidade e agarrou meu braço me fazendo parar.

BL: Para! Nossa! Que saco... Vamos conversar!
IM: Eu quero um banho, só isso, será que é pedir demais?
BL: Antes nós vamos conversar!

Saiu me arrastando para o outro lado do jardim e me forçou a sentar de frente a ele embaixo de uma árvore.

BL: Agora eu entendi o motivo de você ter ficado gelada antes do treino. É ele não é?
IM: Ele quem? Ah Brendan, outro dia ta? To cansada...
BL: É o Rubens! Você gosta dele!
IM: O QUÊ? Você bebeu?
BL: Isabel, quer mentir pra mim? Assume que é ele, Merlin!
IM: Não há o que assumir! Só a sua loucura é incontestável aqui...
BL: Ok então... Quer ficar se remoendo para sempre, faça bom proveito! Se for pra ficar branca todas as vezes que pegar os dois se agarrando pelo castelo, é bom preparar seu espírito, porque como você deve ter escutado, agora estão com aliança e tudo...
IM: Já disse que não me importo com isso!
BL: Ótimo! Agora estou aliviado! Deve ser chato ver a pessoa que a gente gosta se amassando em outra sem piedade! Bom, então vamos voltar ao castelo e você poderá tomar seu banho!

Ah, qual é? Porque o Brendan é assim? Às vezes eu desconfio que um olhar dele é capaz de fazer um exame raio-X por meu corpo todo. Não só fisicamente, mas psicologicamente! Não tem como mentir pra ele. Ele se levantou e estendeu a mão para me ajudar a levantar, mas então, eu cai no choro. É, no choro mesmo! Lágrimas, soluços, rosto vermelho, todas esses clichês de um choro comum...

IM: Eu gosto dele! Pronto!
BL: Ah, mas agora eu já conheço a Isabel! Para de chorar!
IM: Ele gosta dela! Estão juntos há dois anos... Vou ter que esquecer, é caso perdido!
BL: Ih, já não é mais a Isabel que eu conheço!
IM: Droga, meu olho vai ficar do tamanho de uma laranja quando eu parar... –tentando controlar as lágrimas.
BL: Ok, você é a Isabel ou não, afinal? Chorar não vai adiantar nada! Levanta, vamos voltar, você vai tomar seu banho, e depois conversaremos melhor sobre isso, de acordo?

Concordei com a cabeça, e em minutos estava dentro da banheira. Eu só podia estar louca! Gostar de um menino que nem se quer me repara? Com tantos aí disponíveis, eu vou gostar logo do mais apaixonado pela namorada do castelo? Isso só pode ser praga!

Troquei de roupa, mas não sabia se queria realmente descer pra falar sobre isso com o Brendan, então fiquei no dormitório mesmo. Até ouvir a conhecida voz de sempre...

- Isabel? Máxime quer vê-la novamente...

Ótimo! Vai dizer que desistiu de liberar os dormitórios, e em lugar disso, vai bloquear os masculinos também! Ótimo, realmente...

IM: Tudo bem Gerard, já estou indo ok?

Ele saiu e eu fiquei um tempo no dormitório, antes de sair. Já estava conformada com a notícia quando estava frente a frente com Máxime, que sorriu meigamente (até demais) e apontou para a cadeira em sua frente.

- Desculpe senhorita McCallister, mas esqueci de falar mais cedo...
IM: Sim?
- Bom, eu e os professores decidimos sobre a festa de Halloween. Será em Paris, na parte bruxa. Os alunos mais velhos, a partir do 4° ano, poderão andar pela parte trouxa dentro de seus limites, claro. Mas para os alunos mais novos, temos outros planos... Organizaremos uma coleta de doces para eles, onde serão guiados e supervisionados por duplas de alunos dos 6° e 7° anos pela parte trouxa, então pensei se...
IM: Eu não poderia ajudar? Posso, claro, mas como?
- Você aceitaria participar do grupo de monitores desses alunos? Só o que precisa fazer é incentivá-los a não se desgrudar do restante. Seguirem vocês por todos os lugares, parando apenas para pedirem e coletarem os doces. Os trouxas devem se convencer de que são estudantes trouxas!
IM: Hum, por mim, tudo bem. Quem mais vai monitorar?
- Por enquanto só você! Nenhum dos alunos que conversei até agora se disponibilizou a largar a festa para monitorar os mais novos. Sugiro que você tente recrutar mais amigos. No fundo, será bem divertido. Todos esses alunos irão fantasiados, e vocês, se quiserem também. Poderão fazer coletas na parte trouxa e bruxa, e aproveitar o restante da festa quando se cansarem...
IM: Recrutar mais amigos? – de repente aquilo me pareceu extremamente improvável! Como ela mesma tinha lembrado, ninguém largaria uma festa para guiar alunos mais novos por uma coleta de doces! – Vou tentar, o máximo!
- Está ótimo então! Se conseguir mais voluntários, avise-me ok? Pode ir...

Sai do escritório um pouco confusa. Porque ela tinha me chamado para essa tarefa? Eu lá tenho cara de babá? Aii, que coisa horrível Isabel! Você sempre gostou de crianças, e sempre se animou a fazer a festa delas! Realmente eu não estou bem! Preciso dormir e esquecer da cena nauseante, para pensar em nomes que poderiam, de bom grado, me ajudar nessa coleta monitorada...

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