I wish that I could cry
Fall upon my knees
Find a way to lie
'Bout a home I'll never see
Superman – Five for Fighting
Dave ainda estava deitado no chão com o rosto molhado de lágrimas quando passei correndo pelo caminho aberto pelo cavalo alado e entrava cada vez mais na floresta. Meu desespero era tanto que não estava me importando com os galhos que batiam no meu rosto, ia arrancando-os do caminho com a mão, só queria encontrar Michel o mais rápido possível.
- Você viu meu cavalo? – um garoto loiro de no máximo 14 anos veio correndo na direção contraria e estava muito machucado – Ele ficou nervoso com o barulho e me derrubou
- Não, não vi cavalo nenhum! – disse com asco e ele me olhou assustado – Quer dizer, ele passou correndo por mim há alguns metros daqui, foi na direção do castelo. Você viu de onde veio o tiro?
- Sim, não foi muito longe daqui. Tem um bando de garotos lá na clareira no centro da floresta, parece que alguém se machucou...
- Obrigado!
O menino acenou com a cabeça e continuou caminhando na direção oposta e eu voltei a correr agora em pânico. Não demorei nada para encontrar a clareira de que ele estava falando, meus amigos estavam todos reunidos nela, prendendo alguém contra uma árvore. A cena de Samuel, Dominique e Viera esmagando alguém contra uma árvore prendeu minha atenção, que demorei a perceber que as meninas estavam ajoelhadas no chão em cima de alguém. Meu estomago veio na boca quando me deparei com o corpo de Michel deitado no chão com a camisa suja de sangue.
- MICHEL! – me atirei no chão e sacudi meu primo, mas ele não reagiu
- Luke, ele- - a voz de Marie cortou de repente e ela começou a soluçar
- Não, não fala isso! Michel acorda!! – o sacudi com mais força e Mad segurou meu braço
- Não adianta Luke, já tentamos de tudo! – os olhos dela estavam muito vermelhos
- QUEM FEZ ISSO?? – gritei descontrolado e Manu olhou na direção dos meninos
Levantei do chão totalmente fora de controle e empurrei Dominique com força, afastando-o da árvore. Viera e Samuel recuaram na mesma hora e vi Renault com o olho inchado e a boca cortada esmagado contra o tronco da árvore. Minha cabeça começou a girar e a imagem de Michel morto no chão me fez agarrá-lo pela camisa e atirá-lo no chão. Ninguém tentou me segurar enquanto eu batia nele com uma força que nem eu mesmo sabia que tinha. E o mais estranho era que ele não reagia. Ele sequer tentou se defender. Era como se estivesse esperando por isso e tivesse desistido de lutar. Puxei a varinha do bolso e encostei-a em seu rosto, mas sem saber o que fazer. Queria fazer o que ele fez com Michel, mas não tive coragem, então fiquei de pé apenas apontando a varinha pra ele, tentando me controlar.
- Ele é o lobo? – virei para Samuel e ele deu de ombros
- Foi tudo muito rápido, Michel estava sozinho com ele quando chegamos – Dominique também tinha os olhos vermelhos – Eles estavam brigando, quando de repente a arma disparou e Michel caiu para o lado
- Não adianta perguntar, ele não vai responder nada, já tentamos – Viera também apontava a varinha para Renault, que agora limpava o sangue da boca
- É O RENAULT, É O RENAULT! – Bernard surgiu do meio das árvores com falta de ar e quando viu a cena na sua frente, paralisou – O que aconteceu?
- O que é o Renault, Bernard? – Samuel pisou na barriga de Renault quando ele ameaçou levantar e apontou a varinha contra seu peito
- Foi ele quem seqüestrou minha irmã! – Bernard olhava tudo ao redor em estado de choque, mas tentava manter a calma – Amélia acordou, ele não apagou sua memória, ela contou tudo a madame Maxime, os aurores estão vindo
- Como esse merda pode ser o lobo? – falei olhando para ele com nojo – Ele mal sabe se comportar em publico, não poderia ter driblado toda a segurança da escola!
- Deixe isso com os aurores, Luke – Bernard olhava de Renault para Michel e parecia querer vomitar – Eles vão arrancar tudo dele, não tenha duvida
- ONDE ESTÁ O GAROTO??
Um bando de aurores, pelo menos 8 deles, entrou correndo na clareira com as varinhas apontadas em todas as direções. Logo de cara vi meu pai à frente do grupo, e ele se adiantou na direção onde eu estava. Atrás dele estava meu tio Edmond, seguido pela tia Eva e minha mãe. Tudo aconteceu muito rápido, numa fração de segundos: meu pai me empurrou para imobilizar Renault, tio Edmond perguntou por Michel e tia Eva soltou um grito. Quando olhei para trás, ela estava debruçada sobre o corpo de Michel e mamãe tentava acalmá-la.
- Vamos, todos de volta para o castelo, chega de tumulto por hoje – a voz de papai saiu embargada e ele apertou meu ombro quando viu tio Edmond segurando Michel no colo
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- Ian, se quiser ficar, tudo bem. Mas terá que ficar calado ouvindo. Se interromper, irei tirá-lo da sala
Meu pai me encarou sério e assenti com a cabeça sem dizer nada, sentando no canto da sala sem tirar os olhos de Renault. Estávamos no escritório da madame Maxime e com a exceção dos meus tios, todos os aurores que estavam no floresta se encontravam ali dentro. Renault estava sentado em uma cadeira no meio da sala e não estava imobilizado, mas nem era necessário. Qualquer movimento não autorizado que ele fizesse poderia lhe custar à vida. Mamãe abriu uma maleta e tirou um frasco de dentro dela, que reconheci na hora como veritasserum. O pai de Dave me forçou a beber aquilo no Ministério, nunca mais esqueceria a aparência. Todos sentaram ao redor de Renault e mamãe lhe entregou um copo com água, que ele bebeu sem relutar. Foi madame Maxime quem falou primeiro.
- Como é o seu nome?
- Thiery Gustave Renault – ele respondeu sem esboçar qualquer tipo de reação. A poção já fizera efeito
- Você é o aluno que atende pelo codinome de lobo? – mamãe continuou
- Sim
- O que aconteceu com Patrice Benoir, a garota trouxa que foi encontrada enterrada nos arredores da escola? – Madame Maxime tornou a falar
- Saí com ela algumas vezes, ela morava no vilarejo vizinho a escola e eu saia quase toda noite para me encontrar com ela. Um dia ela resolveu que não queria mais se encontrar comigo e tentei forçá-la a me beijar. Ela me deu um tapa no rosto e a empurrei para longe. Ela bateu com a cabeça em uma pedra e não levantou mais. Enterrei-a na mata com receio de alguém ter me visto com ela.
Madame Maxime sentou outra vez em sua poltrona e parecia prestes a chorar. Ela fez sinal para que os aurores continuassem o interrogatório, demonstrando que não faria mais perguntas. Sergei, o auror russo que até o momento se mantinha calado, foi quem fez a pergunta seguinte.
- E quanto a Mathilde Serrel? Também estava se encontrando às escondidas com uma menina de 12 anos?
- Ela me perseguia, se dizia apaixonada por mim, mas nunca nem olhei para ela. Quando os garotos inventaram essa brincadeira de assassino, atribuindo a morte de Patrice ao psicopata da cabeça deles, vi a chance de fazer com que ela parasse de me perseguir. Com o trauma de ter sido seqüestrada ela certamente largaria do meu pé. Mas claro, precisei apagar sua memória antes de liberá-la, ou a fedelha estragaria tudo.
- E Pierre Chirac? – papai se aproximou dele, mas Renault não se abalou – O que houve com ele? Ele morreu, foi planejado por você?
- O irmão dele, Danilo, comprou briga comigo durante um jogo de quadribol. Ele trapaceou e me ameaçou depois do jogo, então quis dar um susto nele, levando embora àquele que ele mais prezava: o irmãozinho frágil.
- Por que matou um menino de 14 anos? O que ele pode ter feito a você? – papai estava se controlando para não bater nele
- Não era para ter sido assim, saiu tudo errado. Pierre conseguiu se soltar das cordas e fugiu. Eu ainda não tinha alterado sua memória, o desgraçado ia contar tudo aos aurores e corri atrás dele. Mas ele era muito rápido, o único modo de pará-lo foi lhe atingindo com uma pedra. Não era para ele morrer, e fiquei assustado, larguei-o no meio da floresta e voltei para a escola.
A cada palavra que saia da boca dele, meu estomago embrulhava ainda mais. Estava com raiva, nojo e pena, tudo ao mesmo tempo. Tive pena de Renault, ele sempre foi um zero a esquerda que se fazia de valentão para chamar atenção, e agora se tornara um assassino. Uma pessoa assim é digna de pena, sem duvida. Mas esse sentimento não era maior que o de desprezo, e se papai não fosse me expulsar da sala, teria voado no pescoço dele.
- E quando a Amélia Lestel? – mamãe o encarou e pela primeira vez, Renault reagiu. Ele se encolheu na cadeira diante do olhar ameaçador de minha mãe, que tinha por Amélia um carinho como se ela fosse sua filha – Por que seqüestrou Amélia? O que uma menina doce e pura como ela pode ter feito a você?
- O irmão dela me provocou e queria apenas fazê-lo sofrer com a angustia de não saber o paradeiro da irmã. Eu afrouxei a segurança e ela escapou, fui atrás dela e acertei-a com uma pedra, mas diferente de Pierre, ela não caiu. Apenas se machucou e conseguiu alcançar a orla da floresta. Quando vi que ela escaparia, tentei fugir.
- Então quer dizer que atirou a pedra com a intenção de matá-la? – Maxime se pronunciou depois de um longo tempo apenas ouvindo e sua voz era de puro horror. Renault não respondeu
- E Michel?? – não agüentei e falei, mas voltei a me calar quando meu pai me olhou severo
- Responda a pergunta dele – disse encarando Renault
- Ducasse esbarrou comigo na floresta dizendo que o lobo era Dave, e que ele tinha atacado Amélia. Entrei na dele e tentei parecer chocado, mas ele percebeu. Ele tentou me imobilizar, mas acabamos nos embolando no chão. A arma disparou acidentalmente, Ducasse não fazia parte de nada.
- E o Tyrone? – Sergei tornou a falar segurando o braço de Renault com força – Foi você quem o levou??
Quando Renault negou, o auror saiu desabalado da sala, batendo a porta com estrondo e sem dizer aonde ia. Meu pai respirava devagar para manter a calma e se virou para a diretora.
- Maxime, por favor, será que tenho permissão de retirar este aluno imediatamente de sua escola para ser julgado como adulto pelo Ministério? – ela assentiu com a cabeça, a expressão de total horror ainda estampada no rosto – Levante garoto, você vem conosco.
Papai segurou Renault pelo braço e ainda meio grogue pelo efeito da poção, ele seguiu meu pai para fora do escritório. Os demais aurores faziam uma escolta em volta deles e saí por último com minha mãe, que agora caia no choro pela morte de Michel ao ver que eu também não consegui mais controlar as lágrimas. Muitos alunos estavam parados no corredor esperando que Renault saísse e começaram a vaiar e xingar quando os aurores passaram com ele. Olhei para meus amigos no meio da multidão e todos tinham lágrimas nos olhos, as piores expressões possíveis. O caso estava finalmente resolvido, mas infelizmente, deixou danos irreparáveis.
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