Friday, July 13, 2007

A Final da Copa do Mundo

Por Gabriel e Ian

Ainda era muito cedo quando uma corneta passou fazendo arruaça na sala onde dormia, e não demorou para que eu descobrisse que eram os irmãos trouxas do Viera já se preparando para o jogo. Estávamos todos acampados na casa dele a quase uma semana, acompanhando os últimos jogos. Ainda não tinha contado a ninguém o que acontecera na Califórnia, nem mesmo a Mad. Não tinha necessidade, estavam todos felizes e empolgados com os jogos, que eram novidade para a maioria ali.

Eu estava ansioso com a partida. A final, por um acaso do destino, seria entre Brasil e França. E eu, entre mais de 15 pessoas na casa, era o único torcedor do Brasil. Mas apesar das provocações, não estava esquentando a cabeça com eles. Vesti o uniforme da seleção e quando faltavam 3 horas para o jogo começar, seguimos para o Stad de France. E obviamente, por ser minoria, fui obrigado a sentar no meio da torcida da França. Eu era o único ponto amarelo berrante no meio do mar azul que tomava conta do lado onde estávamos.

- Olha lá, as seleções estão entrando!! – Viera apontou empolgado para o campo
- FRANÇAAAAA! – Ian berrou ao meu lado, abraçado a Bernard e Dominique. O rosto deles estava todo pintado, metade azul e metade vermelha
- BRASIIIIL! – berrei tão alto quanto ele e eles pularam em cima de mim tentando abafar meus gritos de provocação

Depois de toda a cerimônia de hinos e apertos de mão, a partida teve início. Meu desespero estava começando e eu não fazia idéia. Depois de sofridos 27 minutos de jogo, Zidane marcou o primeiro gol para a França. A rede do Brasil balançou e senti várias mãos voando em cima de mim, me sacudindo com força.

- GABRIEL, VIU ISSO?? – Ian pulou em cima de mim outra vez
- CLARO, NÃO SOU CEGO! – falei revoltado, voltando a encarar o campo

Queria sentar para prestar mais atenção ao jogo, mas era impossível. Meus amigos faziam a maior algazarra do meu lado e fiquei de pé mesmo, sem nem piscar. O primeiro tempo estava quase acabando quando o estádio veio abaixo pela segunda vez: Zidane marcou o segundo gol da França.

- Zi, Zi, Zidaaaaaaaaane! – todo mundo gritava empolgado quando o arbitro encerrou o primeiro tempo
- 2 x 0, Gabriel!! – Samuel bagunçou meu cabelo e olhei para ele quase cuspindo fogo
- Deixa ele, Samuca, não provoca... – Mad sentou do meu lado e me deu um beijo, mas tava tão indignado pela seleção não estar jogando NADA que não reagi e ela não tentou mais falar comigo

O segundo tempo do jogo foi o mais longo de todos os que já assisti. O Brasil parecia com medo de partir pra cima da seleção ruim da França, e não foi surpresa alguma quando, já quase terminando a partida, Petit fechou o massacre marcando o terceiro gol da França. A torcida, que já comemorava a vitória, explodiu em gritos e entoavam a Marselhesa a plenos pulmões. Sentei na arquibancada completamente incrédulo e de cabeça baixa. Não tava nem triste com a derrota, tava era muito revoltado!

- ALLONS ENFANTS DE LA PATRIE, LE JOUR DE GLOIRE EST ARRIVÉ... – meus amigos pulavam e cantavam junto com o resto da torcida, todos já quase sem voz de tanto que gritavam. Olhei para eles saltando uns por cima dos outros radiantes, encarei o campo mais uma vez, onde a seleção francesa dava cambalhotas na grama e voltei a observar a festa nas arquibancadas. É, fazer o que... Eles nunca ganharam nada mesmo, só me restava engolir as piadas que estavam por vir...

*******

- FRANÇAIS, POUR NOUS, AH QUEL OUTRAGE! GABRIEL!! – Saltei por cima das cadeiras e cai por cima do Gabriel, a única pessoa sentada no estádio inteiro – Gostou do espetáculo?
- Preciso responder? – ele me encarou sério, mas depois riu – Tudo bem, vocês nunca ganharam uma copa, não tem graça o Brasil ganhar todas...
- Discurso de perdedor! – apertei a cabeça dele com os braços, quase o enforcando
- Ok, ok, a vitória foi merecida, já que o Brasil não jogou NADA – ele falou a ultima palavra tão alto que o cara pulando do lado dele se assustou
- Vamos embora, a festa vai continuar nas ruas!

Puxei-o pela camisa e saímos devagar do estádio, depois de ver a seleção recebendo a taça e as medalhas. As ruas de toda a França estavam tomadas por torcedores gritando enlouquecidos a conquista da primeira copa do mundo. A tinta do meu rosto começava a sair, mas não estava me importando, só queria comemorar. Viera e Dominique, que eram os mais fanáticos por serem trouxas de nascença, até choravam enquanto cantavam pelas ruas.

Já passava das 3 horas da manhã quando decidimos ir para casa dormir. Ou melhor, desmaiar. Gabriel já não estava mais ranzinza e aproveitou boa parte da bagunça com a gente, encarando numa boa as gozações. E nem tinha como ele não aturar, já que até a Maddy tirou uma casquinha e provocou ele um pouco. Quando chegamos de volta em casa, caímos nos colchões espalhados pela sala com as mesmas roupas que estávamos usando, ninguém tinha forças para tirar. E já tínhamos planos para o fim das férias: a Copa Mundial de Quadribol, que também seria sediada na França.

- Gabriel vai conosco também – falei quase sem forças – Afinal, ele precisa ver o Brasil perder para a França em esporte trouxa e bruxo
- Ta bom, vai esperando – ele respondeu também sem forças – Em Agosto a gente conversa!
- Allons enfants de la patriiiie
- Cala a boca, Samuel! – gritamos todos ao mesmo tempo e caímos na gargalhada, desmaiando quase que instantaneamente. Ganhar final de campeonato era muito cansativo...

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