Monday, July 02, 2007

Valhalla e o Demônio de Niffleim

Lembranças de Griffon F. C. Chronos

Tudo parecia tão vazio, tão diferente, tão negro e triste...
Foi como se eu tivesse perdido uma parte de mim, e não fui apenas eu que me senti assim.
Seth que sempre sentia as dores e a tristeza do ar, mal conseguia falar, de tanta pressão da dor que ele sentia. Ele se sentia enjoado e desamparado.
Eu? Parecia que nunca mais voltaria a ser feliz... Tentava a todo custo me animar e animar os outros a minha volta, pois sempre fui o palhaço e nos momentos mais dramáticos e tristes eu tentava animar a todos. Mas não conseguia sequer me animar, sequer esquecer a dor...
Tio Kyle era nosso padrinho. O melhor amigo de meu pai e um auror de valor e poderoso. De boa índole, forte, corajoso e acima de tudo, amigo. Esteve ao lado de papai nos momentos mais difíceis de sua vida, acima como esteve do lado do Seth, quando até mesmo ele próprio duvidava de si.
E agora ele partia... Assassinado em combate para proteger uma das coisas mais importantes a sua vida: seu filho... O Ty parecia o mais entristecido e revoltado de todos. Ele se sentia culpado por ter deixado ser capturado, o que provocou a morte de seu pai. Eu e o Seth tentamos animá-lo, assim como a Miyako, Gabriel e os outros, mas nada parecia adiantar.

SC: Papai me contou... O Tio Kyle já sabia o que podia acontecer... meu próprio pai já tinha lhe avisado sobre o perigo. Para falar a verdade, desde a época de escola seu pai sabia que morreria por alguém muito importante para ele.
GC: Mas mesmo assim ele nunca ligou para isso, para ele seria melhor que ele morresse que aqueles que ele ama. Vamos Ty, não queremos te ver triste, nem mesmo seu pai gostaria, ele brigaria conosco por não te animar!
TM: De que mudaria eu estar feliz? Isso não o traria de volta... E era típico do meu pai, ser orgulhoso e teimoso... Ele deveria ter ouvido o Tio Alucard...
MH: Mesmo se ele tivesse ouvido, acho que certas coisas não podem ser mudadas... Vamos Ty está na hora...
Íamos para o funeral do Tio Kyle que seria como todos os funerais da família Mcgregor, a devolução do corpo ao lago... Tia Alex tremia enquanto lançava a tocha para a pira funerária enquanto o barco deslizava suavemente para o meio do lago, onde foi levado para o seu fundo, como se alguém o chamasse. Não pude deixar de pensar que Tio Kyle se assemelhava ao nosso Rei Arthur, cuja poderosa Excalibur e corpo jazem no fundo dos domínios da Dama do Lago. E era uma comparação perfeita, pois Tio Kyle merecia as honras de um rei...
Papai estava totalmente transtornado. Eu nunca o vira assim, mesmo quando saíamos em alguma missão do clã, ou quando Dumbledore foi assassinado, nunca o vi assim... Seus olhos estavam constantemente vermelhos, e eu não sabia se eram de dor, sofrimento, lágrimas ou de puro ódio e de seu poder vampírico. Mas ele não mexeu um músculo enquanto não deu o último adeus para seu grande amigo. Assim que viu o barco funerário afundar ele virou-se de costas e saiu da beira do lago. Eu e Seth o seguimos meio que por instinto e senti a aprovação de mamãe, que ficou um pouco atrás apenas para explicar-se mentalmente com Tia Alex. Papai pisava com força e eu sentia no ar as ondas de fúria e dor vindas dele. No meio do bosque da margem do lago, em uma clareira, ele parou e com os olhos vermelhos e banhados de sangue, com as pressas à mostra, ele urrou de dor, um lamento tão forte e poderoso como o ribombar de um trovão. Eu sabia que ele estava prestes a perder o controle, mas sabia que ele não nos machucaria, mas não pude me segurar e me encolhi tamanho o susto. Até o Seth se encolheu com o urro e apenas mamãe continou imóvel e avançou para ele. Ela o abraçou e o acalentou em seu peito enquanto meu pai ainda soluçava de dor e sofrimento.
MC: Meu querido acalme-se... Sinto a sua dor e a mesma que você. O Kyle era importante para todos nós. Sei o que está pensando, sei o que sente em seu coração.
AC: Ele foi um dos primeiros a me aceitar, a estar ao meu lado. Ele me amparou quando fui amaldiçoado, me protegeu quando perdi o controle, me perdoou quando o ataquei em minha loucura, como ninguém mais faria. E agora ele se foi, assassinado! E eu não pude fazer nada! – papai chorava e minha mãe também chorava, nunca os havia visto assim. Eu e Seth nos aproximamos devagar e papai nos abraçou e ficamos abraçados por alguns minutos.
Depois de um tempo, ele se soltou lentamente e beijou mamãe cheio de amor, virou-se para eu e meu irmão e nos abraçou com força. Me senti mal, como se ele se despedisse, mas sabia que ele sempre voltaria. Ele virou as costas e sumiu no ar.
MC: Siga-o Griffon. Ele não sabe o que está fazendo. Aconteceu a mesma coisa quando seus avós morreram, ele enlouqueceu e caçou os assassinos até massacrá-los. E agora fará o mesmo. Ele precisa de você para protegê-lo, pois nesse estado ele não conhece limites.
SC: Eu vou também!
MC: Não vai não, Seth Kamui. Você está fraco e sem condições de seguir seu pai agora. Pensa que não sei? Você e seu pai estão sofrendo em dobro, absorvendo todas as dores dos outros, sentindo-as em vocês próprios. Você mal tem forças para ficar acordado direito. Griffon você é o escolhido para cuidar de seu pai. Não irei com ele, pois ele não quer que eu veja o massacre que ele vai fazer... Mas você ele aceitará e sei que você está preparado.
GC: Eu iria mesmo que não me pedisse mamãe. Eu vou protegê-lo a qualquer custo.
MC: Esse é meu menino. Concentre-se e não se esqueça do que lhe ensinei para poder ajudar seu pai, e não machucá-lo. – Ela me beijou na testa e me deu um empurrão de incentivo.
Sai correndo atrás de papai e meu poder me fez com que eu fosse mais rápido que o normal, mas não achava que ia alcançá-lo. Mas para minha surpresa, papai estava parado no alto de uma árvore, perto da casa do lago. Fez sinal para que eu me aproximasse e pulei para a árvore também. Ele estava com os cabelos desgrenhados, os olhos vermelhos, as pressas à mostra, um verdadeiro demônio vindo de Niffleim, o Reino Gelado, pronto para a guerra. Achei que ele poderia me atacar sem piedade, mas ele nunca faria isso a mim.
AC: Eu sabia que sua mãe lhe mandaria me seguir e não a culpo. Nesse estado eu perco o controle... Por enquanto consigo me controlar um pouco, mas na hora da caçada não terei controle. Você sabe se defender de mim, sabe como me repelir se necessário, sabe como me ajudar e como defender a mim do monstro que eu possuo. Obrigado filho. – Ele me abraçou e sentia a força injetada em seu sangue. – Mas você também tem aqueles importantes para você. Sua Tia Alex já sabia que eu perderia o controle e aprova sua vinda para me proteger... Mas e a Senhorita McGregor? Imagino que queria se despedir. Vá eu lhe esperarei na saída da aldeia.
Dizendo isso ele desapareceu no ar e eu tomei coragem para saltar da árvore. Procurei a entrada da casa e para minha sorte (posso ser alegre e cara de pau, mas certas coisas prefiro falar a sós...) a casa estava vazia e apenas ela estava no quarto. Notei que chorava, e muito. Ela parecia em transe enquanto olhava para o nada. Quando entrei no quarto, ela pareceu mal me notar até que fiquei a poucos passos dela e falei mirando suas costas.
GC: Professora Emily... – Ela se assustou um pouco, mas com uma pontada de felicidade vi que ela se alegrou e se acalmou ao me ver.
EM: Griffon! Que bom vê-lo... Queria mesmo ver alguém importante para... – Ela parou antes, como se a conduta de uma professora a impedisse de continuar, mas posso jurar que a ouvi falar "importante para mim". – E não me chame de professora... Já lhe pedi diversas vezes. – Ela ralhou comigo como sempre fazia, porém com menos energia e alegria. Ela ainda tinha algumas lágrimas em seu rosto e não pude resistir. Aproximei-me e as enxuguei com um lenço.
GC: Desculpe-me o abuso... Emily por favor não chore. Não sabe o quanto dói te ver triste... Sei o quanto é dura a perda do Tio Kyle. Ele também era muito importante para mim. – Parei de falar quando ela começou a soluçar e me senti triste também, sentindo algumas lágrimas escorrendo pela minha face, mas me controlei para o bem dela.
EM: Quando eu finalmente o reencontro e começo a me dar bem com o Ty... Ele é tirado assim de mim, de nós, de forma tão inescrupulosa! Já sinto falta dele!!
GC: Todos já sentimos... Mas tenho certeza que ele não ficaria feliz em nos ver assim e nesse momento está em Valhalla, como um guerreiro orgulhoso e poderoso como sempre o foi. Ao lado de seus ancestrais guerreiros, velando por nós, e orgulhoso de sua filha, quase uma valkyria. Sim eu presto atenção nas suas aulas e não quero perder uma ótima professora! – E um amor. - pensei enquanto a via soltando um pequeno sorriso.
EM: Sim, você é um ótimo aluno, uma ótima pessoa... Obrigada Griffon...Onde você está indo?
Não esperava a pergunta e tentava reunir forças para me despedir. Mas ela pareceu ler meus pensamentos e senti que se preocupava. Eu desviei o olhar com medo de chorar, mas tentei manter a voz calma.
GC: Emily, meu pai quer vingança. E vou com ele. Ele precisa que eu o ajude e eu também anseio por vingança.
Ela voltou a chorar e em um impulso se jogou em meus braços me abraçando com força. Ela soluçava, e pela primeira vez notei que eu era mais alto que ela, enquanto ela soluçava em meu peito.
EM: Não! Não quero perder outra pessoa importante pra mim! Já não basta meu pai? Não permitirei!!
Senti uma onda de alegria imensa e agradeci a todos os Deuses por ela estar ali abraçada a mim dizendo que eu era importante. Uma parte de mim tentou dizer que era como amigo ou como aluno, mas uma grande parte de mim parecia enxergar a verdade e ver que era de outro modo. Ela me abraçou com mais força e me senti tentado a beijá-la. Mas não me aproveitaria assim da situação. Afaguei seus cabelos e a acalmei lentamente enquanto a afastava de mim:
GC: Emily, eu volto, eu prometo a você. Meu pai está me esperando... Se me abraçar de novo, posso não resistir.
EM: Você é mesmo um cavalheiro, um legítimo lorde inglês. Por que a cada dia e coisa que você faz eu te admiro mais? Deixe-me ir com vocês ao menos!
GC: Não, não posso! Não quero que veja as coisas que meu pai, e até eu possa fazer... E precisam de você em Beauxbatons. O Ty, a Tia Alex, o Seth, precisam de você...
EM: Mas você também precisa...
GC: O que quero é que esteja bem e nunca permitiria que saísse nessa missão que é quase suicida... Eu preciso ir. Eu lhe prometo que voltarei.
Ela parecia que ia chorar de novo, mas como uma guerreira ela se controlou e me abraçou como se concedesse sua benção. Ela me beijou no rosto e me viu sair pela janela, voando pela noite lançando um último olhar para ela... Ainda podia a ouvir falando:
EM: Cuidado Griffon, volte são e salvo ou não irei lhe perdoar nunca meu... – a última palavra se perdeu no vento, mas eu me sentia alegre só de pensar no que poderia ser...

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