Wednesday, May 17, 2006

Em companhia do medo

Das memórias de Gabriel Graham Storm

- Somente mais cinco minutos...

Conferi meu pergaminho uma ultima vez antes de me levantar e coloca-lo na mesa. A professora Milenna estava em pé em frente a ela e deu um sorriso quando lhe entreguei meu exame, dando uma olhada rápida no que tinha escrito.

- Ah, Gabriel... Suponho que nem precise me dar ao trabalho de corrigir sua prova para saber que tirou uma excelente nota. Mas não se preocupe, vou cor...

Ela parou de falar, saltando assustada. Alguma coisa explodiu do lado de fora da estufa e as luzes se apagaram, fazendo os poucos alunos ainda presentes gritarem.

- Calma crianças, não é necessário entrar em pânico. Fiquem todos aqui no canto, vou ver o que está acontecendo!

A professora Milenna marchou decidida estufa afora e em menos de 2 minutos eu a segui. Eu é que não iria ficar ali, no escuro, sem saber o que estava acontecendo! Alguns dos meus colegas tentaram me deter, mas fui assim mesmo. Jacques e Pierre vieram atrás de mim e a cena que presenciamos ao sairmos da estufa escura foi mais aterrorizante do que pensamos no pouco tempo em que ficamos lá dentro: o jardim estava tomado de comensais da morte, que duelavam com os professores escondidos sob aquelas máscaras horrorosas. Alguns alunos também ajudavam e a maioria era do 6º e 7º ano. Escondemos-nos depressa, observando a confusão. Os comensais estavam em vantagem, onde estavam os aurores para ajudar? A pedra que nos protegia explodiu em mil pedaços e um comensal que era sem discussão o triplo do meu tamanho apontou a varinha na nossa direção. Sem nem ter tempo de raciocinar, o que pudemos fazer foi correr.

Sai em disparada na direção da floresta sem olhar para trás, mas via os raios dos feitiços que ele lançava na minha direção passarem raspando por mim. Por sorte tinha bons reflexos por conta do quadribol e das aulas de esgrima... Agora já tinha me perdido de Pierre e Jacques e corria pela mata sozinho. Não parava de pensar no Ty e na Miyako, será que eles estão bem? O comensal troncudo ficou preso em uns galhos e me deu a vantagem de estar bem à sua frente. Podia ver de longe uma cabana de pedras e pensava em me esconder nela quando trombei com alguém que também corria. No mesmo instante apontei minha varinha pro estranho.

- Não, sou eu, Bernard!! – ele gritou e o reconheci.
- O que faz aqui?? – falei abaixando a varinha.
- O que você faz aqui? Não devia estar na floresta hoje, não sabe que é noite de lua cheia??
- E o que isso tem a ver com os comensais que invadiram a escola?

Percebi que ele parou para pensar em uma boa justificativa, mas nunca soube qual seria ela. Um jato roxo partiu um galho acima de nossas cabeças e Bernard me empurrou pra frente, correndo comigo mais pra dentro da floresta. Dei uma olhada rápida pra trás e vi que mais um comensal se juntou ao 1º. Bernard ia falando rápido algo que soava como “não consigo encontrar meus amigos” enquanto afastávamos os galhos, mas não ouvi o resto, pois ele foi atingido por um raio branco que o lançou no meio dos arbustos.

Estava sozinho outra vez. Lançava feitiços aleatórios sem olhar pra onde eles estavam indo e ouvi o barulho de um dos homens caindo, o que indicava que sobrara somente um. Cheguei perto da cabana, mas não consegui abrir a porta dela. Sem saber para onde seguir, fiquei de frente com ele. O comensal vinha andando devagar na minha direção rindo e logo percebi que nenhum dos feitiços que aprendi em sala salvaria minha vida. Foi então que lembre do diário de minha mãe, haviam alguns feitiços anotados neles dos quais nunca ouvi falar...

- Sectusempra!

Apontando a varinha pro homem, berrei o 1º feitiço que me veio à cabeça. Uma luz prateada sai da ponta da minha varinha e cortou o peito dele, como uma faca fatiando um pedaço de carne. O sangue que saiu respingou em mim e o comensal caiu duro no chão. O que foi que eu fiz?? Recuei alguns passos, atordoado com o efeito daquilo. Porque minha mãe tinha algo desse tipo em seu diário? Estava claro que era um feitiço das trevas! Uma voz rouca ecoou um pouco atrás do homem caído no chão e o comensal troncudo que havia derrubado minutos antes agora se aproximava de mim, esbravejando que havia matado seu amigo. Ele tinha a varinha encostada no meu rosto, quando uma segunda voz, essa bem conhecida, gritou.

- Tira as mãos dele, Dashwood! Expelliarmus!
- Mãe! – e corri pra perto dela quando o homem voou alguns metros, a varinha indo na direção contraria.
- Você está bem? Ele te machucou??
- Não, ele não fez nada...
- Mãe? É seu filho, Louise? – o tal Dashwood estava de pé novamente, mas desarmado. Ele veio andando vagarosamente na nossa direção, um tom de deboche na voz.
- Pra trás, ou vou ser obrigada a lhe azarar.
- Não teria coragem... Aposto que é daquele lobisomem desgraçado que...
- Dobre a língua para falar do Remo!

Mamãe sussurrou um feitiço inaudível, mas a luz roxa que saiu de sua varinha acertou o comensal em cheio no peito, desenhando de uma cruz invisível. O homem olhou para ela com uma expressão de choque, que não era muito diferente da minha, e caiu desfalecido no chão, como um boneco de pano. Mamãe se virou para mim com urgência na voz.

- Preciso que você saia daqui, e rápido!
- Não, não vou deixar você sozinha!
- Gabriel, isso não é hora para você se parecer com o seu pai!
- Mas eu quero ajudar, não vou deixá-la sozinha!
- Se quer ajudar, faça o que estou mandando! Vi alguns alunos caídos no caminho, mas não pude parar. Procure por eles e os leve em segurança para o castelo. E eu não estou pedindo, estou mandando!
- Isso que você está usando é o broche da Ordem da Fênix??
- Agora Gabriel!!

Vendo que não adiantaria discutir com ela, assenti com a cabeça e comecei a correr na direção contraria, um feixe de luz bem fino iluminando meu caminho. Percorri um bom pedaço, mas não havia sinal de nenhum aluno desmaiado. De repente, um clarão iluminou 1/3 da floresta, seguido de gritos. Senti um bafo quente junto com aquela luz me derrubar antes de tudo escurecer de novo. Levantei depressa, correndo para o ponto de onde havia surgido a luz e quando o encontrei, soltei um grito de pavor: pelos menos 5 comensais estavam espalhados pela clareira, as vestes queimadas e cobertas de sangue. Do lado oposto a eles, Ian estava caído também, suas vestes rasgadas e um imenso lobisomem em pé ao seu lado.

Senti meus ossos congelarem diante daquele bicho imenso e fui andando para trás, parando ao topar com uma arvore. Mas ao invés do lobisomem avançar em mim, ele abocanhou uma caixinha prateada que estava caída ao lado de Ian e correu floresta adentro. Levei alguns minutos para parar de tremer e vendo que ele ainda respirava, agarrei seus braços e sai arrastando-o o mais rápido que conseguia de volta pro castelo, rezando para nenhum outro obstáculo cruzar nosso caminho...

No comments: