I think I can make it now the pain is gone
All of the bad feelings have disappeared
Here is the rainbow I've been praying for
It's gonna be a bright
bright sunshiny day
I can see clearly now – Jimmy Cliff
Nossa colação de grau havia terminado e lentamente, as pessoas se encaminhavam para o salão principal, onde mesas reservadas às esperavam. Cada um de nós se juntou a sua família nessa hora, e entrei com minha mãe a todo instante me apertando. Quando as portas se abriram, tive um choque: em toda a extensão do salão havia árvores, o chão estava coberto de folhas secas e entre as árvores tinham mesas redondas de madeira, com troncos no lugar de cadeiras. Bem no fundo dele tinha um palco imenso montado, também com folhas espalhadas pelo chão e bandeiras das cores da casas. Era como se tivéssemos acabado de atravessar os portões que nos levavam a Camelot.
- Uau, quando eles falaram que iam fazer uma festa temática, eles falaram sério! – ouvi Sophie comentar com meu avô e ele concordar
- Acho que nossa mesa é aquela ali... – apontei para uma mesa ao lado de uma macieira
Minha família se acomodou em volta da mesa, mas eu continuei de pé, observando o resto do salão. A família de Bernard estava sentada na mesa ao lado e a mãe dele não parava de beijá-lo, sem conter a felicidade. Amélia estava sentada calada no canto, ainda traumatizada com tudo que aconteceu, e o pai deles brigava com Vincent, que estava arrancando as folhas da árvore. Olhei para o outro lado e vi a família da Marie. Ela estava sentada conversando com uma senhora que aparentava ser sua avó, enquanto os outros olhavam atentamente a tudo em volta, conversando entre si.
- Ian, meu amor, estou tão orgulhosa de você – minha mãe agarrou meu rosto e beijou minha bochecha – Você agora é um bruxo formado!
- Mãe, por favor, aqui não – tentei tirar as mãos dela do meu rosto fazendo careta
- Ok, desculpa, esqueci que seus amigos estão aqui... – ela me olhou com cara de desapontamento e revirei os olhos
- Também te amo, mamãe – segurei o rosto dela do mesmo jeito que ela sempre faz comigo e lhe dei um beijo. Ela abriu um enorme sorriso – Vou dar uma volta, daqui a pouco eu volto aqui
- Eu também vou andar, vi alguns ex-colegas de turma por aqui e vou conversar com eles, matar as saudades – Sophie levantou da mesa e me deu um beijo antes de passar – Parabéns, Luke
Afastei-me da mesa para começar a percorrer o salão quando senti uma mão segurar meu braço. Era meu pai. Ele estava muito sério, não via ele sorrir desde que Michel morreu. Mas de repente, ele esboçou um sorriso fraco, quase que tímido, como se estivesse se recriminando por se permitir sorrir quando todos estavam tristes. E mais inesperado que o sorriso, foi o abraço para o qual ele me puxou.
- Estou orgulhoso de você, filho – papai tinha a voz meio embargada, como se estivesse prendendo o choro – Sei que nunca disse isso antes, mas sempre me orgulhei de você
- Eu sei, pai – abracei-o também, apoiando o queixo em seu ombro – Também nunca disse o quanto tenho orgulho de ser seu filho, então estamos quites – ouvi-o deixar escapar uma risada antes de se afastar do abraço e me encarar
- Parabéns pela formatura. Agora vai lá conquistar sua namorada de volta – ele indicou a mesa de Marie com a cabeça e me entregou uma das rosas que estavam em cima da mesa – Talvez precise disso
- Obrigado pai – peguei a rosa da mão dele e sorri, voltando a encarar a mesa de Marie
Ela ainda estava absorta na conversa com a senhora que não percebeu quando me aproximei. Deixei a rosa cair em seu colo e ela olhou para mim, surpresa.
- Desculpa, desculpa e desculpa
- Desculpa pelo que? – ela continuou sentada enquanto me encarava
- Por ser um idiota, por me isolar de todo mundo e não querer ver ninguém, nem mesmo você, a pessoa mais importante pra mim – ajoelhei diante dela para ficarmos no mesmo nível e a senhora ao meu lado se ajeitou na cadeira para prestar mais atenção
- Luke, levanta – Marie falou baixo, ficando vermelha
- Não sem antes você dizer que me perdoa. Eu sei que eu não mereço, mas você é a única pessoa cuja opinião tem importância pra mim
- Você percebeu que está fazendo isso na frente da minha família inteira? – ela aproximou o rosto do meu e falou mais baixo ainda
- Sim – respondi no mesmo tom, olhando para a platéia na mesa
- E não está nem um pouco constrangido?
- Um pouco, talvez... Mas contanto que você me perdoe, posso superar isso
Marie levantou da cadeira e segurou minha mão, fazendo com que eu me levantasse também. Ela encarou os pais, que prestavam atenção a cena com curiosidade, e deu um sorriso sem graça.
- Er, mãe, pai, esse é o Ian... – ela me encarou e sorriu – Meu namorado
- Muito prazer, senhor Laforêt – estendi a mão para o pai dela com um sorriso que ia de uma orelha a outra e fiz o mesmo com a mãe dela
- Bem, e esses são meus avôs, tios, primos... – ela revirou os olhos – Já chega né? Vamos dar uma volta!
Marie saiu me empurrando para longe da mesa e paramos quando chegamos a alguns sofás que faziam parte da decoração do hall de entrada. Ainda estava vazio, pois todos estavam se acomodando pelo salão. Ela sentou em um deles e sentei ao seu lado.
- Não vou dizer que não fiquei chateada quando você se recusou a falar comigo – ela começou a falar, segurando minhas mãos – Mas também não vou brigar com você, porque sei como está se sentindo por causa do Michel
- Mesmo assim, você não tinha culpa de nada, não deveria ter tratado nenhum de vocês como tratei. Você me desculpa?
- Eu te amo, seu bobo – ela segurou meu rosto com uma das mãos e me beijou – Claro que eu te desculpo. Agora vamos entrar, querem tirar uma foto da turma antes que a gente comece a desmontar as fantasias
Ela levantou animada do sofá e me puxou pela mão de volta para o salão. Nossa turma já estava toda reunida perto do palco, onde uma fotografa contratada pela diretora esperava apenas por nós dois para fazer a foto. Passamos correndo pelas pessoas e nossos amigos começaram a gritar e fazer bagunça, nos vaiando por atrasar o trabalho da mulher. Apertamos-nos entre Bernard e Samuel e colocamos o chapéu de feiticeiro de volta. Quando a fotografa fez sinal positivo dizendo que a foto havia saído perfeita, começamos a pular uns em cima dos outros. Agora sim o álbum teria a cara da turma de 1998.
Assim que a sessão de fotos acabou, a cortina do palco se abriu e ouvimos a voz do vocalista dos Duendeiros cantar ‘Spell From a Broken Wand’. A turma inteira começou a berrar enlouquecida e os demais convidados começaram a se amontoar perto do palco. Estava começando a ultima noite dos sete melhores anos de nossas vidas, e a noite do qual ninguém mais se esqueceria...
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