Diário de Seth K. C. Chronos
“-Você não precisa do meu poder, você já o tem e o usa”.
O Ian fugindo de mim, a perseguição pelos corredores do castelo, até a hora em que ele consegue ferir meu braço.
Nova perseguição. Andares acima. Eu consigo com minha velocidade chegar lá quase que ao mesmo tempo que perco Ian de vista. Dessa vez o aluno também consegue fugir, e continuo enxergando através da máscara.
Acordei sobressaltado e com a respiração entrecortada, ainda era de tarde. Papai acordou ao mesmo tempo do meu lado, assustado pelo modo como eu estava. Estávamos acampando no meio de uma floresta. Havíamos localizado os assassinos e iríamos esperar a noite, onde nossos poderes seriam mais evoluídos.
- O que houve filho? Sentiu alguma coisa? – ele perguntou preocupado me olhando nos olhos.
- Um sonho ruim... Pai, eu estive com vocês durante todo o treinamento?
- Claro que esteve, onde mais estaria... Porém teve uma noite em que eu deixei de sentir sua presença na casa e corri para ver o que tinha acontecido, mas quando cheguei lá, voltei a senti-lo e você estava lá.
- Quando foi isso? – minha voz traiu um pouco de medo.
- Quando lhe ensinei a aparatar. Você precisa aprender a fazer isso o mais cedo possível, e com seu lado vampírico fica muito mais fácil. Por quê? O que você está sentindo?
- Pai... Diga a verdade... Eu sou o Lobo... Não tem como eu não o ser! Quando me encontrei com ele, eu me vi perseguindo alunos de Beuaxbatons, e eu estava com a máscara do Lobo! – não consegui segurar o choro e meu pai me abraçou, apesar de me dar um tapa na cabeça.
- Deixa de ser idiota. Se fosse você mesmo, eu já teria dado um jeito no seu lado vampiro. E o que você sente é outra característica nossa. Ela é chamada de Empatia. Para alguns ela é apenas a capacidade de sentir o que os outros sentem, até os trouxas a tem. Para eles, não passa de se sentir triste ou alegre quando outros estão, mas para nós dois é diferente.
- Mas o que isso tem a ver com Lobo?
- Vou explicar. Comigo a Empatia se desenvolveu de um modo para a adivinhação. Eu sentia antes da hora, as pessoas sofrendo e até felizes, tornando esse dom, uma forma de adivinhação. Eu senti a dor de seus avôs quando foram torturados, senti quando sua tia quase morreu tentando algumas experiências alquímicas. Mas todas como forma de adivinhação. Com você é diferente. Em você a Empatia se revela na forma de ver através de outros, sentir através de outros, geralmente quando já estão acontecendo. Em você ela também faz seu corpo reagir a esses estímulos e andar sozinho, de modo que você pode aparecer no local, ou próximo dele.
- Então as vezes que me vi como Lobo, eu estava apenas me vendo no corpo dele?
- Sim! Isso é um grande dom, se você evoluir mais poderá até ver quem é ele, mas isso deve demorar... Vamos, depois conversamos mais. Está na hora da caça.
Anoitecia... Os três assassinos trouxas estavam acampando. Pretendiam ir para outra cidade, talvez até ir para as ilhas britânicas, continuar sua série de assassinatos. Mas a noite acabaria para eles. Papai me deixou liderar a investida. “Use o medo, use os lobos ao seu favor”. Ele me dissera isso quando começamos e me concentrando, ouvi ao longe o uivo de lobos. Senti no ar a pulsação de medo dos assassinos, mas eles logo se acalmaram, eram apenas cães. Saltei da árvore próxima a eles, mas me mantive nas sombras. Um dele gritou que viu algo se movendo e os três se puseram de pé. Eu corri para o outro lado e os três empunhavam as armas de fogo apontando em todas as direções. O uivo dos lobos aumentavam e se aproximaram. Um dos homens atirou onde eu estava anteriormente e senti o medo crescendo dentro deles, e isso me alimentava. Eles formavam um círculo, um de costas para o outro. Saltei no meio deles, com as presas à mostra, senti o pavor nos olhos deles e agarrei o pescoço de um deles, jogando-o contra um dos outros. O último tentou atirar e acertou meu braço, mas para seu pavor, o furo se fechou instantaneamente. Agarrei seu pescoço e o quebrei, deixando-o morrer sufocado. Os outros dois tentaram correr, mas saltei sobre eles acertando-os com um chute nas costas. Fiquei de pé sobre os dois e acertei um soco em cada um ao mesmo tempo deixando-os desacordados. Voltei-me ao que estava morto e o levantei diante dos meus olhos. Papai tinha dito para que matar apenas um, e eu estava feliz de ter conseguido me controlar. Levei minhas presas à jugular do homem e sentindo nojo e prazer ao mesmo tempo, tomei seu sangue...
- Aqui novamente? – o jovem acorrentado nas trevas me encarou quando surgi diante dele.
- Quero que você me diga. Você é o Lobo?
- Não devo lhe dizer, você que deve saber se o é ou não. Mas sim, eu sou um Lobo – vi o sorriso maligno dele e isso me deu certa apreensão, mas me controlei.
- Eu nunca faria nada dessas coisas, e meu pai me contou sobre o meu dom.
- E você acreditou? Você é tão ingênuo Kamui... – ele sorriu calmamente.
- Cale-se!! Eu governo minha própria mente e não me deixarei levar por suas falsidades!
- Governa mesmo?! Então por que sente tanto prazer em se alimentar de um homem?! Você sabe aparatar agora, e eu uno minhas forças a você, tornando tudo mais simples... Ligue os pontos.
O que ele falou me deixou fraco e sem vontade de falar mais nada, abaixando minha cabeça, porém ouvi um barulho de correntes e quando levantei os olhos, ele estava desacorrentado. Ele gargalhou alto enquanto destruía as últimas correntes e estava diante de mim, face a face, olhos nos olhos. Agarramos um a garganta do outro, mostrando as presas, prontos para a luta.
- Eu lhe aprisionei uma vez. Aprisionei seu “pai” e vou matar seu criador. Você acha que deixarei você tomar conta de meu filho?!
Era papai que surgia no meio das trevas. Metade de seu corpo era branco e a outra negra. Ele agarrou o meu lado vampiro pela camisa e o jogou ao chão, esticando as duas mãos. Correntes surgiram do chão e começaram a envolver meu lado vampiro, que gritava e mostrava as presas ao meu pai. As correntes o prenderam e um elmo surgiu do chão, abafando os gritos.
Quando voltei a mim, os dois bandidos já estavam amarrados e o último jazia morto aos meus pés. Sentia o gosto de sangue na boca e eu estava abraçado ao meu pai, que acariciava meus cabelos devagar enquanto repetia algum encantamento.
- Nunca se deixe pegar de surpresa por eles. Aprenda a subjugá-lo sozinho, pois sei que você consegue. Tome, vamos voltar para casa e depois para a sua escola – ele sorriu feliz por eu ter conseguido caçar, me controlar, mesmo tendo sido quase destruído por ele. Ele me devolvia meu pingente de lua crescente e o pingente de grifo do Griffon. – Encantamos eles com algumas proteções extras. O do Griffon irá protegê-lo de muitas azarações e o seu irá selar seu lado vampiro se ele sair de controle totalmente. E caso vocês estejam em perigo, ambos irão nos alertar e eu e sua mãe aparataremos, onde quer que vocês estejam.
Voltamos pra casa e enquanto eu arrumava meu malão, papai foi levar os bandidos capturados e o corpo do último. Contei o que havia acontecido pra mamãe e chorei de nojo ao lembrar que eu havia matado um homem. Ela me confortou e acalmou e me ajudou a arrumar as coisas, para que eu saísse ainda essa noite. Quando papai voltou já estávamos com a lareira pronta e diante dela, me despedi deles, com um pouco de choro e apreensão, antes de entrar no fogo e falar “Beauxbatons”.
((Continua))
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