Por Ian Lucas Renoir Lafayette
- ‘Mas em breve’ diz Nonnos ‘a esposa de Júpiter notou o filho divino, e zangou-se. Por efeito da sua terrível cólera, as filhas de Lamos enfureceram-se sob a vergasta da péssima divindade’ – a professora Emily interrompeu a leitura e parou ao meu lado – Ian, estou interrompendo seu trabalho?
- Hã? – olhei para ela confuso e joguei o papel dentro da mochila – Não professora, desculpa, estava só anotando algumas coisas
- Dave, pode continuar de onde parei? – ela sorriu e se virou para o Regalski, que abriu o livro e continuou sua leitura
Esperei até que ela estivesse outra vez na frente da sala e continuei o que estava fazendo. Gastei mais de 10 minutos, mas consegui dividir em várias partes e sem que ela notasse, distribui entre meus amigos. Todos prenderam o riso ao lerem o pedaço de papel que seguravam, e Samuel puxou dois lápis da mochila, começando a batucar na mesa. Viera e Dominique o imitaram, e logo o batuque se tornada audível, chamando a atenção dos alunos que estavam sentados perto. Levantei da minha cadeira e parei de frente pra Marie. Quando Samuel bateu mais forte na mesa e todos olharam, puxei a mão dela e comecei a cantar alto.
- Listen baby… Ain't no mountain high, ain't no valley low, ain't no river wide enough, baby
- If you need me call me, no matter where you are, no matter how far – Manu pulou da cadeira ao lado de Marie e me ajudou com a música
- Just call out my name, I'll be there in a hurry, you don´t need to worry – Mad também ficou de pé e terminou de cantar
- 'cause baby there ain't no mountain high enough, ain't no valley low enough, ain't no river wide enough… To keep me from getting to you babe – agora todos os meus amigos estavam de pé e cantavam cada vez mais alto o refrão
A turma inteira àquela altura já havia parado de copiar a matéria e sentava virada para trás prestando atenção à brincadeira, uns rindo e outros cantando também. A professora Emily cruzou os braços na frente da turma não acreditando no que estava vendo, mas parecia estar achando divertido, pois sorria de leve e não tentou interromper. Marie ficava cada vez mais vermelha, e tinha certeza que o que ela mais queria naquele momento, além de me lançar uma maldição imperdoável, era desaparecer. Ela estava escorregando na cadeira e só não havia sentado debaixo dela porque eu segurava sua mão, mas podia ver que ela tentava disfarçar um sorriso.
- Que bagunça é essa?? – a professora Milenna abriu a porta com um estrondo, furiosa – Professora Emily, é assim que ensina Mitologia aos alunos do 7º ano?
- Desculpe Milenna, mas não pude impedir um aluno que encontrou uma forma tão criativa assim de se declarar a uma colega! – ela prendia o riso diante da expressão severa de Milenna – Mas já acabou não é? Sentem, vamos, a aula continua!
- Estou tentando corrigir os trabalhos dessa turma na sala ao lado, e com essa algazarra fica impossível!
- Não vai mais ouvir barulho, lhe garanto – Emily falou praticamente expulsando Milenna da sala, fechando a porta ao conseguir – Acabou a bagunça, gente. Voltem aos lugares antes que a própria Maxime apareça, e não queremos que ela venha até aqui, certo? – a turma riu e todos voltaram aos lugares
- Marie... – me aproximei, mas ela me olhou atravessado
- Sai Ian, não fala comigo agora, senão mato você!
- Desculpa, eu sabia que você não ia gostar, mas fiz assim mesmo. Só quero que você acredite que realmente te amo
- E não tinha uma abordagem mais sutil? Quem sabe anunciar na primeira página do Le Prophète? Ah por favor, não tenha idéias! – falou depressa vendo minha cara
- Desculpa, por favor, me perdoa pela brincadeira! – encarei Marie com cara de menor abandonado e ela sacudiu a cabeça. Podia jurar que ela sorriu – Algum dia vai me perdoar por isso?
- Não sei, talvez – disse desviando o olhar de mim – Pergunte isso amanhã, quando a raiva momentânea passar!
- Marie, lembra ano passado, no nosso primeiro dia depois do banquete de boas vindas?
- O que tem? – falou impaciente
- Estávamos na sala ao lado do salão principal, discutindo nossas metas – ela ainda não me encarava, mas continuei falando – Eu disse que a minha era confessar a uma garota que estava apaixonado por ela... Você sabe que a garota é você, não sabe? Não estou brincando com você, eu juro, é tudo verdade!
Marie olhou para mim e pensei que ela fosse responder, talvez entender que estava sendo sincero, mas ela voltou a encarar o livro aberto na mesa e não se mexeu mais. Desanimado, voltei ao meu lugar e não prestei mais atenção na aula.
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- Ela nunca vai me perdoar por isso, eu sei! – falei para Bernard e Dominique enquanto caminhávamos para a biblioteca
- Calma Luke, ela só ficou com vergonha. Mas também, quem não ficaria? – Bernard tentou me animar
- É cara, relaxa! Depois que a vergonha passar, ela volta a falar com você! – Dominique falou confiante
- Todo mundo sabe que a Marie gosta de você, ela só está fazendo charme. Qualquer hora ela- - a voz de Bernard morreu de repente e vi meu amigo ser derrubado no chão.
- Mas que diabos? – uma mão fechada veio na direção do meu rosto e a próxima coisa que vi foi o piso do corredor encostando no meu nariz
A mesma mão que me acertou agarrou minhas vestes e quando virei, vi o punho fechado de Thiery vindo outra vez na minha direção, mas consegui impedir. Empurrei-o com o pé e ele caiu no chão, e foi o tempo que precisei para avançar para cima dele e devolver o soco. Bernard estava embolado com Antoine e Dominique prendia Cassel contra a parede, mas seu nariz sangrava mais que o dele. Vi Bernard dominar Antoine com a azaração do impedimento e apontar a varinha na direção dos outros dois loucos.
- IMPEDIMENTA! – Bernard berrou e Thiery e Cassel foram atirados para longe – Ficaram loucos??
- Isso foi pela vitória roubada naquela semifinal, Lafayette! – Thiery falou cuspindo sangue
- Você é um péssimo perdedor, Renault!
- Detenção para os três! – Bernard falou irritado – E menos 30 pontos para a Lux!
- Você não pode descontar pontos, Lestel – Antoine falou rindo – Só monitores-chefe têm esse poder
- Monitores têm esse poder, quando o monitor-chefe dá essa autoridade a ele. E Viera me autorizou a descontar pontos quando fosse preciso. Se tiver alguma queixa, procure madame Máxime. Tenho certeza que ela vai adorar perder tempo com os três, e ai quem sabe expliquem porque descontei os pontos.
Thiery abriu a boca para responder, mas nós três sacamos as varinhas e apontamos para eles, deixando claro que estavam dispostos a um duelo ali mesmo, e os três foram embora. Thiery e Antoine ainda nos ameaçaram antes de sumirem no corredor, e apanhei meus livros no chão. Quando ia levantar, vi a cabeça de Dave no canto do corredor nos observando.
- O que foi? – Bernard também notou a presença dele e foi ríspido – Quer uma detenção também?
- Não, só estava passando – ele respondeu baixo
- Ah é mesmo? Pois então passa batido, antes que desconte pontos da Fidei por bisbilhotar a vida alheia – Bernard continuou
- Por que faria isso? – Dave perguntou no mesmo tom de voz baixo e tímido – Não fiz nada, só estava passando pelo corredor
- Talvez alegue que é pela sua cara feia – Bê replicou e ele abaixou a cabeça – Anda, some daqui, vai caçar o que fazer, seu esquisito!
- Calma Bê, ele não faz nada – falei me aproximando dele, depois que Dave correu para fora do corredor
- Esse garoto me irrita, está sempre nos seguindo, nos espionando, nunca perceberam?
- Na verdade não... – Dominique tinha o lábio inchado quando parou ao meu lado
- Pois prestem atenção, porque ele está sempre por perto... Só queria saber por quê!
- Será que o pai dele mandou que ele nos seguisse? – sugeri
- O que o pai dele tem com isso?
- Regalski, o auror que me interrogou! Não conheço mais ninguém com esse sobrenome, e eles são parecidos...
- Se esse garoto estiver nos perseguindo como um espião, vou lhe dar uma lição para não esquecer nunca mais...
Bernard abaixou para recolher os livros e sem dizer mais nada, continuou andando pelo corredor em direção à biblioteca. Não sei o que ele pretende, mas é raro ver Bernard irritado com alguma coisa, e nunca é bom tirar uma pessoa calma do sério...
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N.A.: Ain’t No Mountain High Enough – Marvin Gaye
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