Anotações de Ty McGregor
- Ty assim você vai se atrasar.
- Estou indo mãe. Promete que...
- Sim, se a Miyako te escrever alguma carta, eu mando pra você. Mas adianto: depois do feitiço de murchar as orelhas que ela te mandou, acho que ela não vai mandar nada por ora. Ela continua zangada com sua decisão. – e mamãe riu apertando minhas orelhas. Era bom, voltar a ver o sorriso no rosto dela, já havia passado um mês da morte de meu pai e ela parecia menos infeliz. Olhei para o homem com vestes escuras de pé em frente à lareira da casa da minha avó na Escócia e ele olhava triste para uma foto dos meus pais, e lembrei de que época era: naquele dia fotografia mostrava meu pai ajoelhado, nos ensinando a empinar pipa, perto do lago. Eu devia ter uns 5 anos naquela foto e meus outros primos estavam ao nosso redor. Não havia vento aquele dia e papai ria de nossos esforços em por os losangos coloridos no ar, então ele puxou a varinha e fez lufadas de vento aparecerem, e teve até batalha de pipas. Foi muito divertido.
- Estou pronto, tio Lu. – disse e ele se virou para mim. Engraçado... Eu olhava para o rosto tranqüilo de tio Lu e não conseguia entender direito o fato dele ser um vampiro. Quer dizer sabia, que ele fora vítima de uma maldição, mas ele não fazia o tipo sabe? Ele era um homem bom. Ele pareceu ler meus pensamentos e sorriu. Minha mãe mantinha o braço em meu ombro e perguntou a ele:
- Tem certeza que não é incômodo Lu?
- Nenhum, e os garotos quando voltarem vão adorar vê-lo, e você sabe que logo eu o trarei de volta. Pelas últimas notícias, talvez tenhamos que reunir a gangue novamente. Agora que começou não vai acabar tão fácil. – eles se encararam por alguns instantes e percebi minha mãe preocupada. Ela me abraçou apertado e nos despedimos:
Caminhamos até o vilarejo. Lá, tio Lu segurou meu ombro com força para aparatarmos e senti quem entrava num corredor apertado, mas logo a sensação passou e me vi perto da casa deles em Paris.
- Achei que fôssemos para sua casa em Londres. – comentei.
- Londres está muito agitada no momento. Todo e qualquer feitiço que se faça, uma comissão do ministério aparece para fazer alguma autuação. Claro que isso é apenas para ver o que estamos fazendo e nos vigiar. – disse com uma carranca.
- Mas como você sabe que aqui não vamos ter problemas?
- Bem, o Ministro daqui é mais tolerante quando se trata de ensinar nossos jovens a se defender, e a doação de uma boa bolsa cheia de galeões ao Hospital St. Napoleón nos garante privacidade por um bom tempo. – ele respondeu e logo entrávamos na sua casa. Tia Miriam me abraçou sorridente e me ajudou a me instalar. Depois fomos tomar um lanche e tio Lu disse:
- Pronto para começar seu treinamento?- acenei com a cabeça e fomos para uma espécie de ginásio, com o teto encantado e lá havia de tudo, incluindo um enorme boneco encantado para duelos.
- Prefiro lutas corpo a corpo, mas como seremos só nós três por enquanto, e algumas vezes precisarei sair, isso vai servir. Tínhamos um destes em Hogwarts e ajudou muito. Muito bem filho: mostre-me do que é capaz.
Começamos a duelar e como eu já o tinha visto em combate, sabia que estava em frente de um forte oponente, que iria usar todas as armas para me vencer. Relembramos todos os feitiços que eu havia aprendido não só na escola, mas com meus pais. Acabei tropeçando e por segundos baixei a guarda e levei um feitiço Rictusempra que me jogou longe. – tio Lu gritou:
- Levante-se que isso não foi nada. Aja como um homem.
Levantei um pouco chocado com o tom ríspido dele, e formei um escudo á minha frente e voltei para a luta.
- Você já conhece a maldição da tortura e pelo que vi conseguiu agüentar bem sem enlouquecer, vou te ensinar as outras. Não sairemos daqui até que você tenha um bom resultado. E um aviso: você tem que querer lançá-las para que funcione. – e sem que houvesse tempo para nada ele me subjugou:
- Império!
Fez isso a intervalos e após algum tempo eu conseguia sair dela. E a hora foi passando. Devia ser tarde da noite, pois dava para ver um céu cheio de estrelas pelo teto e sentia fome. Eu já exibia alguns cortes que sangravam pouco.
- Eu sei por que você vai para Durmstrang. - e como eu não respondesse nada ele continuou:
- Acho que seu pai no final estava ficando velho, para dar uma missão tão importante a um garoto. É... Ele estava ficando fraco e louco, e o filho saiu a ele.
- Meu pai não era fraco e muito menos louco. Se vou para lá é por minha vontade. Quero melhorar no quadribol e...
- E fugir de uma garota. Foi bom ele ter morrido, iria se decepcionar com você. – ele deu uma gargalhada zombeteira. Não parecia o tio Lu, sempre tão gentil comigo. E ele falava as mesmas coisas que a mãe da Rory falava, e isso tava me enlouquecendo.
- CALA A BOCA! AVADA KEDAVRA! – e ataquei com fúria e me arrependi na hora com o que havia feito. Minha mão tremia segurando minha varinha. Ele caiu longe, mas se levantou, dizendo:
- Não se mata o que já está morto. - respirei aliviado por não tê-lo matado. Havia feito apenas um corte no seu rosto.
Ele passou a língua e o corte logo se fechou, sorriu ao sentir o gosto do sangue e seus olhos ficaram vermelhos, e suas presas surgiram. Ele levantou a cabeça e aspirou o ar:
- Hummm! Há muitos anos não provo o gosto do sangue de um McGregor. E é um sangue com um gosto bom... Diferente...
Olhei chocado para ele e continuei lutando enquanto ele falava. Parecia outra pessoa:
- Sabia que sua mãe foi a primeira a me alimentar? Claro que se ela não fizesse isso por conta própria, eu acabaria pegando-a a força. Sempre andávamos sozinhos por aqueles longos corredores escuros e minha sede estava ficando incontrolável... Como agora. – e ele me atacou com toda a sua força. Na hora apenas gritei o único feitiço que me veio á mente:
- EXPECTO PATRONUM! – e um urso prateado saiu de minha varinha e o jogou longe. Caí arquejante no chão, como se isso houvesse consumido minha energia. Quando o vi se levantar apontei a varinha com força e vi que ele estava olhando para mim e sorria. – ele guardou a varinha e se aproximou. Vi que era o bom e querido tio Lu novamente. Comecei a falar descontrolado.
- Aquelas coisas que você dizia... Eu perdi a cabeça... Não queria... E maldição da morte, eu não quis matar você... - ele me interrompeu:
- Sim você quis Ty e não há problema em admitir isso. Eu fico feliz por perceber que se for preciso você vai usá-la para se defender. Diga-me como você sabia que o feitiço do patrono iria me repelir?
- Lembrei-me que o papai vivia dizendo que temos luz e trevas dentro de nós. E eu senti o gosto das trevas quando lancei a maldição da morte em você, e era uma sensação ruim, então comecei a procurar a luz entende? E quando vi você daquele jeito, lembrei dele e conjurei o feitiço. Desculpa, mas é que você disse cada coisa, de um jeito tão maligno...
- Eu tinha que dizer coisas horríveis, porém não disse mentiras Ty. Sua mãe realmente foi a primeira a me alimentar e com isso ela salvou minha vida e seu pai o fez o mesmo em outras vezes. Foi uma forma cruel de se dizer as coisas e isso foi apenas uma amostra do que você vai enfrentar daqui por diante, até cumprir a missão que você tem. As palavras ditas ou não ditas, muitas vezes machucam mais do que um feitiço. Não quero dizer que você só vá encontrar pessoas ruins na nova escola, mas lá as artes das trevas são valorizadas e saber usa-las sem medo é importante para sua sobrevivência. (como eu continuasse quieto ele disse):
- E eu consigo sentir a confusão de sentimentos em relação à garota que não sai de seu pensamento. Você devia... - levantei a mão e não o deixei continuar.
- Hoje eu não posso ficar com ela. Vou sentir como se estivesse traindo a memória do meu pai e sinto que na primeira briga que tiver eu vou magoá-la, e isso eu não quero. E ela vai estar o tempo todo decidindo a quem ser leal, pois sempre vai lembrar que sou filho de quem matou o pai dela.
- Mas você sabe como as coisas aconteceram não é?
- Sim, tio eu sei. E é mais um motivo para não ficarmos juntos. Isso ainda não acabou.
- Não é justo os filhos sofrerem com o passado dos pais. - ele disse sério.
- A vida nem sempre é justa. – respondi e nesta hora tia Mirian entrou junto com Griffon, e mudamos de assunto. Eu podia aproveitar alguns dias de férias com meu amigo, depois de conhecer o lado sombrio de tio Alucard e o meu.