Memórias de Ty McGregor
- Querida, pára de ficar mexendo nele, ele vai acordar...
- Ainda tremo ao pensar que machucaram nosso filho. Se o Sergei não tivesse chegado a tempo.
Senti a mão da minha mãe mexendo no meu cabelo como ela sempre fazia e eu detestava. Abri os olhos e ela estava em cima de mim e meu pai pulou da cadeira, se aproximando. Dava pra ver os olhares ansiosos deles.
KM - E aí como você está?
Mamãe me olhava fixamente, e quando ela viu que eu tava normal, ela respirou aliviada.
TM - Pai, mãe, o que foi que houve realmente? Cadê meus amigos? – e senti uma dor na perna quando me sentei rápido. Trinquei os dentes, mas minha mãe percebeu.
AM - Calma. Eles estão bem.- enquanto me dava uma poção púrpura.
TM - Argh o que é isto? Chulé de trasgo?
AM - Quase, mas vai te curar. - disse mamãe rindo e meu pai começou a contar os últimos acontecimentos.
KM - O ataque destruiu algumas paredes, machucou algumas pessoas, mas graças a Miyako que conseguiu avisar Yulli sobre o ataque, chegamos a tempo. Ela também já acordou. - e olhei para o canto que meu pai indicava e reparei na quantidade de pessoas que estavam sendo medicadas. Miyako estava sentada na cama enquanto tia Yulli e meu padrinho Sergei falavam com ela. Assim que me viu ela acenou e eu respondi de volta. Logo meu padrinho veio pra junto de nós e perguntou, enquanto apertava minha mão:
SM - Você tá bem não é? - e a um aceno afirmativo continuou:
SM - Eu não fiz um trabalho muito bom na sua perna, acho que vai ficar uma cicatriz.
KM - Tá começando cedo a colecionar marcas de batalha, filho.
AM - Se o Sergei não tivesse te encontrado, você poderia morrer, lutando sozinho contra um comensal. - e nesta hora vi aonde aquilo ia chegar e comecei a balançar a cabeça fazendo sinal negativo, para meu padrinho.
SM - Ahm, mas ele não estava sozinho, tinha uma garota com ele.
Droga... Ele falou, e ainda continuou:
SM - Lembrando bem... Era uma menina bem bonitinha, pena que saiu correndo quando eu comecei a cuidar do Ty, nem deu tempo de agradecer.
Meus pais ficaram me olhando esperando alguma explicação, só que eles estavam com a famosa cara de "diz logo quem era pra eu te zuar", comecei a lembrar da hora do ataque e de repente me senti gelado novamente. Olhei e havia mais um Ty do lado da minha cama. Meus pais me olharam assombrados, e meu padrinho puxou a cortina rapidamente para me isolar dos outros.
Como da primeira vez, o outro Ty, voltou rápido ao corpo, e desta vez eu só fiquei um pouco zonzo.
AM - Kyle, você viu isto? Consciente. Maravilhoso. - mamãe só faltou dar pulinhos.
KM - Claro que vi. Desde quando você faz projeção astral Tyrone?
Opa, ele me chamou de Tyrone. Das duas uma: ou tá bravo ou preocupado.
TM - Isto é projeção astral? Nossa... Mas... O que é projeção astral?
KM - Um dom de família, que se não for usado direito pode te matar. - disse sério.
AM - Que fantástico, desta vez não pulou gerações. - disse mamãe animada e me deixei contagiar. Sorri.
Ela sempre conseguia me animar, mesmo em situações caóticas.
KM - Eu fiz isto ontem, durante o ataque, por isso a gente conseguiu petrificar o comensal.
SM - Uau, isso é muito bom, Ty. Então está explicado o porquê você demorou a acordar, não foi só pela perda de sangue.
Papai se aproximou e começou a me examinar como se fosse um médico. Mamãe me pedia calma com o olhar, e eu obedeci:
KM - Você não está comendo direito não é? E quando a insônia começou?
TM - Como você sabe?
AM - Quando a projeção se manifestou em mim, eu tive estes sintomas, era um pouco mais velha que você. Porém, nenhum de nós dois consegue fazer isso consciente. Ficamos "fora do ar" por alguns segundos.
TM - Você e o papai fazem isso também?
KM - Sim, usamos este dom para localizar desaparecidos. Sua mãe achou o Gabriel no Louvre deste jeito. - e lembrei que o Gabriel me falou rindo que "pensou ter visto a cabeça da minha mãe flutuando".
KM - Eu não tive estes sintomas, tive que buscar um orientador para saber se tinha o dom ou não. E como andavam acontecendo coisas demais naquela época, foi rápido para eu descobrir. Você vai ter que aprender a controlar isso.
TM - Tá... E como faço isso? Tem liga e desliga?- disse fazendo gracinha, mas meu pai olhou feio quando minha mãe tossiu pra disfarçar o riso.
AM - Acredito que pelo fato de ver sua vida e da sua amiga em perigo, suas emoções fora de controle foram o catalisador que ajudou a projeção a se manifestar em você.
TM - Peraí, então se eu ficar agitado demais posso me dividir de novo?
KM - Provavelmente. Mas por ora, procure controlar suas emoções. As férias estão chegando, e em casa vamos te ajudar a desenvolver isso.
Voltei a olhar pela enfermaria e vi o Carlinhos sentado preocupado ao lado da cama da Morgan.
TM - O que a Morgan tem?
AM - Ela desmaiou depois que enfrentou o professor Richelieu. Madame Magali diz que é stress, pois fisicamente ela está bem.
TM - Então ela tinha razão não é? Nunca gostei daquele almofadinha.E ninguém da ODF acreditou nela, bando de lesados. - e olhei para o broche no peito dos meus pais e murmurei:
TM - Desculpe.
AM - Sem problemas, agora descanse. Vamos ter que sair, porque o horário de visita está acabando. Vamos estar pelo castelo ajudando no que for preciso, qualquer coisa a enfermeira nos chama.
Deu-me um beijo na testa e meu pai fez o mesmo. Vi quando foram na direção do Lafayette e saíram depois de conversarem com um casal que deviam ser os pais dele.
Meu padrinho que havia ficado na enfermaria, me encarou e perguntou:
SM - Você quer saber notícias da sua amiga?
TM - Que amiga? Ah aquela menina... Ela não é minha amiga. - tentei fingir que não lembrava da Rory.
SM - Você não é muito bom em Oclumência, sei que você se machucou deste jeito recebendo um feitiço que era para ela.
TM - Eu nem pensei no que fazia. Foi tudo muito rápido.
SM - Eu sei que não pensou; você e seu pai têm a mania de agir antes e pensar depois. Então? Quer saber se ela está bem?- insistiu.
TM - Quero. E ela não é minha amiga. - disse ríspido e ele sorriu.
SM - Ela está bem, conseguiu encontrar os irmãos e ficou com eles. Ela também fingiu que não lembrava do "amigo". Mas depois, se traiu querendo saber se você ficaria bem.
TM - Ah, legal. – ele ficou me olhando por um tempo e desistiu de falar mais alguma coisa.
SM - Vou estar pelo castelo também, qualquer coisa chama.
TM - Tá. Obrigado tio. - ele só assentiu com a cabeça e saiu da enfermaria, resolvi parar de pensar em tudo que meus pais haviam dito. A poção que minha mãe deu, já estava fazendo efeito.
Adormeci.
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