Uma chuva de chapéus de feiticeiro voou sobre minha cabeça enquanto eu lançava o meu próprio pelos ares. Era impossível esconder o sorriso e a felicidade que estava sentindo naquele momento.
Senti alguém pulando em cima de mim e dobrei os joelhos com o impacto do peso. Patrick dava saltos enquanto se pendurava no meu ombro.
PB: CONSEGUIMOS! CONSEGUIMOS!
SB: Se minha coluna sobreviver depois desse salto, eu grito isso. – ele riu e nos abraçamos.
Cumprimentei todos os meus amigos, um por um, então sai procurando minha família. Não foi difícil encontrar mamãe, Pierre e Samara entre as cadeiras. Mamãe acenou felicíssima quando me aproximei, enquanto Pierre e Samara observavam tudo ao redor com muito interesse.
RB: Estou muito orgulhosa de você, meu filho! – mamãe me deu um abraço e um beijo estalado no rosto. – Muito mesmo!
SB: Obrigado mãe. – sorri carinhoso para ela recolocando o chapéu na cabeça. Pierre se levantou apertando minha mão.
- Parabéns rapaz! Foi ótima a cerimônia! – apertei sua mão e sorri. Ele se aproximou falando baixo de maneira que só eu conseguisse escutar. – Essa tal de... cerveja amanteigada... é boa? – ri com a pergunta.
SB: Excelente! Acho que você vai ter oportunidade de experimentá-la hoje. Madame Máxime deve ter pedido um estoque delas, e de whisky de fogo! – Ele arregalou os olhos parecendo bastante interessado nas bebidas bruxas. Depois sorriu novamente dando um tapa no meu ombro e soltando minha mão. Samara deu um pulo no meu colo.
- Parabéns Samuca!
SB: Obrigado irmãzinha. – Colocando-a no chão e olhando para ela. – Como você cresceu! Mamãe anda te dando chá de trepadeira é??? – ela, mamãe e Pierre riram. Olhei ao redor. Estava faltando alguém ali... – Bom, se quiserem ir para o Salão Principal, tem uma mesa reservada no meu nome. Vou procurar meu pai.
Mamãe ficou séria e olhou ao redor também, como se desejasse que meu pai estivesse por ali conversando com alguém. Pierre e Samara concordaram empolgados com a idéia de andarem pelo castelo e acabaram arrastando mamãe com eles. Olhei ao redor. Meu pai não estava lá e senti um amargo de pensar que talvez ele tivesse esquecido, ou que estava ocupado demais. Não tive tempo de pensar muito nisso. Logo duas mãos cobriram meus olhos.
SB: Impossível não reconhecer esse seu perfume, Isa. – Isa soltou meus olhos e sorriu.
IM: Você sempre estraga minhas surpresas. – me abraçou – Parabéns Samuca! Espero que você continue sempre desbocado assim... Vou sentir falta de vocês ano que vem!
SB: Eu também. Mas sempre que der venho visitar vocês. Prometo! Vou sentir falta de você também, Izzy! – ela riu diante da cara que fiz e lhe dei um beijo no rosto – Se tudo der certo... – falei mais baixo vendo Anne passar caminhando e me olhar de relance sorrindo – nos veremos em todas as visitas à Paris também.
Isa se virou para ver Anne indo conversar com uns amigos e riu olhando para minha cara. Ela ia falar alguma coisa, mas um grito furioso ao meu nome nos fez interromper a conversa. Dominique vinha com o chapéu na mão me olhando irritado.
DC: O que raios você está fazendo aqui ainda??? A maior parte da turma já está reunida no Salão Principal para tirarmos fotos! Me mandaram vir te buscar. Vem depressa! - Dominique saiu me arrastando. Isa sorria e acenava para eu ir andando...
A sessão de fotos não poderia ter sido mais engraçada. A turma se empolgou em poses diversas e quando nos cansamos de nos embolar de todas as maneiras imagináveis...
Uma bateria fraca... Um teclado... Uma voz rouca começou a cantar... Vários gritos e pulos ao meu redor. Virei para o palco querendo acreditar que era, mas não conseguindo. Não podia ser...
IL: OS DUENDEIROS! OS DUENDEIROS!!! Não eram boatos Samuel! – Ian dava pulos ao meu lado e meu queixo ia ao chão. Eram eles! Eram eles realmente! Demorei uns minutos para digerir a idéia e começar a pular também.
A agitação estava imensa, todos dançavam e cantavam. Na mesa reservada aos professores, todos eles se dividiam entre cantar as músicas ou conversar entre si. Professor Armand era o único que parecia tedioso e tomava um cálice de whisky de fogo desanimado. Olhei para Ian do lado abraçando Marie enquanto dançavam e tive uma idéia louca. Cutuquei os dois e todas as pessoas que faziam a peça de teatro e pedi para que me seguissem até um canto.
IL: O que você tem de tão importante pra falar que nos tirou no meio do show dos Duendeiros??? – Ian resmungou sem desgrudar os olhos do palco.
SB: Todos aqui tem os textos da peça decorados?
BL: Do que você está falando Samuel? Já começou a ficar tonto? – Bernard perguntou sem entender e ri. – A peça foi cancelada, se lembra?!
SB: Sim, me lembro, mas quero apresentá-la! Acho que vai ser engraçado e o professor Armand vai no mínimo levar um belo de um susto. O que acham???
Gabriel, Miyako começaram a rir da idéia imediatamente a apoiando. Meus amigos me encaravam preocupados com minha sanidade.
IM: Você tem certeza de que não está bêbado Samuel? Não ensaiamos praticamente nada!!!
ML: Ele está blefando. Com certeza está. Nunca teria coragem de interromper um show dos Duendeiros para nos fazer apresentar uma peça de teatro que mal ensaiamos!
SB: Se eu interromper... Vocês fazem a peça?
IL: Faço! – Ian respondeu impaciente tirando os olhos do palco e me encarando. – Mas você tem que subir nesse palco agora!
Olhei Anne que permanecia calada, mas tinha um semi-sorriso no rosto. Só precisava anunciar... Aproveitei quando o vocalista terminou de cantar “Looking for Trouble” e subi no palco pulando em frente a um dos microfones, e pedi à eles um minuto. Pude ver de relance a cara assustada de Ian, mas não ia desistir agora que todos os pais e alunos me encaravam esperando uma reação.
SB: Um minuto de sua atenção... O show está ótimo, e eu realmente devo dizer que sou fã dos Duendeiros, mas antes de qualquer coisa, eu e alguns amigos resolvemos concluir um último projeto escolar que ficou em aberto. Durante todo o ano viemos ensaiando e nos preparando para apresentarmos a peça “Sonho de uma noite de verão” de Willian Shakespeare, mas infelizmente por causa dos acidentes trágicos na escola, cancelamos a apresentação. Pelo menos até esse momento... Agora decidimos apresentá-la. Essa peça está sendo dedicada a Michel Ducasse, um amigo único e que vai deixar saudades. E claro, aos professores Armand e Emily que durante meses nos instruíram e nos ensaiaram. Pedimos desculpa desde já pelos futuros prováveis erros de texto e caracterizações, pois não tivemos muitos ensaios... Mas espero que se divirtam!
Professor Armand estava de pé me encarando como se eu estivesse brotado do chão naquele exato momento. Os pais e professores se levantaram e aplaudiam empolgados, enquanto meus amigos ainda em choque subiam ao palco e tomavam suas posições. Os Duendeiros também ficaram no palco para nos assistir.
A peça começou mais divertida do que em todos os ensaios que já tínhamos tido! Bernard, Patrick, Rubens, Brendan e Dora gaguejavam e ficavam andando de um lado para o outro parecendo muito preocupados com a multidão de olhos os acompanhando. Ian e Marie resolveram encurtar de vez os diálogos monstruosos de Shakespeare, idéia imediatamente aprovada por mim, Anne, Miyako, Gabriel e Isa.
Vez ou outra olhava de relance para o professor Armand que agora estava sentado em frente ao palco com Emily e parecia empolgadíssimo com cada movimento que fazíamos, e hora ou outra batia palmas freneticamente.
Quando eu e Anne saímos da última cena de mãos dadas, e fomos até o fundo do palco formarmos uma fila única com os outros para agradecermos, toda a platéia estava de pé rindo. Armand subiu ao palco, os olhos brilhantes, nos abraçando.
- Ah, vocês foram ótimos, ótimos! Divertidos e românticos! E com classe! Sem palavras! Sem palavras! Obrigado por essa maravilhosa surpresa!!!
Descemos do palco minutos depois, Os Duendeiros retomando o show e as danças recomeçando.
IL: Estou saindo de Beauxbatons com a sensação de que não conheço direito meus amigos! Juro, nunca pensei que você fosse ter coragem de subir naquele palco! E estou impressionado comigo mesmo por ter me lembrado a maioria das falas! Marie ia me cochichando as outras...
SB: Eu também não sei como fiz isso! Mas estou me sentindo mais formando do que nunca!
Ian riu dando um soco fraco no meu braço. Uma mão pesada segurou meu ombro e me virei. Meu pai estava ali sorrindo para mim.
IS: Nunca estive tão orgulhoso de você, filho.
Sem dizer mais nada, ele me puxou para um abraço passando a mão na minha cabeça e bagunçando o cabelo. Era a segunda vez naquela noite que um sorriso sem precedentes, imenso e totalizante, se abria no meu rosto.
IS: Desculpe o atraso. Preocupações do Ministério. Mas peguei o final do teatro e devo dizer que você daria um bom ator!
Eu sorri e conduzi-o até minha mesa, onde mamãe mostrava para uma Samara encantada, um grupo de fadinhas voando ali perto. Pierre, pude ver, fazia uma cara ótima segurando uma garrafa de cerveja amanteigada na mão e a girava provavelmente atrás dos ingredientes... Meu pai os cumprimentou formalmente. Peguei o diploma que estava ali em cima.
SB: É seu. – estendi para ele que ficou me olhando sem entender. Continuei. – Por sua causa estou me formando hoje. Por sua causa tive os sete melhores anos da minha vida! Nada mais merecido do que você ficar com esse diploma.
Ele pegou o diploma e pude ver seus olhos brilharem. Sorriu sem dizer uma palavra. Ali perto, Madame Máxime o convidava para ir se sentar junto com os professores.
IS: Estarei lá com eles, tudo bem? Agora vá aproveitar o resto da sua última noite em Beauxbatons!
Concordei com a cabeça e sai. Para a noite terminar melhor do que já estava. Para eu sair de Beauxbatons sem deixar nada pendente, ainda havia uma coisa a ser feita e só dependia de mim realizá-la com perfeição.
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