Das lembranças de Ian Lucas Renoir Lafayette
- Bonjour Nuby!
- Ahn? Ah oui, oui, Bom dia pra você também Ian...
- O que houve? Ta pensando em quem, hein? Está muito aérea... – falei brincando.
- Estou com um mau pressentimento...
- Mau pressentimento? Como assim?
- Estou com a sensação de que algo muito ruim está para acontecer.
- Cruzes Nuby! O que vai acontecer??
- Não tenho como saber, fadas tem apenas um sexto sentido, não o dom da adivinhação... Mas tenha cautela hoje Ian, tome muito cuidado. E avise seus amigos, algo muito errado está acontecendo...
A conversa que tive essa manha com a fada guardiã da Sapientai não me saia da cabeça. Nuby sempre era extrovertida, tagarela, conhecia pelo 1º nome cada aluno da casa e nunca tinha esses maus presságios... Quer dizer, ela teve uma única vez e me lembro muito bem, pois o pânico que se instalou no castelo levou horas para ser controlado: fora há exatamente dois anos atrás, madame Maxime estava em Hogwarts com alguns alunos do 7º ano, Sophie entre eles, e na noite da 3ª tarefa, aquele-que-não-deve-ser-nomeado ressurgiu. Lembro-me muito bem, como se fosse ontem, que Nuby passou o dia todo inquieta alegando que algo sombrio pairava no ar e quando a noticia chegou aos ouvidos dos alunos, o caos foi geral.
A lembrança da única outra intuição de Nuby não era muito reconfortante, mas se ele já estava de volta ao mundo bruxo, o que poderia acontecer de pior? Sacudi a cabeça para que esses pensamentos sumissem e voltei minha atenção para o examinador parada a minha frente, tomando nota do que eu fazia. Estava naquele exato momento em um imenso picadeiro na orla da floresta terminando o exame pratico de Zoologia. Dominique já havia feito há tempos e provavelmente estava dormindo e Marie e Bernard também estavam no picadeiro comigo. Michel havia sido dispensado dos NOMs, por tê-los prestado no ano anterior em Hogwarts, o que de certo modo viera bem a calhar: hoje era noite de lua cheia e pela hora, meu primo já não era mais humano. De repente me dei conta de que esse fato não era em nada tranqüilizadora, mas procurei esquecer que um lobisomem adulto andava pela floresta aquela noite. O professor Pierre sabia da condição de Michel e se insistiu para que seu exame fosse à noite, era porque tinha tudo sob controle. Não poderia ser outra hora, a maioria dos animais eram criaturas noturnas...
- Très bien monsieur Lafayette, fantastique. Vous êtes excusé!
- Merci monsieur Chartrand, bonne nuit...
Mas não terminei minha frase. Vários estalos ecoaram nos jardins e fizeram os alunos que aguardavam fora do picadeiro gritarem de pavor. Virei rápido para ver o que estava acontecendo e deixei minha mochila cair com o susto. Não menos do que 20 comensais se espalhavam em direção ao castelo, uma parte deles vindo na nossa direção atraídos pelos gritos. Minha reação foi correr pra junto dos meus amigos e os empurrar pra dentro da floresta. Nós três corríamos desabalados, virando para os comensais que estavam no nosso alcance berrando azarações para tentar detê-los. Sentia os galhos das arvores baterem com força no meu rosto, mas os afastava com a mão sem me importar com os arranhões, estava mais preocupado em me manter vivo. Ouvi Marie gritar e meu pé virou, fazendo com que eu rolasse ribanceira abaixo. Parei quando me choquei com uma pedra, batendo a cabeça.
Não sei quanto tempo fiquei deitado, mas via as árvores borradas na minha frente. Levantei ainda tonto e não vi ninguém perto, havia me perdido dos dois. Tentando não imaginar o que havia acontecido a Marie e Bernard, comecei a refazer o caminho de volta a parte alta da floresta. O medo que sentia agora me fez lembrar que estava muito dentro dela e que provavelmente estava perto da área onde Michel estava, então apertei o passo, desesperado para sair de lá. Sentia a cabeça girar e sangue escorrer, havia cortado na pedra, mas era um mero detalhe. Andava a passos largos e com a varinha em punho, alerta a qualquer movimento que não fosse meu.
Andei por um bom pedaço da floresta e não vi sinal de aluno, estava tudo quieto, silencioso. Silencioso ate demais... De repente ouvi um uivo e parei, congelado. Quando sai do transe, 5 figuras encapuzadas vinham correndo na minha direção, as cabeças virando rápido para os lados, claramente preocupados com o uivo. Acertei um deles com o feitiço estuporante, mas um outro disparou um jato azul contra mim, me fazendo cair longe e a minha varinha voar para as suas mãos. Estava todo sujo de grama e terra molhada e encarei os comensais na minha frente. Um deles apontava a varinha pra mim enquanto girava a minha nos dedos, rindo grosseiramente. Já era, não tinha como escapar dessa sem um milagre.
- Conheço você... É o filho daquele casal de aurores repugnantes! Vai morrer pelas mãos dos que seus pais tanto caçam...
- É o neto daquele velho intrometido! Mate-o logo!
Com a mesma rapidez que a esperança evaporou de mim, ela voltou. Vovô Henri! Enfiei a mão no bolso e puxei a caixinha prateada que ele havia me dado. Quando Nuby havia dito para ter cautela, corri de volta ao dormitório e a apanhei na gaveta. “Guarde-a com você, ela salvará sua vida quando precisar...”. As palavras que vovô escreveu na última carta que me mandou voltaram a minha mente, como se tivesse lendo ela naquele momento. Quando puxei a caixa, um dos comensais tropeçou espantado. Ele sabia o que ela era, pois gritou para que o outro acabasse logo comigo.
- Hâte! Finit avec lui!
- AVAD...
Forcei a tampa. Uma luz extremamente forte iluminou toda a clareira, me cegando momentaneamente. Em seguida um vapor quente subiu, fazendo com que eu gritasse de dor. Era como se alguém tivesse me acertado com uma espada. Ouvi os comensais berrarem apavorados, mas não enxergava nada, só o clarão. Minha visão foi aos poucos voltando ao normal e vi a silhueta de um imenso lobo cortando a luminosidade antes de bater a cabeça no chão e tudo escurecer outra vez.
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