Por Ian Lucas Renoir Lafayette
Já havia se passado uma semana desde que Amélia fora levada pelo lobo, e três dias desde que cercamos o garoto Chronos no corredor, forçando-o a revelar que era um vampiro. Bernard estava convicto de que ele era o lobo e tentava forçar os aurores a interrogá-lo, mas eles diziam que já haviam feito isso e nada tinha sido descoberto. Eu já achava que não era ele, mas andava tão estressado com tudo que estava acontecendo que topei encurralá-lo no corredor apenas pra descarregar a raiva. Já as meninas afirmavam que ele não poderia ser o lobo, pois quando fui atacado ele estava fora da escola, mas eu sabia que não tinha sido atacado pelo verdadeiro lobo. Na verdade, nem eu e nem Michel. Tinha certeza absoluta de que os dois ataques naquela mesma noite foram feitos por amigos nossos, no intuito de nos pregar uma peça. E já estava na hora de colocar isso em pratos limpos.
Já passava da meia noite e os únicos autorizados a circular pelo castelo àquela hora eram os diversos aurores espalhados pelos corredores, mas mesmo assim marquei uma reunião com o pessoal na sala dos fundadores. Não tinha certeza se todos apareceriam depois do sumiço de Amélia, mas me surpreendi ao chegar e já encontrar Mad, Viera e Manu a minha espera. Pouco a pouco todos foram chegando e o único ausente era Michel, ele não estava na escola. Tio Edmond encontrou um curandeiro africano que se dizia capaz de fazer uma poção que acabava com a maldição do lobisomem e levou Michel até o homem, mas ainda não tinha noticias de como estavam as coisas.
- Estamos aqui Luke, porque convocou essa reunião no meio da madrugada? – Samuel falou impaciente
- Quero propor um jogo – falei sentando na cadeira vazia do circulo
- Jogo? – Bernard ficou de pé e me encarou irritado – Minha irmã pode estar morta e você quer brincar?
- Senta Bernard, deixe-me terminar de falar – disse sem me abalar – Vamos brincar de jogo da intriga
- Nos chamou aqui a uma da manhã para jogarmos esse jogo idiota? – Dominique reclamava – Não jogamos isso desde o início do ano
- Exatamente. Passamos tempo demais sem jogá-lo, e muitas coisas foram ficando confusas – respondi encarando Dominique e me virei para Samuel – Vocês conhecem as regras, eu começo: Samuel, você me atacou na sala dos troféus mês passado.
Todos olharam para Samuel, que estava estático. O jogo era simples: alguém acusava alguém, e os demais determinavam se era verdade ou mentira. Uma vez que o veredicto era tomado, o acusado deveria revelar se estavam certos. Se as opiniões do grupo fossem divergentes e a acusação fosse mentira, o acusado tinha o direito de acusar alguém. E quem fosse pego mentindo, pagava um preço alto. Samuel me encarava sem piscar e um a um, todos foram votando por verdade.
- E então? Verdade ou mentira? – perguntei sério
- Verdade
Diante da confissão de Samuel, foi impossível evitar uma agitação. Todos já haviam entendido o significado do jogo naquela noite: estavam todos ali para confessar o que a maioria dos ataques na escola foram falsos, que foram com a intenção de assustarmos uns aos outros. Samuel me acusou de colocar o punhal na mochila dele, mas neguei ser o autor da brincadeira. E quando todos, com a exceção de Viera, votaram falso, Samuel acusou ele. Viera confessou ter escondido o punhal para que ele fosse interrogado e levasse um susto, como punição por revirar suas coisas no dormitório. Samuel negou e nem foi preciso votação, pois Manu assumiu a autoria do ataque.
- Você? – Viera encarou a namorada chocado – Mas por que?
- Você me trocou por uma partida de quadribol no dia dos namorados, estava com raiva e queria assustá-lo.
- Eu ajudei – Mad se manifestou e Viera olhava de uma para a outra irritado – Manu pediu que eu fizesse aquela bagunça nas suas coisas e topei na hora
- Inacreditável! Pensei que pudesse confiar em você, Manuela!
- Não seja hipócrita, Olivier! – Bernard falou debochado – Acha mesmo que está em condições de cobrar honestidade dela?
- Ah, o Santo Bernard! – Viera retrucou – Se não me engano, você também foi atacado. Por acaso não atacou ninguém, pensando ser o autor do seu ataque?
- Michel. Ataquei Michel e Isabela na biblioteca, na mesma noite que Samuel atacou Ian. Não sabia que haveria outro ataque, acho que escolhi a noite errada.
- Não foi Michel que atacou você, ele estava comigo naquela noite, estávamos em detenção. – Mad falou e todos se entreolharam, procurando um culpado
- Eu ataquei você – Dominique levantou a mão sem encarar Bernard – Estava com raiva pelo que aconteceu na Alemanha, do que você contou sobre mim no pub
- Não fiz aquilo de propósito, Nick
- E como eu ia saber?
- E você Luke? Não atacou ninguém? – Samuel voltou a me encarar
- Não
- E espera que a gente acredite nisso? – ele falou outra vez e os outros riram
- Na verdade, algo foi planejado por Michel e eu, mas nunca executado já que ele precisou sair da escola por uns dias
- Aonde ele foi, afinal? – Manu perguntou – Você não nos disse
- Meus tios acham que descobriram um louco que pode acabar com a maldição do lobisomem, e foram ao encontro dele
- Mas Michel saiu daqui numa noite de lua cheia, como vamos saber se ele não foi atacado antes de encontrar os pais? – Dominique parecia preocupado – Ele já entrou em contato com você?
- Não, mas sei que ele está bem. Quem atacaria um lobisomem?
- Sei lá, esse lobo já provou ser louco e perigoso o suficiente, não acha? – Marie dividia a preocupação com Dominique
- Vocês estão exagerando – falei rindo – Michel está bem! Ele passou a noite na cabana acorrentado, madame Magali cuidou dele pela manha e antes do almoço meus tios vieram buscá-lo, basta irem perguntar a ela e ela vai confirmar tudo. A não ser, claro, que alguém aqui tenha atacado Michel de brincadeira outra vez e escondido ele debaixo da cama?
Olhei para cada um deles e as expressões preocupadas indicavam que não havia mais nenhum segredo, mais nenhuma mentira a ser confessada, que a partir de agora seriamos sinceros uns com os outros para que enfim, pudéssemos descobrir quem seqüestrou a irmã de Bernard e assassinou o irmão de Danilo. Dominique decidiu ir até a enfermaria perguntar a madame Magali sobre Michel e fomos todos atrás dele. Quando meu amigo empacava com alguma coisa, só sossegava quando tinha uma resposta final, e essa só viria da enfermeira da escola.
Renault estava deitado na cama do fundo quando chegamos e apesar de estar afastado, vi que ele os abriu bem depressa para ver quem acabara de chegar e tornou a fechá-los, fingindo estar dormindo. Madame Magali saiu espantada de sua sala e já começava a procurar os ferimentos no grupo quando me adiantei para falar com ela, ignorando o bisbilhoteiro.
- Ninguém está ferido, só queremos lhe fazer uma pergunta
- E não podiam esperar até amanhecer? Já são quase duas da manha! Não deveriam estar fora da cama, há um assassino louco à solta, os aurores vão achar ruim se verem vocês perambulando pelos corredores há essa hora.
- Esse é o menor dos nossos problemas no momento, madame Magali – Samuel falou
- Semana passada, na noite de lua cheia, meu primo Michel foi para casa com meus tios, mas antes foi para a cabana para se transformar e depois veio para cá para que fosse medicado, certo? Meus amigos estão preocupados achando que o lobo encontrou ele pelo caminho de volta. Eles só querem que você confirme que cuidou de Michel até meus tios chegarem – falei rindo, mas a enfermeira estava séria
- Desculpe monsieur Lafayette, mas não me recordo de ter cuidado de monsieur Ducasse na ultima lua cheia. Ele costuma vir sozinho até aqui nas manhãs seguintes às transformações, mas dessa vez ele não retornou. Como sabia que seus pais viriam buscá-lo, apenas deduzi que eles o apanharam e cuidaram dele no caminho de casa.
Olhei para meus amigos e sabia que estavam todos com o mesmo pensamento, mas ainda não podia acreditar. Se meu primo não tivesse chegado em casa, certamente meus tios já teriam entrado em contato para saber o que o prendia aqui. Tudo que precisava fazer era entrar em contato com eles e confirmar que Michel estava bem, não havia motivo para pânico. Michel estava bem em algum lugar da África, bem melhor do que estamos agora.
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